14 agosto 2025

Impactante e surpreendente, "Os Enforcados" é sobre jogo, culpa e confiança

Leandra Leal e Irandhir Santos entregam excelentes atuações como o casal que vive da contravenção e
acredita que pode manter as mãos limpas (Fotos: Paris Filmes)
 
 

Maristela Bretas

 
Reunindo várias semelhanças com fatos reais e atuações brilhantes de Leandra Leal e Irandhir Santos, estreia nesta quinta-feira (14) a produção nacional "Os Enforcados". O filme, dirigido por Fernando Coimbra, é um thriller tragicômico impactante, com reviravoltas a todo instante.

Na trama, o casal Valério (Irandhir Santos) e Regina (Leandra Leal) vive numa mansão na Zona Oeste do Rio de Janeiro, à custa do império do jogo do bicho construído pelo pai e pelo tio dele, Linduarte, vivido por Stepan Nercessian. Até que Valério revela à esposa que está falido, cheio de dívidas e pretende vender ao tio a parte herdada do pai.


Tudo muda quando ele resolve seguir os conselhos da ambiciosa Regina e dar um grande golpe, que consideram infalível, em Linduarte e nos contraventores do bicho e sair de mãos limpas. Ao contrário do que esperavam, o crime passa a ser uma rotina do casal e até mesmo o casamento começa a desandar.

Em "Os Enforcados", quando você acredita que já sabe qual caminho o filme está seguindo, ele toma novo rumo. E prova que todo mundo que se envolve com o mundo do crime e conquista poder está sujeito a ser contaminado e sujar as mãos. Se torna até mesmo capaz de matar para manter este poder e o padrão alto de vida.


Leandra Leal e Irandhir Santos estão excelentes em seus papéis e são os responsáveis pela trama dar certo do início ao fim, expondo uma realidade diária da criminalidade no Rio de Janeiro e os esquemas por trás do jogo do bicho.

A violência, o crime organizado e a corrupção de autoridades policiais da capital carioca são apontados no roteiro, inclusive numa fala da sempre excelente Irene Ravache, no papel de mãe de Regina. 

A cartomante de araque não se surpreende com as ações do genro e da filha e só se interessa em tirar proveito do lucrativo negócio de Valério.


No elenco temos ainda Pêpê Rapazote, como delegado da Polícia Federal; Thiago Tomé, braço direito de Valério; Augusto Madeira e Ernani Moraes, parceiros de Linduarte, entre outros.

Coincidências?

Coincidência ou não, "Os Enforcados" apresenta situações semelhantes a uma disputa entre familiares do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, após o assassinato dele em 1998. Ele era chamado de "Rei do Rio" e era padrinho da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

Assim como Maninho, Linduarte era o padrinho da Escola de Samba Unidos da Pavuna e quando Valério assume os negócios da família após a morte do tio, ele recebe uma coroa dourada durante o ensaio da escola.


Terceiro filme do diretor

Este é o terceiro filme de Fernando Coimbra e marca seu retorno ao cinema brasileiro, após dirigir episódios das séries internacionais “Narcos”, “Outcast” e “Perry Mason” e o longa “Castelo de Areia”, com Nicholas Hoult e Henry Cavill. 

Coimbra explica que "Os Enforcados" é, antes de tudo, sobre um casamento. "O casal sela um pacto e faz um plano de vida que é incapaz de cumprir. Só que esse plano se faz a partir de um crime que os levaria em direção à realização dos seus sonhos. Mas a realidade é muito diferente do sonho, e as coisas desandam".



"Os Enforcados" é violento e brutal, tanto nos crimes envolvendo a guerra pelo poder quanto na relação conjugal de Valério e Regina. E a cereja do bolo é a trilha sonora, que tem o sucesso "Muito Estranho", com Nando Reis, como música principal.

"Cuida bem de mim" é um refrão que vai acompanhando as etapas da vida do casal quando tudo começa a desmoronar até o final brilhante. Filme imperdível e merece entrar na disputa para a indicação brasileira ao Oscar.


Ficha técnica:
Direção:
Fernando Coimbra
Produção: Gullane e coprodução da Fado Filmes, Telecine, Globo Filmes e Pavuna Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h03
Classificação: 18 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense, thriller de crime

13 agosto 2025

"No Céu da Pátria Nesse Instante" mostra a tensão provocada pela polarização das eleições de 2022

Documentário dirigido por Sandra Kogut traz um retrato histórico necessário do Brasil contemporâneo
(Fotos: O2Play)
 
 

Jean Piter Miranda

 
Os atentados de 8 de janeiro de 2023 marcaram profundamente a história recente do Brasil. Uma história que ainda ecoa pelo país, seja pela polarização, que ainda persiste, seja pela luta por anistia aos que atacaram a democracia. 

Mas como foi que chegamos a esse ponto? A resposta está em “No Céu da Pátria Nesse Instante”, documentário da diretora Sandra Kogut, que estreia nesta quinta-feira (14) nos cinemas. 

A produção leva para as telas pessoas comuns que militavam em favor de Lula e de Bolsonaro. Cada uma contando sobre suas expectativas nos dias que antecederam as votações em primeiro e segundo turnos das eleições de 2022. 

Diretora Sandra Kogut

Marcelo Freixo, então candidato a governador do Rio, e sua esposa, a roteirista Antônia Pellegrino são acompanhados em atos de campanha. Assim como uma família bolsonarista também participa do documentário. Kogut equilibra bem o tempo de tela de cada lado, sem favorecer nenhum deles. 

Outros personagens são inseridos ao longo do documentário. Além dos militantes, também aparecem servidores da Justiça Eleitoral. O treinamento de mesários, a preparação das urnas e os desafios para realizar as eleições em todos os municípios, em especial os do Norte do país. 


Tensão no ar

Tudo vai sendo apresentado de forma leve, embora seja perceptível um clima de tensão no ar. É como se todo mundo soubesse o que estava por vir. Os atos de campanha dos dois lados. O medo de sair com camisa de candidato, o clima tenso de ir às ruas fazer campanha. Bolsonaristas confiantes na vitória. Lulistas temerosos com o futuro. 

Caminhoneiros organizados, pastor pedindo voto, a bomba no aeroporto de Brasília, denúncia de boca de urna e as blitze ilegais no dia das eleições. Tem muita coisa nessa complexa história que se apresenta em ordem cronológica, sem narrador. 

A tensão que vai aumentando durante a apuração. Uma história que a gente viu e viveu, mas que, ao ser revista, traz de volta um turbilhão de emoções, independente de que lado você esteja. 


Vem o resultado, vem a posse e a explosão do 8 de janeiro. Apoiadores do governo derrotado inconformados com o resultado das eleições e a vitória de Luis Inácio Lula da Silva invadem o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF). Violência, quebradeira, vandalismo, pedido de intervenção militar. Um dia que entrou para história e que ainda não acabou. 

O documentário reconta essa história sem adjetivar ninguém. Não faz juízo de valor, não debocha, não ironiza, nem comemora. É uma produção honesta e muito bem feita que merece ser vista para que tudo o que ocorreu não caia no esquecimento.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Sandra Kogut
Produção: Ocean Films em coprodução com Marola Filmes, Kiwi Filmes, GloboNews, Globo Filmes e Canal Brasil
Distribuição: O2 Play e Lira Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário