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23 agosto 2022

“Não! Não Olhe!” mistura elementos de diferentes gêneros e é carregado de referências

Novo longa do diretor Jordan Peele repete a excelente parceria com ator Daniel Kaluuya (Fotos: Universal Pictures)


Carolina Cassese
Blog no Zint Online



É difícil segurar a expectativa quando se trata de algum trabalho assinado por Jordan Peele. Com o sucesso do inovador “Corra” (2017), o diretor logo se tornou uma referência por desenvolver um terror (ou thriller, como alguns preferem caracterizar) repleto de simbologias e críticas sociais. 

Dois anos depois, ele lançou “Nós”, longa que muitos consideram ter sido injustamente esnobado por premiações como o Oscar, por exemplo. Neste ano de 2022, mais um longa do diretor chega nesta quinta-feira (25) aos cinemas: “Não! Não Olhe!” (“Nope”), que mistura elementos de western, terror, suspense e ficção científica.


Assim como no longa “Corra”, em “Não! Não Olhe!” também temos Daniel Kaluuya como protagonista, que dessa vez interpreta O.J. Haywood, um treinador de cavalos para uso em filmes e comerciais de televisão. 

Depois que seu pai morre em circunstâncias bizarras, O.J. herda o rancho e logo se junta a sua irmã, Emerald, interpretada por Keke Palmer. Quando, de repente, o céu está com uma aparência esquisita sobre o rancho Haywood, os irmãos se unem para formar uma aliança defensiva amadora.


Se em “Corra” nosso protagonista é um “outsider” que precisa lidar com uma família aparentemente tradicional e conservadora, em “Nós” os “intrusos” são literalmente cópias (assustadoras) dos nossos protagonistas. Já no filme “Não! Não Olhe!”, os outsiders realmente vêm de muito, muito longe e não se assemelham em nada com os protagonistas.


Vale aqui pontuar a presença dos dois atores principais, Kaluuya e Palmer, que realmente entregam uma ótima dupla de irmãos. Boa parte da comédia do filme deriva justamente da dinâmica entre eles, ao passo que ambos também estão excelentes nas cenas de terror, quando o tal invasor começa a de fato “atacar”. O ritmo do longa também é digno de elogios, já que realmente nos sentimos imersos na narrativa e cada ato cumpre com o seu propósito.

Como também ocorre nos dois primeiros filmes de Peele, são possíveis várias interpretações acerca da obra. Há diversas referências ao próprio fazer cinematográfico, como o contraste de imagens (digitais e ópticas) e a onipresença de câmeras - um dos personagens é, inclusive, um jovem que trabalha com vigilância eletrônica. 


Além disso, há uma série de alusões a eventos que marcaram a história do cinema, como o acidente no set de “Twilight Zone: The Movie” (1982). O olhar é outro elemento importante para o entendimento: a única maneira de não ser devorado pelo monstro é evitar olhar diretamente para ele.

Em diferentes momentos do longa, podemos observar ainda a maneira em que os humanos tentam domar criaturas consideradas como “inferiores” por essa sociedade. Há uma alerta: após tanto abuso, é esperado que alguns desses bichos se revoltem. 


Em entrevista ao veículo The Wrap, o diretor pontua que os animais são como um lembrete de como exploramos os bichos e a natureza. “Este filme, em sua essência, é sobre espetacularização e exploração”, disse. Há possíveis leituras, ainda, a respeito da universalidade do racismo.

Numa época em que grandes empresários realizam uma corrida espacial, é difícil até mesmo falar da vida fora do planeta sem esbarrar em algum tema social. Como pontuou Peele, não faltam inspirações da vida real para seus trabalhos: “O mundo me dá coisas horríveis para interpretar”.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jordan Peele
Produção: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense / western /  ficção

13 agosto 2022

"O Telefone Preto" só deixa ocupado o público em um suspense mediano

Ethan Hawke é um sequestrador de crianças que aterroriza uma pequena cidade (Fotos: Universal Studios)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica

 
Recebendo uma nota de 87% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo 101 críticas positivas e 15 negativas, "O Telefone Preto" ("The Black Phone"), dirigido e roteirizado por Scott Derrickson, chegou aos cinemas fazendo barulho por ser um terror psicológico que foge do óbvio. Mas decepciona no quesito susto e abusa nos clichês do gênero.


Em Colorado, 1978, conhecemos Finney Shaw (Mason Thames), um garoto de 13 anos tímido mas muito inteligente, que é raptado pelo Sequestrador (Ethan Hawke) que o coloca em um quarto à prova de som. Existe na cela um telefone preto que começa a tocar e a passar recomendações para ajudar o protagonista a sair daquele lugar.


Parte do enredo busca mostrar a temática da nostalgia e da infância, por se passar em uma cidade com poucos habitantes. Vemos como aquelas crianças dali se divertem em sua comunidade e como é a relação com os seus pais. 

Somos apresentados ao núcleo do nosso protagonista, que sofre com problemas de consumo de álcool e acaba se tornando muito violento. Quando Gwen (Madeleine McGraw), irmã mais nova de Finney, começa a ter visões sobre a questão dos sequestros, seu pai muito ríspido, proíbe que a menina veja e tenha acesso ao que está ocorrendo.


Em questão do terror, "O Telefone Preto" até funciona, colocando alguns jump scare que até provocam sustos no espectador. Mas achei que iam explorar mais esta parte.

Precisamos falar de Ethan Hawke como o Sequestrador: ele está à vontade no papel e assusta até com máscara cobrindo o rosto. A atuação dele chama a atenção. 


Um grande problema aqui é a falta de profundidade do vilão. Sabemos que ele sequestra algumas crianças e mata outras, mas qual a motivação? Será que ele teve um pai abusivo? O que o levou a planejar esses sequestros? Tudo isso fica numa camada rasa e em nenhum momento se propõe a resolver.


O maior defeito do filme, sem dúvida, são as saídas clichês para o protagonista. Ele recebeu orientações de outras crianças e tudo estava muito fácil, não consegue sentir emoção e adrenalina. Se do outro lado do telefone preto já tinha um time de crianças orientando, tudo isso fica em uma camada superficial e de fácil solução. Senti que isso atrapalha até os personagens secundários, como os policiais que não serviam de nada.

O que se pode concluir é que "O Telefone Preto" é um filme que só faz ocupar o público com uma história mediana. Apesar das grandes notas, faltou uma continuação ou um prequel para explicar as motivações do sequestrador.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Scott Derrickson
Produção: Blumhouse Productions / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h43
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense 

16 fevereiro 2022

"A Jaula" aposta na visão da sociedade sobre a violência nossa de cada dia

Chay Suede interpreta um ladrão de carros envolvido num jogo psicológico de tortura e sensacionalismo (Fotos: Reprodução)


Marcos Tadeu

Já parou para pensar como estamos sujeitos a ser assaltados cada vez que saímos às ruas? Como você reagiria ao assistir uma pessoa sendo torturada por uma "pessoa do bem"? "A Jaula", filme estrelado por Chay Suede e Alexandre Nero e dirigido por João Wainer, chega aos cinemas nesta quinta-feira levantando questões de políticas públicas, sensacionalismo da imprensa, a postura da polícia e como a sociedade vive à beira do espetáculo e da violência.

No longa, conhecemos Djalma (Chay Suede) que vê a oportunidade de "realizar" (roubar) um carro de luxo estacionado em uma rua tranquila de São Paulo. Após conseguir entrar no veículo blindado e tirar o som e até urinar no interior, a situação começa a mudar quando, ao tentar escapar, recebe a ligação de um renomado ginecologista (Alexandre Nero), que passa a controlar o ladrão à distância, fazendo dele seu prisioneiro.


O filme consegue explanar a visão de cada um dos envolvidos, principalmente Djalma, que passa por vários perrengues como fome, sede e ferimentos, precisando de cuidados. Porém, ninguém pode ouvir e ver do lado de fora do carro. 

Toda essa situação pode provocar um conflito de reações no público: sentir dó protagonista por estar em uma situação na qual entrou e não tem como sair? Ou gostar da suposta tortura imposta a ele por ser um ladrão?

Outro ponto que é colocado em pauta é a questão da justiça com as próprias mãos. O médico, interpretado por Alexandre Nero, tortura o bandido dentro de seu veiculo por causa das inúmeras vezes que sofreu algum ataque. Ele enfatiza em seu discurso como a “bandidagem” esta cada vez mais elevada e decidiu se prevenir dessa vez.  


"A Jaula" alfineta também os limites da "justiça" e dos direitos humanos e a posição de muitas pessoas de que eliminar um bandido seja apenas uma forma de deixar a sociedade mais limpa. 

A tecnologia do carro do ginecologista e como isso tem um efeito muito "Black Mirror" pode ser encarado como uma falha no enredo. Usar os recursos avançados do veículo como arma levanta uma questão: se cada pessoa fizer justiça com as próprias mãos, que rumo irá tomar a nação?


O ponto de vista da imprensa sensacionalista que gosta de vender o espetáculo do “médico que faz bandido de refém” também ajuda a contar a história, ainda que superficial. Cabe a Astrides um show a parte, como a apresentadora de um jornal do tipo policialesco, usando falas e expressões que incentivam o ódio, geralmente empregadas por homens colegas de profissão.

Por ultimo, não menos importante, temos a polícia e a personagem de Mariana Lima, que interpreta uma negociadora da Policia Federal. Ela tenta mediar a conversa entre o médico e o bandido e como essa negociação pode ser encarada pela população.


Porém, o que deixa mais a desejar em "A Jaula" é o fato de que nenhum dos personagens ganha um background, só vemos suas histórias no decorrer das ações no presente. Não há como defender o médico ou Djalma sem entender a própria história de cada um e o que fizeram para chegar exatamente naquele ponto. 

O suspense, um remake do filme argentino "4x4" (2019) dirigido por Mariano Cohn e Gastón Duprat, é um recorte extremamente falho que só levanta discussões sem aprofundá-las. Em nenhum momento o roteiro se preocupa em mostrar quais as reais motivações de cada um e o diretor não assume nenhuma postura. O resultado do trabalho, no entanto, fecha de maneira positiva.



Ficha técnica:
Direção: João Wainer
Distribuição: Star Distributions
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h20
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: Suspense

13 novembro 2021

“Lacuna”, suspense nacional produzido durante a pandemia, estreia na Globoplay

Longa-metragem aborda a relação entre uma jovem e sua mãe, interpretadas por Lorena Comparato e Kika Kalache (Fotos: Rodrigo Lages/Cosmo Cine)


Da Redação


Já está em cartaz no catálogo exclusivo da Globoplay o filme “Lacuna”, um thriller embasado num intrigante drama familiar cercado de suspense. Produzido pela WeSayNo e Cosmo Cine, marca a estreia de Rodrigo Lages na direção de logas. Ele também escreveu o roteiro. O filme aborda a conturbada relação entre Sofia (Lorena Comparato) e sua mãe, Helena (Kika Kalache). 


Após um grave acidente, Helena passa a apresentar comportamentos estranhos. Ela e a filha passam a viver em um ambiente denso e fragmentado, tomado pela culpa que envolve um misterioso passado familiar. O elenco conta ainda com Laila Zaid, Guilherme Prates, Priscila Maria e Charles Fricks.


Segundo os sócios da produtora, fazer cinema é um esforço. “A gente preza muito que o coletivo esteja bem, que todo mundo se sinta incluído no processo. Assim, as pessoas se entregam mais e fazem acontecer, se lembram que filmar, além de ser trabalho sério, também é um prazer e um privilégio. Não importa o escopo ou o tamanho do projeto, nós tentamos imprimir esse clima no set e no produto final."

           

Projetos futuros 
Entre os novos projetos da Cosmo Cine que estão em andamento “Transe”, longa-metragem de Carol Jabor, um filme de ficção rodado durante as eleições de 2018, com previsão de lançamento em 2022 e “Cozinha”, longa de Johnny Massaro (uma coprodução com a Hipérbole Filmes), com previsão de ser lançado também no ano que vem. Outra novidade será a série “Só Sei Que Foi Assim”, uma coprodução com a Baracoa Filmes para o Canal Brasil, que acompanha a história de acontecimentos folclóricos da cultura pop brasileira.

Videoclipe no Grammy Latino
No próximo dia 18 de novembro o videoclipe brasileiro "Visceral", de Fran, Carlos do Complexo & Bibi Caetano, com produção da Cosmo Cine e da Sentimental Filmes, estará entre os indicados ao Grammy Latino. A premiação irá acontecer em Las Vegas, de forma presencial.

            

Ficha técnica
Direção: Rodrigo Lages
Produção: WeSayNo e Cosmo Cine
Duração: 1h31
Gêneros: Drama / Suspense 
País: Brasil

04 novembro 2021

16º Festival de Cinema Italiano retoma sessões presenciais e mantém formato online

(Fotos: Divulgação)


Da Redação


O 16º Festival de Cinema Italiano traz mais uma vez para o público o melhor do cinema italiano. Neste ano, o Festival retoma as sessões presenciais em salas de cinema, mantendo também o formato online, que fez tanto sucesso na edição de 2020. O evento será presencial entre 05 e 12 de novembro nas salas de cinema do Petra Belas Artes, em São Paulo, com exibição de 16 longas inéditos no país.

Já o formato online, com sessões gratuitas, acontecerá de 05 de novembro a 05 de dezembro, por meio do site do festival, com uma seleção de 16 filmes inéditos e 16 clássicos, este último com a retrospectiva “As mais belas trilhas sonoras do cinema italiano”.   

"Quanto Basta"

A mostra de filmes contemporâneos conta com trabalhos de veteranos, como Pupi Avati (“Ela Ainda Fala Comigo” - "Lei Mi Parla Ancora"), e jovens estreantes, como Stefano Sardo (“Uma Relação' - "UnaRelazione"). 

Os 16 filmes transitam em temas e gêneros, abordando questões como relações familiares, como “Deixe-me ir" ("LasciamiAndare")”, de Stefano Mordini, protagonizado pelos astros Stefano Accorsi e Valeria Golino; "Blackout Love", de Francesca Marino. 

"Lasciami Andare"

E comédias como "Os Nossos Fantasmas" ("I Nostri Fantasmi"), de Alessandro Capitani. Haverá uma apresentação especial da comédia "QuantoBasta (Tempero do Chef)", do diretor Francesco Falaschi, coprodução Itália/Brasil (92 min).

Ou releituras de personagens clássicos, como “Todos por 1 – 1 Por Todos” (Tutti Per 1-1 Per Tutti), que retoma os famosos mosqueteiros de Dumas, numa versão cômica, e trazendo Pierfrancesco Favino e Margherita Buy, no elenco. 

Também faz parte do festival “Com Todo O Coração” ("Con Tutto IlCuore"), de Vincenzo Salemm, um dos filmes mais vistos na Itália este ano. Os longas inéditos concorrem ao Prêmio Pirelli, concedido ao filme mais visto pelo público.

"La Terra Dei Figli"

O cinema de gênero também está no festival, como o apocalíptico “A Terra dos Filhos” ("La Terra Dei Figli"), dirigido por Claudio Cupellini, a partir da famosa HQ homônima de Gian Alfonso Pacinotti, um dos principais quadrinhistas italianos. Confira abaixo a lista dos longas do Festival

Mostra Contemporânea
- "Lasciami Andare" ("Deixe-me Ir"), de Stefano Mordini, 98 min., drama
- "La Terra Dei Figli" ("A Terra dos Filhos"), de Claudio Cupellini, 120 min., drama
- "Blackout Love", de Francesca Marino, 95 min., drama/comédia
- "Con Tutto Il Cuore" ("Com todo meu Coração"), de Vincenzo Salemm, 90 min., comédia
- "Una Relazione" ("Uma Relação"), de Stefano Sardo, 105 min., drama/comédia
- "Ezio Bosso - Le Cose Che Restano" ("As Coisas que Restam"), de Giorgio Verdelli, 104 min., documentário
- "Come un Gatto in Tangenziale - Ritorno a Coccia di Morto" ("Como um Gato na Marginal – Retorno a Coccia di Morto"), de Riccardo Milani, 110 min., comédia

"Lei Mi Parla Ancora"

- "Tutti Per 1-1 Per Tutti" ("Todos Por 1 – 1 Por Todos"), de Giovanni Veronesi, 90 min., comédia
- "Lei Mi Parla Ancora" ("Ela Ainda Fala Comigo"), de Pupi Avati, 100 min., drama
- "Il Silenzio Grande" ("O Grande Silêncio"), de Alessandro Gassmann, 106 min., comédia
- "Ariaferma" ("Ar Parado"), de Leonardo Di Costanzo, 117 min.
- "Governance" ("Governança"), de Michael Zampino, 88 min., drama
- "Welcome Venice" ("Bem-Vindo à Veneza"), de Andrea Segre, 100 min., drama
- "Morrison" (Morrison Café"), de Federico Zampaglione, 99 min., drama
- "I Nostri Fantasmi" ("Os Nossos Fantasmas"), de Alessandro Capitani, 105 min., comédia
- "Lovely Boy" ("Lovely Boy"), de Francesco Lettieri,, 105 min., drama
 
"L'uccello Dalle Piume Di Cristallo"

Já a retrospectiva exclusivamente online “As mais belas trilhas sonoras do cinema italiano” permitirá ao público de todo o país (re)visitar filmes e trilhas que se tornaram clássicas, compostas por Ennio Morricone, Nino Rota, Nicola Piovani, Ritz Ortolani, Andre Guerra, Valerio Vigilar e Piero Piccioni. 

O destaque da seleção deste segmento são obras de mestres como Federico Fellini (“Os Palhaços”), Sergio Leone (“Era Uma Vez na América”), Dario Argento (“O Pássaro das Plumas de Cristal"), Lina Wertmüller (“Mimi, O Metalúrgico” e “Amor e Anarquia”), e Damiano Damiani (“Advertência”). 

A mostra inclui um filme com acessibilidade, a comédia dramática "Viva La Libertà" ("Viva a Liberdade"), de Roberto Andò, com música de Marco Betta (94 min). Veja abaixo a lista da Mostra online, retrospectiva “As mais belas trilhas sonoras do cinema italiano”

"C’era Una Volta in America"

- "L'uccello Dalle Piume Di Cristallo" ("O Pássaro com Plumas de Cristal), de Dario Argento, música: Ennio Morricone, 1970, Itália/Alemanha Ocidental, 96 min, horror/suspense
- "C’era Una Volta in America" (Era Uma Vez na América), de Sergio Leone, música: Ennio Morricone, 1984, EUA/Itália, 229 min, crime/drama
- "Il Prefetto Di Ferro" ("O Prefeito de Ferro"), de Pasquale Squitieri, música: Ennio Morricone, 1977, Itália, 110 min, drama/suspense
- "Mimi Metallurgico Ferito Nell'Onore" ("Mimi, O Metalúrgico"), de Lina Wertmüller, música: Piero Piccioni, 1972, Itália, 121 min, comédia/drama
- "L’Avvertimento" ("Advertência"), de Damiano Damiani, música: Ritz Ortolani, 1980, Itália, 108 min, suspense/drama
 
"I Clowns"

- "I Clowns" ('Os Palhaços"), de Federico Fellini, música: Nino Rota, 1970, Itália, 92 min. comédia/pseudodocumentário
- "Respiro", de Emanuele Crialese, música: Andre Guerra, 2002, Itália, 95 min., drama
- "O’ Re" ("Rei de Nápoles"), de Luigi Magni, música: Nicola Piovani, 1989, Itália, 90 min. drama
- "Addio Fratello Crudele" ("Adeus, Irmão Cruel"), de Giuseppe Patroni Griffi, música: Ennio Morricone, 1971, Itália, 105 min., drama
- "Storie Di Vita e Malavita" ("Histórias do Submundo'), de Carlo Lizzani, música: Ennio Morricone, 1975, Itália, drama, 93 min
- "Speriamo Che Sia Femmina" ("Tomara que seja mulher), de Mario Monicelli, música: Nicola Piovani, 1986, Itália, 120 min., comédia
-
"Speriamo Che Sia Femmina"

- "Film D'Amore e D'Anarchia" ("Amor e Anarquia"), de Lina Wertmüller, música: Nico Rota, 1973, Itália, 125 min., comédia
- "Il Medico e Lo Stregone" ("O Médico e o Charlatão"), de Mario Monicelli, música: Nico Rota, 1957, Itália, 102 min, comédia/romance
- "Amori Che Non Sanno Steare Al Mondo" ("Histórias de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo"), de Francesca Comencini, música: Stelvio Cipriani, 2017, Itália, 92 min., drama
- "L'Attentato" ("O Atentado"), de Yves Boisset, música: Ennio Morricone, 1972, França, 124min., suspense/thriller
- "Anonimo Veneziano" ("O Anônimo Veneziano"), de Enrico Maria Salerno, música: Stelvio Cipriani, 1970, Itália, 84 min, drama romântico


Serviço:
16º Festival de Cinema Italiano
Data: 05 de novembro a 05 de dezembro
Exibições: online e gratuitas
Site: https://festivalcinemaitaliano.com/

21 outubro 2021

Em “Round 6”, a pergunta que fica é: vale tudo no jogo da vida?

Pessoas falidas são atraídas para um lugar misterioso e começam a participar de competições infantis e mortais (Fotos: Netflix)


Mirtes Helena Scalioni


Não se pode negar que “Round 6” ("Squid Game"), produção sul-coreana em cartaz no Netflix, seja uma obra instigante e curiosa. Praticamente um retrato do capitalismo selvagem que elimina os que não querem – ou não conseguem – fazer parte da engrenagem, a série de nove episódios é o maior sucesso mundial do streaming, capaz de levar espectadores mais atentos a uma necessária reflexão sobre o futuro da humanidade.


Embora repleto de cenas muito violentas – talvez propositadamente exageradas – a história tem sacadas geniais para deixar claro como funciona o jogo. Traições de quem parecia amigo, a eterna desvantagem das mulheres, a apologia da esperteza (“farinha pouca, meu pirão primeiro”) e a conclusão de que somos apenas um número no sistema recheiam o discurso da série que, se assusta no início, fisga o público até o final.


A sinopse é, por si só, esquisita: homens e mulheres falidos e sem esperança são atraídos para um lugar misterioso onde são catalogados com um número e, a partir daí, começam a participar de competições. Ao final, o vencedor vai receber uma fortuna em dinheiro. Interessante é que os jogos são todos infantis, alguns deles conhecidos no Brasil como “Batatinha frita 1,2,3”, bolinhas de gude e cabo de guerra, nos quais nem sempre a força se impõe. 

Muitas vezes, a sorte se sobrepõe e a injustiça pode sim sair vitoriosa. Assim como na vida. O grande susto da história é: quem perde, paga com a vida. O perdedor é sumariamente eliminado com um tiro na cabeça ou no peito.


Seong Gi-hun (Lee Jung-jae) é o protagonista de “Round 6”, que encanta e convence como o jogador 456, um malandro boa praça quase inocente que tem sua última chance de consertar uma vida cheia de erros. Jung Ho-yeon (Kang Sae-byeok) faz a jogadora 067, jovem amarga fugitiva da Coreia do Norte, que precisa da grana para resgatar a mãe e cuidar do irmãozinho. Cho Sang-woo (Park Hae Soo) faz o jogador 218, amigo de infância do 456, profissional brilhante que perdeu tudo no mercado financeiro. 


Representando a experiência, Oh Il-nam (Oh Young-soo) é o competidor 001, um idoso que tem um tumor no cérebro. Há outros personagens de destaque, como o vilão truculento, o médico que entra no esquema criminoso da organização, a moça que acaba de sair da cadeia depois de ter matado o padrasto, a espertinha metida a conquistadora... A fauna é rica e diversificada.


Não fica claro para o espectador quem são as pessoas que comandam aquele lugar e nem por que alguém se daria ao trabalho de criar uma organização tão esdrúxula quanto improvável. Os líderes parecem se divertir com o sofrimento e os apuros dos jogadores, cada um com seu pequeno – ou grande – drama. Claro que, num ambiente tão hostil e perigoso, ética e moral são ideias raras.


Pena que o final decepcione um pouco, como se o autor tivesse se perdido e inventado, de última hora, um desfecho inverossímil e incabível. O escritor Hwang Dong-hyuk tem dito em entrevistas que escreveu a série sem pensar em uma segunda temporada. Parece mais uma jogada de marketing, pois muitas tramas não se fecham e alguns nós não foram desfeitos. Por mais subjetivas que sejam as metáforas e parábolas, elas também carecem de um mínimo de coerência.


Ficha técnica:
Criação:
Hwang Dong-hyuk
Exibição: Netflix
Duração: 9 episódios (60 minutos cada)
País: Coreia do Sul
Gêneros: drama/ suspense / ação
Classificação: 16 anos

10 outubro 2021

“Caminhos da Memória” mistura drama, futurismo, romance e investigação e ainda sim é um filme raso

Hugh Jackman e Rebecca Ferguson são as estrelas desta produção, que agora está em canais de streaming (Fotos: Warner Bros. Entertainment)

Jean Piter Miranda


Em um futuro não muito distante, a cidade de Miami, nos Estados Unidos, está submersa, por causa do agravamento do aquecimento global. É nesse mundo que o investigador particular da mente Nick Bannister (Hugh Jackman, de "O Rei do Show" - 2017) usa uma máquina para ajudar pessoas a reviverem suas memórias. O mesmo equipamento que o ajuda em suas investigações. 

Até que um dia, Bannister se envolve com uma cliente, que desaparece. Para reencontrá-la, ele terá que enfrentar a máfia e ainda resolver um misterioso assassinato. Essa é a história de “Caminhos da Memória” ("Reminiscence"), disponível nos canais HBO Max, Youtube Filmes e Google Play. 


Emily Sanders (Thandiwe Newton, de "Han Solo" - 2018) é a assistente de Nick e trabalham com a máquina de rever e gravar memórias. A pessoa é colocada deitada, parcialmente coberta por água, com fios ligados à cabeça. As memórias visitadas são projetadas em holograma, como numa tela de cinema. 

O trabalho requer muita privacidade, já que Nick e Emily assistem tudo, inclusive lembranças íntimas dos clientes. Tudo fica gravado em pequenas placas de vidro, para que a pessoa possa assistir em casa quantas vezes quiser.  


Certo dia, Mae (Rebecca Ferguson, de "Missão Impossível: Efeito Fallout"- 2018) vai até consultório para rever uma de suas memórias que vão ajudá-la a encontrar uma chave perdida. Motivo muito bobo, por sinal. Mae e Nick acabam se envolvendo, mas depois ela some. Ele fica desolado e passa a usar a máquina para reviver as lembranças desse relacionamento. O que é bem arriscado, já que ativar as mesmas memórias várias vezes pode corromper parte do cérebro.  

Tempos depois, durante uma investigação, Nick é chamado para acessar as memórias de um homem que está perto da morte. Nas lembranças do cliente, ele vê Mae. Com essa pista, ele percorre o submundo de Miami em busca de sua amada. Aí é que tudo se complica.  


O filme é, vamos dizer, uma "mistureba". Tem coisa demais na trama. Nick e Emily são ex-combatentes. Filme de herói sempre tem ex-combatente. E tirando os americanos, ninguém entende essa lealdade que os ex-militares têm uns com os outros. Se é que isso existe. Nick faz o papel de mocinho, bem clichê. Mae é a mocinha bonita que precisa ser salva. Emily é a amiga que se preocupa com Nick e faz de tudo por ele.  


E tem outros clichês. O mafioso é japonês. O policial corrupto tem cara de mexicano. Os bandidos e capangas são negros, orientais e latinos. Sempre há um bar onde a máfia se reúne, com bebidas, mulheres e drogas. A mocinha é obrigada a se envolver com criminosos. 

Tem troca de tiros que destrói o bar. As pistas do crime vão surgindo facilmente para Nick e para o público. A água que cobre Miami não interfere em nada na trama. O desfecho é previsível, sem muita emoção. Tudo muito raso, sem trocadilho com a inundação.  


O título original é “Reminiscência”, que significa imagem do passado, lembrança vaga que é memorizada de forma inconsciente. Até faz sentido, já que Nick colhe informações das imagens periféricas das lembranças de pacientes para pegar pistas. Mas "Caminhos da Memória" se perde. 

Esperava-se mais de uma das criadoras da série "Westworld", que poderia entregar um ótimo drama psicológico e, no entanto, vem com uma salada de trama policial rasa e cheia de clichês, até mesmo no romance. Os atores se esforçam em boas atuações, mas isso não salva o filme. É mais uma produção que desperdiça um bom elenco e boas ideias.  


Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Lisa Joy
Exibição: HBO Max, Youtube Filmes e Google Play
Duração: 1h56
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Ficção / Romance / Suspense

22 setembro 2021

Sem tomar partido, “Aranha” fala de grupo fascista que sonhava com um Chile de extrema direita nos anos de 1970

O desempenho impecável do elenco nas duas fases é um dos grandes méritos da produção (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Pelo menos dois detalhes deixam claro que “Aranha” ("Araña"), filme do diretor chileno Andrés Wood, que entra em cartaz nos cinemas nesta quinta-feira, não veio para virar um blockbuster. O primeiro: em vez de narrar a história com começo, meio e fim, a direção optou por recortes, com idas e vindas, revezando cenas dos anos de 1970 e da atualidade. 

O segundo: o final, tão inusitado quanto inesperado, deixa no espectador um gosto de incompletude. Ambos são típicas características de um bom “filme de arte”, como querem alguns.


O roteiro, de Guilhermo Calderón, é interessante e curioso: no início da década de 1970, em pleno governo Allende, um grupo de extrema direita chamado Pátria e Liberdade (Patria y Liberdad) programa e comete atentados violentos em nome de um sonhado nacionalismo.

A ideia é matar o presidente Allende e combater o comunismo, dando apoio ao golpe de Estado do general Augusto Pinochet. Entre os mais atuantes dessa turma, estão os jovens Inés (Maria Valverde), Justo (Gabriel Urzía) e Gerardo (Pedro Fontaine), que vivem um conturbado e estranho triângulo amoroso.


Quarenta anos depois, um crime reaproxima os agora adultos Inés (Mercedes Morán), que se casou com Justo (Felipe Armas), e Gerardo (Marcelo Alonso), que reaparece depois de um longo sumiço. A reconstituição de época e figurinos, irrepreensíveis, são partes imprescindíveis da trama.

O desempenho impecável do elenco nas duas fases, que tem até participação de Caio Blat como Antonio, um dos líderes do movimento fascista, é um dos grandes méritos de “Aranha”, que às vezes se torna confuso graças à vertiginosa mudança de época. O trio principal, tanto na versão jovem quanto na maturidade, não deixa a peteca cair, evitando que o espectador se sinta tentado a julgar os três como bandidos. 


Principalmente Mercedes Morán, que faz uma Inés adulta acima de qualquer suspeita, interpretando uma empresária influente e poderosa. Logo no início do filme, como um aviso, o longa – uma produção de Chile, Argentina e Brasil - deixa claro que a violência faz e vai fazer parte dessa história.

Crimes, bombas, correrias, tiros, pichações, atritos e reuniões secretas são intercalados, com muita naturalidade, com as cenas calientes entre Gerardo e Inés, sempre deixando dúvida se a traição é aceita ou será vingada por Justo, o marido dela.


Interessante também é saber que Andrés Wood se tornou conhecido – e reconhecido - no Brasil principalmente por dois filmes: “Violeta foi para o céu” e “Machuca”. Tanto o primeiro, uma cinebiografia da cantora e compositora Violeta Parra, quanto o segundo, sobre a desigualdade social no Chile pós-golpe, são longas, digamos, de esquerda.

Em “Aranha”, o diretor mostra exatamente o outro lado da moeda. Não há, claro, nenhum julgamento. Mas não deixa de ser curioso, principalmente nesses tempos de polarização vividos praticamente em todo o mundo. Ou seria um alerta?


Ficha técnica:
Direção: Andrés Wood
Exibição: Una Cine Belas Artes - Sala 3 - sessão 14h30
Produção: Bossa Nova Films, Magma Cine, Andrés Wood Producciones  
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 1h45
Classificação: 16 anos
Países: Chile / Argentina / Brasil
Gêneros: suspense / crime

12 agosto 2021

“O Labirinto” fisga pela retórica. E só.

Thriller de terror é baseado na obra do escritor Donato Carrisi, que também roteiriza e dirige a produção para o cinema (Fotos: Loris T. Zambelli)


Wallace Graciano


A última sexta-feira 13 de 2021 terá um motivo a mais para amantes da sétima arte irem ao cinema. Isso porque nesta quinta, 12, logo na véspera do dia mais “sombrio” do ano, estreia “O Labirinto” ("L'uomo del Labirinto”, no título original) nas salas de todo o Brasil. 

Adaptada da obra literária homônima de Donato Carrisi, que também dirige o filme, a película tem em seu elenco nomes consagrados como Dustin Hoffman e Toni Servillo para levar ao espectador a mergulhar em um labirinto de suspense, onde cada porta se mostra indecifrável, apesar de sua obviedade constante na sequência. 


Sim, parece estranho misturar dois conceitos tão antagônicos, como o óbvio e o suspense, mas é a premissa da película de Carrisi. Nela, Doutor Green (Dustin Hoffman) presta seus cuidados a Samantha (Valentina Bellè), uma jovem que ainda tenta se recuperar de uma incômoda amnésia pós-traumática. 

E a partir desse momento, o espectador mergulha em uma narrativa regressiva na qual aos poucos é bombardeado com informações que levaram a mulher até aquele estado, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça em um caminho tortuoso e dúbio de um sequestro que durou 15 minutos.


Paralelamente, Bruno Genko (Toni Servillo) foge dos atributos médicos para procurar o sequestrador de Samantha. Investigador nato, passa a procurar evidências em camadas para solucionar o mistério de quem manteve a jovem em cárcere privado.


Nesse ritmo, os caminhos e motivações se cruzam e Carrisi passa a bagunçar a cabeça do espectador, como se o filme um labirinto fosse. O diretor vai trabalhando conceitos como o suspense, a aflição, a inocência e a maldade em linhas paralelas, que tornam-se perpendiculares em determinados momentos, caminhando para um plot twist iminente. 


Essa narrativa difusa faz com que até mesmo o caráter de vítima da paciente e de investigador de Bruno sejam colocados em xeque durante a narrativa. 

Essa narrativa perturbadora  –  e excitante  – merecia melhor ser combinada com a estética da película, que exagera nas cores quentes e filtros, perdendo todo o teor de suspense que o filme poderia trazer. Ao invés do caráter claustrofóbico que um labirinto poderia trazer, somos levados a sensação que estamos em um pub ‘inferninho” pós-pandemia de Covid.


Em síntese, “O Labirinto” é um filme que te fisga pela narrativa, mas peca demais ao associá-la ao aspecto visual. É um bom entretenimento, mas certamente você verá algum fã da obra literária afirmar que “no livro foi melhor”. E ele terá razão. 


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Donato Carrisi
Distribuição: Pandora Filmes
Gêneros: suspense / terror
Exibição: nos cinemas
País: Itália
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos