Muitas batalhas, grandes efeitos e histórias detalhadas dos
personagens menos conhecidos (Fotos: HBO Max/Divulgação)
Maristela Bretas
Esqueça a primeira versão de "Liga da Justiça"
dirigida por Joss Whedon. Apesar das quatro horas de duração, a que vale é a
tão esperada de Zack Snyder que entrega um filme com muita ação, emoção e
batalhas épicas, apesar de exagerar nas cenas em slow motion. Virou até piada
entre alguns fãs, que alegam que a longa duração foi por causa da câmera lenta
em várias lutas.
"Snyder Cut" entrega o que se esperava de uma boa
produção de super-heróis da DC Comics, depois de algumas decepções como
"Batman vs. Superman: A Origem da Justiça" (2016), do mesmo Snyder, e
da famosa frase "Salve Martha". Não fosse a batalha final, com a
participação da Mulher Maravilha, o estrago seria ainda maior.
Na sequência, "Liga da Justiça" (2017) alivia a
decepção, mas assistindo "Snyder Cut" é que a gente percebe como o
anterior ficou com cara de filme de heróis bonzinhos, com final feliz e sem
impacto. Até as cenas do epílogo são mornas perto das novas. Faltou no primeiro um
"smash, smash" que até o Hulk fez melhor com Loki em "Os Vingadores" (2012), da
Marvel, dirigido também por Whedon.
Aí chega Zack Snyder com sua versão inicial e arrasa
quarteirão desde a abertura até a última cena, sem dó de mostrar lutas
sangrentas, heróis complexos e com dramas, sempre familiares e mal resolvidos,
mas que se unem em defesa da Terra contra os vilões Steppenwolf (Lobo da Estepe), De Saad e o
líder Darkseid.
Aquaman (Jason Momoa), Ciborgue (Ray Fisher) e até mesmo o
Flash (Ezra Miller), com seu humor e simpatia, se mostram mais sombrios e
atormentados por questões particulares mal resolvidas. Até a Mulher Maravilha
(Gal Gadot) expõe seu lado de guerreira amazona e se iguala em participação e
poder aos personagens masculinos.
Se no primeiro filme, o colorido das roupas dela e de Flash
quebram a escuridão do mundo de Batman, neste os tons escuros predominam,
retomando uma característica mais dark do Universo DC. Outro ponto que foi
perdido na edição de 2017 com a mudança de direção.
O Batman de Ben Affleck mudou pouco, manteve seu lado
sombrio e, apesar de ser o líder da Liga, ficou quase como um coadjuvante na
produção de Snyder. Quem dá show é o Superman de Henry Cavill com o traje preto
e sangue nos olhos. Espetáculo em todos os sentidos. E olha que ele só apareceu
mais no final para fechar a fatura. Algumas cenas são de arrepiar. Por sinal,
Cavill, Affleck e Momoa formam um time de tirar o fôlego.
Na nova versão, Flash e Ciborgue ganham mais espaço que os
heróis mais famosos e suas histórias são contadas com mais detalhes, assim como
de outros, um segundo ponto importante que faltava. Isso ajuda a entender a
origem de cada um e facilita para quem não assistiu aos filmes-solo de alguns
deles, como "Mulher Maravilha" (2017) e "Aquaman".
Flash
também vai ganhar seu próprio filme, com estreia prevista para 2022, com Ezra
Miller retornando ao papel do homem mais rápido do mundo. Já o Ciborgue perdeu
em tudo, a começar pelo ator Ray Fisher que deixou o papel, e até o momento os
estúdios estão descartando uma produção para breve sobre o herói cibernético.
"Liga da Justiça - Snyder Cut", mesmo utilizando
muitas partes da versão anterior, é quase um filme novo, muito melhor, mais bem
feito, sem saltos que deixam o espectador sem entender como surgiram algumas
situações. Vendo este agora fica parecendo que o primeiro foi feito por Whedon
para cumprir tabela e acabar logo, depois de pegar o carro andando. E acabou
impondo seu estilo "Vingadores" de ser, o oposto de Zack Snyder que
se afastou da direção por problemas familiares.
Mas faltou falar sobre os efeitos visuais de "Snyder
Cut". Simplesmente incríveis, o filme é o melhor de todos do diretor, pois
conseguiu aproveitar e explorar bem os superpoderes e as histórias de cada
herói, especialmente os menos conhecidos, destacou o lado emocional de cada um.
O que o diretor fez foi um novo filme, acrescentou não só muitas e melhores
cenas, mas também mais personagens, deu uma nova perspectiva e criou uma
narrativa mais envolvente, apesar de mais pesada.
Foram quatro horas bem aproveitadas em frente à telinha da
TV, com um filme dividido em seis partes. O diretor Zack Snyder pode dormir
tranquilo, pois realizou uma de seus melhores trabalhos, talvez o melhor com os
super-heróis do universo DC, respeitando os quadrinhos e os fãs. E apontou para
o que seria o último filme da trilogia planejada inicialmente pelo diretor e
que, em princípio, está adiada.
"Liga da Justiça - Snyder Cut" pode
ser alugado em várias plataformas digitais: Now, AppleTV, Claro, Google Play,
Playstation, Sky Play, UOL Play e Vivo Play. Inesquecível e imperdível.
Ficha técnica:
Direção: Zack Snyder Exibição: Plataformas digitais por aluguel Produção: HBO Max / DC Comics Duração: 4h02 Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: Ação / Aventura / Fantasia Nota: 4,8 (de 0 a 5)
Filmada na ilha de Oahu, no Havaí, produção atrai público dos 8 aos 80 anos (Fotos: Jennifer Rose Clasen e Colleen E. Hayes/Netflix)
Silvana Monteiro
"Em Busca de Ohana" ("Finding Ohana") é um filme de aventura, que marca a estreia de Jude Weng como diretora, tendo como roteirista Christina Strain. O título estreou na Netflix em 29 de janeiro de 2021 e desde então se mantém entre os dez mais vistos da plataforma.
Com um roteiro que evidencia a previsibilidade, a obra é uma inspiração infantojuvenil no estilo Indiana Jones e lembra bastante sagas como "Jumanji" e "Viagem à Ilha Misteriosa". O elenco ainda é pouco conhecido, mas a fotografia das belas paisagens da Ilha de Oahu, no Havaí, onde foi gravado, supera os pequenos deslizes.
O filme conta a história de Pili (Kea Peahu), uma menina espoleta que vive com a mãe Leilani (Kelly Hu) e o irmão Ioane (Alex Aiono) em Nova Iorque. Nas férias, eles precisam ir ao Havaí para rever o avô Kimo (Banscombe Richmond) que não está nada bem em vários aspectos da vida.
Descontentes, a menina e o irmão são sempre confrontados, vivem às turras e pressionados a reverem a cultura do lugar em que nasceram, mas de onde tiveram que mudar por causa de uma fatalidade familiar.
Ao encontrar um velho objeto do avô, o senso de escoteira e o espírito aventureiro da menina que em Nova York praticava geocaching (*) vão falar mais alto. Ela vai começar a buscar pela mitologia havaiana e pela língua nativa que mal sabe balbuciar e descobrir segredos do passado de sua família.
Enquanto o avô e a mãe tentam se ajeitar em meio às emergências do dia a dia, Pili e o amiguinho Casper (Owen Vaccaro) decidem explorar sozinhos uma montanha sagrada da região. Começa aí uma corrida rumo ao desconhecido que vai envolver também Ioane e Hana (Lindsay Watson) uma linda jovem nativa.
Os quatro aventureiros vão viver momentos de desespero, medo, alegrias e magia e descobrir a força da união. Uma história para segurar pequenos e grandes aventureiros no sofá. Reúna a família e aperte o play.
(*) Geocaching é um passatempo e desporto de ar livre no qual se utiliza um receptor de navegação por satélite, como o GPS, para encontrar uma "geocache" (caixa, cache) colocada em qualquer local do mundo.
Ficha técnica:
Direção: Jude Weng Duração: 2h03 Exibição: Netflix Classificação: 10 anos País: EUA Gêneros: Ação / Aventura / Família / comédia
Joe e 22 vivem grandes aventuras entre a vida terrena e uma
existência espiritual (Fotos: Disney-Pixar/Divulgação)
Maristela Bretas
E se você tivesse uma segunda chance de viver, o que
mudaria? Já parou para pensar se fez a escolha certa? Pois foi com esta
abordagem e uma ótima trilha sonora que a animação "Soul", da
Disney/Pixar foi lançada diretamente na plataforma de streaming Disney Plus.Enquanto "Divertida Mente" (2015) e "ToyStory 4" (2019) foram
destinados à criançada, com muita cor e personagens divertidos, mas uma
mensagem direta aos públicos jovem e adulto, "Soul" definitivamente
foge deste padrão e não é para criança.
A animação trata do propósito da vida, as escolhas - certas
ou erradas - que fazemos enquanto estamos vivos e que vão ser avaliadas quando
passarmos para outro plano. Com direção de Pete Docter e Kemp Powers,
"Soul" conta a história de Joe Gardner (voz de Jamie Foxx), um
simpático pianista e professor de música do ensino médio que sonha em se tornar
um músico profissional e brilhar como os grandes nomes do jazz. Uma paixão
aprendida com o pai e que ele considera sua razão de viver.
Um passo em falso, no entanto, muda seus sonhos e ele
precisará reavaliar tudo o que acreditava e aceitar o que virá pela frente. E
ainda ensinar uma alma da pré-vida muito fofa e rebelde - a
22 (voz de Tina Fey) - a gostar e se adaptar à vida terrena. A pré-vida é um
lindo e colorido lugar onde as novas almas conquistam suas personalidades,
peculiaridades e interesses, antes de irem para a Terra e ocuparem novos
corpos. As crianças poderão gostar das "alminhas" da pré-vida que
estão esperando sua chance e aprontam todas. Mas só.
Joe não aceita a morte e menos ainda a incumbência de ser
babá e fará de tudo para voltar ao seu antigo corpo. Ele só pensa em música e
se cobra por não ter atingido o sucesso que o pai esperava e que a mãe (dublada
por Angela Basset) preferia que não existisse. Ele não consegue se ver fazendo
outra coisa e não abre seus horizontes, mas também é inconformado com o que
conseguiu na vida.
Já 22 é rejeitada por todos em sua dimensão e não consegue
descobrir qual a sua missão. E será sua convivência com o mentor que irá lhe
ajudar a descobrir respostas para perguntas importantes sobre sua existência.
Algumas abordagens são complicadas e geram dúvidas até mesmo
em adultos.Uma animação boa para ser analisada por psicólogos e
psicanalistas. Em meio a aventuras, corpos trocados e a descoberta de prazeres,
delícias e também tristezas, Joe e 22 vão entendendo quais os seus propósitos
na vida e quais podem ser deixados de lado, por não serem tão importantes
quanto esperavam.
"Soul" é bonito e sensível. A trilha sonora,
especialmente formada por jazz, fazem o coração da gente bater forte. Mexe com
o espiritual e o sentimento ao tratar a aceitação da morte. Oferece um show de
sons, imagens e encantamento quando as notas começam a fluir do piano de Joe ou
da banda que ele acompanha. Apesar de não provocar risadas ou choro, como
alguns sucessos anteriores da Disney/Pixar, a animação é inspiradora e merece
ser vista.
Ficha técnica: Direção: Pete Docter e Kemp Powers Exibição: Disney+ Duração: 1h40 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Animação / Aventura / Família Nota: 4 (de 0 a 5)
O @cinemanoescurinho consultou seus seguidores sobre as
séries que mais gostaram de assistir em 2020. Não precisava que tivessem sido
lançadas no ano passado. Na lista entraram diversos gêneros: policial, aventura,
ação, ficção, drama, suspense e até documentário. Os títulos com link você encontra crítica no blog.
Todas as indicações estão em exibição nas várias plataformas
de streaming disponíveis no Brasil. E se a sua série preferida ficou de fora,
envie um comentário que ela será acrescentada na listagem. Muito obrigada a
todos que participaram, vocês foram as estrelas desta postagem.
Liu Yifei entrega uma ótima interpretação da guerreira chinesa que precisou se passar por homem para mostrar seu valor (Fotos: Jasin Boland/Disney)
Maristela Bretas
Sem perder a fantasia, o que é esperado de uma produção dos estúdios Disney, o remake de "Mulan" é a produção que mais se aproxima de um filme e menos de um live-action. Claro que a computação gráfica corre solta. E precisava ser assim para uma produção que destaca as lutas marciais e a cultura milenar chinesa, que apesar de rica, possui valores extremamente machistas.
O live-action expõe esses valores, tanto no casamento arranjado, quanto na vergonha dos pais por não terem filhos, apenas filhas. As mulheres só servem para servir. Esses são os maiores inimigos da guerreira.
No filme, Mulan recebeu o tratamento esperado para uma das mais marcantes mulheres do universo Disney. A personagem é apresentada ainda mais forte que no desenho de 1998 - uma jovem corajosa que prova ser capaz de lutar e defender seus ideais, mas que precisa se passar por um homem para mostrar seu valor.
Para o papel foi escolhida a atriz chinesa Liu Yifei, que dá conta do recado, interpretando a jovem rebelde, poderosa e destemida, que não se deixa dobrar, mesmo quando é menosprezada por causa de seu sexo. Yifei também consegue passar a fragilidade e a inocência da jovem descobrindo o mundo exterior e o amor.
Como na versão animada, Mulan se disfarça de homem e assume o lugar do pai para se tornar uma guerreira que deseja ajudar o exército do imperador a defender a China contra invasores que contam com a magia da bruxa Xian Lang (papel de Gong Li). Ela adota o nome de Hua Jun e terá de esconder de todos sua verdadeira identidade. Durante sua jornada de treinamento e batalhas, Mulan também irá descobrir os poderes que carrega de seus ancestrais.
Com um figurino impecável, semelhante também a muitas partes do desenho, "Mulan" explora muito bem as cores, tanto nas roupas usadas por mulheres, guerreiros e imperador quanto nas plumas da fênix e na decoração do castelo imperial. A fotografia é outro ponto forte, chega a ser uma obra de arte em alguns momentos, como a imagem de Mulan sozinha no deserto.
Outro destaque do filme é a trilha sonora, composta por Harry Gregson-Williams. Christina Aguilera arrasa na interpretação da clássica "Reflection", do desenho original, e da canção-tema "Loyal Brave True". Também ficou ótima a versão dublada em português da canção "Lealdade Coragem Verdade" interpretada por Sandy, que solta a voz numa bela performance. Clique nos links para conferir.
O elenco do filme ainda é formado por Jet Li ("Mercenários 3"- 2014), no papel do Imperador chinês; Donnie Yen ("Rogue One" - 2016), como o comandante Tung; Jason Scott Lee ("O Sétimo Filho" - 2015), como Bori Khan, além de vários outros atores chineses.
Quem assistiu o desenho vai sentir falta de dois importantes personagens na vida de Mulan: Mushu, que dá lugar a uma fênix colorida que representa os ancestrais da jovem e que vai protegê-la em sua jornada. E Grilo, substituído por soldados do batalhão da guerreira que serão seus grandes aliados.
Uma pena que, por causa da pandemia de covid-19 e das medidas de isolamento social "Mulan" precisou ter sido lançado. É um filme que merecia ser exibido nas telas de cinema por sua grandiosidade nas imagens e figurinos. Ele pode ser conferido na plataforma Disney+, apenas para assinantes.
Ficha técnica: Direção: Niki Caro Exibição: Disney+ Duração: 1h55 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Aventura / Ação / Fantasia Nota: 4 (de 0 a 5)
Plataforma de streaming estreou
no Brasil com um catálogo de seus maiores sucessos do passado e do presente (Disney/Divulgação)
Maristela Bretas
Apesar de ser uma apaixonada pela
franquia Star Wars, paixão que passei para meu filho, foi com uma marcante
animação infantil de 1955 que fiz minha estreia no Disney+. A escolha foi por
um famoso casal canino que se apaixona enquanto come um prato de espaguete com
almôndegas, à luz de velas e ao som da linda canção italiana "Bella
Notte". Sim, "A Dama e o Vagabundo" ("Lady and The
Tramp") foi o filme escolhido para me fazer voltar a um tempo de pura
magia.
Claro, rios de lágrimas de
saudade, alegria, boas memórias e a certeza que o desenho animado (como era
chamado) ainda é capaz de emocionar. E como não poderia deixar de ser, assisti
na sequência o live-action da história, que não chegou a estrear no cinema por
causa da pandemia."A Dama e o Vagabundo"
de 2019 consegue dar vida ao par principal, o que não ocorreu com "O Rei
Leão". Talvez porque histórias com cães sempre despertaram mais atenção do
público.
Nesta versão foram usados animais
de verdade, que ganham uma "personalidade especial" graças à
computação gráfica que foi usada pelos produtores na medida certa para que o
romance e a aventura fluíssem sem parecer uma coisa plástica.
Há também a preocupação em mudar
conceitos do passado. Enquanto no desenho há cenas de cigarros, não existem
negros no elenco e as cenas mais empolgantes são protagonizadas pelo sexo
masculino, na live-action isso cai por terra. As mulheres ganham destaque, a
partir de Querida, dona de Lady, que agora é negra, assim como seu filho (no
original ambos eram louros e brancos), casada com um músico branco. É dela que
partem as decisões importantes.
O mesmo acontece com a cadelinha,
que deixa a versão mimada para protagonizar o filme de igual para igual com
Vagabundo. Mas sem esquecer seu papel de guardiã de todos da casa, especialmente
do bebê que acabou de chegar. Mesmo que ele tenha tomado seu lugar na
preferência dos donos.
Também um dos amigos de Lady,
deixa de ser Joca e passa a ser uma Terrier escocesa de nome Jaque, cuja dona
tem hábitos excêntricos. Claro que outro amigo, o velho Caco, também está nesta
versão, mas batizado como Faro. Além dos amigos de rua de Vagabundo, como Peg e
Bull, que agora formam um casal.
Além dos diálogos também o
roteiro foi modificado para que acompanhasse a evolução dos tempos, mas nada
que tirasse a essência dessa bela história de amor entre uma cadelinha Cocker
Spaniel americana doméstica e um vira-lata muito esperto, mas de coração mole
que gosta de viver livre. Como no desenho, o live-action de "A Dama e o
Vagabundo" tem muita aventura, romance efeitos especiais e encantamento.
Merece ser visto. E o desenho revisto.
Disney+
Desenhos animados marcaram a
infância de muitas gerações e se hoje eles vêm ganhando uma nova roupagem com
as versões live-action (nem sempre acertadas) é porque ainda ocupam um lugar
especial no coração e na memória das pessoas. A entrada da plataforma de
streaming Disney+ no Brasil retoma boas lembranças
de um passado que remetia a castelos, florestas, príncipes e princesas.
Histórias que faziam o maior dos durões se desmanchar em lágrimas. Ainda tenho
em fita VHS muitos desses sucessos, gravados para mostrar a meu filho o poder
da magia.
Se o passado é marcante, não
menos importantes são as produções atuais, capazes de darem vida e sentimentos
a brinquedos e personagens que mereciam uma atenção especial. Ou proporcionar
grandes batalhas com sabres de luz e naves velozes. Sem esquecer os
super-heróis de várias origens e raças - verdes, brancos, negros e até vegetais
- que se unem para defender o planeta.
Não importa a idade de quem está
assistindo ou o aparelho escolhido para exibição. Seja um desenho animado, uma
saga com grandes efeitos especiais, um live-action ou um documentário. O que
vale é reviver grandes sucessos, do passado ou do presente que mexem com as
emoções e trazem magia e encantamento. E nisso, a Disney sempre se destacou.
Millie Bobby Brown é a protagonista com sangue investigativo
e capacidade de decifrar enigmas (Fotos: Alex Bailey / Legendary Pictures)
Maristela Bretas
Poderia ser apenas um filme sobre a irmã caçula do mais
famoso detetive britânico, mas "Enola Holmes", uma das estreias da
Netflix, entrega uma aventura que prende do início ao fim. Graças,
especialmente, à interpretação da talentosa Millie Bobby Brown como a
protagonista capaz de driblar ate mesmo a astúcia de Sherlock.
Millie também é uma das produtoras do filme. Mas se tornou
conhecida do público por seu papel como Eleven, a jovem misteriosa com poderes
especiais da série de sucesso "Stranger Things" (2016 a 2019), da
mesma plataforma de streaming. Ela mostra que foi amadurecendo a cada temporada
da série até ganhar sua própria produção, fazendo inclusive a narração da
trama. E se saiu muito bem.
O filme é baseado no livro "Enola Holmes: O caso do
marquês desaparecido", o primeiro da coleção infantojuvenil de Nancy
Springer. A autora escreveu mais cinco obras com histórias da jovem
investigadora (de 2006 a 2010). E se depender do interesse do público,
"Enola Holmes" pode também se transformar numa série.
Enola ("Alone" ao contrário) é uma jovem de 16
anos (na obra ela tem 14) educada sozinha pela mãe (vivida por Helena Bonham
Carter), uma mulher libertária, culta, muito além de seu tempo, que ensina à
filha artes, ciência, lutas, esportes e, especialmente, como decifrar enigmas.
A história se passa na Inglaterra em pleno século XVIII, quando as mulheres
queriam o direito de votar.
Sem explicações, a mãe desaparece e deixa Enola sob a
responsabilidade dos irmãos mais velhos - Sherlock (papel do belo Superman,
Henry Cavill) e Mycroft (interpretado por Sam Claflin, de "Como Eu Era Antes de Você" - 2016). Este último, nomeado tutor da jovem, não quer a
responsabilidade e pretende colocá-la num internato para formação de moças da
sociedade. Apesar de sua astúcia e experiência, Sherlock não consegue
acompanhar o raciocínio e a destreza da irmã caçula para desvendar enigmas e se
orgulha da inteligência dela.
Cavill, mais lindo do que nunca, entrega boa atuação como o
famoso investigador e é o irmão compreensivo, mas distante. Seu personagem fica
apagado perto do de Millie Bobby, que domina as cenas. Ele também está aquém do
Sherlock vivido por Benedict Cumberbatch na série de TV (2010) e das versões
para o cinema de Robert Downey Jr. (2009, 2011 e um terceiro filme previsto para
o final de 2021). Ironicamente, os "Vingadores" venceram novamente a
"Liga da Justiça".
É o sangue investigativo dos Holmes que vai fazer Enola
buscar respostas para o sumiço da mãe e tentar encontrá-la. Pelo caminho,
muitas aventuras e um adolescente que praticamente cai sobre ela - lorde
Tewkesbury, marquês de Basilwether (papel de Louis Partridge). Ele está fugindo
de sua família, mas passa a ser perseguido por um assassino.
O casal que se forma é simpático, tem uma boa química e agrada
ao público, mas é Millie quem comanda toda a ação e aventura ao tentar ajudar o
novo amigo a se esconder. Este se torna o primeiro caso de investigação de
Enola, que precisa descobrir por que estão tentando matá-lo.
"Enola Holmes" oferece belas locações e figurinos
fiéis à Inglaterra da era vitoriana, no Reino Unido. Para completar, uma ótima
trilha sonora, sob a batuta de Daniel Pemberton. Entre os sucessos estão
"Celebrity Skin", da banda Hole, formada somente por mulheres, que também foi tocada em "Capitã
Marvel". E a música-tema "Enola Holmes (Wild Child)".
Nessas idas e vindas, muita aventura, romance no ar,
charadas e jogo de palavras que definem toda a trama, bem no estilo de Sherlock
Holmes. Só que agora, comandada por uma jovem muito astuta que pode ser uma
concorrente à altura. Millie Bobby Brown é a grande estrela do filme, mostra
poder, segurança e representa bem uma jovem mulher independente, que sabe o
rumo que dará a sua vida. Vale muito a pena conferir seu novo sucesso.
Produção conclui o universo animado da DC Comics baseado na fase dos Novos 52 (Fotos: Warner Bros. Animation/Divulgação)
Jean Piter Miranda
No futebol existe um ditado: "A melhor defesa é o ataque". Isso também é utilizado hoje em dia no MMA (artes marciais mistas). Na prática, a gente sabe que não é bem assim. Quando você ataca, sua defesa fica um tanto vulnerável. E vice e versa. Em se tratando de estratégia, muitas vezes o inimigo baixa a guarda esperando que você ataque para então te atingir com um contragolpe. E é bem isso que a gente vê em "Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips", a nova animação da DC Comics.
Tudo começa quando o Superman convoca toda a Liga da Justiça para atacar o planeta Apokolips, governado por Darkseid. A ideia não parece muito boa, já que o supervilão é um dos maiores e mais fortes inimigos que o grupo já enfrentou. A justificava do Homem de Aço é razoável: Darkseid tem destruído e conquistado centenas de planetas, usando exércitos de parademônios. E ao que tudo indica, a Terra é o próximo alvo.
Juntos, eles podem derrotar o tirano. Os parademônios são vistos como problemas menores, uma vez que a Liga já enfrentou e venceu esses seres. E Batman dá o aval. “Sabemos quais são seus pontos fracos”. Então, todos seguem para Apokolips.
Os Jovens Titãs e a Liga da Justiça vão ao encontro de Darkseid, mas o vilão estava preparado. Os tais super demônios estavam muitos mais fortes e os heróis foram massacrados. Muitas baixas e alguns sobreviventes. E aí que começa a história.
John Constantine precisa reunir os sobreviventes para atacar o vilão antes que o que sobrou da Terra vire cinzas. Superman, Ravena, Robin, Etrigan e até mesmo membros do Esquadrão Suicida se juntam para encontrar uma forma de voltar à Apokolips.
Embora sejam muitos personagens e muitos acontecimento, o filme transcorre bem. Num ritmo muito bom. As histórias dos personagens não são aprofundadas. Mas nem precisa. Dá pra entender a origem e o propósito de cada um na trama. Cada tem sua importância.
As cenas de ação são muito boas. Tem muita porrada e sangue e é até violento se comparado com os outros filmes de animação. Mas isso não é ruim. Na verdade, funciona como um diferencial positivo. Somado a um clima de tensão de um grupo reduzido, enfraquecido e traumatizado que vai precisar enfrentar justamente o vilão que venceu e humilhou os heróis mais fortes do universo.
Ravena, seu pai Trigon e Constantine são os protagonistas, mesmo com Batman, Mulher-Maravilha, Superman, Lanterna Verde, Shazam, Flash, Cyborg e Aquaman no filme. O que deixa a história bem mais interessante.
O nível de dificuldade do vilão, as perdas, os mundos destruídos e as limitações dos heróis que sobraram trazem a sensação constante de que nada mais pode ser feito, e que a guerra já está perdida. Não dá pra fazer previsões. O desenrolar da história traz muitas surpresas que certamente vão agradar em muito aos fãs. "Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips" está disponível em Blu-Ray nos Estados Unidos e online pelo Google Play para o resto do mundo. O filme dá sequência à animação "Liga da Justiça Sombria", de 2017, e encerra o universo estendido das animações da DC Comics baseadas na fase dos Novos 52.
Ficha técnica:
Direção: Matt Peters e Christina Sotta Produção: Warner Bros. Animation Distribuição: Warner Home Video Duração: 1h30 Gêneros: Ação / Animação País: EUA Classificação: 16 anos Nota: 4 (0 a 5)
Robert Downey Jr. repete a clássica história do médico que conversa com os animais (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)
Maristela Bretas
Uma retomada ao clássico infanto-juvenil "Dr. Dolittle" com grandes estrelas e muitos efeitos especiais. Este é "Dolittle", a nova versão em cartaz no cinema que tem como protagonista Robert Downey Jr., após sucessos como Homem de Ferro, na franquia "Vingadores", ou como Sherlock Holmes. O longa usa e abusa da computação gráfica, superando os anteriores (1998 e 2001) que tiveram Eddie Murphy no papel do médico veterinário que conversa com os animais. O que era esperado.
Na nova versão, os bichos têm mais desenvoltura, os sentimentos deles ficam mais sinceros nos olhares e nos diálogos. E eles passam mais vida e carisma que os personagens de "Rei Leão", apesar da alta tecnologia usada na live-action da Disney. Faltou apostar mais na aventura. O filme fica morno em alguns momentos, mas os animais logo tratam de mudar isso. Além da ótima interpretação de Robert Downey Jr., que ajuda a salvar a produção de US$ 175 milhões.
O ator tenta ser o mais divertido possível, mas ainda mantém cacoetes de seu personagem de super-herói, inclusive a prepotência de sempre achar que não precisa de ninguém. Ele conduz bem seu papel e as cenas divididas com os animais são muito boas. Principalmente suas brigas com a arara Polly (voz original de Emma Thompson), que chama Dolittle na responsabilidade quando ele passa dos limites. Ou com o medroso gorila Chee-Chee (voz de Rami Malek) e o urso polar Yoshi (John Cena).
Um dos destaques do filme é a trilha sonora, especialmente a canção "Original", interpretada por Sia, e a versão épica para a clássica "What a Wonderful World", de Louis Armstrong, feita por Reuben and The Dark e AG, que emociona.
O elenco animal conta com vozes de outros nomes famosos do cinema: a pata Dab-Dab (Octavia Spencer), o cão Jip (Tom Holland), o tigre neurótico Barry (Ralph Fiennes), a raposa Tutu (Marion Cotillard) e a girafa Betsy (Selena Gomez). Já entre os humanos, destaque para Antonio Banderas (Rei Rassouli), Michael Sheen (o invejoso Dr. Blair Müdfly, que não aceita o dom de Dolittle) e Jim Broadbent (como lorde Thomas Badgley, que deseja tomar o trono da jovem rainha Vitória, papel de Jessie Buckley).
Apesar do elenco de peso de dubladores, a versão em português deixa os diálogos mais engraçados. As falas de Dolittle também ganham mais sarcasmo na voz do dublador brasileiro de Downey Jr. As crianças vão se divertir com as aventuras do físico, que também é médico veterinário, seu assistente Tommy Stubbins (Harry Collett) e a bicharada da reserva animal mantida pelo excêntrico Doutor Dolittle. Vivendo em total isolamento do mundo humano após uma tragédia, ele recebe um chamado urgente da rainha da Inglaterra e precisará da ajuda de todos os seus amigos animais para realizar sua missão.
"Dolittle" é um bom entretenimento e tinha todos os recursos para bater os filmes anteriores. Mas pecou se perdeu ao entregar um filme de pouca ação, apesar dos diálogos engraçados, do colorido de passar boas lições de amizade, respeito aos animais e fidelidade. Mas ainda indico como uma boa opção para levar as crianças numa sessão de fim de semana.
Ficha técnica: Direção: Stephen Gaghan Produção: Universal Pictures / Perfect World Pictures / Team Downey Distribuição: Universal Pictures do Brasil Duração: 1h42 Gêneros: Comédia / Aventura / Família País: EUA Classificação: 10 anos Nota: 3,5 (0 a 5)