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16 dezembro 2021

“Azor” é um retrato da elite argentina durante a ditadura

A estória é contada a partir da visão dos ricos, que levam suas vidas como se nada de errado estivesse ocorrendo no país (Fotos: Divulgação)


Jean Piter Miranda 


O ano é 1980. Argentina vive os últimos anos de sua última ditadura. O banqueiro suíço Yvan de Wiel (Fabrizio Rongione) e sua esposa Inês (Stéphanie Cléau) chegam ao país. Ele vai substituir o sócio que desapareceu sem deixar pistas. Além de tentar resolver esse mistério, Yvan tem que se aproximar da elite argentina para que eles continuem sendo clientes do seu banco. Essa é a estória de “Azor”, filme que acaba de estrear nos cinemas brasileiros.  

De forma geral, os filmes sobre ditaduras abordam a crueldade dos militares, o sofrimento do povo, e a coragem de pessoas que enfrentaram esses regimes. "Azor" inova bastante e passa bem longe disso. A estória é contada a partir da visão dos ricos argentinos, que levam suas vidas normalmente. Como se nada demais estivesse acontecendo no país. O mostra como a elite ficou intocada e, de certa forma, protegida nesse período.  


“Azor” não se passa nas ruas de Buenos Aires. Quase não se vê ruas na verdade. Praticamente, a cidade não aparece. Todas as cenas se passam em ambientes fechados, como clubes, restaurantes, hotéis luxuosos, salões de festa, etc. As imagens externas são de mansões, e piscinas. Os personagens, em nada são incomodados pela ditadura. Na verdade, a maior parte da elite apoia o regime, que, no filme, acaba se tornando só um pano de fundo.  


Yvan e Inês são dois personagens muito sem graça. Têm zero de carisma. Os demais são quase todos idosos, com semblantes tristes, tensos e tediosos. Praticamente não há risadas no filme, não há piadas nem diálogos inteligentes. O clima é quase sempre hostil. E o conflito fica nessa relação do casal tentando ganhar a confiança das famílias ricas, participando de festas, jantares e encontros. Entretanto, esses endinheirados vão se mostrando cada vez mais fechados.  


O sócio de Yvan que desapareceu é lembrado quase que o tempo todo nas conversas. Os clientes sempre o elogiam, na tentativa de deixar Yvan desconfortável. Fica nas entrelinhas o “você nunca será tão bom quanto ele, não está à altura para substituí-lo”. Mas não passa disso. E a estória não avança para lado nenhum. Nem aprofunda no banqueiro que sumiu, nem deixa claro quais negociações estão sendo feitas entre o Banco e os ricos argentinos.  


"Azor" pode ser resumido então em um retrato da elite argentina protegida durante a ditadura. Os desavisados podem criar expectativas de que se trata de uma trama de investigação, que haverá reviravoltas e revelações. Mas o filme começa e termina do mesmo jeito. Morno, sem sal, até mesmo para quem conhece um pouco da história argentina. Parece até uma obra inacabada. A fotografia e o figurino são bons. E não passa disso.  


Ficha técnica
Direção e roteiro: Andreas Fontana,
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
Gêneros: drama / suspense