19 novembro 2025

"O Sobrevivente" – o show sempre deve se superar

Glen Powell é Ben Richards, um desempregado que participa de um programa de TV ao vivo de vida e morte para conseguir dinheiro e salvar sua família  (Fotos: Paramount Pictures)
 
 

Maristela Bretas


Em 1987, quando surgiu pela primeira vez o personagem Ben Richards, vivido por Arnold Schwarzenegger, a expectativa era maior que o resultado: a bilheteria baixa não fez jus ao filme. Mesmo com efeitos visuais artesanais, porém adequados à época, e a interpretação limitada do protagonista, o longa não rendeu o esperado.

Anos depois, o jogo virou. O filme tornou-se cult por sua ficção distópica e pela crítica à sociedade e ao controle da mídia. Atualmente, voltou a ser procurado na Netflix – especialmente com o lançamento, nesta quinta-feira (20), da nova versão.


Passadas quase quatro décadas, "O Sobrevivente" ("The Running Man") retorna às telas em um reboot que modifica parte da história original e traz como protagonista o atual queridinho de Hollywood, o carismático Glen Powell.

Baseado no romance "O Concorrente", de Stephen King (sob o pseudônimo Richard Bachman), o novo filme mantém a crítica social: um mundo dividido entre ricos vivendo em palácios verticais e marginalizados isolados para além dos muros das grandes cidades. A TV manipula tudo o que é exibido, criando heróis e vilões para uma população faminta por violência.


Assim como no longa de 1987, a audiência é o objetivo máximo — mesmo que, para isso, o público seja bombardeado com cenas de lutas, ataques e mortes, reais ou simuladas, transmitidas como um grande reality show para uma plateia sedenta por sangue e vingança.

A nova história se passa em 2025, em um cenário caótico de um Estados Unidos falido, com o governo manipulando a mídia e os pobres lutando diariamente para sobreviver.

Para salvar a esposa e a filha doente, Ben Richards (Glen Powell) se inscreve no violento game show "The Running Man". Durante 30 dias, os participantes precisam escapar de uma equipe de assassinos profissionais. O vencedor recebe um prêmio milionário em dinheiro.


"O Sobrevivente" apresenta as questões sociais e políticas de forma até mais clara que o original, em meio a muita ação, violência brutal e efeitos visuais competentes. 

Glen Powell se destaca como o trabalhador desempregado, revoltado com os abusos das corporações e o descaso com quem não pertence à elite. Para os fãs, as cenas do galã apenas de toalha são um colírio e estão entre as divertidas do filme.

De temperamento explosivo, Ben não consegue manter empregos e acaba chamando a atenção de Dan Killian, o produtor do programa, interpretado por Josh Brolin. O ator entrega um vilão frio, preocupado apenas em “ver o circo pegar fogo” e aumentar os lucros do show número um da emissora.


O elenco traz ainda nomes conhecidos como William H. Macy, em participação especial como um rebelde; Colman Domingo, vivendo o sádico showman Bobby T.; Michael Cera, como o revolucionário Elton Parrakis; e Lee Pace, interpretando o caçador assassino Ewan MacCone, entre outros.

À medida que a trama avança, o diretor Edgar Wright intensifica a raiva e o desprezo de Ben Richards por uma sociedade hipócrita e imoral. O personagem quer justiça para sua família e para aqueles que foram esquecidos — nem que, para isso, precise “tocar o terror e ligar o f#d#-se” para o programa e seus responsáveis.


Além das sequências de ação e perseguição, "O Sobrevivente" conta com uma excelente trilha sonora composta por Steven Price, incluindo uma clássica canção de ninar em nova versão, logo nos primeiros minutos.

Resta saber se, ao contrário do original, o filme conseguirá atingir bons números de bilheteria para compensar os US$ 110 milhões investidos na produção. Ou se será reconhecido apenas após alguns anos, assim como a boa atuação de Glen Powell.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Edgar Wright
Produção: Paramount Pictures, Complete Fiction Films, Genre Films
Distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h14
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ficção, suspense, ação

18 novembro 2025

"Angel’s Egg": uma experiência cinematográfica para um público seleto

Obra do renomado Mamoru Oshii completa 40 anos e foi remasterizada em 4K (Fotos: Sato Company)
 
 

Jean Piter Miranda

 
Considerado por muitos um clássico da animação japonesa, “Angel’s Egg” (1985) chega aos cinemas brasileiros. A obra que completa 40 anos foi remasterizada em 4K. 

A história se passa em um mundo pós-apocalíptico onde uma menina solitária protege um ovo gigante. Entretanto, as coisas mudam quando surge um homem enigmático que busca cumprir uma missão. 

A animação tem pouco mais de 70 minutos. Um tempo que parece muito maior já que a história é bem lenta. A cidade onde a história se passa é escura e melancólica. Há água por todos os lados e a chuva se faz presente em quase todas as cenas. 


São pouco diálogos e muito silêncio. Nos primeiros 20 minutos, só há sons ambientes enquanto a menina anda de um lado para o outro carregando o ovo. 

Os primeiros diálogos só ocorrem quando surge um homem misterioso, que chega em uma espécie de tanque de guerra. Ele carrega consigo algo que parece uma cruz e, ao mesmo tempo, também se assemelha a uma espada. A partir disso, faz companhia para a menina durante o restante da história. 

Os dois seguem andando pela cidade, passando por construções que são, no mínimo, enigmáticas. Eles se deparam com fósseis, esqueletos de criaturas que habitavam o local. 


Um dos pontos altos da animação são as reflexões propostas pelo homem. Ele fala de fé, de deus, da criação, sobre o que é real ou não, em uma narrativa que passa pela lenda da arca de Noé. 

Há outros personagens na história, como os pescadores que correm atrás de sombras de peixes gigantes. São zumbis? São fantasmas? Uma nave arredondada que parece um grande olho. São muitas informações que surgem lentamente entre poucos diálogos e nenhuma explicação. 


"Angel’s Egg" é uma obra filosófica, para contemplar e refletir. Por isso é para poucos. Agrada quase ninguém e vai agradar menos ainda nos dias atuais, onde tudo é muito acelerado. 

Em tempos de Reels, micro-vídeos, feed que desliza de segundo em segundo, é difícil ver um filme que se arrasta em silêncio e não entrega respostas prontas. 

A obra é do renomado Mamoru Oshii, mesmo autor de “Ghost in the Shell” (1995). É uma boa pedida para quem gosta de animes, mangás, e de toda a cultura japonesa. Uma experiência audiovisual de beleza singular que há 40 anos foi lançada em VHS e que agora poderá ser vista na tela grande.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Mamoru Oshii
Conceitos visuais: Yoshitaka Amano
Distribuição: Sato Company
Exibição: Cineart Cidade - sessão 18h35
Duração: 1h11
Classificação: 10 anos
País: Japão (1985 - remasterizado)
Gêneros: fantasia, animação