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05 dezembro 2022

Simples e sem arroubos, "O Milagre" atrai ao explorar o fanatismo, a verdade e a fé

Florence Pugh e a jovem Kíla Lord Cassidy são as protagonistas deste thriller psicológico (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro


Idolatria, ceticismo, abuso infantil, luto perinatal e distúrbios alimentares são temas de "O Milagre" ("The Wonder"), novo filme em exibição na Netflix. Nesse domingo (4), a produção faturou o prêmio de Melhor Trilha Sonora (composta por Matthew Herbert) do British Independent Film Awards (BIFA) 2022, além de receber outras 11 indicações para essa importante premiação britânica.

O longa é uma adaptação do romance homônimo de Emma Donoghue, com um roteiro que provoca desconfiança e remete à frieza dos fatos. É exatamente por sua construção fria, sem arroubos, que ele chama a atenção.


A história se passa no ano de 1862 e narra o drama da jovem Anna O’Donnell (Kíla Lord Cassidy), de 11 anos, que vive num vilarejo da Irlanda e não come há quatro meses. 

A enfermeira inglesa Lib Wright, vivida por Florence Pugh (de "Adoráveis Mulheres" - 2020 e "Viúva Negra" - 2021) e a freira Irmã Ryan (Josie Walker) são enviadas à casa da garota a fim de manterem uma vigilância ininterrupta de 15 dias e testemunharem a veracidade dos fatos e se lá estaria ocorrendo um milagre. 


Elas precisam fazer relatórios para um grupo de autoridades masculinas do povoado. Anna é muito religiosa e passa a dizer que vive de maná dos céus, o que faz com que seus pais e o povo da província passem a tratá-la como uma santidade. A história ganha mais força com a insistência do médico Dr. McBrearty (Toby Jones) e do padre Thaddeus (Ciarán Hinds).


Junto a Alice Birch ("Normal People", "Succession") e o diretor Sebastián Lelio, premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2018, por "Uma Mulher Fantástica", a escritora Emma Donoghue adaptou sua obra para o cinema, inspirada em casos reais de virgens jejuadoras - adolescentes que deixavam de comer acreditando que seriam abençoadas pela penitência.

Ela já recebeu indicações ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA pela adaptação para as telas do best-seller, "O Quarto de Jack" (2015), estrelado por Brie Larson.


"O Milagre" tem uma fotografia interna que provoca a sensação em quem o assiste de que é preciso ver além do que é mostrado nas cenas. É isso que mantém o telespectador de olhos vidrados e ouvidos atentos. Nos ambientes internos, o diretor abusa de cenas feitas sob baixa iluminação. 

Nas tomadas claríssimas em grande plano realizadas fora da casa, nos momentos em que a enfermeira perambula com a menina pelos campos, ele faz uma referência ao isolamento vivido pela profissional de saúde. Tanto pelas suspeitas do mistério que envolve a menina, quanto por seu sofrimento, vivenciando um drama pessoal que só o público conhece.


A obra explora bem a sonoplastia, com poucas inserções de canções e muitos efeitos sonoros. Traz uma dicotomia enigmática a ausência de alimentos na vida da garota e o voraz apetite da enfermeira. Além de instigar a percepção de quem tenta desvendar o que mantém a sobrevivência da jovem. 


A grande sacada do filme é a chegada do repórter do Jornal Daily Telegraph, William Byrne (Tom Burke), que insiste em fazer uma matéria sobre Anna. 

Mesmo impedido pela enfermeira, ele fica pelas redondezas, o que vai mudar totalmente o destino da história e unir quatro personagens, três deles presentes na trama: o repórter, a garota e a enfermeira.

O quarto, supostamente morto, é retratado em meio aos acontecimentos que levam à descoberta do real motivo pelo qual a menina está sem se alimentar. 


Acuada, isolada e sem ninguém que acredite em suas palavras, a enfermeira Lib Wright vai tomar decisões que podem parecer antiéticas, mas que de fato serão o milagre dessa história. 

Destaque para as ótimas interpretações de Florence Pugh e da jovem Kíla Lord Cassidy. Surpreendentemente dramático e estranho, "O Milagre", entre a penumbra e a luminosidade, merece que você acredite nele.


Ficha técnica:
Direção: Sebastián Lelio
Produção: Netflix / Volta Pictures / Element Films
Exibição: Netflix
Duração: 1h48
Classificação: 16 anos
Países: Irlanda, Reino Unido, EUA
Gêneros: drama, suspense

01 dezembro 2022

"Noite Infeliz" - Papai Noel existe e desce a porrada em quem se comporta mal

De saco cheio, David Harbour quebra os parâmetros e entrega presentes bem diferentes no Natal (Fotos: Universal Pictures)


Wallace Graciano


“Noite Infeliz” ("Violent Night"), longa protagonizado por David Harbour, o Jim Hopper de “Stranger Things”, chega aos cinemas brasileiros buscando quebrar uma série de clichês que logo vemos conforme o Natal começa a bater à porta. 

Se palavras como “prosperidade”, “paz” e “harmonia” permeiam nosso imaginário quando pensamos no período, no longa, que é uma mistura de comédia e ação, o Papai Noel, figura que costuma encarnar esses ideais, prova sua existência, mas de uma maneira que o distancia muito daquele simpático velhinho. 


Cansado do seu trabalho rotineiro, nosso velho barbudo se apresenta como uma figura decadente e alcoólica, que não vê mais prazer em atravessar chaminés e entregar presentes a crianças que se comportaram bem ao longo dos anos. 

Tampouco os tradicionais biscoitinhos natalinos ou copos de leite frios o atraem mais. Nas casas que visita, ele prefere conferir o que cada um dos residentes guarda em seus bares pessoais. 


Porém, essa perspectiva se vê em xeque ao entrar na mansão de uma família milionária, que escancara os mais terríveis estereótipos que podemos imaginar em um lugar onde a luxúria reina. 

Enquanto ele entra pela chaminé para deixar um presente para Trudy (Leah Brady), uma dócil garotinha que ainda não havia sido infectada pelo clima tóxico daquele ambiente, um grupo de mercenários chefiados por Scrooge (John Leguizamo), inimigo do Natal, invade o local e sequestra todos os ocupantes da casa.


Armados até os dentes, literalmente em alguns casos, esses mercenários queriam roubar os mais de US$ 300 milhões que a matriarca da família desviou do governo norte-americano enquanto tinha como missão espalhar esse dinheiro para ações na África. Com isso, começam a torturar os donos da casa em busca do segredo do cofre.


Eis que os caminhos se cruzam, quando um dos mercenários em questão vê o bom velhinho, que outrora se mostrava como uma figura indefesa. Porém, precisando encarar aquele vilão, Papai Noel revive seu passado de guerreiro esmagador de crânios, que usava um martelo como sua arma letal. 

A partir desse momento, a trama ganha fôlego, variando entre lutas sangrentas e a construção do personagem, que não sabe muito bem como adquiriu a “magia do Natal”. 


Enquanto tenta salvar a família, graças ao pedido desesperado da garotinha, que atiça seus mais nobres sentimentos como Papai Noel com esses clichês que estamos acostumados, o barbudo encara de forma voraz aqueles mercenários que avançam cada vez mais para conseguir êxito no plano. 

Apesar de sujar a roupa do Papai Noel com (muito) sangue, o filme não deixa escapar a essência natalina, apostando piadinhas, músicas típicas e até mesmo referências ao filme “Esqueceram de Mim”, um dos maiores clássicos do período.


“Noite Infeliz” está longe de uma comédia típica do período para se ver com os filhos, no sofá de casa, mas é um daqueles longas que te trará entretenimento e vai até mesmo tirar seu fôlego em meio aos risos. 

É uma película que soube trabalhar bem o inusitado, o enredo e o impacto, sem passar do tom e ofender alguém ou alguma cultura diretamente. Grandioso acerto. Um doce, mas ácido, presente de Natal.  


Ficha técnica:
Direção: Tommy Wirkola
Produção: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures Brasil
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, comédia

27 novembro 2022

Quinze anos depois, "Desencantada" é uma continuação que perde o encanto

Novo longa reúne personagens do primeiro filme, com Amy Adams ainda como protagonista (Fotos: Walt Disney Pictures)


Marcos Tadeu
Narrativa cinematográfica


"Desencantada" ("Disenchanted"), o filme mais aguardo da sequência de "Encantada" (2007), que você pode conferir crítica clicando aqui, chegou ao Disney+ no dia 16/11. E veio com a grande promessa que iria manter os moldes do filme anterior, trazendo uma Giselle diferente do que estamos acostumados. Vale lembrar que mais de 15 anos se passaram para o elenco original e seus personagens.

Na trama, continuamos literalmente depois do "felizes para sempre" e de alguns anos. Giselle e Robert (novamente interpretados por Amy Adams e Patrick Dempsey) agora são pais da pequena Sofia, enquanto Morgan (Gabriella Baldacchino) começa a enfrentar a fase da adolescência. 


Nossa protagonista descobre que a vida em Nova York não é um conto de fadas, o que a deixa muito cansada, ainda mais agora que tem que cuidar de uma bebê. Foi aí que teve a ideia de se mudar para Moronvile. 

Nancy e Edward (Idina Menzel e James Marsden, também do primeiro filme) vão visitar a família e deixa uma varinha de desejos de Andalasia. Mas somente quem pode usá-la é uma filha do antigo reino. 

Morgan, por outro lado, questiona por estar longe e não se sentir parte daquele novo lugar. Sua relação com a madrasta também muda.  Robert também sofre por trabalhar em Nova York e ter de se adaptar. 


Talvez o ponto mais positivo seja o primeiro ato do filme, que consegue trazer um contexto sobre o que o público irá esperar. Esses minutos iniciais nos levam a crer que ainda estamos com todos aqueles personagens de 2007. 

Porém, ao chegar na segunda parte, existe uma tentativa tão grande em mudar os rumos da história que tudo fica muito artificial, chato, vira praticamente outro filme.


Notamos que Giselle usou a varinha de Andalasia como forma de voltar a ser o que era antes e, principalmente, para ter um bom relacionamento com Morgan. Nossa protagonista se torna vilã, mas de uma maneira muito forçada. 

Amy Adams transita muito bem entre mocinha e madrasta má, porém isso não é suficiente para que o enredo ande de forma natural.


A desconstrução da personagem parece até interessante em um primeiro momento, mas logo se perde. Talvez fosse mais legal se o filme contasse como Giselle vive sua vida de adulta em Nova York. 

A produção abandona ou torna bobo os personagens e tudo fica muito sem nexo. Até Morgan tem uma mudança radical de comportamento,

Nancy, mostrada em duas ou três cenas, talvez seja a mais coerente em toda a sua história, mas ainda assim, a atriz Indina Mezel é prejudicada pelo roteiro fraco. Edward também é quase esquecido, vemos pouco de suas ações ao longo da trama.


As músicas da trilha sonora não têm a mesma força de ser "chiclete" e grudar na cabeça como o filme original. Também o figurino é bem exagerado, mais do que o comum.

É impossível não fazer comparações com a primeira produção, que teve referências a personagens e objetos da Disney colocadas de maneira pontual. Aqui existe uma necessidade extrema de ficar "arrotando referências" em toda obra, o que a deixa cansativo. 


Num terceiro momento, há outro ponto negativo: a necessidade de esclarecer o porquê Giselle de ela se tornar uma vilã. E ainda canta ao explicar isso ao amigo Pipe, quase chamando o espectador de burro.

Até com relação às vilãs, vemos que existe competitividade entre as mulheres. em "Desencantada" conhecemos Malvina Monroe, interpretada por Maya Rudolph, que está excelente em seu papel. 

Apesar de sua motivação ser apenas a de tomar a varinha do desejo para si e querer mostrar autoridade sobre Giselle, essa rivalidade entre as duas soa fraca e sem graça.


Tanto os cenários como o CGI parecem menos profissionais e mais artificiais. No longa original era possível ver algumas coisas que se misturavam ao cenário real. Mas no novo filme tudo é tão forçado e exagerado ao extremo que fica difícil "comprar a ideia".

"Desencantada" apesar de mágico e fabuloso, não consegue ser uma continuação à altura de "Encantada". Vale a pena conferir se for muito fã de Amy Adams, que também produtora desse segundo longa. Ela sim, carrega o filme nas costas e com classe, fora isso é uma produção que desencanta a quem assiste.


Ficha técnica:
Direção: Adam Shankman
Produção: Walt Disney Pictures / Entertainment
Exibição: Disney+
Duração: 2h01
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: comédia, fantasia, aventura, família

22 novembro 2022

"Meu Filho é um Craque" e o peso de uma mentira do bem

Comédia francesa reúne Maleaume Paquin e François Damiens interpretando pai e filho (Fotos: Pandora Filmes)


Maristela Bretas


Emocionante comédia francesa, "Meu Filho é um Craque" ("Fourmi") explora, de forma lúdica, as expectativas, sonhos, frustrações e, acima de tudo, a relação nem sempre tranquila, mas importante e indispensável entre pais e filhos. A comédia francesa é baseada na obra "Dream Team", de Mario Torrecillas e Arthur Laperla, e estreia nesta quinta-feira (24) nos cinemas.


O pano de fundo é o futebol e a estreia da produção não é uma simples coincidência com a Copa do Mundo, apesar de ter sido feita em 2019. Se a paixão por este esporte é mundial, ela não é menor na França, onde se passa a história. No entanto, o time escolhido para ser o objeto de desejo de um pai e de moradores de um vilarejo francês é, ironicamente, uma equipe inglesa, o Arsenal.


É em cima dessa ligação com o futebol que esta comédia dramática se desenrola, numa fase de amadurecimento e descobertas do protagonista Theo (Maleaume Paquin), um adolescente de 12 anos. 

E seu difícil pai, Laurent (François Damiens), um homem que se desiludiu com a vida, vive bêbado e causando constrangimento ao filho cada vez que aparece em seus jogos pelo time da cidade.


Theo, é um craque, como está no título, e se destaca no time, para orgulho do treinador Claude (André Dussollier) e do pai, que normalmente está alcoolizado quando comparece às partidas, criando confusão e brigas. Laurent enfrenta uma fase difícil na vida desde que perdeu o emprego e se divorciou da mãe de Theo.

Mas o amor do garoto pelo pai é maior e o leva a perdoá-lo todas as vezes. Há uma inversão de papéis nesta fase, onde Theo se torna pai para tentar cuidar de Laurent. E é nesse contexto que surge uma situação onde uma simples mentira pode representar uma grande mudança na vida de todos da comunidade.


Theo conta ao pai que foi chamado para treinar no Arsenal, mas que precisa de um adulto para acompanhá-lo. A partir daí, Laurent decide dar uma guinada em sua vida para tornar-se digno do filho e das autoridades.

E como mentira puxa mentira, apenas dois amigos do adolescente estão dispostos a ajudá-lo a sustentar a história criada, criando situações bem engraçadas. Outras pessoas também se empolgam com a notícia, inclusive o treinador Claude, que sempre foi um incentivador de Théo e amigo do pai dele.


A cada dia, pai e filho ficam mais próximos, mesmo contra a vontade da mãe, Chloé (papel de Ludivine Sagnier), que não concorda com o comportamento destrutivo do ex-marido. Outra que não acredita na mudança de Laurent é Romane (Cassiopée Mayance), amiga de Theo, que insiste em chamá-lo de Fourmi (formiga) por causa de sue tamanho. 

Mas a dupla vai contar com a ajuda da assistente social Sarah (Laetitia Dosch) que acompanha a família e acredita que o pai tem jeito.


O roteiro de "Meu Filho é um Craque" é bem simples, sem muitas invenções. O único efeito especial é a emoção que provoca no público. É daquelas histórias que pode acontecer em qualquer família e que envolvem relação, carinho, afeto, brigas (claro!), admiração, respeito e reconhecimento. 


Destaque para a sintonia entre os atores Maleaume Paquin e François Damiens, um acerto muito bom na escolha feita pelo diretor Julien Rappeneau. 

Isso ajudou a dar mais emoção a essa comédia dramática. Indico para ser assistida em família. As questões abordadas na trama podem ajudar pais e filhos a se entenderem melhor, buscarem o diálogo e passarem mais tempo juntos. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Julien Rappeneau
Produção: TF1 Studio, France 2 Cinema, Scope Pictures, The Film
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos
País: França
Gêneros: comédia, drama

20 novembro 2022

O "dream man" Jason Momoa leva órfã para uma aventura na "Terra dos Sonhos"

Um ótimo filme de aventura e fantasia para ser assistido em família (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro


Para crianças de 8 a 80 anos, "Terra dos Sonhos" ("Slumberland") é um ótimo filme de aventura e fantasia e uma boa pedida para assistir em família. Produzido e exibido pela Netflix, o longa é dirigido por Francis Lawrence e escrito por David Guion e Michael Handelman, baseado na história em quadrinhos "Little Nemo in Slumberland", de Winsor McCay. 


Além de contar com um ator que chama a atenção e já conhecido do público por sua beleza e simpatia - Jason Momoa, o "Aquaman" (2018), do Universo DC. O filme entrega um roteiro intenso e animador ao tratar de realidade, sonhos, pesadelos, luto e depressão, mas de uma forma encantadora.


A história é centrada na menina Nemo - leia se "Nimo" (Marlow Barkley) - que mora em um farol com seu pai, Peter (Kyle Chandler). Educada em casa, ela vive num mundo afetuoso e seguro em sua humilde casa. Mas a morte do pai, além de trazer a orfandade para a criança, vai provocar uma mudança radical em seu modo de viver. 


Ela será levada para a casa do tio Phillip (Chris O'Dowd), um vendedor de maçanetas (uma referência a um desdobramento importante da história). A menina passa a frequentar a escola, mas sente-se segura apenas em seu quarto, de preferência, dormindo.


É na "Terra dos Sonhos" que ela vai viver suas maiores aventuras ao lado de seu bichinho de pelúcia, o porco. Sonhando, Nemo conhece Flip (Jason Momoa), uma figura mitológica que vai levá-la a realizar seu maior desejo.

Entre pérolas marinhas, aves gigantescas, navios, aviões, e muitas portas (numa referência às descobertas e experiências), os dois vão viver aventuras incríveis que prenderão o telespectador. 


Os destaques do filme são os figurinos, a estética dos cenários numa fotografia arrojada e a brilhante ideia de jogar, no meio da história, personagens passageiros, que ficam por poucos minutos, exatamente como acontece quando sonhamos e acordamos. 

Além de Momoa, a Agente Verde (Weruche Opia), que vive perseguindo Flip e Nemo, se destaca pela essência perfeita do Black Power. Seus looks ao estilo dos anos 70 são incríveis. 


A personagem funciona como uma justificativa ao alter ego fora da lei de Flip, como se seu comportamento policialesco, agindo como uma "atrapalhadora" de sonhos, justificasse o arquétipo criminoso do protagonista.

O filme é uma imersão no universo psicanalítico, tem profundas referências à semiótica e a psiquiatria, temas envoltos numa narrativa interessantíssima do mundo onírico. Tudo tratado com bom humor e sensibilidade do início ao fim.


Ficha técnica:
Direção: Francis Lawrence
Produção, distribuição e exibição: Netflix
Duração: 1h57
Classificação: 10 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, fantasia, família

17 novembro 2022

"Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" é sobre representatividade, poder e emoções

Letitia Wright, Lupita Nyong'o e Tenoch Huerta protagonizam o segundo filme da saga (Fotos: Marvel Studios)


Maristela Bretas


Com características bem expressivas, "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" ("Black Panther: Wakanda Forever") reúne ingredientes muito fortes, que se entrelaçam a cada cena. Desde o início até o final, o filme é uma homenagem ao grande ator Chadwick Boseman, que morreu de câncer em agosto de 2020. 

Intérprete do rei T'Challa, ele foi o protagonista de "Pantera Negra", de 2018, filme que abriu as portas e valorizou o trabalho excelente do elenco, formado em sua maioria por atores negros, em especial, por mulheres. Veja o que alguns atores falam sobre o filme e a perda do ator.


Previsto para ser completamente diferente, a perda do ator principal exigiu uma mudança completa no roteiro de "'Wakanda Forever" por parte do diretor e roteirista Ryan Coogler. 

Sem a sua estrela, a nova história se voltou ainda mais para o elenco feminino, que tinha sido destaque no primeiro filme. Perdeu um pouco em ação, mas deixa sua marca na abordagem de temas importantes.


A representatividade da mulher negra é um dos pontos principais da produção, que foca ação, força e emoção em Letitia Wright (Shuri), Angela Basset (rainha Ramonda), Danai Gurira (Okoye), Lupita Nyong'o (Nakia) e Dominique Thorne (Riri Williams). Elas roubam as cenas e entregam grandes e poderosas interpretações. 

Claro, entram em cena também atores masculinos, como Winston Duke (lorde M'Baku), Martin Freeman (agente Everett Ross) e Michael B. Jordan (Killmonger), todos do primeiro filme, mas sem desempenharem papéis de protagonistas. 


Cabe a Shuri a tomada de decisões que irão afetar sua família e transformar o reino de Wakanda. A personagem passa por um amadurecimento forçado. De gênio da ciência e da tecnologia, ela passa a herdeira do maior símbolo de poder e respeito de seu reino - ser a nova Pantera Negra. 


Mas nem tudo é tão fácil. Ela não se conforma com a morte do irmão T'Challa de uma doença que ela não conseguiu achar a cura. Nesse ponto, a cientista, que sempre coloca a razão em primeiro lugar, é tomada pelo rancor e fecha o coração para bons sentimentos. 

Chega a incomodar um pouco essa postura vingativa da futura super-heroína, que não se importa com as consequências de seus atos impensados.


Isso fica ainda pior quando surge o novo vilão da franquia, Namor, rei do reino submarino de Talocan, cujo poder bélico é comparado somente ao de Wakanda, graças ao vibranium que ambos possuem. 

Namor e Shuri têm os mesmos sentimentos amargos e cada um, a sua maneira, busca vingança contra aqueles que lhes tiraram as pessoas que amavam e colocam seus reinos em risco. 


Fragilizado pela morte de T'Challa, o povo de Wakanda se esforça para continuar em frente, o que vai exigir união da família e dos amigos do falecido rei para enfrentarem o Namor e seus guerreiro indestrutíveis. Essa disputa entre as duas potências - da superfície e dos oceanos - proporciona as ótimas cenas de ação, com batalhas em terra e no mar. 


Claro que "Wakanda Para Sempre" não poderia ficar sem uma trilha sonora marcante, que mostrasse a força e a emoção do filme. E o compositor sueco Ludwig Göransson (da série "The Mandalorian"- 2022) cumpriu muito bem a parte ele. 

Destaque para a versão do sucesso "No Woman No Cry" e para canções como "Alone" e "Con La Brisa". Além de contar com a música-tema composta e interpretada por Rihanna - "Lift Me Up". 


Figurino e maquiagem também são destaques, apesar do tom de pele azulada dos habitantes de Talocan lembrar o povo de "Avatar". Confesso que acho muito mais elegantes e bonitos os uniformes das guerreiras de Wakanda, além da classe e da precisão com que lutam. Um show à parte. 


Impossível não comparar Namor com Aquaman. Visualmente, o musculoso tatuado da DC interpretado por Jason Momoa, é mais "interessante" de se ver na tela que Tenoch Huerta, da Marvel. Mas o ator mexicano tem uma interpretação mais marcante, dominando as cenas em que Namor aparece. 

Em seu pais, Huerta também é um forte defensor dos direitos das minorias de seu país, especialmente dos pobres e negros, o que condiz com a proposta do franquia.


Para quem acompanhou os desenhos animados do passado, fica a dúvida do por que não manter Namor como príncipe submarino, e não rei, e por que seu reino é chamado de Talocan e não de Atlantis (ou Atlântida).  


Se ainda não assistiu, não deixe de ir. "Pantera Negra - "Wakanda Forever" é mais que um filme de super-herói. Não supera o primeiro, mas entrega muita emoção em mensagens e situações que inspiram, dão poder e ajudam a criar consciência. 

Além de ser um lindo e emocionante tributo a Chadwick Boseman do início ao fim. Não saia do cinema sem assistir a única cena pós-crédito.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Ryan Coogler
Produção: Marvel Studios / Walt Disney Pictures
Distribuição: Walt Disney Pictures
Duração: 2h42
Gêneros: ação /aventura / fantasia
País: EUA
Classificação: 14 anos

14 novembro 2022

"Armageddon Time" critica discurso meritocrático nos EUA dos anos 1980

Destaque para as interpretações de Anthony Hopkins e Michael Banks Repeta, que vivem avô e neto sonhadores (Fotos: Focus Features)


Carolina Cassese
Blog no Zint


Contando com um elenco bastante estrelado, "Armageddon Time" é o mais novo trabalho de James Gray. A produção, que esteve na competição oficial do Festival de Cannes esta em cartaz nos cinemas de BH. O filme narra uma história inspirada na infância do diretor: a vida de uma família de classe média na Nova York dos anos 1980, logo antes da eleição do conservador presidente Ronald Reagan.

Essa narrativa se desenrola por meio dos olhos de Paul, criança interpretada por Michael Banks Repeta. Quando vai para um colégio tradicional de elite, o garoto é descrito pelo diretor da escola como "devagar demais". Ao se dirigir aos meninos da mesma escola, um dos coordenadores diz: "Vocês, aqui, podem ser o que vocês quiserem. CEOs, banqueiros, até mesmo presidentes". 


O mesmo discurso meritocrático é repetido por Maryanne Trump (sim, membro da célebre família Trump) que, com uma pose de CEO, diz: "Se vocês trabalharem duro, podem conseguir o que quiserem". Paul, no entanto, não se interessa por nenhuma das opções apresentadas. Ele quer ser artista - e talento não lhe falta.

Quando diz isso para sua família conservadora, apenas um membro o apoia: seu avô, Aaron (Anthony Hopkins), que aconselha o menino a "assinar todos os seus desenhos, pois é isso que os artistas fazem". Já os pais, interpretados por Anne Hathaway e Jeremy Strong, não se movem para incentivar o garoto.



Outro tema bastante presente no longa de Gray é o racismo. O amigo mais próximo do protagonista é Johnny Davis (interpretado por Jaylin Webb), um garoto negro que, por causa de sua cor e da classe social a qual pertence, leva uma vida muito mais dura do que a de Paul. O filme mostra essa desigualdade, mas não tem a ambição de solucioná-la na própria trama.


Um destaque da produção é sem dúvidas as atuações, em especial as de Hopkins e Strong, conhecido por estrelar a série "Succession", da HBO. O último entrega uma performance bastante intensa ao interpretar Irving, um inseguro chefe de família que tenta a todo custo impor sua autoridade. 

Os diálogos do longa são significativamente críveis: em determinada cena, nos sentimos como verdadeiros espectadores de um típico jantar da classe média estadunidense.


No que diz respeito à recepção do filme, muitas críticas e elogios foram direcionados ao mesmo ponto: a sutileza da crítica apresentada. Para alguns, o longa falha em não ser tão enfático no que diz respeito aos temas relacionados à desigualdade. 

Outras análises, como a publicada pela revista Vanity Fair, enfatizam que a produção acerta em não ser muito didática. Como pontua o crítico Richard Lawson, "Gray deixa sua tese florescer gradualmente nas mentes de seu público, movendo-nos lentamente em direção a uma conclusão arrasadora que também funciona como um apelo gentil, mas firme, à ação política pessoal."


A ação política parece mesmo ser relevante para o diretor nascido nos EUA, que, durante a conferência de imprensa do longa no Festival de Cannes, realizou diversas críticas ao próprio país. "Acho que estamos com sérios problemas hoje. O que aconteceu, como chegamos aqui, como duas pessoas detém tudo e vários autoritários tentam dominar nosso planeta? (...) Antes, quando se falava de franquias, pensávamos em McDonald's e Burger King. Agora pensamos em cinema".


A representação de dois membros da família Trump na narrativa (além de Maryanne, o avô de Donald Trump, Fred, é um dos personagens) também não deixa dúvidas a respeito da crítica realizada por Gray, que se opõe ao trumpismo e a qualquer mentalidade similar. 

Essa volta ao passado realizada pelo diretor, portanto, inegavelmente nos auxilia a compreender melhor o nosso presente.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Gray
Produção: Focus Features / Keep Your Head
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h55
Gênero: drama
País: EUA
Classificação: 16 anos