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29 agosto 2023

Roteiro de "Toc Toc Toc - Ecos do Além" patina entre terror psicológico e real

Relação abusiva familiar é um das abordagens do terror baseado em conto do escritor Edgar Allan Poe
(Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


Edgar Allan Poe era, sem dúvida, um grande escritor de contos de terror e suspense. E foi um deles, "O Coração Revelador ("The Tell-Tale Heart"), de 1843, que serviu de inspiração para o roteiro de "Toc Toc Toc - Ecos do Além" ("Cobweb"), escrito por Chris Thomas Devlin, que estreia nesta quinta-feira (31) nos cinemas. 

Apesar de a história apontar para um final diferente do que se propunha, o que seria bem interessante, ela insiste nos clichês conhecidos. Cenas escuras (às vezes nem dá para ver o que está acontecendo), uma voz misteriosa vinda de uma parede, protagonistas com caras de psicopatas, uma criança retraída e sempre com medo e uma pessoa disposta a enfrentar o desconhecido para ajudá-la.


Inicialmente, o filme leva a crer que poderia ser um suspense, abordando temas como violência psicológica doméstica, bullying na escola e traumas provocados por uma relação abusiva dentro de casa. 

Mas a partir da segunda metade, o roteiro fica embolado e as cenas deixam a desejar. Começa uma explicação, deixa pela metade, já pula para outra cena, não se sabe nada da família de Peter, apenas que é assustadora, especialmente o pai. Os crimes acontecem, mas ninguém investiga e nem suspeita de ninguém. Tudo fica solto no ar.


Na história, Peter (Woody Norman), de 8 anos, é atormentado por um misterioso e constante barulho que vem de dentro da parede de seu quarto, um toque que seus pais abusivos insistem que se trata apenas da imaginação do garoto. 

À medida que o medo de Peter se intensifica, ele acredita que seus pais podem estar escondendo um segredo perigoso e passam a ameaçá-lo. O garoto passa a confiar apenas na professora e na voz misteriosa vinda da parede.


No elenco estão Antony Starr (pai) e Lizzy Caplan (mãe), ambos da série “The Boys” (2019 a 2022), da Prime Video, que conta com a produção de Seth Rogen e Evan Goldberg, os mesmos deste filme. A dupla também é roteirista de "As Tartarugas Ninja - Caos Mutante", que estreia também nesta quinta-feira (31) nos cinemas.

Destaque para Woody Norman, que pelo visto gostou de fazer o gênero - este é o segundo filme de terror este ano. O primeiro foi "Drácula - A Última Viagem do Deméter", que entrou em cartaz nos cinemas na semana passada. Também fazem parte do longa Cleopatra Coleman (a professora Miss Devine) e Ellen Dublin (a voz vinda da parede do quarto de Peter).


"Toc Toc Toc - Ecos do Além" não é um terror ruim, mas não provoca impacto, do tipo que faz a gente dar pulo na cadeira do cinema. Muito antes de a entidade dar as caras, o que acontece nos minutos finais, já dá para saber que não vai dar boa coisa para Peter. E agora, o que é capaz de provocar mais pavor: os pais do garoto ou a voz na parede? Só assistindo para saber.


Ficha técnica:
Direção: Samuel Bodin
Produção: Lionsgate, Vertigo Entertainment e Point Grey Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, terror

25 agosto 2023

"A Chamada" é uma repetição de outros filmes de ação de Liam Neeson

Longa traz ameaças por telefone, perseguições da polícia e um roteiro bem fraco  (Fotos: StudioCanal)


Maristela Bretas


De agente num avião ("Sem Escalas" - 2014) para um policial no trem ("O Passageiro" - 2018) e agora um executivo do setor financeiro que não dá atenção à família dentro de um carro. O formato que marcou estes filmes de ação de Liam Neeson se repete em "A Chamada" ("Retribution"), novamente com mensagens e ligações telefônicas ameaçadoras. A nova produção, em cartaz nos cinemas, é mais do mesmo.

Tudo é bem previsível, das falas ao vilão. O roteiro é preguiçoso, quase um CONTROL C/CONTROL V. Poderia ter explorado a experiência do ator principal, que já fez produções melhores do gênero. Desde o primeiro momento é possível saber o que vai acontecer e como será a reação do empresário Matt Turner, papel de Neeson.


O elenco secundário também faz o básico e acrescenta muito pouco, especialmente os atores Lilly Aspell, Jack Champion e Embeth Davidtz, que interpretam os filhos e a esposa de Turner. 

A agente da Europol, Angela Brickmann (Noma Dumezweni), está lá para cumprir tabela. Afinal é necessário alguém da polícia para caçar o homem que ameaça os filhos com uma bomba. Até mesmo o experiente Matthew Modine, como Anders, sócio de Turner, é mal aproveitado.


O longa é uma corrida contra o relógio para Matt Turner. Numa manhã quando levava os filhos à escola, ele recebe uma ligação de um desconhecido que diz que há uma bomba sob os assentos e que ninguém pode deixar o carro. 

O executivo terá de seguir as ordens do terrorista ou o veiculo será explodido com todos os ocupantes. Para quem não se importava muito com a família e só pensava nos negócios, ele agora tem de voltar sua atenção para salvar os filhos do homem que os está ameaçando.


"A Chamada" tem pontos positivos, como as imagens nas ruas de Berlim. Mesmo com cenas rápidas de perseguição é possível ver locais bem interessantes da cidade alemã. A ação predomina durante todo o longa, mas não apresenta nada de novo do que já foi visto em outros filmes do gênero. 

A trilha sonora composta por Harry Gregson-Williams, responsável por "Megatubarão 2" (2023), "Mulan" (2020) e "A Casa de Gucci" (2021), é boa e ajuda a dar um clima mais dinâmico às cenas de ação. 

Para os fãs do ator, "A Chamada" pode ser uma opção que agrade - eu mesma fui assistir por gostar dos filmes de Liam Neeson -, mas não espere novidades. Acredito que o longa vá bem rápido para o streaming.


Ficha técnica:
Direção: Nimród Antal
Produção: StudioCanal, Vaca Films Studio, Ombra Films
Distribuição: Paris Filmes, Telecine
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h31
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, ação

15 agosto 2023

"Tempos de Barbárie - Ato I" é repleto de falhas e irresponsável no conteúdo

Cláudia Abreu é destaque no filme, entregando interpretação primorosa
(Foto: Raquel Tanugi e Mariana Vianna/Atômica)


Larissa Figueiredo 


O longa nacional "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança" estreia nesta quinta-feira (17), trazendo a trajetória de uma mãe, a advogada Carla (Cláudia Abreu), que vê a filha ser baleada durante uma tentativa de assalto. 

Carla, sem conseguir aceitar o destino da filha e a falta de soluções por parte da polícia, transforma a busca por justiça em uma vingança contra todo o sistema que alimenta a violência no Brasil. 


O que era para ser uma crítica de apelo moral sobre justiça com as próprias mãos, se tornou um conteúdo sem sentido e irresponsável. O roteiro do filme é repleto de falhas e não é nem de longe uma boa ideia.

A protagonista com a saúde debilitada se transforma em uma espécie de Exterminador do Futuro e de algum modo, consegue executar seus planos sem muita dificuldade. 


Os outros personagens, como o marido de Carla (César Mello), mal aparecem no longa, não há nenhuma complexidade, desenvolvimento e trama secundária, o que torna o filme repetitivo e pesado para quem está do outro lado da tela. 

Alexandre Borges também está no elenco interpretando Miranda, colega de trabalho de Carla que a incentiva a fazer sua própria justiça. Além de Julia Lemmertz, Kikito Junqueira, Pierre Santos, Adriano Garib, Claudia Di Moura, Roberto Frota e Giovanna Lima. 


Outro ponto que chama atenção é a forma que o longa alimenta todos os lugares comuns e estereótipos do contexto da violência nas grandes periferias brasileiras. 

O filme poderia ter explorado com maior complexidade o modus operandi das milícias e organizações criminosas de contrabando de armas de fogo, por exemplo, como vemos no clássico "Tropa de Elite" (2007). Mas a direção parece ter escolhido a mediocridade e um simplismo desleixado. 


A atuação de Claudia Abreu é um dos únicos pontos positivos de "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança". Mesmo com as inúmeras falhas no roteiro, a atriz cumpriu seu papel com primor. 

Os planos curtos intercalados e os filtros frios na imagem trazem certo desespero ao espectador misturado com apatia, expressando os sentimentos de Carla na busca por vingança. Destaque também para a montagem do longa, fotografia e direção de arte. 


Ficha técnica:
Direção: Marcos Bernstein
Roteiro: Marcos Bernstein e Victor Atherino
Produção: Hungry Man, Pássaro Films e Neanderthal MB, com a coprodução da Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense
Nota: 2 (0 a 5)

06 agosto 2023

Biografia de executivo resgata histórias de grandes nomes da música em “A Era de Ouro”

Longa aborda história da gravadora Casablanca, que lançou grandes sucessos nos anos 1970 (Fotos: Paris Filmes)


Eduardo Jr.


São 2h15 de um longa que, embora seja um drama, é capaz de animar o mais parado dos públicos. Esse é “A Era de Ouro” ("Spinning Gold"), que estreia nesta quinta-feira (10) nos cinemas. 

Se não tem um nome de peso na direção (feita pelo norte-americano Timothy Scott Bogart, que também é roteirista e produtor), Donna Summer, Bill Withers e a banda Kiss se encarregam de subir o sarrafo. 

Mas não se trata de um filme sobre esses artistas e sim uma biografia do produtor musical Neil Bogart, fundador da gravadora Casablanca Records, que nos anos 1970 lançou todas essas estrelas da música internacional, além da cantora Gladys Knight e das bandas The Village People, The Isley Brother e Parliament.


O sobrenome não é mera coincidência. O biografado, Neil Bogart, é pai do diretor do longa. No filme, o ator Jeremy Jordan (de séries de TV como "Supergirl" e "The Flash") dá vida a Neil, que narra sua própria história, conversando com a câmera. O texto não é brilhante, mas consegue envolver o espectador. 

A luz amarelada no início, que aquece e fica condizente com um retrato do passado, cria a atmosfera ideal para uma viagem à infância do produtor e sua luta para não repetir os passos do pai, um sonhador inconsequente (está aí um dos dramas do protagonista). 


Em muitos momentos é possível enxergar o protagonista como um malandro bom de lábia, com muita ambição e um pouco de charme (não se empolgue, não há charme que dure com a peruca do personagem). 

A falta de dinheiro vai sendo superada com um jeitinho aqui e ali, e a esperteza coloca Neil definitivamente dentro da indústria da música. 


A partir daí começa a venda da imagem do executivo como gênio criativo. A inventividade e a ousadia vão ajudando Neil a descobrir - e roubar - talentos de outras gravadoras. 

Sendo um pouco mais rigoroso, nota-se que algumas questões ficam pelo caminho, como a origem do dinheiro para algumas operações e o sumiço da esposa e filha do protagonista por longos minutos enquanto ele vive sua vida de estrela. 


Entram em cena os clichês: do dinheiro que vem rápido e que é gasto mais rápido ainda, do romance que fica na corda bamba, e da loucura das drogas. 

Mas a diversão é garantida por outras escolhas da direção. Músicas de fundo vão guiando os momentos da trama e tornando o filme mais acessível, curiosidades sobre gravações e shows despertam a curiosidade do público, e apresentações musicais fazem o espectador viajar ao passado e se surpreender com o elenco. 


O cantor de pop e R&B, Jason Derulo, interpreta Ron Isley, do The Isley Brothers. Pink Sweats, que tem forte ligação com o rap e R&B impressiona cantando “Ain’t no Sunshine”, o maior sucesso de Bill Withers. 

E Ledisi, que já se aproximou da música brasileira ao gravar com Sérgio Mendes, surge impecável caracterizada - e cantando - como Gladys Knight. A excelente trilha sonora do filme ficou a cargo de outro filho de Neil, Evan “Kidd” Bogart. Confira clicando aqui.


Além de números que fazer dançar na cadeira, a jornada do herói também marca presença. O longa apresenta dramas, ameniza as falhas do protagonista pela simpatia, traz superação e aposta em clássicos da world music para subir o clima da produção. 

Nomes famosos da "Era de Ouro" lançados por Bogart recebem intérpretes pouco conhecidos, como Tayla Parx (que saiu-se bem como Donna Summer) e Casey Likes (Gene Simmons/Kiss). 

Obra divertida, que precisa ser vista pelas gerações de ontem e de hoje - e também para dizerem se concordam comigo que o final poderia ser encurtado, por trazer cenas dispensáveis.  


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Timothy Scott Bogart
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h17
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: drama, música, biografia

10 maio 2023

"Máfia Mamma" aborda temáticas feministas com sutileza e bom humor

Toni Collette e Monica Bellucci protagonizam essa comédia sobre o comando da máfia italiana após a morte do chefão (Fotos: Paris Filmes)


Larissa Figueiredo 


Uma mãe suburbana norte-americana herda o império da máfia de seu falecido avô na Itália. Esse é o enredo de "Máfia Mamma", longa de comédia que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (11).

Para Kristin Balbano (Toni Collette), a viagem que era uma versão peculiar de “Comer, Rezar, Amar” (2010) se transformou em “O Poderoso Chefão”. 

Apenas ao chegar ao velório, ela descobre que o avô, Giuseppe Balbano, era chefe da mais feroz máfia da Calábria. Como sua descendente mais próxima se tornou a sucessora nos “negócios” da família.


O “tempero” do filme é a personalidade brutalmente comum da protagonista, ao mesmo tempo em que Kristin é única e quebra todas as expectativas. 

É possível rir e se identificar com os dilemas apresentados, até mesmo em situações nada cotidianas (como um jantar com a família rival). Ela é uma mulher como todas as outras, e assim como elas, é diferente.


A sensibilidade de Catherine Hardwicke para abordar as questões de gênero é algo consolidado em sua carreira e "Máfia Mamma" evidencia isso. Hardwicke dirigiu os documentários “Isso Muda Tudo”, “Luz Câmera, Machismo!” e o drama analógico premiado “Tell It Like a Woman”, que estreia em junho deste ano.


No longa de comédia, a diretora aborda a relação do machismo em ambientes de trabalho e a emancipação feminina para além da validação masculina. Kristin leva os negócios da máfia da forma que apenas uma mulher conseguiria, com carisma e empatia. 

A princípio, causa estranhamento e recriminação dos outros membros, mas no decorrer da trama, ela conquista espaço e ganha o respeito dos rivais de maneiras inusitadas.


Se nos lugares comuns do cinema as mulheres se voltam umas contra as outras, em "Máfia Mamma", Kristin conta com a ajuda de Bianca (Monica Bellucci), fiel escudeira de seu falecido avô. Bianca se apresenta de forma diferente de Kristin, exala sensualidade e poder, mas uma não compete com a outra. A amizade das duas personagens é retratada com lealdade até o fim do enredo. Ponto para Hardwicke!


Nas obras de comédia é comum ver um certo desleixo com o roteiro e a construção de personagens. Em "Máfia Mamma" não é preciso escolher: o roteiro é primoroso e o filme é engraçado. Não há pontas soltas nem personagens esquecidos como alívio cômico.

Por fim, é importante dizer que assistir a trajetória de Kristin é um lembrete de que é possível se reinventar sem deixar de ser quem é.
  

Ficha técnica:
Direção: Catherine Hardwicke
Produção: Idéal Films / Bleecker Street
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gêneros: comédia, ação, policial
Nota: 5 (0 a 5)

28 abril 2023

“O Chamado 4” falha do início ao fim com o legado de Samara

Filme japonês dirigido por Hisashi Kimura tem pouca ligação com a famosa franquia norte-americana iniciada em 1998 (Fotos: Paris Filmes)


Larissa Figueiredo 


A franquia “O Chamado”, iniciada em 1998, está entre os novos clássicos do terror e não é segredo para nenhum millennial, ou seja, os nascidos entre 1985 e 1995, o impacto dos filmes para o gênero e para esta geração.  

Mas “O Chamado 4 – Samara Ressurge”, que estreou nesta semana nos cinemas brasileiros, não faz parte da franquia norte-americana, apesar de utilizar da consagrada entidade para emplacar a narrativa. 

Com o título original “Sadako DX”, o longa japonês pertence, na verdade, ao subgênero comédia de horror. 


A primeira aparição de Samara foi há 20 anos. Originalmente, quem assistia a amaldiçoada fita cassete era visitado por ela e levado ao fundo do poço em sete dias. 

Porém, em “O Chamado 4 – Samara Ressurge”, as vítimas só têm 24 horas para tentar escapar da entidade. 

Apoiado no uso indiscriminado das redes sociais pelos jovens e no compartilhamento de informações em massa, o roteiro de Kôji Susuki e Yuga Takahashi foi pensado para atrair a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010). 


O filme apresenta a trama da cética Ayaka Ichijo (Fuka Koshiba), uma estudante de pós-graduação que não acredita na maldição até sua irmã mais nova assistir ao vídeo. 

Paralelamente, diversas mortes acontecem sem explicação e rumores de que cópias da fita estariam sendo vendidas começam a viralizar nas redes sociais. 


Por falar em viral, Ayaka tenta provar a todo custo que os eventos se tratam de um efeito placebo pela crença da população na maldição. 

Ainda que sua família esteja destinada à visita de Samara em poucas horas, a protagonista parece não descer do pedestal intelectual e continua racionalizando os acontecimentos sobrenaturais. 


Quando finalmente Ayaka está inserida no enredo do filme, o roteiro começa a dar voltas desnecessárias e cansativas. Diálogos longos e complexos demais sobram, enquanto faltam cenas de suspense e tensão.

Em todo (bom) filme de terror, o protagonista precisa enfrentar seus medos e encarar a entidade. É aí que está o grande erro de “O Chamado 4 – Samara Ressurge” não sente medo, não confronta a si mesma nem as próprias crenças. 


Uma “final girl” que derrota Samara com conceitos básicos de biologia e associações frágeis sobre o comportamento humano na internet não cativa o público e deixa de fazer sentido. 

Os demais personagens parecem deslocados, não são construídos adequadamente e permanecem na sombra da protagonista. 

No auge do filme, começa uma tentativa de romance entre Ayaka e Bunka e os sentimentos do rapaz causam mais medo na mocinha que a própria Samara. 


A crítica satírica à geração Z é pontual, mas fica deslocada no enredo e não é trabalhada depois. O roteiro justifica a “atualização” da maldição com a difusão da informação e as cópias das fitas. 

Tenta falar sobre internet e tecnologia, mas é incoerente e beira o desleixo, principalmente porque continua utilizando a aposentada fita cassete para invocar Samara. 

Conclusão: mudar a receita de um clássico é, quase sempre, fadar o filme ao fracasso. 


Ficha técnica:
Direção: Hisashi Kimura
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h40
Exibição: nos cinemas
Classificação: 14 anos
Gênero: Terror
Nota: 1 (0 a 5)

21 abril 2023

"Os Três Mosqueteiros - D'Artagnan" - um clássico em dois capítulos

Nova versão francesa tem luxo, ação e boas interpretações (Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


Está em cartaz nos cinemas - "Os Três Mosqueteiros - D'Artagnan" ("Le Trois Mousquetaires: D'Artagnan"), produção baseada na obra de Alexandre Dumas de 1844 que, desta vez, será dividida em dois capítulos. 

O primeiro episódio do famoso clássico da literatura francesa conta a trajetória do imprudente D’Artagnan (François Civil) e sua jornada para se tornar um dos mosqueteiros do Rei Luis XIII (Louis Garrel) e lutar pela França.


Para assistir ao segundo capítulo, filmado simultaneamente com o primeiro, o público precisará esperar até dezembro deste ano. 

A história começará a partir do final deste episódio inicial e vai se chamar “Os Três Mosqueteiros: Milady". Ele será dedicado à personagem de Eva Green, a vilã Milady de Winter.


Com muitas lutas de espadas, tiros e punhais, "Os Três Mosqueteiros - D'Artagnan" é um filme com planos-sequências que fazem o público se sentir dentro da ação. 

Algumas cenas, no entanto, são longas demais e muito rápidas, deixando o expectador um pouco confuso.


As boas interpretações do elenco, especialmente de Vincent Cassel, Eva Green e François Civil, são destaque do filme. Mas o diretor Martin Bourboulon soube distribuir bem os papéis do elenco, dando a cada ator e atriz a devida importância de seu personagem na história.

Além da ação e do elenco, outro ponto que chama atenção é o luxo da produção, com riqueza de detalhes na reconstituição de época e cuidado com o figurino. 


No filme, D'Artagnan, nascido em Gasconha, no sul da França, está a caminho de Paris para se tornar um mosqueteiro. Mas é deixado para morrer depois de tentar salvar uma jovem de ser sequestrada. 

Ao chegar à cidade a procura de seus agressores, ele se une aos três mosqueteiros - Athos (Vincent Cassel), Porthos (Pio Marmaï) e Aramis (Roman Duris) - para defender a França dividida pelas guerras religiosas e ameaçada pela invasão da Inglaterra. 


Eles precisam provar sua lealdade à coroa e enfrentar as articulações do Cardeal Richelieu (Eric Ruf), que está tentando derrubar o rei do trono.

Entre uma luta e outra, o caminho de D'Artagnan se cruza com o da jovem Constance Bonacieux (Lyna Khoudri), a confidente da rainha Anna (Vicky Krieps). Ao salvar a rainha e sua amada, ele ganha uma inimiga mortal, Milady de Winter, aliada do cardeal.


O longa, inteiramente filmado na Normandia, Bretanha e Altos da França, apresenta ao público belíssimas locações destas regiões francesas. 

O custo estimado desta primeira produção foi de 70 milhões de euros. Agora é esperar que o segundo capítulo dê o encerramento esperado à obra de Dumas.


Ficha técnica:
Direção: Martin Bourboulon
Produção: Pathé Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h01
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: aventura, ação

30 março 2023

"A Primeira Comunhão" - quando uma criança e uma boneca são o pior de seus pesadelos

Terror espanhol apresenta brinquedo amaldiçoado de uma menina desaparecida que persegue quatro jovens (Fotos: Wild Side)


Maristela Bretas


Usando efeitos especiais que causam sustos convincentes, mas esperados, “A Primeira Comunhão” ("La Niña de la Comunión") é um terror espanhol que pode agradar. Apesar de dar indicações do que virá no final, o filme é bem conduzido pelo diretor Victor Garcia. 

A produção apresenta uma entidade do mal incorporada em uma boneca, que não é tão assustadora como Annabelle, apresentada na franquia "Invocação do Mal" e protagonista de dois filmes - "Annabelle" (2014) e "Annabelle 2 - A Criação do Mal" (2017). 
 

A boneca de “A Primeira Comunhão” é bonitinha, do tipo que muita criança deve tem na prateleira do quarto. 

Mas o que o brinquedo, que um dia foi de uma menina, é capaz de fazer vai deixar muita gente de cabelo em pé. E pior, pode levar à morte aqueles que têm contato com ela.


O filme se passa no final dos anos 1980. A recém-chegada Sara (Carla Campra) tenta se entrosar com os outros adolescentes de uma pequena cidade na província de Tarragona, na Espanha. 

Sua única amiga, a extrovertida Rebe (Aina Quiñones), é uma das pessoas detestadas pelos moradores, o que não ajuda muito. 


Uma noite, elas vão para uma casa noturna e, na volta, a caminho de casa, de carona com dois conhecidos - Pedro (Marc Soler) e Chivo (Carlos Oviedo) -, encontram uma boneca antiga no meio de uma mata. 

Sara jura para o grupo que viu uma menina, vestida para primeira comunhão, segurando o brinquedo, mas eles não acreditam.


A partir daí, coisas estranhas começam a ocorrer com os quatro - manchas pelo corpo, luzes piscando em casa ou no trabalho, portas batendo e fechando, vozes do além e alucinações com um ser que tenta matá-los. 

A história da boneca e de sua dona, uma menina desaparecida anos atrás, é um mistério que ninguém da cidade gosta de comentar. Do tipo lenda urbana para afastar as crianças da floresta. Mas até mesmo o padre local tem medo da maldição que ela carrega. 


"A Primeira Comunhão" é um filme com cenas de terror e aparições, seguidas de ataques da entidade, muito parecidas com as da freira diabólica Valak, de "Invocação do Mal 2" (2016) e "A Freira" (2018). 

Especialmente  as que a mostram saindo da escuridão. Assusta, mas não tanto quanto os personagens da famosa franquia.


Ficha técnica:
Direção: Víctor Garcia (VI)
Produção: Ikiru Films, Atresmedia Cine, Rebelión Terrestre e La Terraza Films
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 18 anos
País: Espanha
Gênero: Terror

22 março 2023

Keanu Reeves aposenta John Wick em "Baba Yaga”

Apesar de ser um filme longo, diretor compensou com ótimas sequências de ação (Fotos: Metropolitan Film)


Maristela Bretas


Agora é para valer. O assassino mais focado e vingador, que não tem nada a perder, coloca um fim a uma sangrenta e lucrativa franquia. “John Wick 4: Baba Yaga” (“John Wick: Chapter 4”) pode ser o fim do icônico assassino interpretado desde 2014 por Keanu Reeves. O ator, no entanto, não descarta uma quinta produção, que vai depender do sucesso deste quarto longa.

O filme, que estreia nesta quinta-feira (23) nos cinemas, não decepciona, apesar de ser o mais longo da franquia - 2h50. Poderia resolver tudo num tempo bem menor se não tivesse muitas cenas esticadas que se tornam cansativas.


Mas nem por isso fica atrás dos três anteriores em sequências de ação e muito sangue. John Wick vai deixar saudades nos fãs. É mais um personagem que o ator emplaca seu talento e carisma

Como aconteceu com Neo, da franquia "Matrix", iniciada em 1999. Clique no link para conferir a crítica do último filme, "Matrix Resurrections" (2021).


Neste Capítulo 4, mesmo com poucas falas e muita pancadaria, Keanu Reeves mantém seu estilo de atuação, com pouca conversa, muitas mortes e ótimas perseguições e sequências de ação.

Wick é quase imortal. Enfrenta um pelotão com metralhadoras usando só uma pistola, resiste a tiros, facadas, golpes de espadas, explosões, muita surra. Só nunca superou a perda da esposa, ponto importante que guia as ações do personagem.


Conhecido no mundo do crime como Baba Yaga, ele continua sendo caçado pelo mundo, o que garante boas cenas em locações como Nova York, Berlim, Paris e Osaka, no Japão. 

Continuando de onde parou no terceiro filme, "Parabellum" (2019), John descobre uma forma de conseguir se libertar da Alta Cúpula. Mas a cada morte, o valor da recompensa por sua cabeça sobe e ele é alvo onde quer que vá.


Seu novo algoz é Marquis Vicent de Gramont, atual chefão na organização. Bill Skarsgård (o palhaço assassino de “It - A Coisa”, 2017, e “It – A Coisa 2”, 2019) entrega um vilão digno de encarar o famoso assassino e participar do final da saga.


No time de John Wick estão velhos e fiéis amigos como Bowery King (Laurence Fishburne), Winston (Ian McShane), gerente do Hotel Continental de Nova York, Charon (Lance Reddick), concièrge do hotel de Nova York, e Shimatzu (Hiroyuri Sanada), gerente do Hotel Continental de Osaka.


Por falar em Lance Reddick (foto acima), este foi um dos últimos filmes feitos pelo ator que morreu aos 60 anos no dia 17 deste mês. Ele estava na saga John Wick desde o primeiro filme.

Também compõem o ótimo elenco Donnie Yen (de "Rogue One", 2016), no papel de Caine, o matador cego, e Shamier Anderson, como Tracker, um caçador de recompensas que anda acompanhado por um cão (não poderia faltar). 


Chad Stahelski, que dirigiu toda a franquia, apostou numa opção diferente ao filmar o cenário de cima, uma das melhores sequências de ação. 

O público acompanha, sem interrupção, os personagens se enfrentando e mudando de cômodos durante uma matança com tiros e explosões. Vale à pena conferir.


Ficha técnica:
Direção: Chad Stahelski
Produção: Lionsgate
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h50
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: ação