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12 outubro 2023

“O Exorcista - O Devoto” é corajoso, mas a coragem nunca é um bom sinal no horror

Produção traz “jump scares” que não conseguiriam assustar nem uma criança desalmada (Fotos: Universal Pictures)


Wallace Graciano


Antes de lhe passar uma opinião sobre “O Exorcista - O Devoto” ("The Exorcist - Believer"), preciso traçar contigo um limite, caro leitor: dispa-se de suas convicções sobre a obra pregressa, “O Exorcista”. Afinal, estamos tratando de um épico, de um longa que fez com que um gênero todo girasse ao seu redor e deixasse o underground e colocasse o horror/terror na cultura pop. 

Isso posto, preciso deixar claro que o filme que estreia neste 12 de outubro, Dia das Crianças, em todo o Brasil, está bem longe de igualar a película de 1973. Primeiro, por conta das expectativas e comparações, que são, de longe, o maior entrave para qualquer obra que ouse fazer uma releitura de um clássico. Segundo, porque o roteiro é bem costurado, mas peca em alguns pontos essenciais onde o ápice batia à porta.


“O Devoto”, se assim podemos chamar neste ponto para não confundir com a icônica obra escrita por William Peter Blatty, bebe da fonte da suas antecessoras (“Exorcista II - O Herege” - 1977, “O Exorcista III” - 1990 e “O Exorcista - O Início” - 2004), mas abre caminho para novos filmes da franquia. Nele, a temática de possessão continua presente, com os feitos do passado da Igreja Católica sendo evocados, mas com certo ar de dúvidas que assolam suas próprias certezas.


Em “O Devoto”, Angela (Lidya Jewett) e Katherine (Olivia O'Neill), duas amigas de 13 anos, ganham o protagonismo que outrora foi de Regan (vivida por Linda Blair), que na obra original foi possuída por Pazuzu (spoiler de 50 anos…). 

Após enganarem seus pais e irem a uma floresta para tentar aflorar sua espiritualidade, elas se perdem no caminho, voltando após três dias com comportamentos erráticos e agressivos. Aqui você já deve bem suspeitar o que ocorreu…


Pois bem, é nesse ponto que a trama se desenvolve. Mesmo que com personagens pouco cativantes (incluindo as meninas, que foram pouco desenvolvidas), o filme passa a buscar novas soluções para as possessões do presente através do passado. 

Entre elas, inclusive, está um fanservice, onde o pai de Angela recorre a Chris MacNeil (mãe de Regan), interpretada novamente por Ellen Burstyn, para trazer respostas para o tortuoso caminho que as meninas teriam pela frente. 


E de forma surpreendentemente positiva, a trama, apesar de evocar uma forte personagem do passado, não fica presa ao enredo de outrora para explicar a possessão. 

Agora, “O Devoto” tenta transformar a Igreja Católica como personagem ativa de todo o processo, mas não como única e central, fazendo com que o sincretismo religioso seja uma força na luta contra o mal, incluindo a presença e união de religiões de matrizes africanas e protestantes. 


Em um nicho clichê, onde vários filmes de possessão esgotaram por completo todas as narrativas que se tornaram repetitivas com os mesmos roteiros de sempre, "O Exorcista - O Devoto" acerta ao ousar tentar trilhar um novo caminho. Agora, do ateísmo ao preconceito religioso são colocados em xeque enquanto as certezas se dissolvem. Porém, peca ao desenvolver muito mal seus personagens e trazer jump scares que não conseguiriam assustar nem uma criança desalmada.

Em síntese, "O Exorcista - O Devoto", tal qual Angela e Katherine, peca em suas ações, mas compensa pela coragem do enredo e por um final que pouco se espera. Porém, se quer abrir um caminho para novas adaptações, precisa evoluir. E muito. Afinal, se uma coisa que o horror nos ensinou muito bem nesse meio século é que a coragem é sempre válida, mas perigosa.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: David Gordon Green
Produção: Universal Pictures, Blumhouse Productions, Morgan Creek Productions
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h57
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gênero: terror