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26 outubro 2022

Emoção e inevitável comparação com o Brasil fazem de “Argentina, 1985” um filme imperdível: nunca mais

Ricardo Darín e Peter Lanzani  formam a dupla que vai ajudar a condenar militares torturadores  (Fotos: Amazon Studios)


Mirtes Helena Scalioni


É quase impossível assistir ao filme “Argentina, 1985” e não se perguntar: e nós, cá no Brasil, como ficamos? Dirigido por Santiago Mitre (“A Cordilheira”, 2017), o longa conta, com sobriedade e honestidade na medida, o histórico julgamento de nove militares por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura. E o mais surpreendente: por um tribunal civil. Não por acaso, a produção, em cartaz no Prime Video, é indicada ao Oscar de 2023, depois de faturar o Prêmio da Crítica no Festival de Veneza 2022.


Não bastasse o tema, sempre tão caro a cidadãos de qualquer país, “Argentina, 1985” traz no seu elenco o sempre craque Ricardo Darín ("A Odisseia dos Tontos" - 2019), que interpreta o promotor público Julio Cesar Strassera, “o Louco”, que contra tudo e todos, reúne um grupo de jovens estudantes e estagiários que conseguem, em tempo hábil, apurar cerca de 700 casos de abusos e torturas narradas por 800 testemunhas. 

Nem é preciso dizer que o camaleônico Darín dá show, ao evitar traços de herói corajoso para ser apenas um servidor público profissional e humano, com seus medos, dúvidas e inseguranças.


Ao lado de Ricardo Darín – e tão brilhante quanto - está Peter Lanzani (“O Clã” - 2015) como o jovem e inexperiente assistente Luis Moreno Ocampo, que abraça a causa do chamado “julgamento das juntas”, embora faça parte de uma família de militares – “minha mãe vai à missa com Videla”. 

É preciso falar também de Alejandra Flechner como Silvia, a esposa fortaleza de Strassera, de atuação discreta e precisa, assim como as crianças que interpretam os dois filhos do casal, cujas participações trazem certa leveza ao longa.


Filmes de tribunal costumam ser sombrios, fechados e monótonos. Não é esse o caso de “Argentina, 1985”. O roteiro, cuja autoria Santiago Mitre divide com Mariano Llinás, lembra um pouco o clássico “A História Oficial”, que ganhou o Oscar em 1986, outro longa argentino que também se vale de fatos para falar da história sangrenta da ditadura que massacrou o país entre 1976 e 1983. Certos toques sutis de humor, embora discretos, ajudam a amenizar o clima.


Quando se sabe que esse “julgamento das juntas” foi o primeiro do mundo realizado por um tribunal civil, num país que ainda chorava seus mortos e catava seus cacos para tentar a redemocratização com Raúl Alfonsín, é difícil não se emocionar com “Argentina, 1985”.

A comparação, sempre inevitável, entristece e não enobrece em nada o Brasil. Talvez seja o caso de perguntar se é mesmo verdade que nossos hermanos são mais politizados e estão a milhas de distância dos brasileiros quando o assunto é cidadania. Impossível não chorar no final.


Ficha técnica:
Direção: Santiago Mitre
Produção: La union de los rios /Infinity Hill
Distribuição: Amazon Prime Video
Exibição: Amazon Prime Video
Duração: 2h20
Classificação: 14 anos
País: Argentina
Gênero: drama