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13 maio 2021

“Libelu – Abaixo a Ditadura”: quando a juventude quer mudar o mundo

Reunião da Libelu numa das salas da USP, local onde começou o movimento (Foto: Arquivo/ Jornal O Trabalho)

Mirtes Helena Scalioni


O que há em comum entre o comentarista global Demétrio Magnoli, o ilustrador e músico Cadão Volpato, o ex-ministro Antônio Palocci, a roteirista e blogueira Fernanda Pompeu, o economista e escritor Eduardo Giannetti, o jornalista Reinaldo Azevedo, o crítico de gastronomia Josimar Melo e o diretor executivo da CUT, Júlio Turra? Resposta rápida: todos – e mais outros tantos – fizeram parte, na década de 1970, de uma organização chamada Liberdade e Luta, cuja história está muito bem contada no documentário “Libelu – Abaixo a Ditadura”. 

Reinaldo Azevedo (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

O documentário será exibido em salas especiais de cinema no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília de hoje até o dia 19 de maio. Nas plataformas de OnDemand do Now, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes e Apple TV, "Libelu" estreia dia 27 de maio, para aluguel. A primeira exibição no Canal Brasil está agendada para 20 de julho e, em agosto, será a vez de a Globonews mostrar o documentário.

A direção, correta e sem muita invencionice, é de Diógenes Muniz, que conseguiu ouvir cerca de 20 ex-integrantes da Libelu, grupo que juntou, naqueles anos de chumbo, moças e rapazes trotskistas que acreditavam ser possível mudar o mundo. 

Cadão Volpato (João Saldanha/Boulevard Filmes)

Radicais, quase inconsequentes, os jovens faziam questão de dizer que a Liberdade e Luta, braço – digamos – mais despojado da OSI (Organização Socialista Internacionalista) não era um partido e sim uma tendência. Segundo alguns, o nome, criticado inicialmente pelos concorrentes por ser infantil e meio tatibitate, ganhou força e expressão pela seriedade e disposição da turma. Eram todos altamente politizados.

Encontro do Movimento Estudantil (Foto Arquivo/Jornal O Trabalho)

Criada em 1976 na USP, em plena vigência do AI-5, a Libelu fez história e é muito bom que isso tudo seja contado agora, quando cada um tomou seu rumo e, com distanciamento, consegue analisar – com saudade, desdém, complacência ou orgulho – as aventuras de um grupo que não hesitava em desafiar o todo-poderoso da repressão da época, o deputado e coronel Erasmo Dias. Um caso a parte é o depoimento de Antônio Palocci que, em prisão domiciliar, faz uma breve confissão de erros e arrependimentos.

Antônio Palocci (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Além das entrevistas, o documentário exibe trechos de matérias da época, com direito a manifestações, passeatas, quebra-quebra, violência policial e valentias, além de uma entrevista que, na época, o jornalista Mino Carta fez com alguns representantes do grupo. 

Há casos deliciosos, como por exemplo, a história de um dos gritos de guerra mais usados pela tendência, “abaixo a ditadura”, uma sacada do então estudante Josimar Melo, que hoje optou por falar de algo mais leve: a gastronomia.

Josimar Melo (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Bom também é ver senhores responsáveis e sérios lembrando e concordando que a tendência Libelu, diferentemente de outros agrupamentos de esquerda da época, gostava de rock. Enquanto os demais curtiam MPB e canções de protesto, a turma da Liberdade e Luta se permitia varar a noite em festas regadas a cerveja, Rolling Stones e Santana. 

Se as outras organizações eram caretas, eles eram modernos, sabiam ser alegres, namorar e dançar. Já naquela época, muitos se cumprimentavam com selinhos, independentemente de ser homem ou mulher.

Ricardo Pereira de Melo - making off (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Outra particularidade da Libelu: embora fossem submetidos a uma disciplina mais ou menos rígida, os jovens se permitiam fazer política por meio da arte. Não era raro vê-los fantasiados pelas praças, galerias ou dentro dos ônibus, sempre com mensagens contra o regime militar. Ou então, interrompendo peças de teatro para fazer uma performance e dar seu recado de luta.

Talvez a juventude de hoje não compreenda as armas daquele tempo. Mas é difícil não se emocionar vendo “Libelu – Abaixo a Ditadura”. Quem sabe os jovens até gostem de saber que, em manifestações e assembleias daquele tempo sombrio, aqueles rapazes e moças idealistas usavam um grito de guerra que os enchia de vigor, energia e entusiasmo

Laura Batista - making off (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)


A ideia veio do filme italiano “O incrível exército de Brancaleone”, de 1966, de Mario Monicelli, que conta as aventuras de um homem que, com coragem e valentia, forma um exército de soldados tão maltrapilhos quanto ele para percorrer a Europa do século XI montado num pangaré lutando pela terra que julgava ter direito. Não deixa de ser uma inspiração.


O documentário tem locação única, no prédio da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas, também perseguido e exilado pelo regime militar (1964-1985).

Para Letícia Friedrich, produtora-executiva do projeto pela Boulevard Filmes, a obra, vencedora na categoria Melhor Documentário Nacional do Festival É Tudo Verdade 2020, dialoga com a atualidade política e cultural do país, apesar de resgatar um evento que se encerrou entre os anos 1970 e 1980. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Diógenes Muniz
Exibição: Dia 27 nas plataformas Now, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes e Apple TV (para alugar) // Dia 20/07 - Canal Brasil // Agosto - Globonews 
Produção: Boulevard Filmes / GloboNews / Globo Filmes / Canal Brasil
Distribuição: Boulevard Filmes
Duração: 1h35
Classificação: Livre
País: Brasil
Gênero: Documentário

26 setembro 2019

"Hebe" é um recorte raso da história de uma grande estrela do Brasil

Andréa Beltrão brilha e entrega uma Hebe Camargo real, com qualidades e defeitos (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Muito superficial, sem detalhar datas e pessoas importantes da época, "Hebe - A Estrela do Brasil" o diretor Maurício Farias perde a oportunidade de contar a rica história daquela que foi a maior apresentadora de TV do país. A produção é um recorte de um curto período na vida exótica e polêmica da estrela que passou pelas principais emissoras do país, mas se recusou (e o filme reforça isso) a trabalhar na Rede Globo. Uma pena não ter explorado a infância humilde, a descoberta do talento no rádio, a ascensão à TV até sua morte. Sim, Hebe morreu. No dia 29 de setembro de 2012, vítima de uma parada cardiorrespiratória enquanto dormia. Na época. ela se preparava para retornar ao SBT. Mas esse fato não é citado nem mesmo com a famosa plaquinha nasceu em /faleceu em.


Coube à atriz Andréa Beltrão interpretar Hebe Camargo aos 60 anos. E ela entregou uma excelente atuação, sem se preocupar em ser uma caricatura da apresentadora, com seus RRs arrastados e o sotaque do interior paulista. O período escolhido foi o de maior pressão e perseguição, segundo o filme, quando saiu da Rede Bandeirantes e foi contratada pelo próprio Silvio Santos, no SBT. Enfrentando todos que tentavam mudar sua maneira de apresentar seus programas, ela levava ao palco travestis, gays, negros e minorias, deixando produtores e diretores das emissoras de cabelo em pé, mas garantindo altos índices de audiência.

Fez grandes entrevistas em seu famoso sofá, cantava e provocava usando um forte poder de persuasão. Foi ameaçada de prisão por criticar a corrupção dos políticos, apesar de ser amiga de um dos maiores corruptos do país - o ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf (e a esposa dele, Sylvia) e de Antônio Carlos Magalhães (ex-governador da Bahia), citado rapidamente. A Eucatex, maior empresa do setor madeireiro do pais na época, pertencente à família de Maluf, foi anunciante do programa de Hebe durante anos.


A composição do personagem por Andréa Beltrão focou no lado exótico, mas elegante, de Hebe, sem esquecer também a parte sombria. Apesar de estar sempre cercada por amigos e fãs, ter um filho que a adorava e um marido que a idolatrava, ela era uma pessoa solitária. A mansão onde morava, com muitas portas e corredores que mais pareciam um labirinto, confirmava isso. O prazer da atriz em beber muito e sempre é exposto no filme, assim como seu gosto por coisas caras, e a prepotência em mostrar "quem é que mandava".

O filme também não deixou passar em branco a relação conturbada com o segundo marido, Lélio Ravagnani (Marco Ricca). Empresário e também alcoólatra, ele era possessivo ao extremo e não aceitava a vida glamourosa da esposa e as amizades dela, com o cantor Roberto Carlos (Felipe Rocha), com quem ela trocava selinho no programa, e o apresentador Chacrinha (Otávio Augusto).


Mas à medida que o roteiro escrito por Carolina Kotscho vai se desenrolando, a impressão que dá é de que teria sido escrito pela ótica do filho Marcelo, que adorava a mãe, mas que sofria calado pelo pouco tempo que passavam juntos. Ou com as brigas constantes dela com o padrasto. O jovem, homossexual não assumido à época, era tratado como criança por Hebe, estava sempre sozinho, vivendo na imensa mansão da família e tendo como únicos amigos os empregados da casa.


As amigas fiéis e inseparáveis de longas datas - Nair Bello (Claudia Missura) e Lolita Rodrigues (Karine Teles) - foram lembradas duas vezes no filme, Hebe era a mais exótica e elegante das três. Neste ponto a produção brilhou demais. o figurino honrou a rainha da TV., tão chamativos quanto os trajes usados por ela à época. Dona de uma grande fortuna, Hebe exibia joias caríssimas e que teriam sido cedidas pelo filho Marcelo (interpretado por Caio Horowicz). Ele participou da produção juntamente com o primo Claudio Pessutti (papel vivido por Danton Mello), assessor da apresentadora neste período. No filme foram usados por Andréa Beltrão os brincos de diamante, uma medalha de ouro e o vestido preto com abas que ela se apresentou na estreia do programa no SBT.


Além do figurino, a trilha sonora também foi muito bem escolhida, tanto para compor a época, com os  Menudos se apresentando no programa para histeria das fãs no auditório, quanto o repertório romântico de Roberto Carlos. Sucessos como "Emoções" e "Cama e Mesa" embalaram os momentos mais expressivos do filme. Mas é Stella Miranda como a saudosa e escrachada Dercy Gonçalves quem oferece a parte mais divertida de toda a história.

Hebe Camargo (Foto Roberto Nemanis/SBT/Divulgação)

Para aqueles que vão ao cinema para saber um pouco mais sobre a grande dama da TV, vale uma explicação antecipada. O filme se passa entre os anos de 1979 e 1986, durante o governo militar do presidente João Batista Figueiredo (uma foto dele e dos também ex-presidentes Ernesto Geisel e Emílio Garrastazu Médici aparece na parede do órgão fiscalizador). Ou seja, em plena censura, que todo mundo negava que ainda existisse, mas que controlava e punia os atores que saíssem da linha.

Pena que a parte mostrada seja muito pouco da história de Hebe Camargo, uma mulher além do seu tempo, provocadora, batalhadora, intransigente, desbocada quando queria, e que se consagrou como uma das apresentadoras mais emblemáticas da televisão brasileira e arrastou uma legião de fãs de uma ponta a outra do país. Apesar de deixar um vazio de informações importantes sobre a vida da "Estrela do Brasil", "Hebe" vale pelo figurino, a trilha sonora e as atuações do ótimo elenco, em especial, Andréa Beltrão.


Ficha técnica:
Direção: Maurício Farias
Produção: Globo Filmes / Hebe Forever / Labrador Filmes / Loma Filmes
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h52
Gêneros: Drama / Biografia
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

Tags: #HebeFilme, #AndreaBeltrao, #HebeCamargo, #drama, #biografia, #GloboFilmes, WarnerBrosPictures, #EspacoZ, @#jornaldebelo, @cineanoescurinho, @cinemaescurinho

07 agosto 2019

"Simonal" exalta ascensão do cantor e trata superficialmente acusações de dedo-duro da ditadura

Fabricio Boliveira entrega ótima interpretação do cantor e compositor, dono de uma das vozes mais encantadores do país na década de 1970 (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


O diretor Leonardo Domingues tinha tudo para, na obra ficcional "Simonal", esclarecer melhor o que levou o cantor a carregar por boa parte de sua vida, até depois de sua morte, a imagem de dedo-duro. Porém, mais da metade do filme explorou a ascensão de Wilson Simonal, cantor negro, vindo de uma favela no Leblon, no Rio de Janeiro, dono de uma das vozes mais bonitas e melodiosas do Brasil e de um suingue que conquistava nas primeiras notas. Se a intenção do diretor era tentar mostrar (mais uma vez) que ele pode ter sido usado como bode expiatório das forças da ditadura militar, ele deixou muito a desejar. 


Na produção, a questão racial foi jogada bem para o final, apenas para justificar a cena inicial, não aprofundando nos fatos que realmente teriam ocorrido e que marcaram a vida de Simonal, destruindo sua meteórica carreira. O diretor deixa a entender que tudo não passou de uma trama armada pela polícia da época. Mas a abordagem foi bem superficial, como se temesse mexer em vespeiro. Deixa mais dúvidas do que explicações sobre a culpa de Simonal ter sido ou não informante da ditadura contra artistas da época.


Quem não conhecia a história do cantor (muitos no cinema nem sabiam quem foi Simonal) só conheceu o dono da bela voz que começou do nada e atraiu multidões pelo país. Mas muitos saíram achando que ele realmente "entregou" geral e se deu mal por isso até sua morte em 2000, aos 62 anos.

Boa reconstituição de época, com várias imagens e figurinos bem trabalhados. Fabrício Boliveira estudou com afinco as características de Wilson Simonal e entrega uma ótima interpretação. Isis Valverde também está bem como Tereza, a esposa do cantor. Leandro Hassum muito caricato, não convence como Carlos Imperial, que conseguia ter uma imagem muito marcante, apesar de ter sido considerado desagradável por muitos à época. Caco Ciocler está mediano como Santana, policial do Dops "amigo" de Simonal. Miele foi bem interpretado por João Velho.


Os filhos de Simonal - Wilson e Max - são os responsáveis pela ótima trilha sonora que reúne várias composições que marcaram a carreira do pai, como "Meu Limão, Meu Limoeiro", "Sá Marina", "Mamãe Passou Açúcar em Mim", "Vesti Azul", "País Tropical" e tantas outras. Inclusive a polêmica "Tributo a Martin Luther King", que levou Simonal a ter seu primeiro contato com o delegado Santana, do Dops, sob a acusação de se envolver com questões "subversivas".

Carismático e de charme irresistível, Wilson Simonal nasceu para ser uma das maiores vozes de todos os tempos da música brasileira. No entanto, após anos de sucesso conquistado com muito trabalho, seus gastos descontrolados o levaram a, num rompante de ignorância, tomar decisões que marcaram para sempre sua carreira.

Outras produções

Simonal já foi tema de dois outros filmes. No primeiro, "É Simonal" (1970), uma comédia musical dirigida por Domingos Oliveira, o cantor foi o ator principal.  A produção conta a história de um breve romance do cantor com uma fã mineira que foi ao Rio de Janeiro par conhecê-lo. Esquecível!


O segundo, este sim, um ótimo documentário, com depoimentos de pessoas famosas que conviveram com Wilson Simonal no auge da carreira e depois que caiu no esquecimento; "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei", de 2007, foi dirigido por Cláudio Manoel (do "Casseta e Planeta"), Micael Langer e Calvito Leal. Entre os entrevistados estão Luis Carlos Miele, Chico Anysio, Pelé, Ziraldo, os filhos de Simonal - Wilson Simoninha e Max de Castro, além de Jaguar (do Pasquim), Nelson Motta, o maestro Ricardo Cravo Albin, Boninho e Sérgio Cabral, entre outros.

Uma pena, "Simonal" apesar da duração de 1h45, é lento e se preocupa mais com detalhes da vida pessoal e do casamento dele com Tereza do que fazer um bom trabalho investigativo, juntando fatos comprovados sobre o que realmente aconteceu com o cantor e a acusação que sofreu. Uma biografia fraca de ascensão e queda de um ídolo, amado e odiado na mesma proporção. "Simonal" ficou muito a desejar como história. Vale pelas músicas, a produção e o ótimo trabalho de Fabrício Boliveira e Isis Valverde.


Ficha técnica:
Direção: Leonardo Domingues
Produção: Forte Filmes / Globo Filmes
Distribuição: Downtown Filmes 
Duração: 1h45
Gêneros: Drama, Biografia, Musical
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #SimonalOFilme, #WilsonSimonal, #drama, #biografia, #musical, #ForteFilmes, #GloboFilmes, #FabricioBoliveira, #IsisValverde, #EspaçoZ, #Cineart_oficial, @cinemaescurinho

20 julho 2019

"Turma da Mônica: Laços", uma ótima produção nacional para matar a saudade dos gibis

Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão vão enfrentar vilões para tentar recuperar o cãozinho Floquinho (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Não é por menos que o filme “Turma da Mônica – Laços” atingiu a marca de mais de um milhão e meio de espectadores desde o seu lançamento em 27 de junho. A produção nacional dirigida por Daniel Rezende e baseada na obra homônima lançada em 2013 pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi é uma volta à infância com nostalgia e emoção. Os atores mirins - Mônica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) são carismáticos e autênticos representantes dos personagens criados por Maurício de Sousa. 

Maurício de Sousa em BH (Foto: Maristela Bretas)
O cartunista, que esteve em Belo Horizonte para o lançamento do filme juntamente com o diretor, afirmou que se sente feliz em espalhar alegria e satisfação e que pretende continuar fazendo isso enquanto puder. "Esse é o primeiro filme da série, devem vir mais, tá todo mundo gostando. Depois vou fazer coisas novas por aí", afirmou.


Para ele, ver os personagens de seus quadrinhos em carne e osso foi uma realização. "Foi um sonho realizado. Eu sonhava há um tempo mas tinha receio de não conseguir atores crianças que pudessem fazer isso. O Daniel Rezende conseguiu, depois de ouvir milhares de crianças, escolher os atores certos, que viraram uma segunda Turma da Mônica, ao vivo. Não é por aqui que vamos parar, já que encontramos a fórmula, vamos continuar", disse Maurício de Sousa.


Além dos atores mirins, a aventura trouxe outra agradável e divertida surpresa: a presença de Rodrigo Santoro interpretando o Louco. O ator, que confessou em entrevista que era seu personagem predileto, incorporou os trejeitos e filosofias descompassadas (mas muito reais), entregando um Louco idêntico ao das histórias dos gibis. Um dos bons momentos do filme. 


Impossível não falar de um famoso coelhinho azul, razão de todos os planos "infalíveis" de Cebolinha para tomar o poder de Mônica e se "tolna o lei da lua". Sansão está no filme, claro, em todas as cenas e tem uma importante participação na trama. Companheiro inseparável da "baixinha dentuça" (ela que não me ouça). Sansão também é o amigo especial de outras crianças. Alice Maia, de 4 anos, que o diga. Para onde vai, especialmente na estreia do filme no cinema, ela sempre está abraçada ao amigo peludo de olhos grandes. E ai de quem tentar dar nó nas orelhas de seu coelhinho. Ela vira Mônica!. Papai Joubert que o diga?


"Turma da Mônica - Laços" é um espetáculo de imagens, locações e fotografia. A escolha dos locais onde acontece a aventura do quarteto fantástico infantil é um dos pontos altos do filme, assim como o horário de gravação, aproveitando a melhor luz do dia em meio a uma mata densa e pontos turísticos de Poços de Caldas. A cidade mineira foi a escolhida para abrigar o "bairro do Limoeiro". As gravações aconteceram em junho do ano passado em diversos pontos turísticos, como a Praça Pedro Sanches, o Parque José Affonso Junqueira e o Parque da Serra de São Domingos. Mais uma atração para os mineiros.

Na história, a turminha sai em busca de Floquinho, o cãozinho esverdeado de Cebolinha, que desapareceu. Para tentar encontrá-lo, o jovem do cabelinho espetado vai criar mais um de seus "planos infalíveis" e precisará contar com a ajuda dos fiéis amigos Mônica, Magali e Cascão. Juntos, eles irão enfrentar grandes desafios e viver uma emocionante aventura para levar o cão de volta para casa e desvendar um mistério. Imperdível, uma grande produção nacional para fazer voltar a ser criança.


Ficha técnica:
Direção: Daniel Rezende
Produção: Biônica Filmes / Quintal Digital / Globo Filmes / Maurício de Sousa Produções 
Distribuição: Downtown Filmes
Duração: 1h36
Gêneros: Aventura / Família
País: Brasil
Classificação: 6 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #TurmadaMonica, #MauríciodeSousa, #Cebolinha, #Mônica, #Magali, #Cascao, #DanielRezende, #RodrigoSantoro, #aventura, #gibi, #BionicaFilmes, #GloboFilmes, #EspacoZ, #cinemaescurinho

11 outubro 2018

"Tudo Por Um Pop Star" é filme para atrair fãs de atrizes adolescentes de TV

Klara Castanho, Maísa Silva e Mel Maia formam o trio de amigas inseparáveis que têm o mesmo sonho: conhecer sua banda preferida (Fotos: Globo Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


A história é bem simples, sem muitas reviravoltas e o diretor Bruno Garotti entrega o que propõe. "Tudo Por Um Pop Star" é um filme para fãs de 8 a 12 anos das atrizes principais, em especial Maísa Silva, do SBT. Ela é Gabi, que mora no interior do Rio de Janeiro e tem como melhores amigas as jovens Manu (Klara Castanho) e Ritinha (Mel Maia). As três são apaixonadas pela banda pop masculina Slavabody Disco Disco Boys, febre entre as mocinhas de todo o Brasil. Até que um dia, o grupo anuncia que irá tocar no Rio de Janeiro e elas resolvem fazer de tudo para que seus pais permitam que assistam ao show.

Entre peripécias, mensagens gravadas em vídeo e muita confusão, as jovens fazem tudo o que se espera de uma fã que quer conhecer e ficar perto de seu ídolo. E vão viver uma grande aventura, com direito a todos os clichês possíveis de um filme para adolescentes. Mas sem apelações, o que difere de muitas produções atuais para esta faixa de público. "Tudo Por Um Pop Star" é baseado no livro homônimo da escritora Thalita Rebouças, autora do sucesso "Fala Sério, Mãe" (2017) e que escreveu o roteiro do filme.

Como boas fãs, as três vivem (e sofrem) por seus ídolos, uma banda que tem um cantor brasileiro entre seus integrantes, papel de João Guilherme Ávila - fraquinho demais como ator. O destaque fica mesmo para as três jovens que passam a sensação de serem amigas de verdade. Há sintonia no trio e isso ajuda a segurar o filme, que tem uma história que é puro clichê e todos sabem como vai acabar, mas que deverá encantar e atrair uma legião de fãs às salas de cinema a partir desta quinta-feira.

O lado cômico de "Tudo Por Um Pop Star" fica por conta de Giovanna Lancellotti, que interpreta Babete, a prima hippie de Manu que leva o trio para ver o show no Rio. E o youtuber Felipe Neto, no papel do youtuber chiliquento Billy Bold, que critica o tempo todo banda teen e seus seguidores. A trilha sonora tem sucessos conhecidos, alguns interpretados pela Slavabody, como "Sing", de Ed Sheeran.

O roteiro foca mesmo é na mensagem de que a amizade está acima de tudo e que vale a pena correr atrás de um sonho, por mais impossível que ele possa parecer. Não espere nada além dessa comédia romântica nacional com cara de novela para adolescentes.



Ficha técnica:
Direção: Bruno Garotti
Produção: Panorâmica Filmes / Globo Filmes / Fox Films do Brasil/ Telecine
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Duração: 1h30
Gêneros: Comédia / Romance
País: Brasil
Classificação: Livre
Nota: 2,5 (0 a 5)

Tags: #TudoPorUmPopStar, #MaísaSilva, #KlaraCastanho, #MelMaia, #GiovannaLancellotti, #ThalitaRebouças, #comedia, #romance, #EspaçoZ, #GloboFilmes, #ParisFilmes, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho

22 setembro 2018

"Ferrugem" - O ímpeto pelo clique, difícil de ser controlado

Tati (esquerda) é a protagonista que passa a sofrer bullying depois de ser exposta na internet (Fotos: Globo Filmes/Divulgação)


Carolina Cassese


O vazamento de um vídeo íntimo, que contém uma cena de sexo entre a Tati e seu ex-namorado, desencadeia os principais acontecimentos de "Ferrugem", longa de Aly Muritiba, que está em cartaz no Belas 3 (sessão das 18 horas). O filme não só mostra os desdobramentos do ocorrido como também se propõe a investigar a maneira como a geração hiperconectada se relaciona. A representação de adolescentes de classe média em "Ferrugem" é verossímil e escapa de estereótipos, mas, para o espectador, não é tarefa fácil construir uma relação genuína de empatia com qualquer um dos personagens, já que os mesmos são construídos de maneira rasa.

A premissa do longa se assemelha com a de "Depois de Lúcia" (2012), filme mexicano dirigido por Michel Franco, também centrado em uma adolescente que, após ter um vídeo íntimo divulgado, sofre bullying pesado por parte dos seus colegas de escola. A produção mexicana, no entanto, impacta e atordoa mais o espectador. "Ferrugem" é dividido em duas partes. A primeira, contada a partir de Tati (Tiffanny Dopke), retrata o bullying que a protagonista passa a sofrer depois de ser exposta na internet. Na segunda, acompanhamos Renet (Giovanni de Lorenzi), um garoto recluso que se envolve brevemente com Tati e é um dos suspeitos de ter vazado o vídeo. Um acontecimento drástico separa os dois atos. 

A disparidade entre eles é evidente. O primeiro, colorido e dinâmico. O segundo, pela visão (ou pela culpa) de Renet, monocromático e lento. A instantaneidade permeia a primeira parte do longa. Após o vazamento do vídeo, Tati escreve para Renet e, segundos depois, o chat do Facebook notifica: “mensagem visualizada”. Nada de resposta. A ansiedade logo consome a protagonista. “Você vai me ignorar?”. Nada de resposta. Em outra cena, é também uma notificação que dá o recado de que o vídeo de Tati está em um site pornô. Pouco tempo depois, a protagonista não resiste e checa a tal página, visualizando, inclusive, os comentários horrendos. O ímpeto de clicar não é facilmente controlável. Quando Tati sai da sala de aula, após ser ridicularizada em uma apresentação de trabalho, os sons que escutamos são difusos.

As imagens também não são nítidas, representando o olhar turvo característico de quem acabou de passar por uma situação humilhante. Envergonhada, a adolescente passa a faltar às aulas. O isolamento social é um sintoma recorrente do comportamento depressivo, que acomete também a garota Alejandra em "Depois de Lúcia". A angústia está claramente presente em Tati, mas especialmente por conta do ritmo que dita o primeiro ato, não é possível conhecer a protagonista a fundo. Os rabiscos do banheiro feminino da escola da garota, típicos de qualquer colégio do Ensino Médio, compõem uma ambientação pertinente para a narrativa. Enquanto no espelho está escrito “você é linda”, de batom (mensagem que recentemente passou a marcar presença em muitos banheiros por conta das crescentes discussões sobre empoderamento), no azulejo ao lado uma garota é chamada de vadia.

A geração que compartilha textões feministas nas redes sociais ainda esbarra com comportamentos machistas arraigados. A amiga de Tati é fonte de apoio e sororidade, mas se sente na obrigação de obedecer ao namorado quando o mesmo diz que ela deveria ficar longe de sua colega. O filme deixa claro que as consequências de um vídeo íntimo vazado são diferentes para homens e mulheres, já que o ex de Tati segue com sua vida normalmente (no máximo ouvindo um comentário engraçadinho sobre o tamanho de seu pênis), enquanto a garota é completamente exposta e estigmatizada. Não se pode afirmar, no entanto, que a discussão sobre o machismo é profunda. A raiz do preconceito não está em pauta.

Aly Muritiba acerta em não mostrar os pais de Tati. Os dois se contentam com respostas vagas da menina e não percebem que há algo de errado com o seu comportamento.  Apesar de viverem na mesma casa (um ambiente bem clean, decorado inclusive com fotos grandes de Tati na sala), a conexão entre a adolescente e os pais é praticamente inexistente. Em "Ferrugem", as ausências e os silêncios são mais potentes do que qualquer aparição ou diálogo. Isolada, Tati tira a própria vida. Consciências pesadas e turvas. Inicia-se, então, o segundo ato do filme. Após o trágico ocorrido, o pai de Renet leva a família para uma casa à beira-mar. A lentidão da segunda parte pretende evidenciar a aflição de Renet. As locações são bem escolhidas e a direção de fotografia, que expressa melancolia, não deixa a desejar.

Por outro lado, a cena em que o protagonista pede desculpas a Tati, por meio de um recado na caixa postal, soa tosca e quase irritante. Algumas perguntas importantes também não são respondidas, dentre elas: o que de fato motivou Renet a espalhar o vídeo? Impulso? Algum tipo de vingança? É interessante perceber que as personagens mulheres são mais empáticas do que os homens. Enquanto David, pai de Renet e também professor, se sente no direito de pegar e esconder o caderno de Tati, a fim de apagar indícios contra o filho, a mãe, Raquel, se impõe: “isso é justo com a menina?”. Neste momento, o tempo abre. Narrativa e estética dialogam constantemente, muitas vezes até de maneira óbvia (como nessa cena da discussão entre David e Clarice, em que a conexão entre desembaçar o vidro do carro e resolver a relação dos dois é explícita). O primo de Renet ridiculariza a atitude drástica de Tati, enquanto a irmã do protagonista demonstra, mesmo que de relance, ter alguma empatia com o ocorrido.

O sensacionalismo da mídia e a cultura do espetáculo rondam a narrativa. Um programa de televisão tem acesso às gravações da câmera da escola, que mostram Tati se matando. Horas depois, o vídeo viraliza no WhatsApp. O primo de Renet recebe o conteúdo e pretende consumi-lo como entretenimento. Renet, em um primeiro momento, se nega a ver as imagens, mas, em cena posterior, decide acessar o vídeo. Novamente, a ânsia pelo clique é voraz. A segunda parte é contemplativa. O difícil é inferir que o personagem Renet tem profundidade o suficiente para ser contemplado em planos tão longos. Fica a sensação de que "Ferrugem" apresenta dois filmes (muito diferentes) em um só. A disparidade entre um ato e outro, como foi dito anteriormente, não diz respeito apenas à mudança de protagonista, mas também ao ritmo, à montagem e paleta de cores.

A transição é abrupta. O primeiro se aproxima de uma "Malhação", enquanto o segundo, mais sombrio, investiga um personagem sem conseguir adentrar de fato em seu universo. Se por um lado o longa acerta com sua direção cuidadosa e com o preciso trabalho de som, por outro peca com a construção dos personagens, já que não é possível compreender as motivações dos mesmos, e também com a superficialidade dos muitos debates apresentados – como a prática de slut shaming, o distanciamento entre pais e filhos, o isolamento social e uma possível depressão.
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos



Tags: #Ferrugem, #TiffannyDopke, #GiovanniDeLorenzi, #AlyMuritiba, #depressão, #bullying, #drama, #GloboFilmes, #OlharDistribuição, #CinemanoEscurinho

17 setembro 2018

“Festival Remaster, Clássicos do Cinema Brasileiro” refazendo história na telona

Evento acontece em sete capitais brasileiras exibindo ícones do cinema nacional remasterizados (Fotos: Afinal Filmes/Divulgação)


O Cine Belas Artes e outras oito salas de cinema de sete cidades brasileiras - Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador - recebem entre os dias 20 e 26 de setembro a primeira edição do “Festival Remaster, Clássicos do Cinema Brasileiro”, com a exibição de ícones do cinema nacional remasterizados. O evento remonta 
experiência de quando esses filmes estrearam, proporcionando uma rara oportunidade de rever – ou até mesmo assistir pela primeira vez – na tela grande, clássicos altamente significativos para a nossa cultura, valorizando o cinema, a nossa memória e nossa história. 

Serão exibidos os filmes "Vidas Secas" (1963), de Nelson Pereira dos Santos; "O Homem da Capa Preta" (1986), de Sergio Resende; "República dos Assassinos" (1979), de Miguel Farias Jr; "Luz Del Fuego" (1982), de David Neves; "Vai Trabalhar Vagabundo" (1973), de Hugo Carvana; "O Assalto Ao Trem Pagador" (1962), de Roberto Farias; e os documentários "Os Doces Bárbaros" (1977), de Jom Tob Azulay; e "Carmem Miranda: Banana Is My Business" (1995), de Helena Solberg.

Segundo Alexandre Rocha, um dos realizadores do Festival Remaster, trata-se de uma homenagem aos cineastas brasileiros em toda a força de sua vitalidade original, trazendo seus sucessos de volta às salas espalhadas pelo Brasil, agora remasterizados com qualidade digital. Filmes que marcaram época, foram premiados e aclamados pelo público, levaram milhares de pessoas ao cinema, emocionaram e são referências para várias gerações. 

Serão sete dias corridos, com projeções que a maioria das pessoas não teve a oportunidade de ver na tela dos cinemas. “Queremos dar caráter de nova estreia a estes filmes, ao revistarmos títulos tão relevantes. É uma nova experiência na sala de cinema”, conta Vitor Brasil que produz o Festival Remaster.


A partir de 8 de outubro, o Festival Remaster continua na grade do Canal Brasil, que exibirá sempre as segundas e terças, à 0h15, películas que fazem parte do festival, em uma faixa especial do canal. Idealizado pelos produtores Alexandre Rocha, Cristiana Cunha, Marcelo Pedrazzi e Vitor Brasil, o Festival Remaster é uma produção da Afinal Filmes.

PROGRAMAÇÃO - DE 20 A 26 DE SETEMBRO
20/09 - 15h30 e 19h30 - "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos
21/09 - 15h30 e 19h30 -"O Homem da Capa Preta", de Sergio Resende
22/09 - 15h30 e 19h30 - "Os Doces Bárbaros (doc), de Jom Tob Azulay
23/09 - 15h30 -"República dos Assassinos", de Miguel Farias Jr.
             19h30 - "Luz Del Fuego", de David Neves
24/09 - 15h30 e 19h30 -"Carmem Miranda: Bananas Is My Business" (doc), de Helena Solberg
25/09 - 15h30 e 19h30 -"Vai Trabalhar Vagabundo", de Hugo Carvana
26/09 - 15h30 e 19h30 - "O Assalto ao Trem Pagador", de Roberto Farias 

A programação pode ser conferida no Facebook do Festival Remaster: https://www.facebook.com/festivalremaster



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13 setembro 2018

"O Paciente - O Caso Tancredo Neves" desvenda os bastidores da morte que abalou o país

Filme conta como foram os últimos 39 dias de vida e sofrimento do presidente eleito que não tomou posse (Fotos: Globo Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas

A história por trás da morte mais polêmica do país dos últimos 30 anos chega hoje aos cinemas brasileiros e serve como exemplo de como a manipulação política e o ego excessivo de uma equipe médica transformaram a vida de um grande estadista em um sofrimento infindável. "O Paciente - O Caso Tancredo Neves", sob a direção de Sérgio Rezende, é baseado no livro homônimo, do historiador Luis Mir. 


O filme revela, após 30 anos, os bastidores médicos dos últimos dias da vida do primeiro presidente civil, eleito pelo colégio eleitoral no Congresso Nacional, pós-ditadura militar. Depois de 39 dias de internação e uma sucessão de avaliações e procedimentos médicos errados, Tancredo Neves morreu no dia 21 de abril de 1985, sem nunca ter sido empossado.

Com interpretação comovente do experiente Othon Bastos, a produção reforça a ansiedade do presidente eleito com o destino da nação, caso não tomasse posse, suas angústias e o medo do retorno da ditadura militar que não daria posse a seu vice, José Sarney. A produção relembra frases e discursos marcantes do político, sempre reforçando que ele precisava melhorar e tomar posse na Presidência para garantir a democracia no país. Mas a que mais emociona é quando ele diz "Eu não merecia isso". Othon Bastos faz arrepiar.

Othon Bastos e Sérgio Rezende na pré-estreia
em BH Foto: Maristela Bretas
Sérgio Rezende (responsável por sucessos como "Em Nome da Lei", "Zuzu Angel" e "O Homem da Capa Preta") soube captar muito bem a história literária, pesquisada por anos por Luiz Mir. Em entrevista na pré-estreia especial em Belo Horizonte, no Cineart Boulevard, o diretor chamou Tancredo Neves de conciliador. "Depois de 21 anos de ditadura, era o único homem capaz de reunir as forças políticas e resinstaurar a democracia. Eu acho que neste momento radical que o país está vivendo, nós precisamos de alguém com equilíbrio que some no lugar de dividir". 

Esta é a terceira parceria de Rezende com o ator Othon Bastos. "Ele é um monumento, um ator que está vivo criativamente, que comove a equipe inteira, movimenta o set de filmagem e é sempre um privilégio trabalhar com ele", declarou. 
Othon Bastos, também presente à pré-estreia, contou que foi muito emocionante interpretar o político porque pegou esse momento da vida dele que o destino mudou. "Quando a gente não completa o que faz na vida, a gente diz que foi destino. Foi uma perda enorme, eu acho que o Tancredo faz uma falta enorme nesse país, uma pessoa digna, um grande político. Foi um prazer enorme interpretá-lo. Hoje não existe um grande político no país, nós estamos vivendo o momento da pusilanimidade, da covardia, da fraqueza".

Também brilhou na produção a atriz Esther Góes, no papel de Risoleta Neves, esposa de Tancredo, A personagem foi apresentada como uma mulher forte, que ficou ao lado do marido durante a vida toda e que exercia grande influência em suas decisões. O elenco conta ainda com Paulo Betti, como o vaidoso e insensível médico Henrique Pinotti (último a operar o presidente), Otávio Muller (Dr. Renault), Leonardo Medeiros, (Dr. Pinheiro Rocha, primeiro a operar Tancredo), Emiliano Queiróz (médico da família) e Emílio Dantas, como o assessor de imprensa Antônio Britto, papel bem fraquinho se comparado ao que representou o jornalista na ocasião dos eventos.

Com rápida reconstituição de época, utilizando o recurso de imagens da passagem da ditadura militar, a escolha pelo Colégio Eleitoral, o povo nas ruas pedindo democracia e rezando para que o presidente melhorasse. "o Paciente - O Caso Tancredo Neves" é uma aula de história de um momento delicado do país. A abordagem principal é a doença que atingiu o político às vésperas de sua posse e toda a sequência de diagnósticos duvidosos, de egos médicos inflados (quem ia ser o herói que salvaria o presidente) e de interesses políticos (situação e oposição). 

Um "E.R" brasileiro, com direito a levar o presidente para o Pronto Socorro do Hospital de Base de Brasília porque todo mundo dava ordem, mas não sabia o certo a fazer. Tancredo foi o político que conseguiu unir uma nação, mas virou um joguete nos últimos dias de sua vida. Um bom exemplo foi a famosa foto posada numa sala do hospital escondendo os aparelhos para mostrar ao país que o presidente eleito estava bem seria empossado.

"O Paciente - O Caso Tancredo Neves" é uma aula de história que deve ser conferida pela nova geração que não viveu aquele momento. E também a recuperação de um momento que foi importante e mudou o país para quem viveu todo o drama na época, mas desconhecia a verdade sobre o tratamento médico dado ao presidente e ao homem Tancredo. Vale muito conferir, principalmente pelas ótimas atuações do casal principal.



Ficha técnica:
Direção: Sérgio Rezende
Produção: Globo Filmes / Morena Filmes
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Duração: 1h40
Gêneros: Biografia / Drama
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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