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08 dezembro 2025

"3 Atos de Moisés", um doc para inspirar sonhos e tocar o impossível

Documentário, dirigido por Eduardo Boccaletti, reflete as fases mais importantes da vida do pianista de
Juiz de Fora (Fotos: L. Barreto)
 
 

Silvana Monteiro

 
Há documentários que se limitam a registrar fatos, outros que tentam emocionar, e alguns poucos que conseguem transformar uma biografia em experiência única. 

O documentário sobre Moisés Mattos, um músico que sai da Zona da Mata mineira para ganhar os palcos do mundo como pianista, pertence a essa categoria rara. 

A produção constrói sua narrativa em três momentos que dialogam entre si como movimentos de uma mesma peça musical, sempre fiel à ideia de que a arte pode atravessar barreiras que a sociedade insiste em erguer. Para quem escreve esta crítica, a música é a verdadeira linguagem universal. 


Torna-se então, muito mais poderosa ao ser a ponte de transformação e a realização de um homem cujas interseccionalidades, como a cor da pele, a origem e a orientação sexual, lhe conferem uma perspectiva ainda mais profunda.

O percurso de Moisés é filmado com a sobriedade de quem entende que nem todo início precisa de brilho para ter grandeza. O jovem que praticava em teclas imaginárias é mostrado sem exageros, e o filme encontra força justamente na simplicidade dos gestos cotidianos que antecedem o talento. 

Há um cuidado em revelar o artista antes da fama, sem pressa de coroá-lo e sem necessidade de dramatizar o que, por si só, já é dramático.

Ao longo do documentário, a música toma esse lugar como linguagem. O espectador acompanha o amadurecimento de Moisés em salas de estudo, recitais, processos seletivos e oportunidades que surgem quase sempre acompanhadas de novos desafios. 


A produção sugere, sem sublinhar demais, como a carreira artística no Brasil é atravessada por desigualdades que pedem não só habilidade, mas persistência, disciplina e uma confiança quase irracional no próprio destino. 

É nessa camada silenciosa que o filme encontra sua potência. É um enredo que pode levar o espectador à percepção de que a vida de um artista não se escreve apenas nos palcos, mas nos bastidores invisíveis e nas marcas que o moldam.

Quando Moisés retorna ao país, o filme abandona qualquer traço de triunfalismo. O reencontro com sua comunidade e com o passado não é tratado como redenção, mas como reconhecimento. Nesse contexto ele vê uma chance de enxergar, com distância, o preço e o alcance da própria vida. 


O desfecho tem a delicadeza de um gesto que fecha um ciclo sem apagar as cicatrizes que o compõem. Nada é espetacularizado; a emoção nasce do que permanece dito nas entrelinhas.

O documentário se destaca pela honestidade estética e pela recusa em transformar Moisés em símbolo fácil. Ele é retratado como o que sempre foi: um artista que avançou não porque o mundo se abriu para ele, mas porque ele insistiu em atravessá-lo. 

A obra, ao reunir seus três momentos, desenha também um retrato de um país com barreiras, sim, mas também com beleza e talento. “3 Atos de Moisés” é, no fim, um lembrete de que os sonhos não começam nos aplausos, mas no caminho que se faz até recebê-los. É uma obra linda, capaz de emocionar crianças, jovens, adultos e idosos.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Eduardo Boccaletti
Produção: É Pra Ontem Filmes, com as produtoras associadas Catiripapo Filmes e Tarannà Films
Distribuição: Pipa Pictures
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h13
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

18 dezembro 2023

Bradley Cooper se transforma para contar a vida e obra de Leonard Bernstein em “Maestro”

Ator divide o protagonismo com Carey Mulligan, com interpretações dignas de Oscar na biografia do famoso músico e compositor
(Fotos: Netflix)


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Dirigido por Bradley Cooper, conhecido por seu trabalho em "Nasce uma Estrela" (2018), "Maestro" apresenta-se como uma obra cativante e tecnicamente sólida. A produção ainda pode ser conferida na sala 1 do Centro Cultural Minas/Unimed e a partir do dia 20 de dezembro no catálogo da Netflix.  

Quarta incursão de Cooper na direção, ele também assume o papel do excêntrico músico e pianista Leonard Bernstein, uma figura icônica do gênero clássico. A narrativa, com mais de duas horas de duração, revela a jornada do compositor e maestro, apresentando-o desde o início da carreira e sua vida pessoal, explorando as vitórias e derrotas, inclusive seus 18 anos no comando da Orquestra Filarmônica de Nova York.


A biografia retrata inicialmente a paixão de Bernstein pela música e o caminho rumo à fama por meio de uma regência rígida e composição poderosa. As nuances visuais, utilizando tanto o preto e branco quanto cores variadas desvendam a evolução dos relacionamentos e das dinâmicas familiares do protagonista ao longo do tempo, inclusive seu envolvimento amoroso com outros homens.

Bradley Cooper oferece uma atuação convincente, revelando os dilemas do personagem-título. O ator usou inclusive uma prótese no nariz para se parecer mais com o maestro. O filme, mesmo dirigido por um homem, coloca em foco personagens femininas fortes, como a atriz e ativista Felícia Montealegre, interpretada por Carey Mulligan, que desempenha um papel crucial na vida pessoal e profissional de Bernstein. No elenco estão ainda Maya Hawke, Matt Bomer, Michael Urie e Sarah Silverman. 


Do ponto de vista técnico, a trilha sonora de Leonard Bernstein é uma presença marcante, ganhando vida nas mãos habilidosas de Cooper. O famoso maestro é responsável por conhecidas composições de musicais da Broadway, como "West Side Story" ("Amor, Sublime Amor"). Também a fotografia de Matthew Libatique é primorosa, usando cores e a ausência delas de maneira criativa para contar a história de forma envolvente.

A direção de arte de Kevin Thompson contribui para criar um ambiente sofisticado, repleto de referências ao universo da televisão e do cinema, proporcionando um contexto impactante para os personagens. A presença de nomes como Martin Scorsese e Steven Spielberg na equipe de produção promete elevar as chances do filme em premiações como o Oscar.


Alguns aspectos do filme, no entanto, podem deixar a desejar, como a relação com os filhos, que poderia ganhar mais protagonismo, e o relacionamento conturbado de quase 30 anos entre Felícia e Bernstein.

"Maestro" destaca-se como uma das melhores obras do ano. Vale a pena conferir no cinema para apreciar a riqueza sonora e visual proporcionada pela direção. Indicado para os amantes de música clássica, teatro e cinema, além de uma grande oportunidade de conhecer um pouco da história desse famoso compositor.


Ficha técnica
Direção: Bradley Cooper
Produção: Netflix
Distribuição: Netflix
Exibição: sala 1 do Centro Cultural Minas/Unimed e dia 20/12 na Netflix
Duração: 2h19
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: biografia