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31 março 2024

"Godzilla Minus One" vai muito além dos excelentes efeitos visuais

Produção japonesa surpreende o público com sua abordagem original e inovadora (Fotos: Toho Co.)


Maristela Bretas


Com um orçamento de cerca de US$ 15 milhões e uma equipe reduzida, "Godzilla Minus One" é uma das estreias mais esperadas das plataformas virtuais, com a Prime Vídeo podendo sair na frente. Depois de se tornar o primeiro filme de língua não inglesa a abocanhar a estatueta do Oscar 2024 por Melhores Efeitos Visuais, a produtora japonesa Toho agora parte para o streaming. 

O filme, que faturou até o momento mais de US$ 110 milhões, vai em busca do público que não conseguiu assistir nos cinemas e também aqueles que querem rever a produção. E até mesmo comparar com versões norte-americanas, como a que está no cinema - "Godzilla e Kong: Um Novo Império" -, ou mesmo com "Godzilla", de 2014.


A história de "Godzilla: Minus One", do diretor e roteirista Takashi Yamazaki, se passa no Japão pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em busca de reconstrução. É nesse contexto que surge o temível kaiju, chamado de Godzilla, um monstro gigante que representa a fúria da natureza e os horrores da guerra. 

O protagonista, Kōichi Shikishima (interpretado por Ryunosuke Kamiki), é um piloto kamikaze que carrega a culpa por ser um sobrevivente do conflito. 

Em busca de redenção para defender pessoas queridas e vingar a morte de seus companheiros, ele parte em uma missão que vai enfrentar o titã. Essa jornada é repleta de emoções e reflexões sobre o passado e o futuro do Japão.


"Godzilla Minus One" é um filme que surpreende o público com sua abordagem original e inovadora. Ele não se limita a ser um filme de monstros. 

Ao invés de focar na destruição das cidades, típica do gênero, o longa aborda temas relevantes como o trauma da guerra, a culpa, a redenção e a busca por um futuro melhor. Essa profundidade o torna mais interessante e instigante.

Mesmo com um orçamento baixo se comparado a outras produções, o longa apresenta efeitos especiais impressionantes empregados pelo estúdio Shirogumi. 


Produzido por uma equipe de apenas 35 funcionários, com 610 quadros, em oito meses de duração, o filme foi criado com detalhes realistas e movimentos mais naturais, tornando as cenas de ação eletrizantes e memoráveis. Confira o trabalho desta equipe clicando aqui.

O longa conta ainda com atuações bem convincentes. Como a de Ryunosuke Kamiki, que transmite de forma impecável a angústia e a determinação de Kōichi. O restante do elenco também entrega boas interpretações e contribui para a qualidade superior do filme.

Sucesso inesperado

O baixo orçamento para uma produção com ótimos efeitos especiais e a boa bilheteria mundial estão gerando polêmica no mercado cinematográfico, especialmente após o Oscar. 


Isso demonstra a qualidade do trabalho realizado pela equipe de produção e a força da história do filme, que superou grandes produções ao conquistar o Oscar, feito que não ocorreu com outros longas do gênero. Como por exemplo, os recentes "Godzilla II: Rei dos Monstros" (2019) e "Godzilla vs Kong" (2021), que custaram US$ 165 milhões e US$ 170 milhões, respectivamente. 

Independente da polêmica, "Godzilla Minus One" tem uma história emocionante, efeitos especiais marcantes, atuações sólidas e temas relevantes. 

O longa é um prato cheio para quem busca uma experiência cinematográfica diferenciada, oferecendo uma nova perspectiva sobre um gênero clássico. Recomendo para os fãs de filmes de monstros, dramas históricos e crítica social.


Ficha técnica:
Direção, roteiro e supervisor de efeitos visuais: Takashi Yamazaki
Produção: Toho Co.
Distribuição: Sato Company
Exibição: ainda sem data de estreia no Prime Vídeo
Duração: 2h04
Classificação: 12 anos
País: Japão
Gêneros: aventura, ação, ficção científica

15 março 2024

Perturbador, "Zona de Interesse" usa o som como protagonista para retratar a banalização do sofrimento

A trama gira em torno da família Höss, que vive com indiferença em uma casa ao lado do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia (Fotos: A24/Divulgação)


Maristela Bretas


"Zona de Interesse (““The Zone of Interest”), vencedor do Oscar 2024 de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Som, é um filme que prende do início ao fim, não pela ação, mas pelo horror silencioso e banalizado que se desenrola diante dos nossos olhos. 

A trama gira em torno da família Höss, que vive em uma casa ao lado do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. O patriarca, Rudolf Höss (interpretado por Christian Friedel), é o comandante do local, um homem frio e calculista que comanda tudo e a todos com punho de ferro.

O que torna o longa tão perturbador é a maneira como retrata a banalização do horror. A família Höss leva uma vida normal, com seus afazeres domésticos, brigas e momentos de lazer à beira do rio ou da piscina no bucólico jardim da residência. 


A mãe, Hedwig Höss, é interpretada por Sandra Hüller, que arrasa também em outro vencedor do Oscar, "Anatomia de Uma Queda". Ela demonstra total indiferença ao sofrimento alheio, tratando a situação com frieza e desumanização, a ponto de usar roupas caras tomadas de famílias ricas judias que seriam exterminadas.

Os sons dos gritos, tiros e da fumaça das torres de incineração são apenas um pano de fundo para suas vidas. Mas são esses sons do horror que incomodam e causam mal-estar ao espectador. Não há nenhuma cena explícita, apenas o ruído macabro da morte e do sofrimento. Esta parte técnica foi muito bem trabalhada e mereceu o prêmio de Melhor Som no Oscar 2024.


Em meio à apatia e ao silêncio cúmplice, dois personagens se destacam: o filho caçula e a avó. O menino demonstra repulsa ao que está acontecendo, mas teme ser repreendido por ter tais sentimentos. Enquanto a avó que está visitando a filha, com sua sabedoria e experiência, tenta conscientizar a família sobre a crueldade dos atos praticados no vizinho ao lado.

O filme é sustentado por atuações memoráveis de todo o elenco. Christian Friedel transmite a frieza e a crueldade de Rudolf Höss com maestria, enquanto Sandra Hüller é impecável ao interpretar a indiferença e a hipocrisia de Hedwig Höss.


A produção, feita no Reino Unido, é um retrato implacável da indiferença humana diante do sofrimento alheio e não é fácil de assistir. O diretor e também roteirista Jonathan Glazer fez um trabalho meticuloso ao criar uma atmosfera claustrofóbica e angustiante. 

Utilizou-se de uma trilha sonora minimalista, composta pela britânica Mica Levi, e de uma cinematografia impecável na reprodução de detalhes, como a da casa onde viveu a família Höss ao lado do campo de extermínio.

Entre os pontos fortes temos as atuações impecáveis de Sandra Hüller e Christian Friedel, a direção meticulosa de Jonathan Glazer, a atmosfera claustrofóbica e angustiante (apesar de tudo) e a abordagem de um tema importante e necessário que voltou a ser atual. O ritmo lento em alguns momentos pode incomodar pessoas mais sensíveis.


Em entrevista à imprensa internacional, Glazer afirmou que se tratava de "um filme feito a partir de um profundo sentimento de raiva. Eu não estava interessado em fazer uma peça de museu. Não queria que as pessoas tivessem a distância segura do passado e saíssem sem se incomodar com o que vissem. Eu queria dizer não, não, não – deveríamos nos sentir profundamente inseguros em relação a esse tipo de horror primordial que está por trás de tudo."

"Zona de Interesse" é poderoso e perturbador, que nos faz confrontar a indiferença humana diante do sofrimento alheio. É um filme necessário, que nos faz refletir sobre a banalização do mal e a importância de nunca esquecermos os horrores do passado. Mas também nos convida a buscar a justiça e a compaixão em um mundo cada vez mais insensível.


Ficha técnica
Direção e roteiro: Jonathan Glazer
Produção: A24
Distribuição: Diamond Films
Exibição: no Cineart Ponteio e Cinemark Pátio Savassi; a partir de 31/03, no canal de streaming Prime Video
Duração: 1h46
Classificação: 12 anos
Países: Reino Unido, Polônia e EUA
Gêneros: drama, guerra

11 março 2024

"Oppenheimer" vence como Melhor Filme e conquista outras seis estatuetas do Oscar

Filme que conta a história do pai da bomba atômica já havia conquistado cinco Globos de Ouro, sete Bafta, oito Critics'Choice Awards e várias outras premiações internacionais (Foto: Universal Pictures)

Maristela Bretas


"Oppenheimer", como era previsto, foi o grande vencedor da 96ª edição do Oscar, realizada neste domingo no Dolby Theatre, em Los Angeles. Das 13 indicações, o longa, dirigido por Christopher Nolan, ficou com sete premiações, incluindo a principal de Melhor Filme, além de Melhor Diretor, Melhor Ator (Cillian Murphy), Melhor Ator Coadjuvante (Robert Downey Jr.), Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Montagem.

"Oppenheimer", que conta a história do pai da bomba atômica, já havia conquistado cinco Globo de Ouro (dois nas mesmas categorias), sete Bafta, oito Critics'Choice Awards, além de outros prêmios internacionais em várias categorias. "Pobres Criaturas", que estava com 11 indicações, ficou com quatro estatuetas, seguido por "Zona de Interesse", com duas.

"Os Rejeitados" (Foto: Universal Pictures)

A cerimônia, que teve duração de mais de três horas, foi apresentada novamente pelo comediante a apresentador Jimmy Kimmel, como ocorreu em 2023 e nos anos de 2017 e 2018. O primeiro prêmio anunciado foi de Melhor Atriz Coadjuvante, entregue a Da’Vine Joy Randolph por sua atuação em "Os Rejeitados". 

Na sequência, Chris Hemsworth e Anya Taylor-Joy anunciaram "O Menino e a Garça" como Melhor Animação. Na categoria de Melhor Curta de Animação, venceu "War Is Over!". Melissa McCarthy e Octavia Spencer entregaram as estatuetas para os vencedores de Melhor Roteiro Original, que ficou para "Anatomia de uma Queda", e Melhor Roteiro Adaptado, para "Ficção Americana".

"O Menino e a Garça" (Foto: Studio Ghibli)

Michael Keaton e Kathleen O'Hara, que retornam este ano em "Beetlejuice 2", anunciaram os vencedores de Melhor Maquiagem e Penteado e Direção de Arte. "Pobres Criaturas" faturou os dois prêmios. Na sequência, o diretor do filme também recebeu das mãos de John Cena, que entrou no palco inicialmente pelado e depois enrolado numa cortina rosa, a estatueta de Melhor Figurino.

"Zona de Interesse", do Reino Unido, venceu como Melhor Filme Internacional. Na sequência, Emily Blunt, de "Oppenheimer" e Ryan Grosling, de "Barbie". fizeram uma homenagem aos dublês de Hollywood.

"Pobres Criaturas" (Foto: Searchlight Pictures)

Como na premiação feminina, a categoria de Melhor Ator Coadjuvante também foi anunciada por cinco vencedores de premiações passadas. O vencedor, como já era esperado, foi Robert Downey Jr., por sua atuação em "Oppenheimer".

Anos depois os "Irmãos Gêmeos" (1988), Arnold Schwarzenegger e Danny de Vito lembraram os bons tempos como inimigos do Batman - Sr. Freeze e Pinguim. A dupla também anunciou o vencedor de Melhores Efeitos Visuais e entregou o prêmio aos diretores do longa japonês "Godzilla Minus One". 

Oppenheimer (Foto: Universal Pictures) 

Kate Macannon e America Ferrera, do elenco de "Barbie", entregaram os prêmios de Melhor Documentário em Curta-Metragem para "A Última Loja de Consertos" e de Melhor Documentário em Longa-Metragem para "20 Days in Mariupol". 

O diretor e jornalista ucraniano Mstyslav Chernov, em seu discurso fez um protesto e afirmou que "preferia ter trocado o prêmio por não ter sua cidade atacada pela Rússia. E que as pessoas de Mariupol nunca sejam esquecidas". Ele foi aplaudido de pé pelas pessoas na plateia.

Zendaya apresentou o prêmio de Melhor Fotografia, vencido por Hoyte van Hoytema por "Oppenheimer". Já a estatueta de melhor Curta-Metragem ficou para "A Incrível História de Henry Sugar", de Wes Anderson. 

Um momento descontraído foi a performance de Ryan Gosling subindo ao palco, todo de rosa, para cantar a música “I’m Just Ken”, de Mark Ronson and Andrew Wyatt, feita para seu personagem Ken, no filme "Barbie”. 

Logo depois, foram entregues as estatuetas de Melhor Trilha Sonora Original para Ludwig Göransson, pelo trabalho em "Oppenheimer" e de Melhor Canção Original para “What Was I Made For?”, composta por Billie Eilish e Finneas o'Connell especialmente para "Barbie”.

Barbie (Foto: Warner Bros. Pictures)

Na reta final da premiação, Cillian Murphy ficou com a estatueta de Melhor Ator por seu protagonismo em "Oppenheimer". Steven Spielberg, comemorando 50 anos do filme "A Lista de Schindler" (1993) anunciou o ganhador de Melhor Direção e entregou o Oscar para Christopher Nolan por "Oppenheimer".

Encerrando a cerimônia do Oscar 2024, o prêmio de Melhor Atriz ficou para Emma Stone, por seu papel em "Pobres Criaturas". Na sequência, Al Pacino foi chamado em homenagem aos 50 anos de "O Poderoso Chefão 2" (1974). Após ser aplaudido de pé, entregou o Oscar de Melhor Filme para "Oppenheimer".

Subiram também ao palco para anunciar os vencedores das categorias Jamie Lee Curtis, Lupita Nyong'o, Ke Huy Quan, Mahershala Ali, Sam Rockwell, Dwayne Johnson, Jennifer Lawrence, Nicolas Cage, Michelle Yeoh, Brendan Fraser, Michelle Pfeiffer, Charlize Theron, Jessica Lange, Sally Field, Ben Kingsley e Matthew McConaughey.

Confira a lista dos vencedores do Oscar 2024

MELHOR FILME
Oppenheimer

MELHOR ATRIZ
Emma Stone – Pobres Criaturas

MELHOR ATOR
Cillian Murphy – Oppenheimer

MELHOR DIREÇÃO
Christopher Nolan – Oppenheimer

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Robert Downey Jr. – Oppenheimer

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Da’Vine Joy Randolph – Os Rejeitados

Anatomia de uma Queda (Foto: Diamond Films)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Anatomia de uma Queda

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Ficção Americana

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Zona de Interesse – Reino Unido

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
O Menino e a Garça


Ficção Americana (Foto: Prime Vídeo)

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
“What Was I Made For?” - Billie Eilish and Finneas o'Connell (“Barbie”)

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
Ludwig Göransson – "Oppenheimer"

MELHOR FIGURINO
Holly Waddington – "Pobres Criaturas"

MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO
Pobres Criaturas


Godzilla Minus One (Foto: Sato Company)

MELHOR FOTOGRAFIA
Hoyte van Hoytema – "Oppenheimer"

MELHORES EFEITOS VISUAIS

Godzilla Minus One

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
War Is Over!

MELHOR CURTA-METRAGEM EM LIVE-ACTION
A Incrível História de Henry Sugar, de Wes Anderson


Zona de Interesse (Foto: A24 Films)

MELHOR SOM
Zona de Interesse

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA-METRAGEM
"20 Days in Mariupol"

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM
A Última Loja de Consertos

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
Pobres Criaturas

MELHOR MONTAGEM
Oppenheimer



07 novembro 2023

"A Última Vez que Fomos Crianças" para rir e chorar com o coração

Ítalo, Vanda e Cosimo saem numa divertida jornada pela estrada para resgatar o amigo Riccardo levado pelos nazistas (Fotos: Divulgação)


Maristela Bretas


Pensa em um filme sensível, sobre amizade sincera e fiel, amor proibido e primeiro amor. Tudo isso acontecendo em meio à 2ª Guerra Mundial, que não consegue tirar, na maior parte da trama a pureza da infância. Este é "A Última Vez que Fomos Crianças" ("L'ultima Volta Che Siamo Stati Bambini"), um dos longas inéditos que compõem a seleção do Festival de Cinema Italiano no Brasil, que começa hoje e vai até dia 9 de dezembro, com sessões presenciais e pelo streaming no site do evento, totalmente gratuitas.

O filme é lindo, prende a gente do início ao fim por ter uma história simples, divertida, envolvente e também triste. Ele se passa na Itália de Mussolini, forte apoiador do nazismo de Hitler, especialmente na caça aos judeus. Apesar disso, quatro crianças ainda conseguem transformar o conflito numa grande brincadeira de combate, sem terem consciência do que ele realmente representa.


Dirigido por Claudio Bisio, "A Última Vez que Fomos Crianças" nos apresenta quatro amigos - Ítalo (Vincenzo Sebastiani), forte defensor de Mussolini e Hitler que sonha ganhar uma medalha de herói como o irmão e ser reconhecido pelo pai; Cosimo (Alessio Di Domenicantonio), o mais novo, cujo pai foi morto por ser um anarquista contrário ao fascismo e que é criado pelo avô junto com o irmão, que ele chama de "Xixi na Cama" (Valerio Di Domenicantonio, irmão na vida real de Alessio); Riccardo (Lorenzo McGovern Zaini), um doce garoto judeu, que também quer lutar na guerra pela Itália e que logo conquista a amizade de todos, especialmente, Ítalo; e por fim, Vanda (Carlotta De Leonardis), a jovem órfã que quer ser enfermeira, vive no convento e aguarda ano a ano ser adotada.


Em meio a tiros de mentira, armas de madeira, estilingues e latas velhas, eles se divertem com sua própria guerra, com tiros sem mortos e um velho boneco de palha como vítima. Até mesmo os aviões que bombardeiam Roma são alvos para estes corajosos combatentes e seus "armamentos pesados". 

O que eles não contavam era com a caçada aos judeus e que isso chegaria a eles, ao perceberem que Riccardo um dia foi levado com sua família, sem explicações. 

Começa ai a grande aventura do trio de amigos que quer resgatar o quarto membro do grupo, levado pelos nazistas para a Alemanha. Ítalo, Cosimo e Vanda se descobrem e vão amadurecendo aos poucos durante a jornada. Apesar de o período em que se passa a história - 1943 - trazer ingredientes bem negativos, a inocência das crianças consegue driblar o lado ruim em nome da amizade e do respeito. 


"Meninos são fortes, meninas são fracas e servem só para fazer filhos para o 'Duce' e cuidar da casa", "judeu é o inimigo e merece ser morto", "mulher que deita com soldado fica mal-falada". Frases como essas são ditas ao longo do roteiro, mas a relação dos três amigos vai provando o contrário, de uma maneira leve, divertida e mostrando que as garotas do filme são mais espertas e práticas.

"A Última Vez que Fomos Crianças" lembra outras produções, como "Conta Comigo" (1986), que também trata de amizade sincera e da relação de quatro amigos adolescentes durante uma jornada de descobertas e amadurecimento.


Como era de se esperar, as crianças "fujonas" passam a ser procuradas pela freira Irmã Agnese (Marianna Fontana), que considera Vanda como uma filha, e pelo irmão herói de Ítalo, capitão Vitório Barocci (Federico Cesari). Também estes dois jovens vão viver experiências durante a busca que podem abalar a fé da primeira em Deus e do segundo no que aprendeu no Exército.

Não espere bombas explodindo o tempo todo. Há momentos tensos, claro, afinal a história se passa durante a guerra. Porém, um certo gordinho cheio de marra, que se acha comandante de tropa, mas que é manipulado pela esperta órfã, muda todo o panorama quando aparece e é o destaque do filme. Ítalo é divertido, brigão, pirracento, mas de um coração enorme. 


Para completar toda esta história, nada como um cenário da bela Itália. As gravações foram feitas em Roma e em Siena, na região da Toscana. Na parte técnica, nota dez para o figurino, com uma ótima reprodução de época. 

A fotografia passeia entre o preto e branco das imagens de guerra e as cores mais neutras, que não contrastam com o ambiente cinzento dos uniformes e tanques. 

Mas o que seria de uma produção como essa sem a trilha sonora perfeita. A música original é de Pivio e Aldo de Scarzzi, com destaque para a emocionante "La Storia", interpretada por Francesco de Gregori, que finaliza a história, levando o espectador às lágrimas. 

"A Última Vez que Fomos Crianças" tem uma mensagem linda de amizade e lealdade, que vale pra vida toda. Imperdível. Confira a sessão no Festival de Cinema Italiano no Brasil, disponível gratuitamente no site


Ficha técnica:
Direção: Claudio Bisio
Produção: Solea, Bartleby Film, Medusa Film, com colaboração da Prime Video
Exibição: no site oficial do festival - https://festivalcinemaitaliano.com/
Duração: 1h30
Classificação: 12 anos
Países: Itália e França
Gênero: comédia

03 janeiro 2023

Confira os melhores filmes de 2022 escolhidos pela equipe do Cinema no Escurinho

Fotos: Divulgação

 

Equipe Cinema no Escurinho


Alguns dos integrantes do blog Cinema no Escurinho escolheram seus filmes preferidos de 2022. Sem fugir dos blockbusters, fizemos uma seleção do que ainda está no cinema e das produções em exibição nas plataformas de streaming.

Houve um consenso de que os filmes do ano que se encerrou foram bem mais fracos do que se apresentou no passado. A cada dia que passa, as plataformas digitais têm agradado mais ao público, oferecendo horas e horas de entretenimento, com conteúdo nem sempre satisfatório, mas capaz de afastar o espectador das salas de cinema.

O que se constata, no entanto, é que o mercado vem sendo inundado com um grande volume de produções, para os formatos físico e digital, mas que não significam sinônimo de qualidade em muitos casos.


Veja o que nossos colaboradores indicam e saiba onde assistir. Alguns desses longas ainda podem ser conferidos nas salas de cinema, outros nos streamings e o restante aguardando uma chance para ganhar um lugar ao sol nos espaços de exibição. 

Marca aí na sua lista e não deixe de conferir. Tem sugestões para todos os gostos.

Maristela Bretas
- A Mulher Rei - Gina Prince-Bythewood - Google Play, Apple TV, Prime Vídeo, Net/Claro
- Top Gun: Maverick - Joseph Kosinski - Telecine Play
- Doutor Estranho no Multiverso da Loucura - Sam Raimi - Disney+
- Ela Disse - Maria Schrader - nos cinemas
- Elvis - Baz Luhrmann - HBO Max
- Argentina, 1985 - Santiago Mitre - Prime Vídeo
- Pureza - Renato Barbieri - Globo Play
- Enfermeiro da Noite - Tobias Lindholm - Netflix
- Mundo Estranho - Don Hall e Qui Nguyen - Disney+
- Filho da Mãe - Susana Garcia e Ju Amaral - Prime Vídeo



Mirtes Helena
- Argentina, 1985 - Santiago Mitre - Prime Vídeo
- Medida Provisória - Lázaro Ramos - Globo Play
- Elvis - Baz Luhrmann - HBO Max
- Marte Um - Gabriel Martins - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING
- O Enfermeiro da Noite - Tobias Lindholm - Netflix
- O Milagre - Sebastián Lelio - Netflix

Jean Piter
"Os estúdios de cinema e de streaming estão preferindo mais o volume de produção do que a qualidade. Blockbusters, do tipo "Star Wars", parecem estar perdendo a linha, criando coisas porque sabem que têm um público cativo. Da mesma forma a DC e a Marvel.  

Eles roubam grande parte da audiência, é dinheiro garantido nas bilheterias e isso acaba tirando o espaço de outras produções, interferindo no calendário de lançamentos. E com isso, o público acaba ficando meio refém dessas grandes produções." 


"De forma geral, eu vejo que a gente está tendo muitas produções mas pouca qualidade. foi meio difícil fazer esta lista de 2022. E cada vez mais a gente vai ver grandes produções lançadas diretamente no streaming."

- Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo - Daniel Scheinert e Daniel Kwan - Net/Claro, Claro Vídeo, Apple TV, Google Play e Prime Vídeo
- Top Gun: Maverick - Joseph Kosinski - Telecine Play
- A Mulher Rei - Gina Prince-Bythewood - Google Play, Apple TV, Prime Vídeo, Net/Claro
- O Predador: A Caçada - Dan Trachtenberg - Star+
- The Batman - Matt Reeves - HBO Max
- Pinóquio - Guillermo del Toro - Netflix
- Elvis - Baz Luhrmann - HBO Max
- Argentina, 1985 - Santiago Mitre - Prime Vídeo


Marcos Tadeu
"Assim como Jean Piter, eu também acho que o mercado do cinema está muito inchado, com muitas produções em streaming. Às vezes, fica até difícil de ver tudo e achar filmes que são muito bons, mas que se perdem no volume de opções oferecidas. 

Neste ponto, o cinema ajuda na escolha. Eu também acho que falta qualidade. Não tive tanta dificuldade em escolher, pois meu critério foi mais o que passou no cinema. Se ficasse refém ao streaming, tivesse mais dificuldade."

Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo - Daniel Scheinert e Daniel Kwan - Net/Claro, Claro Vídeo, Apple TV, Google Play e Prime Vídeo
- The Batman - Matt Reeves - HBO Max
- Elvis - Baz Luhrmann - HBO Max
- Top Gun: Maverick - Joseph Kosinski - Telecine Play
- Pinóquio - Guillermo del Toro - Netflix
- Sorria - Parker Finn - Net/Claro, Claro Vídeo, Apple TV, Google Play e Prime Vídeo
- O Predador: A Caçada - Dan Trachtenberg - Star+
- A Mulher Rei - Gina Prince-Bythewood - Google Play, Apple TV, Prime Vídeo, Net/Claro
- Medida Provisória - Lázaro Ramos - Globo Play
- Marte Um - Gabriel Martins - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING


Carol Cassese
- Triângulo da Tristeza - Ruben Östlund - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING
O Próximo Passo - Cédric Klapisch - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING
- O Menu - Mark Mylod - HBO Max
- O Bom Patrão - Fernando León de Aranoa - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING
- Mães Paralelas - Pedro Almodóvar - Netflix
- O Milagre - Sebastián Lelio - Netflix
- Pinóquio - Guillermo del Toro - Netflix
- Marte Um - Gabriel Martins - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING
- Noites de Paris - Mikhaël Hers - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING
- A Acusação - Yvan Attal - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING


Eduardo Jr.
- Marte Um - Gabriel Martins - AINDA INDISPONÍVEL NO STREAMING
- Medida Provisória - Lázaro Ramos - Globo Play
- The Batman - Matt Reeves - HBO Max
- Respect - A História de Aretha Franklin - Liesl Tommy - Prime Vídeo
- As Verdades - José Eduardo Belmonte - Telecine
- Mães Paralelas - Pedro Almodóvar - Netflix

30 dezembro 2022

"Filho da Mãe" é divertido, emocionante e frenético, como Paulo Gustavo

Documentário acompanha o comediante em sua turnê musical com a mãe, Déa Lúcia, pelo Brasil
(Fotos: Amazon Prime Vídeo)


Maristela Bretas


Para rir muito. Mas infelizmente faz chorar também. Assim é o documentário "Filho da Mãe", último projeto assinado pelo comediante Paulo Gustavo antes de falecer em 04/05/2021 por complicações causadas pela Covid-19. 

Em exibição na Amazon Prime Vídeo, o longa era para contar as peripécias desse que foi uma das maiores revelações dos últimos tempos da TV e do teatro, onde sua carreira começou.

Mas a doença, que ele tanto temia contrair durante a pandemia em 2020/2021, o levou mais cedo e a história, que diverte até mais da metade do filme, se torna triste e saudosista. Tanto para aqueles que com ele conviveram quanto para seus milhares de fãs.  

"Minha Mãe é Uma Peça 3" (Divulgação)

O longa é recheado de depoimentos de amigos, integrantes da banda e de familiares, especialmente sua mãe, dona Déa Lúcia. "Filho da Mãe" é a homenagem de Paulo Gustavo a ela, sua inspiração para o maior e mais conhecido personagem - Dona Hermínia, dos filmes "Minha Mãe é Uma Peça" - 1 (2013), 2 (2016) e 3 (2020) . 

O ator também participou de outras produções de sucesso, como "Os Homens são de Marte e é prá lá que Eu Vou" (2014) e "Minha Vida em Marte" (2018), ambos com a amiga inseparável Mônica Martelli. Além do papel como Valdomiro, em "Vai que Cola", série de TV exibida pela Multishow que originou o filme homônimo.


Da infância sempre muito ativa ao sucesso no cinema, palcos de teatro e programas de TV, Paulo Gustavo sempre era o centro das atrações onde chegava. 

Nos depoimentos do documentário, amigos, pais, madrasta e tias contam como ele iluminava e tornava os momentos mais alegres e divertidos, com humor ácido e crítico, mas também afetuoso. 

Uma alegria que se tornou ainda maior com o casamento e o nascimento dos dois filhos, Gael e Romeu.


Imagens inéditas de arquivos familiares e das apresentações nos palcos pelo país mostram, na maior parte do longa, o comediante fazendo piadas, imitando a mãe, contando casos passados dela e de suas amigas, dos amigos próximos e de sua equipe. 

Dona Déa e Paulo Gustavo protagonizam a história e mostram como o amor e o orgulho de um pelo outro era grande.

Paulo Gustavo com Mônica Martelli em
"Minha Vida em Marte" (Divulgação)

A intimidade do comediante com a mãe, o pai, o marido e os filhos também não foi esquecida, sem esquecer os amigos mais próximos, que deram depoimentos de antes e após a morte do ator. 

Os bastidores do espetáculo, com algumas músicas e falas improvisadas pela dupla, as viagens, o que agradava e o que desagradava a ambos. Tudo era motivo para uma boa risada.

Paulo Gustavo e Susana Garcia (Divulgação)

"Filho da Mãe" é um documentário que merece ser visto e revisto, para matar a saudade de Paulo Gustavo e de seus maiores personagens, com boas risadas e muita emoção por esta triste perda prematura. 

Em breve, poderemos ter mais deste completo ator. Em entrevista ao portal Terra, a diretora Susana Garcia afirmou que outras produções sobre o comediante devem chegar pela Amazon Prime Vídeo. 

Segundo ela, há ainda muito conteúdo para aproveitar das 130 horas do material bruto feito pela equipe. Vamos esperar com ansiedade.


Ficha técnica:
Direção: Susana Garcia e Ju Amaral
Produção: Amazon Prime Video
Exibição: Amazon Prime Vídeo
Duração: 1h15
Classificação: livre
País: Brasil
Gênero: Documentário

26 outubro 2022

Emoção e inevitável comparação com o Brasil fazem de “Argentina, 1985” um filme imperdível: nunca mais

Ricardo Darín e Peter Lanzani  formam a dupla que vai ajudar a condenar militares torturadores  (Fotos: Amazon Studios)


Mirtes Helena Scalioni


É quase impossível assistir ao filme “Argentina, 1985” e não se perguntar: e nós, cá no Brasil, como ficamos? Dirigido por Santiago Mitre (“A Cordilheira”, 2017), o longa conta, com sobriedade e honestidade na medida, o histórico julgamento de nove militares por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura. E o mais surpreendente: por um tribunal civil. Não por acaso, a produção, em cartaz no Prime Video, é indicada ao Oscar de 2023, depois de faturar o Prêmio da Crítica no Festival de Veneza 2022.


Não bastasse o tema, sempre tão caro a cidadãos de qualquer país, “Argentina, 1985” traz no seu elenco o sempre craque Ricardo Darín ("A Odisseia dos Tontos" - 2019), que interpreta o promotor público Julio Cesar Strassera, “o Louco”, que contra tudo e todos, reúne um grupo de jovens estudantes e estagiários que conseguem, em tempo hábil, apurar cerca de 700 casos de abusos e torturas narradas por 800 testemunhas. 

Nem é preciso dizer que o camaleônico Darín dá show, ao evitar traços de herói corajoso para ser apenas um servidor público profissional e humano, com seus medos, dúvidas e inseguranças.


Ao lado de Ricardo Darín – e tão brilhante quanto - está Peter Lanzani (“O Clã” - 2015) como o jovem e inexperiente assistente Luis Moreno Ocampo, que abraça a causa do chamado “julgamento das juntas”, embora faça parte de uma família de militares – “minha mãe vai à missa com Videla”. 

É preciso falar também de Alejandra Flechner como Silvia, a esposa fortaleza de Strassera, de atuação discreta e precisa, assim como as crianças que interpretam os dois filhos do casal, cujas participações trazem certa leveza ao longa.


Filmes de tribunal costumam ser sombrios, fechados e monótonos. Não é esse o caso de “Argentina, 1985”. O roteiro, cuja autoria Santiago Mitre divide com Mariano Llinás, lembra um pouco o clássico “A História Oficial”, que ganhou o Oscar em 1986, outro longa argentino que também se vale de fatos para falar da história sangrenta da ditadura que massacrou o país entre 1976 e 1983. Certos toques sutis de humor, embora discretos, ajudam a amenizar o clima.


Quando se sabe que esse “julgamento das juntas” foi o primeiro do mundo realizado por um tribunal civil, num país que ainda chorava seus mortos e catava seus cacos para tentar a redemocratização com Raúl Alfonsín, é difícil não se emocionar com “Argentina, 1985”.

A comparação, sempre inevitável, entristece e não enobrece em nada o Brasil. Talvez seja o caso de perguntar se é mesmo verdade que nossos hermanos são mais politizados e estão a milhas de distância dos brasileiros quando o assunto é cidadania. Impossível não chorar no final.


Ficha técnica:
Direção: Santiago Mitre
Produção: La union de los rios /Infinity Hill
Distribuição: Amazon Prime Video
Exibição: Amazon Prime Video
Duração: 2h20
Classificação: 14 anos
País: Argentina
Gênero: drama