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10 maio 2023

"Máfia Mamma" aborda temáticas feministas com sutileza e bom humor

Toni Collette e Monica Bellucci protagonizam essa comédia sobre o comando da máfia italiana após a morte do chefão (Fotos: Paris Filmes)


Larissa Figueiredo 


Uma mãe suburbana norte-americana herda o império da máfia de seu falecido avô na Itália. Esse é o enredo de "Máfia Mamma", longa de comédia que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (11).

Para Kristin Balbano (Toni Collette), a viagem que era uma versão peculiar de “Comer, Rezar, Amar” (2010) se transformou em “O Poderoso Chefão”. 

Apenas ao chegar ao velório, ela descobre que o avô, Giuseppe Balbano, era chefe da mais feroz máfia da Calábria. Como sua descendente mais próxima se tornou a sucessora nos “negócios” da família.


O “tempero” do filme é a personalidade brutalmente comum da protagonista, ao mesmo tempo em que Kristin é única e quebra todas as expectativas. 

É possível rir e se identificar com os dilemas apresentados, até mesmo em situações nada cotidianas (como um jantar com a família rival). Ela é uma mulher como todas as outras, e assim como elas, é diferente.


A sensibilidade de Catherine Hardwicke para abordar as questões de gênero é algo consolidado em sua carreira e "Máfia Mamma" evidencia isso. Hardwicke dirigiu os documentários “Isso Muda Tudo”, “Luz Câmera, Machismo!” e o drama analógico premiado “Tell It Like a Woman”, que estreia em junho deste ano.


No longa de comédia, a diretora aborda a relação do machismo em ambientes de trabalho e a emancipação feminina para além da validação masculina. Kristin leva os negócios da máfia da forma que apenas uma mulher conseguiria, com carisma e empatia. 

A princípio, causa estranhamento e recriminação dos outros membros, mas no decorrer da trama, ela conquista espaço e ganha o respeito dos rivais de maneiras inusitadas.


Se nos lugares comuns do cinema as mulheres se voltam umas contra as outras, em "Máfia Mamma", Kristin conta com a ajuda de Bianca (Monica Bellucci), fiel escudeira de seu falecido avô. Bianca se apresenta de forma diferente de Kristin, exala sensualidade e poder, mas uma não compete com a outra. A amizade das duas personagens é retratada com lealdade até o fim do enredo. Ponto para Hardwicke!


Nas obras de comédia é comum ver um certo desleixo com o roteiro e a construção de personagens. Em "Máfia Mamma" não é preciso escolher: o roteiro é primoroso e o filme é engraçado. Não há pontas soltas nem personagens esquecidos como alívio cômico.

Por fim, é importante dizer que assistir a trajetória de Kristin é um lembrete de que é possível se reinventar sem deixar de ser quem é.
  

Ficha técnica:
Direção: Catherine Hardwicke
Produção: Idéal Films / Bleecker Street
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gêneros: comédia, ação, policial
Nota: 5 (0 a 5)

27 abril 2023

"Renfield" acaba com o estoque de sangue de Hollywood

Nicolas Cage e Nicholas Hoult dividem as atenções como o conde Drácula e seu assistente comedor de insetos (Fotos: Universal Studios)


Maristela Bretas


Um banho de sangue e violência do início ao fim. E apesar de ser um filme de terror que cumpre o que propõe, "Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" é também uma boa comédia com muita ação que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. 

O diretor Chris McKay ("Lego Batman: O Filme" - 2017) entrega uma boa produção para os apreciadores do gênero e a carnificina é tanta que vai faltar tinta vermelha para os próximos filmes do gênero. 


Membros decepados, cabeças cortadas, paredes tingidas com os corpos das vítimas do vilão. Ninguém menos que o famoso Conde Drácula (interpretado pelo vencedor do Oscar, Nicolas Cage) que conta com a ajuda de seu assistente Renfield (Nicholas Hoult, de "X-Men: Apocalipse" - 2016). 


Cage arrasa no papel e conta com um trabalho de maquiagem perfeito, acompanhando a transformação do famoso vampiro, de um quase cidadão de roupas e comportamento estranhos para o monstro assassino.

Hoult também tem seus momentos de mudança, do jovem com aparência "quase inocente" para o serviçal sanguinário que escolhe as vítimas a serem servidas como um banquete para seu chefe. 


A história é contada a partir dessa relação de dependência tóxica e poder. Renfield é o narrador e desabafa sobre seus problemas durante uma sessão coletiva com pessoas que querem deixar seus parceiros ou chefes abusivos.

O longa mostra como Renfield se torna um assistente e, ao mesmo tempo, dependente de Drácula. Como um viciado, ele precisa se alimentar de insetos para adquirir poderes especiais e força descomunal. Mas a vida de assassino e delivery de corpos começa a desagradar o jovem. 


Durante uma de suas caçadas noturnas pelo banquete humano, Renfield conhece a incorruptível policial Rebecca Quincy (interpretada por Awkwafina, de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" - 2021). 

Ele a ajuda a combater uma família de traficantes chefiada por Teddy Lobo (Ben Schwartz) e a mãe dele, Eita (Shohreh Aghdashloo) que matou o pai de Rebecca e domina a cidade e a polícia. 

O jovem passa a questionar os desejos e a insanidade daquele que chama de mestre e descobre que existe uma vida "normal" entre os humanos. 


Renfield decide deixar de ser um vilão e Drácula não fica nada satisfeito. Para puni-lo, vai deixando um rastro de mortes de pessoas ligadas a seu agora ex-ajudante.

O diretor Chris McKay soube usar bem o sarcasmo e a comicidade para mostrar o que seria um relacionamento abusivo entre um chefe e seu subordinado (quem nunca passou por isso?).


Toda essa matança conta com efeitos visuais excelentes, um ponto forte do filme, além das ótimas interpretações de Cage, Hoult e Awkwafina. O ritmo ágil do filme não deixa o expectador se sentir confortável por muito tempo na cadeira do cinema.

"Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" é um filme para pessoas de estômago forte, mesmo tendo um lado cômico. Mas vale a pena conferir, especialmente por Nicolas Cage, que durante entrevista classificou o enredo como algo “corajoso, original e peculiar”.


Ficha técnica:
Direção: Chris McKay
Produção: Skybound Entertainment e Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, ação e comédia

29 março 2023

"O Urso do Pó Branco" era para ser um terror trash, mas não passa de uma comédia fraca

Personagem criado em CGI garante poucos sustos e cenas de mutilações (Fotos: Universal Pictures)


Maristela Bretas


Nem comédia, nem suspense, nem ação. "O Urso do Pó Branco" ("Cocaine Bear") não passa de um filme de zoação, como muitos de baixo orçamento. 

A classificação de 18 anos deve ser só por causa da cocaína e de algumas mortes provocadas pelos ataques do urso preto. Há filmes de terror com muito mais violência.


Roteiro, atuações e até a computação gráfica usada para "dar vida" ao urso são muito fracas (talvez esse seja o objetivo dos produtores). Se possível, fuja da versão dublada. 

A intenção de Elizabeth Banks pode ter sido boa ao buscar num fato real a inspiração para este filme. A história até vale, mas ficou mais uma comédia de terror, com violência boba, piadas e situações absurdas que não chegam a provocar uma risada.


Os personagens são caricatos, não escapa um, nem as crianças. Só mesmo o urso cheirador de pó que dá um toque mais tenso ao enredo, mas poderia ser melhor. 

O filme está mais para o subgênero trash animal, do tipo "Piranha 2: Assassinas Voadoras", "Sharknado" ou o "Ataque do Tubarão de 3 Cabeças". Algumas dessas e de outras produções do tipo são até mais engraçadas.


Nem a curta participação de Ray Liotta (falecido recentemente) como o traficante Syd, pai do inexpressivo Eddie (papel de Alden Ehrenreich, de "Han Solo: Uma História Star Wars" - 2018), que também tem um filho no filme, consegue convencer.

As cenas do urso comendo ou cheirando cocaína parecem tiradas de um filme barato. Mas a atuação do monstro preto peludo convence mais que a de todos os atores. 

Garante algum suspense, arrancando membros a cada patada e espirrando sangue que mais parece ketchup na camisa. 


Baseado em fatos reais

A história é baseada no caso real do traficante Andrew Thornton que, em 1985, descartou um carregamento de 30 quilos de cocaína em uma floresta no estado da Geórgia, nos Estados Unidos. 

A carga foi encontrada e consumida por um urso preto de 80 quilos que sofreu uma overdose e morreu pouco depois.

No filme, o urso (interpretado por Allan Henry que contou com o auxílio de CGI e próteses para ficar do tamanho do animal), encontra a droga descartada na floresta pelos traficantes.


E passa a cheirar todos os pacotes de cocaína, ficando cada vez mais viciado e violento. Na busca por mais droga, ele mata todos que encontra pelo caminho - turistas, adolescentes, policiais e até os bandidos que voltam à floresta para recuperar a carga.

Se está procurando um filme médio, com algumas cenas violentas e um urso totalmente alucinado e sem controle, arrisque assistir "O Urso do Pó Branco". Boa sorte!


Ficha técnica:
Direção: Elizabeth Banks
Produção: Brownstone Productions e Lord Miller Productions
Distribuição: Universal Pictures Brasil
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, comédia, suspense

15 março 2023

Com pegada feminina, “La Situación” é inteligente, perspicaz e não tem nada de comédia romântica

Uma viagem à Argentina coloca Thati Lopes, Natália Lage e Júlia Rabello  entre as mais procuradas pela polícia (Fotos: Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Que ninguém se engane. O filme “La Situación”, dirigido por Tomás Portella, não tem nada da tradicional comédia romântica como pode parecer na sinopse ou no início da projeção. 

Trata-se de uma produção deliciosamente inteligente e engraçada, capaz de provocar muitas risadas com os perrengues vividos por três mulheres cujas vidas não andam excitantes nem felizes.

No elenco, Natália Lage (Ana), Júlia Rabello (Letícia) e Thati Lopes (Yovanka), se encarregam de imprimir uma pegada ágil de humor bem ao estilo Porta dos Fundos. A estreia nos cinemas é dia 23 de março.


Letícia e Ana são duas amigas que não estão vivendo exatamente os melhores momentos de suas vidas. 

A primeira vive um casamento morno com um marido zen (Marcelo Gonçalves) e está sempre às voltas com o cuidado com os filhos, uma criançada teimosa e bagunceira.

A segunda tem um trabalho burocrático, anda solitária e sofre horríveis cólicas menstruais que limitam sua vida. 

Para complicar, está hospedando em sua casa, a mais tempo do que gostaria, uma prima jovem, Yovanka, mocinha atrevida e meio maluquete, sempre envolvida com todo tipo de medicamento e drogas ilícitas.


Férias alucinadas

A aventura das três – duas amigas e uma intrusa – começa quando Ana, interpretada na medida por Natália Lage, recebe a notícia de que sua avó teria deixado de herança um valiosíssimo terreno na Argentina, para onde ela deveria ir tomar posse da propriedade.

Claro que a amiga Letícia – numa atuação cheia de nuances de Júlia Rabello - se oferece para acompanhá-la visando, quem sabe, a umas breves férias de marido e filhos.


Para completar o trio, Yovanka se intromete na viagem. O papel é feito por Thati Lopes, talvez a mais engraçada das três e responsável pelas mais inusitadas situações vividas por elas. Estão ainda no elenco Roberto Soares e Soledad Pelayo.

Só para dar ao espectador a falsa impressão de que esta será mais uma comédia romântica, logo no início, já dentro do avião, as três conhecem Antônio, interpretado por Dudu Azevedo, que imprime a seriedade possível dentro de tantas gargalhadas.


Traficantes, drogas e perseguição

Na viagem, as três se envolvem com traficantes violentos - quase um clichê quando se trata de América Latina - correm riscos e se metem em fugas perigosas. 

Detalhes maliciosos como uma falsificadíssima logomarca da Apple numa loja em algum canto do Paraguai, e o chefão do tráfico completamente gago tentando ser mau, são nuances que ajudam a enriquecer o filme.


Não seria exagero dizer que “La Situación” é um filme feminino. Afinal, embora dirigido por um homem, o roteiro foi escrito por duas mulheres: Carolina Castro e Natália Klein. 

Há entraves e perrengues íntimos vividos por elas, os quais só as mulheres são capazes de compreender e, consequentemente, rir.

Os diálogos ligeiros e a forma como as jovens vivem situações inusitadas antes mesmo de embarcar rumo à Argentina fazem desse road movie rodado no Uruguai uma imperdível e oportuna comédia.


Ficha técnica:
Direção:
 Tomás Portella
Produção: Migdal Filmes / Caravela Filmes
Distribuição: Star Distribuction
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
País: Brasil, Argentina, Uruguai
Gêneros: comédia, aventura

15 fevereiro 2023

"Casamento em Família" tem elenco de estrelas numa história fraca sobre relacionamentos

Richard Gere, Diane Keaton, William H. Macy e Susan Sarandon estão no elenco da produção (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Maristela Bretas


Um filme agradável, apesar do roteiro mediano e totalmente previsível, que reúne uma infinidade de clichês. Este é "Casamento em Família" ("Maybe I Do"), longa-metragem que estreia nesta quinta-feira (16) nos cinemas. 

Quem salva a produção é o elenco, formado por estrelas como Richard Gere, Susan Sarandon, Diane Keaton e William H. Macy, além de Emma Roberts e Luke Bracey.


A história se resume em discutir relacionamentos desgastados, arrependimentos, frustrações, traições e a instituição do casamento como uma solução para os problemas.

Três casais estão envolvidos na trama e, claro, acabam descobrindo que têm mais em comum do que desejavam. 

Gere e Keaton são os pais de Michelle (Emma Roberts) e, apesar de se amarem, não estão vivendo o melhor momento do casamento.


A jovem se baseia na boa relação deles e acredita que o "próximo pulo" de sua vida seja a troca de alianças com Allen (Luke Bracey). 

Mas o namorado não vê essa mesma "harmonia" em casa entre seus pais (Macy e Sarandon), que se odeiam. E teme que sua relação acabe como a deles.


Entre situações constrangedoras, longas conversas, juras de amor e redescobertas, "Casamento em Família" até pode levar casais a questionarem até onde vale à pena manter uma união desgastada, especialmente se envolve traição.

Sem surpresas

O longa é pura água com açúcar, não tem grandes momentos nem surpresas, mas distrai pelas atuações dos atores mais experientes. Especialmente a partir do momento que o jovem casal decide que as famílias devem se conhecer.

Também a música-tema "Always You" ("Wedding Version"), interpretada por Ruth B., é um dos destaques. Clique aqui para conferir. 


Outro ponto positivo do filme é a utilização de recursos de acessibilidade por meio do aplicativo Mobi Load, que oferece audiodescrição, legendas descritivas e libras.

"Casamento em Família" é uma comédia romântica, ideal para uma sessão da tarde. Mas ainda fica atrás de outra recente produção do gênero, "Ingresso para o Paraíso" (2022), com Julia Roberts e George Clooney , bem mais simpática e engraçada.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Michael Jacobs
Produção: Fifth Season, Vertical Entertainment
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, romance

09 fevereiro 2023

"As Histórias de Meu Pai", mais drama do que comédia, chama atenção para a responsabilidade do pai herói

Atuações do jovem Jules Lefebvre  e do experiente Benoit Poelvoordesão destaques desta produção francesa
(Fotos: Caroline Bottaro)


Mirtes Helena Scalioni


Para início de conversa, é difícil entender por que "As Histórias de Meu Pai" ("Profession du Pére") é classificado, inicialmente, como comédia. Não é. Embora o espectador possa até rir ao longo do filme, dirigido por Jean-Pierre Améris (“A Linguagem do Coração”- 2014), na maior parte do tempo, a produção francesa que entra em cartaz nesta quinta-feira (9) transmite mesmo é espanto diante da estranha relação entre pai e filho, intermediada por uma silenciosa omissão da mãe.


Logo no início, fica claro que André Choulans, magistralmente interpretado por Benoit Poelvoorde (“Mentiras Secretas” -2021), é um mentiroso compulsivo, um típico e perigoso mitômano que, com sua autoridade de pai, vai envolvendo o pequeno Emile, de 11 anos, em seus delírios e bizarrices. 

Inocente, o menino parece ter adoração por aquele pai herói que diz já ter sido paraquedista, campeão de judô, amigo de Édith Piaf e até conselheiro do general Charles De Gaulle.


A história se passa em Lyon, na década de 1960, quando André, dizendo-se traído pelo presidente, envolve o filho num projeto para matar De Gaulle. 

Afirmando ser membro de uma OAS, espécie de organização clandestina que se opõe à independência da Argélia, ele vai transformando o filho num agente secreto, a quem são dadas missões perigosas como colocar cartas anônimas nas caixas de correio de autoridades ou pichar muros da cidade.


Mas o grande trunfo do longa francês é, sem dúvida, a atuação de Jules Lefebvre como Emile. Inacreditável e encantadora a expressão do pequeno ator diante do “heroísmo” do pai, sua alegria e determinação diante das missões que tenta cumprir e até a aceitação submissa dos castigos que recebe quando o pai acha que ele não foi eficiente. 

Chama atenção também a graça com que ele, fazendo ar de mistério, tenta cooptar seu colega de sala, Lucas (Tom Levy) para a organização secreta com o objetivo de eliminar o presidente da França. 


Em seu papel de mãe que nada pode fazer para estancar as loucuras do marido, Audrey Dana, como Denise Choulans tem interpretação correta e na medida. 

Ao final, quando a história dá um salto de cerca de 20 anos, o público pode, inclusive, compreender melhor sua omissão diante dos exageros do marido.


Mesmo não sendo comédia – talvez exatamente por isso – "As Histórias de Meu Pai" vale a pena ser visto, até para que se entenda o poder e a responsabilidade de um pai em sua relação com os filhos. 

Também pode levar a alguma reflexão sobre os perigos que chegam a representar as ideias e ideologias extremistas, tão em voga no mundo de hoje.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jean-Pierre Améris
Produção: France 3 Cinéma
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: comédia, drama

05 fevereiro 2023

Tom Hanks emociona e faz rir como "O Pior Vizinho do Mundo"

Comédia dramática envolve o público pelo roteiro bem conduzido e ótimas atuações do elenco
(Fotos: Sony Pictures)


Maristela Bretas


Poderia ser mais uma comédia dramática comum, daquelas que a gente vê em sessão da tarde. Mas "O Pior Vizinho do Mundo" ("A Man Called Otto") entrega muito mais que isso e, além de tudo, tem Tom Hanks como protagonista. 

Ele interpreta um homem rabugento e antipático, capaz de fazer o público ter birra dele no início e se encantar no final, graças à ótima performance do tarimbado ator.


A produção ainda tem um agravante: é preciso levar um lencinho, pois é quase certo sair do cinema com os olhos bem vermelhos. O roteiro, apesar de lento e previsível no início, entrega um desfecho que prende e emociona. 

Especialmente pelas atuações de Hanks como Otto, o vizinho ranzinza, e de Mariana Treviño, como a nova vizinha Marisol, que valem cada centavo do ingresso.


A história se passa, basicamente, num condomínio fechado, que um dia teve Otto como administrador (tipo um síndico). Apesar de não ocupar mais o cargo, ele continua vigiando todas as coisas erradas dos demais moradores, visitantes e entregadores. 

Mas seu principal alvo é a incorporadora que insiste em tirar os antigos proprietários para derrubar seus imóveis e iniciar um novo empreendimento.


Tudo seguia bem na rotina de resmungos de Otto, sem dar conversa a ninguém ou cumprimentar as pessoas. Até uma nova família se mudar como inquilina para uma das casas. 

Marisol, uma mulher cheia de vida e de bom astral, é casada com Tommy (Manuel Garcia-Rulfo), mãe de duas simpáticas meninas e está grávida do terceiro filho. 

Apesar das grosserias e do mau humor do vizinho, ela resolve mostrar a ele que ninguém pode viver sozinho no mundo.


"Entre tapas e beijos", nasce uma grande amizade entre eles, capaz de transformar a vida do ermitão e de toda a comunidade. Apesar do comportamento arredio e chato, Otto sempre ajuda os demais vizinhos, especialmente Marisol.

Um dos pontos que chama a atenção é o fato de Otto não aceitar a perda da esposa, sua única e grande paixão na vida. E por essa razão, só pensa em tirar a própria vida para reencontrá-la. Não são poucas as tentativas sem sucesso, que acabam entregando a parte cômica do longa.


Mesmo sendo uma boa comédia, "O Pior Vizinho do Mundo" tem também um lado dramático que dá um nó na garganta. O filme conta a história de Otto em flashbacks, especialmente a partir do dia em que conheceu e se apaixonou à primeira vista por Sonya (papel de Rachel Keller). 

A personagem tem um papel fundamental na trama, apesar de estar presente apenas na memória do viúvo.


Destaque no elenco também para o simpático Jimmy (Cameron Britton), também morador. Mesmo sempre sendo evitado por Otto, gosta muito do vizinho, com quem convive desde que Sonya era viva. Ele também ajuda a cuidar dos mais velhos do condomínio.

Adaptado do livro "Um Homem Chamado Ove", de Fredrik Backman, que rendeu um filme sueco com o mesmo nome em 2015, "O Pior Vizinho do Mundo" conta com direção de Marc Forster e um roteiro bem conduzido de David Magee. Vale a pena conferir e se emocionar.


Ficha técnica:
Direção: Marc Forster
Produção: Playtone
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h07
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, drama

01 dezembro 2022

"Noite Infeliz" - Papai Noel existe e desce a porrada em quem se comporta mal

De saco cheio, David Harbour quebra os parâmetros e entrega presentes bem diferentes no Natal (Fotos: Universal Pictures)


Wallace Graciano


“Noite Infeliz” ("Violent Night"), longa protagonizado por David Harbour, o Jim Hopper de “Stranger Things”, chega aos cinemas brasileiros buscando quebrar uma série de clichês que logo vemos conforme o Natal começa a bater à porta. 

Se palavras como “prosperidade”, “paz” e “harmonia” permeiam nosso imaginário quando pensamos no período, no longa, que é uma mistura de comédia e ação, o Papai Noel, figura que costuma encarnar esses ideais, prova sua existência, mas de uma maneira que o distancia muito daquele simpático velhinho. 


Cansado do seu trabalho rotineiro, nosso velho barbudo se apresenta como uma figura decadente e alcoólica, que não vê mais prazer em atravessar chaminés e entregar presentes a crianças que se comportaram bem ao longo dos anos. 

Tampouco os tradicionais biscoitinhos natalinos ou copos de leite frios o atraem mais. Nas casas que visita, ele prefere conferir o que cada um dos residentes guarda em seus bares pessoais. 


Porém, essa perspectiva se vê em xeque ao entrar na mansão de uma família milionária, que escancara os mais terríveis estereótipos que podemos imaginar em um lugar onde a luxúria reina. 

Enquanto ele entra pela chaminé para deixar um presente para Trudy (Leah Brady), uma dócil garotinha que ainda não havia sido infectada pelo clima tóxico daquele ambiente, um grupo de mercenários chefiados por Scrooge (John Leguizamo), inimigo do Natal, invade o local e sequestra todos os ocupantes da casa.


Armados até os dentes, literalmente em alguns casos, esses mercenários queriam roubar os mais de US$ 300 milhões que a matriarca da família desviou do governo norte-americano enquanto tinha como missão espalhar esse dinheiro para ações na África. Com isso, começam a torturar os donos da casa em busca do segredo do cofre.


Eis que os caminhos se cruzam, quando um dos mercenários em questão vê o bom velhinho, que outrora se mostrava como uma figura indefesa. Porém, precisando encarar aquele vilão, Papai Noel revive seu passado de guerreiro esmagador de crânios, que usava um martelo como sua arma letal. 

A partir desse momento, a trama ganha fôlego, variando entre lutas sangrentas e a construção do personagem, que não sabe muito bem como adquiriu a “magia do Natal”. 


Enquanto tenta salvar a família, graças ao pedido desesperado da garotinha, que atiça seus mais nobres sentimentos como Papai Noel com esses clichês que estamos acostumados, o barbudo encara de forma voraz aqueles mercenários que avançam cada vez mais para conseguir êxito no plano. 

Apesar de sujar a roupa do Papai Noel com (muito) sangue, o filme não deixa escapar a essência natalina, apostando piadinhas, músicas típicas e até mesmo referências ao filme “Esqueceram de Mim”, um dos maiores clássicos do período.


“Noite Infeliz” está longe de uma comédia típica do período para se ver com os filhos, no sofá de casa, mas é um daqueles longas que te trará entretenimento e vai até mesmo tirar seu fôlego em meio aos risos. 

É uma película que soube trabalhar bem o inusitado, o enredo e o impacto, sem passar do tom e ofender alguém ou alguma cultura diretamente. Grandioso acerto. Um doce, mas ácido, presente de Natal.  


Ficha técnica:
Direção: Tommy Wirkola
Produção: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures Brasil
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, comédia