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02 dezembro 2021

Da infância conturbada à glória no tênis, "King Richard: Criando Campeãs" conta a história das irmãs Williams

Baseado em fatos reais, o drama trata da persistência de um pai em transformar suas filhas em lendas num esporte elitizado (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Marcos Tadeu
@Prosa&Cultura

 
“King Richard: Criando Campeãs” funciona como um bom longa motivacional ao mostrar a força e a garra das irmãs tenistas Serena e Vênus Williams em meio a uma época de racismo e um pai abusivo. Na história conhecemos Richard Williams (Will Smith), um pai batalhador, esforçado, que vê a chance de tornar suas filhas Vênus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton) em atletas renomadas do tênis, o que acabou acontecendo. O filme estreia nesta quinta-feira (2) apenas nos cinemas.

Em um primeiro momento, o filme busca apresentar o drama de Richard: as tarefas domésticas, as dificuldades financeiras e como conciliar tudo isso com seus dois empregos, de faxineiro na quadra do bairro e segurança em uma firma. Ele começa a desenvolver conhecimento e habilidades no tênis lendo e assistindo partidas na TV.


A partir daí, percebe que suas filhas têm um grande potencial para se tornarem atletas de peso nesse esporte, praticado em 90% por brancos. Seu maior desafio é fazer com que Vênus e Serena sejam treinadas por técnicos que as ajudem a buscar seu objetivo. É interessante ver que as camadas do longa são bem definidas pelo diretor Reinaldo Marcus Green, deixando o telespectador contextualizado sobre o que viria. Além do fato de apresentar uma família de negros e toda questão racial em torno disso e do esporte em si.


Em um segundo momento notamos os métodos nada convencionais de Richard treinar as filhas. Até mesmo na forma como ele bate de frente com os técnicos que aparecem para ajudar as irmãs Williams. A relação do personagem principal, título do filme, com os treinadores é conturbada. Muitas são as vezes em que ele tenta ensiná-los como trabalhar. Isso se repetiu com os dois técnicos - Rick Macci (Jon Bernthal) e Paul Cohen (Tony Goldwyn).

O filme aqui decide ir por caminhos que ficam entre o tom de comédia e o drama. Ao mesmo tempo em que Will Smith interpreta um pai preocupado e zeloso com as filhas, muitas vezes peca pelo excesso em cobrar perfeição das jovens. Os desafios de guiá-las dentro de quadra, mesmo com a presença de um técnico, muitas vezes geram atritos e até situações de racismo.


Em grande parte da narrativa há uso excessivo de frases de efeito, principalmente em relação a Serena e Vênus, reforçando a ideia de que elas vão conseguir alcançar seus objetivos jogando tênis. Tanto os técnicos, como a família incentivam as atletas a não desistirem até alcançarem o sucesso. 

Até certo ponto isso funciona, porém, usado em excesso faz parecer que soa forçado. A relação das irmãs com as quadras e o tempo também são importantes para mostrar o desejo de se ter um esporte na vida e de torná-lo profissão. Vênus, claro, é a maior atração e isso fica bem visível durante toda narrativa.


Outro aspecto positivo é a parte técnica - figurino, cabelo e maquiagem. Um trabalho bastante cuidadoso. Ao comparar imagens reais de Richard, Vênus e Serena Williams com as dos atores, tudo é muito verossímil e próximo do real. Um ótimo ponto que conecta o telespectador ao contexto da época e dos fatos narrados. Sucesso também na trilha sonora, que conta com a música “Be Alive” interpretada pela cantora Beyoncé.


Destaco também a atuação de Will Smith, mesmo que o personagem me incomode em alguns aspectos. No geral, ele é um pai abusivo que, mesmo quando não decide colocar pressão em suas filhas, faz de tudo para dar lições de humildade. Mas não é nem um pouco humilde como pessoa e fica visível a sua pretensão maior por Vênus do que por Serena. 

Fora o fato de que muito tem de ser feito pela família apenas para satisfazer a vontade e o ego de Richard. Todas as mulheres da casa são silenciadas ou pouco ouvidas. O personagem age como um rei. Não acho que um Oscar para Will Smith seja merecido, pois pode soar como um reforço a esse tipo de comportamento abusivo do pai.


Senti falta de explorar melhor outros fatores externos como a relação de Richard com a esposa Oracene “Brandi” Williams (papel de Aunjanue Ellis, que está excelente), os problemas financeiros, as filhas na escola e o fato de serem negras.

Infelizmente, a questão do racismo em si deixou muito a desejar, apesar de todos os membros da família serem negros e sofrerem muito com isso. Ficou uma abordagem rasa, sem aprofundar, o que causa estranhamento, uma vez que os produtores do filme também são negros.


Vale ressaltar também que outros negros retratados em “King Richard: Criando Campeãs” são colocados como pessoas ruins e somente a família de Richard se destaca como sendo de caráter. Um exemplo disso é a cena em que ele vai ensinar sobre humildade ao exibir o filme "Cinderela", da Disney, em uma sessão em casa. Curioso é que a personagem é branca. Não havia para ele nenhum personagem negro na época para ser referência para as filhas?

A arrogância de Richard é tamanha que desconstrói o que deveria ser um ensinamento, tudo para mostrar que os Williams são um exemplo de humildade. Até mesmo com os brancos retratados o protagonista desenvolve uma relação do tipo patrão/empregado. Mesmo assim, são taxados de ruins. Ou seja, tanto negros como brancos são maus, somente a família de Richard é boa. E o entorno deles?


Serena Willians também se torna um fator complicado na narrativa. Durante todo o tempo de tela, vemos o desenvolvimento maior de Vênus e como, facilmente, ela ganha prestigio com os técnicos e, principalmente, com seu pai. Serena, em alguns momentos, dá a impressão de que vai ganhar mais protagonismo, mas acaba sendo ofuscada pelo brilho da irmã. 

Apresentar protagonistas tão fortes e invencíveis, sem um grande desafio, muitas vezes pode deixar o final bastante previsível. Apesar disso, “King Richard: Criando Campeãs” consegue apresentar um encerramento diferente do esperado, o que é um grande acerto, pois surpreende o telespectador e ainda consegue motivá-lo.


Ficha técnica:
Direção: Reinaldo Marcus Green
Produção: Warner Bros. / Star Thrower Entertainment / Overbrook Entertainment / Westbrook Inc.
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h18
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama / biografia