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17 junho 2021

Comédia francesa "A Boa Esposa" tem ótimo elenco, mas roteiro perde o fio da meada no final

Interpretações de Juliette Binoche, Yolande Moreau e Noémie Lvovsky são a ponto alto da produção (Fotos: California Filmes)


Maristela Bretas


A proposta era ótima, uma comédia crítica, passada às vésperas dos protestos de maio de 1968 que transformam a sociedade francesa. Mas o que vemos em "A Boa Esposa" ("La Bonne Épouse") são 89 minutos abordando os costumes machistas da época, representados pelo ensino numa escola de formação de adolescentes. Os dez minutos restantes são de correria, muitos furos e uma canção final sobre liberdade feminina. Faltou equilíbrio na abordagem entre o que existia e o que precisava ser mudado.


"A Boa Esposa", com estreia nesta quinta-feira (17) nos cinemas, começa bem. Apresenta a escola Van Der Beck para jovens sem fortunas que são enviadas pelos pais para se tornarem boas esposas e mães. Assim elas poderão ser escolhidas (como gado) por futuros pretendentes - em geral homens muito mais velhos. Logo na primeira aula, a diretora apresenta para as adolescentes as sete regras básicas que devem ser seguidas “por quem não quer ser uma solteirona".

No entanto, o roteiro perde a ideia inicial, que seria explorar a revolução dos hábitos, a sexualidade e, especialmente, a descoberta da força e do poder das mulheres. A sinopse anuncia isso, mas não acontece desta forma. 


Do nada, “A Boa Esposa” vira um filme comum, com direito a romances adolescentes e secretos, perde a parte cômica e aborda superficialmente a tal mudança esperada. Ficou parecendo que sofreu uma tesourada para encerrar logo porque não sabiam como tratar a questão da emancipação das mulheres.

Da noite para o dia (exatamente isso!), tudo muda: as personagens descobrem que podem ser donas de suas vidas, os conceitos ensinados caem por terra, as regras mudam e todo mundo sai cantando numa estrada a caminho de Paris. Só faltou alguém gritar "Vivre La Révolution!". 


O ponto positivo foram as atuações. Juliette Binoche está bem como Paulette Van Der Beck, esposa do proprietário da escola que segue à risca e pratica o que ensina às alunas. Inclusive na hora de fazer sexo com o marido, por quem não tem qualquer desejo. 

O lado cômico fica por conta de Yolande Moreau, como Gilbertte, cunhada de Paulette, uma solteirona de meia idade retraída, louca para encontrar o amor, que dá aulas de gastronomia e bons modos à mesa. 

Já Noémie Lvovsky faz o papel da engraçada freira Marie-Thérèse, mesmo quando está tentando doutrinar as alunas com hábitos ultrapassados. Ao mesmo tempo em que prega moral e rigidez, ela fuma escondido e olha os outros pela fechadura.


No comando desta falsa casa de boas maneiras está Robert Van Der Beck (François Berléand), marido de Paulette, que cuida das contas e paga as despesas da casa. Um homem muito mais velho que a esposa, mas bem safado e com hobbies caros, que gosta de espiar as alunas por buracos nas paredes. 

A morte súbita de Robert expõe a verdadeira condição financeira da família e da escola. Paulette terá de aprender a gerenciar a instituição que está à beira da falência e descobrir que é capaz de várias coisas que lhe eram proibidas, como dirigir e amar. 


O elenco conta ainda com Edouard Baer, como o gerente de banco André Grunvald, que poderá ajudar com as finanças. Como pano de fundo da história, os noticiários anunciam os protestos pela revolução que já tomam as ruas de Paris.

Enquanto isso, na escola as alunas estão mais interessadas em quebrar regras e resolverem dilemas típicos das jovens da época - primeira menstruação, casamento arranjado sem amor e sexualidade reprimida. A proposta de "A Boa Esposa" é bem bacana, mas o roteiro foi mal conduzido para o final, penalizando o trabalho apresentado na maior parte do filme. 


Ficha técnica:
Direção: Martin Provost
Exibição: Nos cinemas e sem previsão nas plataformas digitais
Distribuição: California Filmes
Duração: 1h49
Classificação: 14 anos
País: França
Gênero: Comédia