27 maio 2025

Mostra “A Cinemateca é Brasileira” apresenta a história da repressão política do Brasil

Exibição contará com a uma seleção de 16 obras clássicas do cinema nacional (Fotos: Divulgação)
 
 

Da Redação


A partir desta terça-feira (27) até o dia 1º de junho de 2025, o Cine Humberto Mauro, localizado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, receberá a mostra “A Cinemateca é Brasileira – Resistências Cinematográficas”. 

A programação apresenta uma seleção de 16 obras clássicas e contemporâneas do cinema nacional, abordando os períodos de repressão, resistência e enfrentamento político que marcaram a história do Brasil. 

Entre os filmes clássicos estão “Cabra Marcado Para Morrer”, de Eduardo Coutinho, e “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. A iniciativa é realizada em parceria com a Cinemateca Brasileira e integra a segunda edição do projeto itinerante da instituição.

A entrada é gratuita, e 50% dos ingressos estarão disponíveis, de forma on-line, 1 hora antes de cada sessão, no site da Eventim. Já o restante dos ingressos será distribuído presencialmente pela bilheteria, meia hora antes da sessão, mediante apresentação de documento com foto.

"Cabra Marcado Para Morrer" (Eduardo Coutinho)

A mostra homenageia o cinema nacional como um espaço de memória, crítica e resistência frente à luta pela democracia. Reunindo ficções, documentários, animações e curtas-metragens, a programação dialoga com diferentes gerações e linguagens cinematográficas, e promove uma reflexão sobre os desafios enfrentados pela sociedade brasileira ao longo de décadas.

Entre os destaques estão títulos emblemáticos como “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha, que reflete as tensões políticas, sociais e culturais da época a partir da fictícia nação latino-americana de Eldorado. 

Também compõem a seleção filmes contemporâneos como “Meu Tio José” (2021), de Ducca Rios, que revisita o sequestro do embaixador Charles Elbrick pela ótica de uma criança. Inspirada no mesmo acontecimento, a obra indicada para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “O Que é Isso, Companheiro?” (1997), de Bruno Barreto, também será exibida. 

"Meu Tio José" (Ducca Rios)

O clássico “Cabra Marcado Para Morrer”, será exibido em homenagem aos 40 anos do filme (1964-1984), aos 100 anos da protagonista Elizabeth Teixeira e aos 10 anos de falecimento do cineasta Eduardo Coutinho. O filme teve suas filmagens interrompidas pelo golpe militar de 1964 e retomadas 17 anos depois.

A curadoria inclui, ainda, filmes que tratam de episódios pouco conhecidos ou silenciados da história brasileira, como “Arara: Um Filme Sobre um Filme Sobrevivente” (2017), de Lipe Canêdo, que denuncia a violência contra povos indígenas. Obras como “Libertação de Inês Etienne Romeu” (1979), de Norma Bengell, e “Torre” (2017), de Nádia Mangolini, abordam a tortura e a repressão política. 

"O Que é Isso, Companheiro" (Bruno Barreto)

Já a luta sindical e os movimentos populares ganham espaço com produções recentemente restauradas pela Cinemateca Brasileira como “Greve” (1979), de João Batista de Andrade; “A Luta do Povo” (1980), de Renato Tapajós; e “ABC da Greve” (1979–1990), de Leon Hirszman, mesmo diretor de “Eles Não Usam Black-tie”, que venceu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza e também integra a programação.

Outros títulos completam o panorama da mostra, como “A Opinião Pública” (1966), de Arnaldo Jabor, que captura o sentimento da classe média durante o regime militar; “Os Fuzis” (1964), de Ruy Guerra, que trata das tensões entre o Estado e populações oprimidas, e “Manhã Cinzenta” (1969), curta-metragem baseado em conto de Olney São Paulo, com imagens documentais das manifestações de 1968. 

"Eles Não Usam Black-tie" (Leon Hirszman)

A atmosfera de tensão e a mentalidade dessa época são contextualizadas na ironia de “Pra Frente Brasil” (1982), de Roberto Farias, e no sensível “O ano em que meus pais saíram de férias” (2006), de Cao Hamburguer.

Vitor Miranda, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e programador da mostra, comenta sobre o projeto itinerante. "Assim como a Cinemateca, o Cine Humberto Mauro é uma instituição pública que tem interesse na preservação do cinema brasileiro e que ele seja visto por mais pessoas. A seleção de filmes está impecável, são verdadeiros clássicos nacionais."

Miranda contou ainda que o Cine Humberto Mauro receberá também a mostra "Intérprete do Brasil: Uma Homenagem a Grande Otelo", que acontecerá de 5 a 29 de junho.

"Terra em Transe" (Gláuber Rocha)

SERVIÇO:
Mostra “A Cinemateca é Brasileira – Resistências Cinematográficas”
Data: 27 de maio (terça-feira) a 1º de junho (domingo)
Horários: variados
Local: Cine Humberto Mauro - Palácio das Artes - (Avenida Afonso Pena, 1537, Centro)
Classificação: variadas
Entrada: gratuita; 50% dos ingressos estarão disponíveis, de forma on-line, 1 hora antes de cada sessão, no site da Eventim; o restante dos ingressos será distribuído presencialmente pela bilheteria, meia hora antes da sessão, mediante a apresentação de documento com foto.
Informações para o público: (31) 3236-7307 ou no site www.fcs.mg.gov.br

26 maio 2025

"Lilo & Stitch", a animação que encantou o público em 2002 e ganhou um live-action

O charme do filme está na simplicidade ao mostrar que mesmo sendo de mundos diferentes, um precisa
do outro (Foto: Walt Disney Pictures)
 
 

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


No dia 22 de maio de 2002, chegava aos cinemas brasileiros uma das animações mais adoráveis e anárquicas da Disney: "Lilo & Stitch". Um sucesso que garantiu uma bilheteria de US$ 273 milhões e a indicação ao Oscar na categoria naquele ano.

Passados 23 anos, "Lilo & Stitch" ganhou um remake, que estreou nos cinemas em live-action (confira a crítica aqui) e está atraindo milhares de fãs, de todas as idades, especialmente famílias. Para quem não assistiu a animação original, ela pode ser conferida no canal por assinatura Disney+.


Trazendo uma aventura em solo havaiano, o filme nos apresenta a Experiência 626 — um alienígena violento, mas irresistivelmente fofo — e a pequena e rebelde Lilo, duas figuras deslocadas que vão precisar uma da outra para entender o verdadeiro significado da palavra "ohana".

Lilo é uma menina solitária, criativa e com um coração enorme. Ela recolhe lixo nas praias para proteger os animais marinhos, enquanto tenta lidar com a ausência dos pais e o convívio com a irmã mais velha, Nani, que luta para sustentar as duas e manter a guarda da caçula. 


A rotina muda drasticamente quando Lilo adota Stitch, um “cachorro” estranho e destruidor que, na verdade, é uma criatura alienígena foragida. Juntos, a dupla constrói uma amizade improvável, cheia de caos, mas também de descobertas emocionais.

O charme de “Lilo & Stitch” está na sua simplicidade. Mesmo sendo de mundos completamente diferentes, Stitch precisa de Lilo tanto quanto ela precisa dele. Ela o ensina o que é amor, cuidado e pertencimento. 

Se há algo que a menina aprende e ensina com toda essa jornada é que "ohana' significa família, e família nunca abandona ou esquece.


Apesar de sua origem destrutiva, Stitch vai sendo moldado pelo afeto — e sua convivência com Lilo, Nani e até com o cientista maluco Jumba (seu criador). Mostra que, às vezes, só é preciso alguém que enxergue além das aparências para despertar o melhor em nós.

Outro ponto que encanta é o cenário: o Havaí, com sua energia solar, vibrante e cultural, casa perfeitamente com o caos fofo de Stitch. Os diretores Chris Sanders e Dean DeBlois acertaram ao incorporar elementos como o surf, a espiritualidade havaiana, e a trilha sonora com toques de Elvis Presley. 

É uma mistura que traz frescor e originalidade à animação. Confira aqui uma das músicas.


Visualmente, o longa é um presente. Com fundos pintados em aquarela e um estilo que remete à animação 2D clássica, “Lilo & Stitch” tem um toque artesanal, quase nostálgico, que contrasta com sua trama moderna e subversiva.

Vale lembrar que, no material de divulgação, tanto da animação quanto do live-action, Stitch invade pôsteres de outros filmes da Disney, assustando princesas, príncipes e personagens do estúdio — um sinal claro de que esse "monstrinho azul" não estava aqui para seguir as regras.


Já Lilo é uma das representações mais autênticas da infância no cinema: cheia de imaginação, imprevisível, birrenta, afetuosa. Ela não é a menina idealizada — e justamente por isso, é real e inesquecível. 

Stitch, por sua vez, é a metáfora perfeita para o "monstro" que existe em cada um de nós, e que pode ser transformado pelo amor e pela convivência.


Se há uma pequena falha, talvez seja o espaço dado à história de Nani. A animação não aprofunda muito o contexto das dificuldades que ela enfrentou para criar Lilo sozinha, mas, mesmo assim, é impossível não admirar sua força, coragem e dedicação. O live-action repara isso e dá mais espaço a Nani.

“Lilo & Stitch” é uma animação que merece ser (re) vista com carinho. É um filme sobre pertencimento, laços improváveis que viram amor — e como, mesmo sendo diferentes, todos temos valor. Ohana nunca abandona. E esse filme também não.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Chris Sanders e Dean DeBois
Produção e distribuição: Walt Disney Pictures
Exibição: Canal Disney+
Duração: 1h25
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, aventura, família, comédia