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23 março 2022

Sensibilidade e luto são os pontos de destaque de "Drive My Car"

O carro é uma peça importante na rotina dos personagens de Hidetoshi Nishijima e Tôko Miura (Fotos: Rapid Eyes Movies)


Marcos Tadeu


Concorrendo a uma vaga na categoria "Melhor Filme" para o Oscar, "Drive My Car" ("Doraibu mai kâ") é baseado no conto de Haruki Murakami publicado no livro “Onna No Inai Otoko Tachi". O longa, dirigido por Ryûsuke Hamaguchi, conta a história de Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) casado com Oto (Reika Kirishima) uma importante roteirista.

No primeiro ato do filme vemos com é a relação de Yûsuke e Oto, porém é ela quem esconde mais segredos e mentiras. Enquanto o marido recebe propostas do mundo da atuação e direção, a esposa o trai com um ator de TV em seu próprio apartamento. Após descobrir a traição, o protagonista esconde seu sentimento pelo ocorrido. 


Mas há algo mais envolvendo o casal. Eles vivem a dor do luto causado pela morte da filha, vítima de uma pneumonia. Isso tudo faz com que o Yûsuke sempre se desvie do problema, seja ele literal ou simbólico. 

A finitude da vida, no entanto vai levar o casal a outros dramas e sofrimentos. O enredo começa a virar quando Yûsuke não consegue mais lidar com o seu personagem na peça em que atua. Os problemas se tornam maiores com o luto e as frustrações de não poder conseguir encará-los de frente e superar os conflitos internos.


Outro ponto de virada do roteiro acontece dois anos depois, quando o protagonista recebe uma proposta para dirigir a peça multilinguagem "A Gaivota", de Anton Tchekhov. O maior desafio de Yûsuke é o de se comunicar idiomas diferentes, como japonês, mandarim, coreano e até a linguagem de sinais coreana. 

Enfrentar uma falta de diálogo é o que faz a sensibilidade do filme ser tão profunda. O protagonista precisa ser líder e aprender a tratar com cada tipo de pessoa em sua linguagem e a enfrentar sua insegurança. Uma alusão a sua vida de não comunicação com a esposa.


É válido destacar também a importância filosófica do carro na obra. Yûsuke, que sempre dirigiu o próprio carro para todo e qualquer canto, precisa ceder e deixar que a motorista Misaki Watari (Tôko Miura) assuma a direção. 

Assim como no carro, dirigir é um processo de confiança, de lidar com o medo e de colocar a segurança do outro como prioridade. O veículo tem uma função primordial na narrativa para os personagens Yûsuke, Misaki, Kôji Takatsuki (Masaki Okada). O veículo, de alguma forma, faz com que seus ocupantes se sintam a vontade para conversarem e contarem suas histórias. 

O que talvez a obra deixe a desejar é o fato de não explorar as personagens Oto e a motorista Misaki. Pouco se sabe do passado dessas duas mulheres que são figuras importantes, mas que não receberam o tempo de tela merecido. Apesar de ser um belo filme, a longa duração - quase 3 horas de uma lenta narração - pode deixar o telespectador cansado.


De toda forma, "Drive My Car" aborda com muita sensibilidade a dor e o luto. E também como nossas diferenças podem nos unir em meio às tragédias da vida. O longa de Hamaguchi chega com muita força no cenário do Oscar. Se ele se tornará um novo "Parasita" (2019), com chances de levar as estatuetas de Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Filme Internacional (já faturou o Globo de Ouro 2022), somente no dia 23 de março saberemos. O certo é que o cinema asiático foi chegando, conquistando espaço e fazendo bonito. As chances são muito boas.


Ficha técnica:
Direção: Ryûsuke Hamaguchi
Produção: Bitters End
Distribuição: 02 Play
Exibição: Nos cinemas // catálogo do Mubi (a partir de 2 de abril)
Duração: 2h57
Classificação: 14 anos
País: Japão