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08 outubro 2018

"Uma Noite de 12 Anos" - filme oportuno e imprescindível para o Brasil de hoje

O filme de Brechner conta a história de três homens que sofreram o horror e a crueldade da ditadura no Uruguai dos anos de 1970 e 1980 (Tornasol Films/Divulgação)
  

Mirtes Helena Scalioni



Mais do que um aviso, um alerta. Para o Brasil atual e polarizado, é isso que vai ficar ao final da sessão de "Uma Noite de 12 Anos" ("La Noche de 12 Anõs"), que conta a história mais do que verdadeira de três personalidades que sofreram o horror e a crueldade da ditadura no Uruguai dos anos de 1970 e 1980. Os cerca de 4.500 dias que os jornalistas Maurício Rosencof e Eleutério Fernandez Huidobro e o então agricultor José Mujica passaram como reféns do Exército em várias prisões são mostrados de maneira contundente pelo diretor Álvaro Brechner. Imperdível, imprescindível e oportuno.

Em 1973, 12 militantes do Movimento Nacional de Libertação Tupamaros, de oposição à ditadura militar, foram retirados da prisão onde estavam, tornaram-se reféns do Exército e, durante 12 anos, vagaram por cadeias em vários locais do Uruguai, para as quais eram levados sempre encapuzados. Nenhum deles tinha a menor noção de onde estava. Além disso, eram mantidos incomunicáveis. Não se falavam entre si e nem com os militares carcereiros.

O filme de Brechner pinça três desses detentos e, por meio deles, desnuda o que há de pior em um regime totalitário. É baseado no livro "Memórias del calabozo", escrito por dois dos personagens: Rosencof, vivido no filme pelo argentino Chino Darin, e Huidobro, interpretado por Afonso Tort. O terceiro da história, que depois se transformou num dos presidentes mais populares do Uruguai, Pepe Mujica, é feito por Antonio de la Torre.

Num filme como esse, com cenários sempre sombrios e claustrofóbicos, o trabalho dos atores ressalta e é fundamental. Com muito brilho e talento, os três - assim como os demais do elenco - dão seu recado envolvendo o público com a ideia que parece alimentar os personagens: a de que é preciso resistir para viver, apesar dos extremos da tortura física e psicológica e de toda sorte de humilhação e maus tratos. É como se mostrassem dois lados extremos do ser humano: a crueldade e a nobreza da resistência.

Numa sacada genial, o diretor intercala cenas dos três, cada um com sua dor e solidão, cada um tentando se reinventar para sobreviver no seu silêncio. Alguns flashbacks ajudam o espectador a conhecer um pouco da trajetória de cada um antes da prisão. A raríssima leveza de "Uma Noite de 12 Anos" fica por conta de pequenos momentos em que, aparentemente, o Exército é ridicularizado diante de algumas situações. Mas, como o filme é baseado em histórias reais, não há por que duvidar. O que fica é que, nem sempre, os opressores estavam devidamente organizados e afinados em seus objetivos.

Quem consegue chegar até o finalzinho do filme sem chorar - de tristeza, indignação, repúdio, raiva, medo - vai fatalmente sucumbir com a versão única e cortante de "The sound of silence", de Simon e Garfunkel, interpretada pela cantora catalã Silvia Pérez Cruz. Um soco no estômago. A partir daí, resta ao espectador voltar para a casa com a certeza de que é preciso refletir e, como os personagens, resistir e lutar para que lições de um passado tenebroso sejam profícuas e que a liberdade permaneça como o bem mais precioso da humanidade.
Duração: 2h02
Classificação: 14 anos
Distribuição: Vitrine Filmes


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