Filme foi dirigido pela alemã Nele Wohlatz e produzido por Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho (Fotos: Vitrine Filmes)
Eduardo Jr.
Apresentar, em uma hora e meia, a percepção de estrangeiros sobre o Brasil, terra onde buscam reconstruir suas vidas. Esta é a temática do filme “Dormir de Olhos Abertos”. O longa, dirigido pela alemã Nele Wohlatz e produzido por Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, estreia dia 11 de setembro nos cinemas;
Com o perdão do trocadilho, o ponto de partida é um aeroporto, onde uma jovem oriental espera seu companheiro, que decide não viajar mais. Ali se imprime a solidão que vai acompanhar a protagonista Kai (Liao Kai Ro) por toda a trama.
Chegar a outro país, onde o idioma se coloca como barreira e nem o ar condicionado fala sua língua, é algo difícil de suportar. Mas Kai segue tentando, buscando parecer uma cidadã local e se aproximando de um vendedor de guarda-chuvas. Como a chuva não chega, a loja fecha e o possível amigo também desaparece. Mais uma vez ela está sozinha.
Kai (e a câmera, escura demais em certos momentos) começam a observar o cotidiano de chineses que se agrupam na cidade e moram em prédios de luxo. E é na observação desses imigrantes que a história começa a causar estranhamento.
A jovem parece deixar de ser a protagonista, dando lugar à rotina diária desses estrangeiros, muitas vezes permeada de inseguranças e medo. Daí o título do longa, já que a recomendação entre eles é de que se mantenham atentos, não baixem a guarda, não durmam profundamente.
Algumas frases até soam engraçadas, como o estranhamento quanto ao hábito de o brasileiro “colocar farofa em tudo”. Mas os momentos de comédia não salvam a sensação de suspensão na qual o espectador é colocado. O filme é silencioso e consegue a façanha de só revelar que a história se passa em Recife após 25 minutos de exibição.
O público é instigado a experimentar a solidão, a aflição e a incredulidade diante da situação de se entregar a empregos sem contrato e nem garantias trabalhistas, realidade que afeta inúmeros imigrantes que chegam ao Brasil.
No entanto, é pouco para avaliar positivamente o longa, que padece de emoção. Enquanto produto audiovisual, esta poderia ser considerada uma obra “estranha”.
Ficha técnica: Direção: Nele Wohlatz Produção: Cinemascópio Distribuição: Vitrine Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 1h37 Classificação: 14 anos Países: Brasil, Argentina, Taiwan e Alemanha Gênero: drama
Patrick Wilson e Vera Farmiga se despedem de seus papéis como Ed e Lorraine Warren na saga iniciada em 2013 (Fotos: Warner Bros. Pictures)
Maristela Bretas
Lançado nesta quinta-feira nos cinemas, "Invocação do Mal 4: O Último Ritual" ("The Conjuring: Last Rites") marca o encerramento da franquia iniciada em 2013 que originou outros nove filmes e criou o chamado "Invocaverso".
O longa foi escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick e dirigido por Michael Chaves, o mesmo de "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" (2021), "A Freira 2" (2023) e do fraco "A Maldição da Chorona" (2019).
Neste quarto capítulo, acompanhamos o caso considerado o mais difícil enfrentado pelo casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren na vida real. Patrick Wilson e Vera Farmiga retornam a seus personagens neste último filme da franquia (pelo menos até o momento).
"Invocação do Mal 4" revisita o passado e traz de volta figuras icônicas, como a boneca Annabelle, que marcaram a franquia e fez muitos fãs pularem na cadeira.
A trama é bem desenvolvida em sua maior parte, ao resgatar acontecimentos anteriores que ajudam a contextualizar os fatos investigados neste filme.
Isso também facilita a compreensão para quem não assistiu aos demais longas, apresentando o trabalho do casal e sua relação tanto familiar quanto espiritual com as entidades malignas.
O ritmo da narrativa, porém, cai nos 20 minutos finais ao exagerar no número de aparições demoníacas em pouco tempo, o que chega a confundir o público e provocar menos sustos que o esperado.
Essas cenas acabam enfraquecendo a proposta inicial do diretor de esclarecer a origem de tudo e concluir a franquia de forma consistente.
Oficialmente, este deve ser a última participação de Wilson e Farmiga no Invocaverso, mas, como sempre, a bilheteria é quem manda. Os milhares de casos documentados ao longo de décadas e o acervo de objetos amaldiçoados guardados no famoso museu do casal Warren ainda oferecem bastante material para bons enredos no cinema.
Desta vez, a história se passa em 1986. Ed e Lorraine estão aposentados e vivem de palestras. A única filha, Judy (Mia Tomlinson) está crescida e namora Tony Spera (Ben Hardy, de "X-Men: Apocalipse" - 2016).
Até que um dia o casal é chamado pelo padre Gordon (Steve Coulter, que também retorna à franquia) para ajudar a família Smurl, atormentada por ataques de uma entidade violenta em sua casa na Pensilvânia.
O que Ed e Lorraine não esperavam enfrentar era que esse espírito seria o mais perigoso de suas vidas, capaz de ameaçar sua própria família. O elenco ainda conta com Rebecca Calder, Elliot Cowan, Kíla Lord Cassidy, Beau Gadsdon, John Brotherton e Shannon Kook.
Cronologia dos fatos X lançamento dos filmes
"Invocação do Mal 4: O Último Ritual" adota uma narrativa bem didática ao explicar o trabalho dos Warren, o que ajuda novos espectadores a se situarem na franquia.
No entanto, quem não acompanhou todos os longas pode se perder diante das várias referências a acontecimentos anteriores — especialmente porque a ordem de lançamento dos filmes não segue a cronologia dos fatos.
Para ajudar a compreender melhor, veja abaixo a ordem cronológica dos acontecimentos:
1952 - "A Freira" (2018) - primeira aparição do demônio Valak, na Romênia.
Década de 1950 - "A Freira 2" (2023) - Valak retorna pouco tempo após sua primeira manifestação.
1967 - "Annabelle" (2014) - a boneca reaparece em outra casa.
1971 - "Invocação do Mal" (2013) - Ed e Lorraine Warren investigam uma casa com possessões demoníacas; primeiro filme da franquia dirigido por James Wan.
1973 - "A Maldição da Chorona" (2019) - baseado na lenda de La Llorona, sobre uma mulher que afogou os filhos e, arrependida, passa a capturar crianças.
1977 - "Invocação do Mal 2" (2016) - o casal Warren investiga uma família em Londres atormentada por uma entidade maligna; também dirigido por James Wan.
1986 - Invocação do Mal 4: O Último Ritual (2025), também dirigido por Michael Chaves.
Sustos e recursos técnicos
Exceto por "A Maldição da Chorona", considerado o mais fraco dos demais filmes e praticamente banido da franquia, os demais longas sustentam seus roteiros, alguns com ressalvas, mas provocam bons sustos.
O primeiro "Invocação do Mal" e "Annabelle 3" ainda são os melhores da franquia, mas em "Invocação do Mal 4: O Último Ritual" o diretor soube explorar bem os recursos visuais e técnicos, reforçados por uma fotografia sombria e ambientes fechados e claustrofóbicos que ajudam a intensificar o suspense e a tensão.
O maior trunfo da franquia, no entanto, continua sendo a química entre Patrick Wilson e Vera Farmiga, cuja parceria carismática tem conquistado o público há mais de uma década.
Nesta produção final, eles mantêm a qualidade, agora dividindo espaço com Mia Tomlinson, que contribui para dar um desfecho digno à saga — ainda que sem descartar futuras continuações.
P.S. - Não é filme de super-herói, mas tem uma cena pós-créditos que não justifica permanecer no cinema.
Ficha técnica:
Direção: Michael Chaves Roteiro: Ian Goldberg & Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick Produção: New Line Cinema, Safran Company, Atomic Monster Distribuição: Warner Bros. Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2h15 Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: terror, suspense