Mostrando postagens com marcador #A FelicidadeDasCoisas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador #A FelicidadeDasCoisas. Mostrar todas as postagens

19 maio 2022

Sem tramas nem suspense, “A Felicidade das Coisas” trata com carinhosa tolerância um dos sonhos de consumo da classe média

Primeiro longa de Thais Fujinaga aborda maternidade e a posição da mulher numa cultural patriarcal (Fotos: Embaúba Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Talvez a melhor definição para “A Felicidade das Coisas” seja: trata-se de um típico filme autoral, sem que isso indique, a princípio, que seja bom ou ruim. Significa apenas que a diretora Thaís Fujinaga, que faz sua estreia em longas depois de alguns curtas, decidiu contar uma história de um jeito peculiar – do seu jeito. 

Junte-se a isso a participação de atores e atrizes desconhecidos do grande público, o que pode tornar a produção, embora lenta e sem ganchos e tramas, um trabalho no mínimo diferente e interessante.


Ao contar a história de Paula (Patrícia Saravy), que, aos 40 anos e grávida de um terceiro filho, está passando uma temporada na modesta casa de praia que acabou de comprar em Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo, a diretora parece querer nos mostrar um cotidiano corriqueiro e natural. É como se alguém tivesse decidido filmar uma parte das férias de uma família comum. 

“A Felicidade das Coisas” é um recorte do que ocorreu naqueles dias e há momentos em que o espectador pode se aborrecer porque nada acontece. Pelo menos nada de extraordinário.


Como toda família provinciana, Paula e seus dois filhos pré-adolescentes (as crianças Messias Gois e Lavínia Castelari) sonham com uma piscina que desejam instalar a todo custo na casa de praia. E é esse o objetivo daquele grupo familiar naquela temporada. 

Embora a casa careça de reformas mais urgentes, o filme já começa com pedreiros cavando o buraco onde a tão sonhada piscina deve ser colocada. A lentidão dos trabalhadores é apenas o começo dos problemas, já que o dinheiro anda cada vez mais curto. Quem nunca viu isso antes?


Além de “filme de autor”, “A Felicidade das Coisas” é também um “filme de atrizes”, porque é centrado principalmente na atuação de duas delas. Patrícia Saravy, que faz a mãe das crianças, é uma mulher triste, abnegada, às vezes revoltada com um marido ausente, mas sempre capaz de renovar as esperanças. Quem não conhece uma mãe assim? 

Completa a dupla a excelente Magali Biff, que interpreta a mãe de Paula e avó das crianças, sempre pronta a colocar panos quentes, proteger os netos, alimentar os sonhos, cuidar para que tudo dê certo. Os diálogos entre as duas enquanto cuidam da casa, cozinham, lavam pratos, falam das dificuldades e relembram do passado, se parecem com muitas conversas entre mãe e filha adulta num almoço de domingo.


Antes deste longa, a paulista Thaís Fujinaga, que também fez o roteiro, dirigiu “Os Irmãos Mai”, “Hoje é Seu Dia” e “A Visita”. Ganhou prêmios e, claro, alguma experiência. Um olhar mais atento vai perceber um certo traço de curta-metragem em “A Felicidade das Coisas”, principalmente pela forma quase doméstica das atuações, embora corretas e adequadas, inclusive das crianças. É o naturalismo levado às últimas consequências.

Sem tramas, conchavos, tensões, dramas ou suspense, a produção pode agradar aos que apreciam histórias em que nada de extraordinário acontece. Claro que sempre há espaço para metáforas e simbolismos no empenho e teimosia daquela família em torno de uma piscina. Mas talvez o grande mérito de “A Felicidade das Coisas” seja levar o espectador a se reconhecer na tela.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Thais Fujinaga
Produção: Filmes de Plástico / Lira Comunicação
Distribuição: Embaúba FIlmes
Exibição: Una Cine Belas Artes
Classificação: 14 anos
Duração: 1h27
País: Brasil
Gêneros: drama / comédia