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25 janeiro 2019

"Green Book: O Guia" inverte os papéis para expor o racismo e a hipocrisia

Mahershala Ali é o pianista Don Shirley que contrata Tony Lip (Viggo Mortensen) para ser seu motorista e segurança durante uma turnê  (Fotos: Diamond Films/Divulgação)

Maristela Bretas


Uma jornada de conhecimento, mudança de conceitos e exposição aos preconceitos diários que mudaram pouco nos últimos 60 anos. Assim é "Green Book: O Guia", do diretor Peter Farrelly, que está como um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme, além de já ter conquistado várias premiações. Com bela fotografia, a produção segue o estilo road movie, cortando os Estados Unidos de Norte a Sul de carro e expondo o comportamento e o preconceito racial dos moradores de cada localidade por onde passa.

As mudanças são claras a cada quilômetro percorrido e valem principalmente para os personagens principais - Tony Lip (Viggo Mortensen) e Dr. Don Shirley (Mahershala Ali). O primeiro, apesar do jeito grosseirão, é um bom marido, ótimo pai, que prefere se manter afastado dos negócios escusos de amigos e familiares italianos da periferia, mas que precisa se virar para sustentar a família após perder o emprego em um cassino. 

O segundo é um homem solitário, que vive enclausurado num apartamento luxuoso em Nova York, dividido entre ser aceito pelos brancos para quem se apresenta e sem conseguir se encaixar entre os negros como ele, que na maioria das vezes são menosprezados pelos brancos. Eles terão de conviver e dividir espaços por dois meses, o que irá forçá-los a expor suas virtudes e fraquezas. A proposta deste drama, baseado na história real da amizade dos dois, é fazer pensar e levar as pessoas a reavaliarem seus conceitos de cor, raça e descendência.

Se para a dupla principal a convivência se torna um aprendizado para ambos, explorar a questão da cor em sociedades diferentes se torna algo mais difícil. Especialmente nos estados sulistas norte-americanos, onde o negro é tratado quase como escravo e mesmo no caso de Shirley, serve apenas como um entretenimento dos brancos, mas não pode usar o banheiro de uma casa ou jantar entre os brancos. Causa repulsa tais atitudes e dificilmente o público sairá indiferente às situações mostradas. Um claro exemplo está no nome do guia rodoviário entregue a Tony Lip pelo agente musical de Shirley antes da viagem: Green Book é um livro que indica quais os hotéis do sul do país que aceitavam negros como hóspedes.

Em algumas premiações,  “Green Book – O Guia” foi colocado na categoria de comédia, mas poucos são os momentos engraçados. Os diálogos, os apertos e as situações vividas pelos protagonistas se mostram muito atuais apesar de ter se passado nos anos de 1960. Tony percebe no decorrer da viagem que o preconceito a Shirley se estende também aos imigrantes como ele. Não se trata só da cor da pele, mas de raça e cultura (ou falta dela).

“Green Book – O Guia” é inspirado na emocionante história de dois homens antagônicos, cada um com seu preconceito e postura arrogante. De um lado, Tony Lip, contratado como segurança e motorista do famoso músico Dr. Don Shirley. Durante os dois meses da turnê do músico pelo sul dos Estados Unidos, eles devem seguir "O Guia" que indica os locais de hospedagem seguros para negros na região. À medida que a dupla vai descendo, cresce o racismo e as situações de humilhação, enfrentadas por Shirley, que passam a desagradar Tony. A união destes dois provocará uma profunda mudança em suas vidas.

A biografia tem também outro detalhe interessante. O roteiro foi escrito pelo diretor Peter Farrelly e Nick Vallelonga, filho de Tony Lip, que conhecia bem a história dos dois amigos que durou anos. Vale também lembrar que “Green Book – O Guia”  tem uma bela trilha sonora composta por Kristopher Bowers, principalmente nas apresentações ao piano de Shirley.

A produção recebeu cinco indicações para o Oscar 2019, todas merecidas, principalmente as de Melhor Filme, Melhor Ator (Viggo Mortensen) e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), cujas atuações estão excelentes e ambos deveriam estar disputando em igualdade o prêmio de Melhor Ator. O filme também foi indicado às estatuetas de Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. 

"Green Book: O Guia" já conquistou três Globo de Ouro nesse ano: Melhor Filme Comédia ou Musical, Melhor Roteiro (Peter Farrelly, Nick Vallelonga e Brian Currie) e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali, que levou o mesmo prêmio também no Critic's Choice Awards). Em 2018, o longa foi vencedor do Festival de Cinema de Toronto. Uma avaliação: simplesmente imperdível.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Peter Farrelly
Produção: Dreamworks Pictures / Participant Media / Wessler Entertaiment
Distribuição: Diamond Films Brasil
Duração: 2h10
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #GreenBookOGuia, #ViggoMortensen, #MahershalaAli, #drama, #biografia, #DonShirley, #racismo, #historiareal, @DiamondFilms, @cinemanoescurinho


21 dezembro 2018

Incrivelmente atual, "Colette" é oportuno, instigante, sensual e feminista

Keira Knightley está ótima interpretando a escritora francesa libertária dos anos de 1900 (Fotos: Mars Films/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Para se ter uma ideia do pioneirismo da escritora francesa Sidonie Gabrielle Colette, basta citar dois títulos dos seus quase 50 livros: "A ingênua libertina", de 1909, e "A vagabunda", de 1910. Sem falar da sua série mais famosa sobre Claudine, personagem baseada na própria autora, libertária, moderna e à frente do seu tempo. 

Para completar, ela se casa com Willy, escritor picareta que assina todos os escritos da mulher, convencendo-a de que ele, como homem, é o único que tem alguma chance no mercado literário. Ou seja, sua vida é praticamente um roteiro pronto. 

E como viveu a vida real como se fosse um personagem - mulher atrevida e corajosa - a história de Gabrielle só podia mesmo resultar em um filme instigante, cheio de nuances e rico como ela. E a atriz Keira Knightley interpreta isso muito bem. Impressionante como lhe caem bem os trajes de época e sua cara de menina/mulher. Não deve ser por acaso que ela atuou também em "Orgulho e Preconceito" (2005), "Desejo e Reparação" (2007), "Anna Karenina" (2012), entre outros. 

Dominic West enriquece seu Willy, dando-lhe tons sedutores, ambíguos, quase malandros. Eleanor Tomlinson como a bela Georgie, e Denise Gouggh como a masculinizada Missy, brilham como amantes da escritora, imprimindo uma sensualidade delicada e bonita nas cenas mais ousadas. Tudo na medida. Estranho é que essa boa história, contada num filme chamado "Colette", dirigido por Wash Westmoreland ("Para Sempre Alice") e produzido em parceria com a Grã-Bretanha, Hungria e Estados Unidos, seja falado em inglês. 


Embora Gabrielle Collete seja uma escritora tipicamente francesa e tenha vivido o auge da loucura e da boemia parisiense, não há nenhuma participação da França na produção, o que, por vezes, soa falso. São muitas e lindas as cenas que mostram a Paris dos anos de 1900, quase se chocando com o idioma dos personagens, todo mundo só falando inglês.


Sidonie Gabrielle Collete nasceu no interior da França em 1893 e morreu em 1954. No entanto, por incrível que possa parecer, o filme sobre sua vida permanece atual. Não são tão raros assim, nos dias de hoje, homens que exploram o talento e/ou o trabalho de suas mulheres, outras vezes depreciando-as para subjugá-las e tornarem-se eles os donos da relação. Se fosse hoje, seria correto dizer que ela viveu, durante muitos anos, um relacionamento abusivo. Por essas e outras, "Colette" é um filme oportuno e exemplar. Imperdível.
Duração: 1h52
Classificação: 14 anos
Distribuição: Diamond Films Brasil



Tags: #Colette, @KeiraKnightley, #SidonieGabrielleColette, #drama, #biografia, #DiamondFilmsBR, @DiamondFilmsBR, @cinemanoescurinho

05 novembro 2018

"Chacrinha" dá uma pincelada nos bastidores da vida do Velho Guerreiro

Stepan Nercessian brilha balançando a pança e comandando a massa no comando do cassino mais irreverente da TV brasileira (Fotos: Globo Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


"Roda, roda, roda e avisa, um minuto de comercial, alô, alô Terezinha, é um barato o Cassino do Chacrinha". É isso mesmo, o Velho Guerreiro está de volta, agora na pele de seu melhor imitador, Stepan Nercessian, com todos os jargões que marcaram sua trajetória - "Vocês querem bacalhau?", "Quem não se comunica, se trumbica", "Na televisão nada se cria, tudo se copia" são lembrados até hoje pelo público acima de 40 anos. E é como uma pincelada na vida deste comunicador que estreia nesta quinta-feira nos cinemas "Chacrinha - O Velho Guerreiro".

O filme é dirigido por Andrucha Waddington, responsável também pelo ótimo "Sob Pressão" (2016), agora transformado em série de TV, que trouxe para as telas o espetáculo musical, sucesso no teatro e que consagrou Nercessian no papel de José Abelardo Barbosa, o Chacrinha. O ator está na lista dos preferidos do diretor, com quem já trabalhou em "Sob Pressão" (continuando na série), "Rio, Eu Te Amo" (2013), "Os Penetras" (2012) e "Os Penetras 2 - Quem Dá Mais" (2017). Ele incorporou o personagem e entrega uma excelente interpretação, como se estivesse homenageando um ídolo que marcou sua geração.

No papel de Chacrinha, rapaz cearense recém-chegado ao Rio de Janeiro, está Eduardo Sterblitch, que se saiu muito bem. A linda Gianne Albertoni interpreta Elke Maravilha (tão linda quanto em sua juventude), a eterna protegida de Chacrinha, a quem ele tratava como filha e era retribuído com o mesmo carinho, segundo o filme. Carla Ribas é Florinda, mulher de Chacrinha, que praticamente criou os três filhos sozinha, enquanto o marido só queria saber de trabalho. Rodrigo Pandolfo é Jorge, filho mais velho, e Pablo Sanábio faz os gêmeos Leleco e Nanato.

A atriz Laila Garin tem a responsabilidade de interpretar a inesquecível Clara Nunes, descoberta por Chacrinha e que depois se tornou amante dele durante um período. Isso é mostrado no filme como um "deslize" do Velho Guerreiro que teria sido perdoado por D. Florinda. Já a chacrete Rita Cadilac passou quase despercebida, com uma fraca interpretação de Karen Junqueira. Do jeito que a personagem foi tratada na trama era dispensável sua participação. Uma pena, pois foi a mais marcante de todas no programa da TV.

Do baterista improvisado de uma banda que tocava em cruzeiro marítimo a um dos maiores comunicadores do país, a história mostra que Chacrinha não era um santo: moralista, intransigente, cabeça dura que não aceitava conselho nem ordens, mas doce e carismático com quem lhe interessava. Só pensava na carreira e no programa, tinha amigos, mas era cruel quando queria descartá-los, como fez com Osvaldo, personagem interpretado por Gustavo Machado (quando jovem) e Antonio Grassi (aos 60 anos), que descobriu seu talento e o ajudou na carreira.

Abelardo Barbosa começou dividindo o tempo entre anúncios com megafone em porta de loja e locutor dono de voz e apresentação diferenciadas de uma pequena rádio de Teresópolis, no Rio. Passou pelas principais emissoras de rádio e TV nas décadas de 1950 a 1980, e graças ao gênio difícil, saiu de muitas delas brigado com os chefes, como aconteceu com José Bonifácio de Oliveira, o Boni (papel de Telmo Junqueira), da Rede Globo. , da Rede Globo.

Considerava a família importante, mas passava o mínimo de tempo com a mulher e mal viu os filhos crescerem. A pouca mudança no comportamento do já Velho Guerreiro aconteceu com a tragédia envolvendo Nanato, que foi casado com Wanderléa, outra das centenas de talentos descobertos e incentivados por ele em seu show de calouros, como Roberto Carlos, Wilson Simonal, Secos e Molhados e por aí vai.

A boa reconstituição de época é resultado da coprodução com a Globo Filmes e todo o acervo sobre o comunicador, que durante anos fez parte do quadro de atrações da emissora de TV do Grupo. O enredo peca ao abordar de forma bem superficial assuntos espinhosos da vida de Chacrinha, deixando algumas passagens de tempo confusas.

O filme tem uma boa condução, sem seguir regras como o personagem principal, que não aceitava ordens nem conselhos e não era o melhor dos exemplos. Mas para o público ele reinou único e absoluto, admirado inclusive pelos concorrentes, como Flávio Cavalcante (interpretado por Marcelo Serrado), apresentador da TV Tupi na época. "Chacrinha - O Velho Guerreiro" serve para relembrar bons tempos e conhecer algumas situações da vida do chefe do cassino mais irreverente e alegre cassino da TV brasileira, programa obrigatório nas noites de domingo e depois nas tardes de sábado, até 2 de julho de 1988, quando foi encerrado.


Ficha técnica:
Direção: Andrucha Waddington
Produção: Conspiração Filmes / Globo Filmes / Media Bridge
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Gêneros: Ficção/ Drama /Biografia
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #ChacrinhaOVelhoGuerreiro, #Chacrinha, #biografia, #drama, #EspaçoZ, #cinemas.cineart, #ParisFilmes,#DowntownFilmes, #ConspiraçãoFilmes #CinemaNoEscurinho

01 novembro 2018

"Bohemian Rhapsody" é homenagem para cantar e chorar com Freddie Mercury

Rami Malek interpreta o vocalista da banda Queen, que arrastou multidões pelo mundo por duas décadas (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Rami Malek é a personificação de Freddie Mercury e atrai para ele toda a força e magnetismo do vocalista da banda Queen na produção "Bohemian Rhapsody", dirigida por Bryan Singer, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. Malek, que também está em cartaz em "Papillon" se entrega por inteiro ao personagem, quase uma reencarnação de uma das maiores vozes do rock, que arrastou multidões pelo mundo entre as décadas de 1970 e 1990 e tem seguidores fiéis até hoje.

Freddie Mercury e Rami Malek (Foto-Montagem)
Uma maravilhosa interpreta- ção, digna de disputar Oscar, que leva às lágrimas, em especial no final, durante a participação do Live Aid, o grande concerto para ajudar as vítimas da fome na Etiópia, em julho de 1985. Assim como Freddie Mercury foi a razão do sucesso da banda Queen, Malek é a alma do filme e presta uma grande homenagem ao vocalista, pianista e compositor que morreu aos 45 anos, vítima de uma pneumonia agravada pela Aids. 

Este drama biográfico não poderia ser completo sem a trilha sonora com grandes sucessos do Queen em seus mais de 20 anos de carreira. E a escolha do repertório foi impecável, mesmo sem colocar todas as composições - até porque seriam necessárias horas de filme para apresentar toda a discografia do grupo britânico. Emociona ver como algumas músicas foram compostas. É o caso de "Love of my Life" e a própria "Bohemian Rhapsody", que dá nome ao filme. Chega a arrepiar quando elas são tocadas.


E para que a biografia não fugisse muito da trajetória real do vocalista e do Queen, que acaba ficando em segundo plano mesmo assim, os ex-integrantes da banda - o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor, além de Jim Beach (empresário do grupo desde 1970) - participaram da produção do filme juntamente com o diretor/produtor Bryan Singer e o ator/produtor Robert de Niro.

Além de Rami Malek, a escolha dos atores que interpretaram os demais integrantes do Queen também foi muito boa, em especial Gwilym Lee, que faz Bryan May, e Ben Hardy, como Roger Taylor. O mais fraquinho é Joseph Mazzello, como o baixista John Deacon, mas deu conta do recado. E cada um dos membros do Queen deixou sua marca nas composições da banda, como May ao criar "We Will Rock You", Deacon com "Another On Bites the Dust" e Taylor com "Radio Ga Ga", todas apresentadas no filme.


Mary Austin, a única mulher a quem Freddie Mercury amou na vida e com quem viveu por muitos anos antes de assumir seu homossexualismo, tem papel importante em toda a história. Para interpretá-la, apesar da pouca semelhança física, foi escolhida a atriz Lucy Boynton ("Assassinato no Expresso do Oriente" - 2017), que ficou muito bem no papel. O restante do elenco conta com Tom Hollander, no papel de Jim Beach (a quem Mercury chamava de Miami Beach), Aaron McCusker, como Jim Hutton, o companheiro de Mercury até o fim da vida, e Aidan Gillen, como John Reid, primeiro empresário da banda. 

"Bohemian Rhapsody" é uma grande homenagem a Freddie Mercury um artista completo, idolatrado e às vezes odiado por sua postura exótica, marcante, provocativa e perfeccionista. E apesar de ter uma voz capaz de comandar milhares de seguidores, tinha medo da solidão. 
Queen original (Reprodução)
Os atritos com o pai, a origem imigrante - nasceu na Tanzânia mas era chamado de paquistanês, - o envolvimento com as drogas e com vários homens que o levaram a contrair Aids e a separação do Queen são abordados no filme. 

A trajetória começa no Live Aid e volta no tempo, quando o jovem Farrokh Bulsara, nome de nascença trocado por Freddie Mercury quando começou a fazer sucesso. de carregador de malas do aeroporto ao fenômeno do rock, bastou o encontro com dois dos integrantes de uma banda de bar (o quarto - Deacon veio por último) para que as canções surgissem e ganhassem as rádios e TVs pelo mundo. "Bohemian Rhapsody" é uma imperdível homenagem ao vocalista que certamente vai encantar os fãs pelo mundo.



Ficha técnica:
Direção e produção: Bryan Singer
Produção: GK Films / 20th Century Fox / New Regency Pictures / Tribeca Productions
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h15
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #BohemianRhapsody, #FreddieMercury, #Queen, #BryanMay, #JohnDeacon, #RogerTaylor, #BryanSinger, #biografia, #espaçoz,  #20thCenturyFox, #cinemas.cineart, #CinemaNoEscurinho

30 outubro 2018

"O Primeiro Homem": para (tentar) desvendar a alma de Neil Armstrong

A escolha de Ryan Gosling para o papel principal é um dos pontos altos do filme dirigido por Damien Chazelle (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


É claro que há cenas lindas da imensidão do espaço, o vazio e o infinito - tudo embalado por uma valsa empolgante capaz de provocar arrepios e fazer o espectador pensar no mistério da vida. Mas elas não são, nem de longe, o mote de "O Primeiro Homem" ("First Man"), filme de Damien Chazelle sobre a vida de Neil Armstrong, o astronauta norte-americano que, em 1969, pisou pela primeira vez na Lua depois de viajar na Apollo 11. 

Desta vez, a corrida espacial é apenas uma desculpa para falar de um jovem tímido, arredio e obstinado, pronto a pagar qualquer preço para cumprir o que parecia uma missão.

Mas, como falar da quase obsessão de um homem real, um pai de família como qualquer outro, se ele é calado, introspectivo e raramente deixa transparecer suas emoções? Eis aí o grande mérito do diretor, que acertou, pelo menos, três vezes: primeiro, ao escolher o talentoso Ryan Gosling, com quem trabalhou anteriormente em "La La Land" (2017), para o papel principal.

Segundo, por privilegiar closes do rosto e dos olhos do ator, permitindo que o espectador pelo menos tente desvendar o que vai na cabeça e na alma do astronauta. E terceiro, ao chamar Claire Foy (atriz premiada na série "The Crown") para o papel de Janet Shearon, mulher de Neil. É ela que humaniza a história e, de certa forma, faz o elo entre o espectador e Armstrong, dando alguns sinais do íntimo do marido, do que ele pensa e sente.

Atores e diretores falam sobre os obstáculos da produção


Damien Chazelle, que dividiu a função de produtor com Steven Spielberg, foi o diretor de "La La Land" e "Whiplash (2015)" - ambos também sobre personagens obstinados -, impõe ao público, em "O Primeiro Homem", torturantes sacolejos, posições e lugares claustrofóbicos como a solicitar sua participação e comprometimento. É como se dissesse: "Sintam como foi difícil ser astronauta e pioneiro em 1969".

Mesmo assistindo ao filme em projeções normais em 2D, há quem tenha saído do cinema com um pouco de enjoo no estômago, tamanha a turbulência das aeronaves - uma forma de mostrar como eram rudimentares as máquinas. E como corriam riscos os homens que se aventuravam naquele empreendimento incentivado a qualquer custo pelo governo norte-americano, preocupado unicamente em sair na frente da então União Soviética na corrida espacial. Possíveis mortes eram simples acidentes de trabalho.

Baseado no livro homônimo de James Hansen, "O Primeiro Homem" é diferente de outros filmes sobre o espaço, focados mais na aventura e nas conquistas. Principalmente porque deixa no espectador um certo incômodo que vai além das turbulências e das cenas barulhentas como se as naves fossem se desmanchar.

Seja em 2D ou nos modernos 3 e 4D, o que fica, no final, é a pergunta, a urgência de saber em nome de que - ou de quem - uma pessoa pode se embrenhar tanto num projeto tão cheio de sacrifícios, incertezas e perigos. No caso de Armstrong, é um mistério. Há quem acredite que ele queria conhecer a morte depois que perdeu sua filhinha de três anos.
Duração: 2h22
Classificação: 12 anos
Distribuição: Universal Pictures


Tags: #OPrimeiroHomem, #FirstMan, #RyanGosling, #DamienChazelle, #ClaireFoy, #JasonClarke, #KyleChandler, #Drama, #Biografia, #UniversalPictures, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho

08 outubro 2018

"Uma Noite de 12 Anos" - filme oportuno e imprescindível para o Brasil de hoje

O filme de Brechner conta a história de três homens que sofreram o horror e a crueldade da ditadura no Uruguai dos anos de 1970 e 1980 (Tornasol Films/Divulgação)
  

Mirtes Helena Scalioni



Mais do que um aviso, um alerta. Para o Brasil atual e polarizado, é isso que vai ficar ao final da sessão de "Uma Noite de 12 Anos" ("La Noche de 12 Anõs"), que conta a história mais do que verdadeira de três personalidades que sofreram o horror e a crueldade da ditadura no Uruguai dos anos de 1970 e 1980. Os cerca de 4.500 dias que os jornalistas Maurício Rosencof e Eleutério Fernandez Huidobro e o então agricultor José Mujica passaram como reféns do Exército em várias prisões são mostrados de maneira contundente pelo diretor Álvaro Brechner. Imperdível, imprescindível e oportuno.

Em 1973, 12 militantes do Movimento Nacional de Libertação Tupamaros, de oposição à ditadura militar, foram retirados da prisão onde estavam, tornaram-se reféns do Exército e, durante 12 anos, vagaram por cadeias em vários locais do Uruguai, para as quais eram levados sempre encapuzados. Nenhum deles tinha a menor noção de onde estava. Além disso, eram mantidos incomunicáveis. Não se falavam entre si e nem com os militares carcereiros.

O filme de Brechner pinça três desses detentos e, por meio deles, desnuda o que há de pior em um regime totalitário. É baseado no livro "Memórias del calabozo", escrito por dois dos personagens: Rosencof, vivido no filme pelo argentino Chino Darin, e Huidobro, interpretado por Afonso Tort. O terceiro da história, que depois se transformou num dos presidentes mais populares do Uruguai, Pepe Mujica, é feito por Antonio de la Torre.

Num filme como esse, com cenários sempre sombrios e claustrofóbicos, o trabalho dos atores ressalta e é fundamental. Com muito brilho e talento, os três - assim como os demais do elenco - dão seu recado envolvendo o público com a ideia que parece alimentar os personagens: a de que é preciso resistir para viver, apesar dos extremos da tortura física e psicológica e de toda sorte de humilhação e maus tratos. É como se mostrassem dois lados extremos do ser humano: a crueldade e a nobreza da resistência.

Numa sacada genial, o diretor intercala cenas dos três, cada um com sua dor e solidão, cada um tentando se reinventar para sobreviver no seu silêncio. Alguns flashbacks ajudam o espectador a conhecer um pouco da trajetória de cada um antes da prisão. A raríssima leveza de "Uma Noite de 12 Anos" fica por conta de pequenos momentos em que, aparentemente, o Exército é ridicularizado diante de algumas situações. Mas, como o filme é baseado em histórias reais, não há por que duvidar. O que fica é que, nem sempre, os opressores estavam devidamente organizados e afinados em seus objetivos.

Quem consegue chegar até o finalzinho do filme sem chorar - de tristeza, indignação, repúdio, raiva, medo - vai fatalmente sucumbir com a versão única e cortante de "The sound of silence", de Simon e Garfunkel, interpretada pela cantora catalã Silvia Pérez Cruz. Um soco no estômago. A partir daí, resta ao espectador voltar para a casa com a certeza de que é preciso refletir e, como os personagens, resistir e lutar para que lições de um passado tenebroso sejam profícuas e que a liberdade permaneça como o bem mais precioso da humanidade.
Duração: 2h02
Classificação: 14 anos
Distribuição: Vitrine Filmes


Tags: #UmaNoiteDe12Anos, #drama, #biografia, #AlvaroBrechner, #Chino Darin, #AntonioDeLaTorre, #VitrineFilmes, #AlfonsoTort, #JoseMujica, #ditaduramilitarnoUruguai, #Tupamaros, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho

27 setembro 2018

"10 Segundos Para Vencer" - drama emocionante de luta, determinação e amor

Interpretações impecáveis de Daniel Oliveira e Osmar Prado conquistam o público com filme sobre a vida do pugilista Eder Jofre (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Um filme com atuações excelentes, com boa ambientação de época e um emocionante drama de família que ajudou a formar um dos maiores boxeadores do país. Esta é a história de "10 Segundos Para Vencer", filme dirigido por José Alvarenga Jr. que tem no elenco principal os atores Daniel de Oliveira, no papel do pugilista brasileiro Eder Jofre, e Osmar Prado, numa interpretação inesquecível de José Aristides Jofre, mais conhecido como Kid Jofre, pai e implacável treinador do bicampeão mundial de boxe. Por seu papel, o ator conquistou merecidamente o Kikito de Melhor Ator no Festival de Cinema de Gramado deste ano.

Marcante e envolvente, o filme é uma biografia bem detalhada da vida do campeão nacional e mundial Eder Jofre, narrada desde a sua infância pobre no bairro do Peruche, em São Paulo (o que deixa a produção um pouco arrastada em alguns momentos). Com muitos sonhos e pouca comida no prato, Eder é o filho mais velho de uma família cuja única profissão de valor era a de pugilista. O pai, o argentino e ex-lutador de boxe Kid Jofre, com dez títulos pelo São Paulo Futebol Clube, era seu exemplo, mas também um homem que não aceitava a ideia de o filho ou qualquer um de seus discípulos "beijasse a lona".


Kid foi o responsável por Eder abandonar os sonhos de estudar desenho arquitetônico, de deixar mulher e filhos em segundo plano e, com punhos de ferro, fazer dele um campeão mundial em 1961, nos Estados Unidos, na categoria peso-galo. O filme mostra como o inabalável pai controlava a família com rigor quase militar, dentro e fora do ringue.

Ricardo Gelli é Zumbanão, tio do lutador, primeiro grande astro do boxe brasileiro, mas bon vivant que não conseguiu seguir na carreira. Por sua interpretação, ele conquistou o prêmio de melhor Ator Coadjuvante no Festival de Gramado. A mãe Argelina, interpretada por Sandra Corveloni, é uma pessoa submissa ao marido, mas sempre amorosa e presente na vida dos filhos. Dogalberto, o caçula, que tem no irmão mais velho seu ídolo, é vivido por Rafael Andrade Munhoz. O papel de Cida, esposa de Eder, foi entregue a Keli Freitas. 

O filme tem uma falha no roteiro: Lucrécia Maria e Mauro, os outros irmãos do pugilista mostrados numa cena rápida no início foram esquecidos nos restante do filme. Como se nunca tivessem existido. Nem cenas, nem citações por nenhum membro da família. Ponto negativo.

Daniel de Oliveira também está impecável, mostrando bom conhecimento e aprendizado dos golpes e do estilo de luta de Éder, que tinha no soco com a esquerda um de seus principais trunfos. O diretor José Alvarenga Jr. soube mesclar muito bem os vídeos originais das principais lutas e premiações do campeão do boxe com as do filme, ambas em preto e branco, como nas décadas de 50 e 60.

Eder Jofre (Reprodução SBT)
Conhecido como "Galinho de Ouro", por ter sido eleito o maior peso galo da história do boxe, Eder Jofre é considerado também um dos maiores boxeadores de todos os tempos. Nem a infância difícil conseguiu detê-lo e após uma aposentadoria de seis anos, voltou ao ringue e consagrou-se campeão mundial em 1961, nos Estados Unidos na categoria peso pena, tornando-se um herói nacional do boxe. Atualmente com 82 anos, é portador de encefalopatia traumática crônica, doença que afeta a memória e as funções motoras, comum em atletas que sofrem pancadas repetidas na cabeça.

"10 Segundos Para Vencer" tem uma narrativa forte, principalmente nos diálogos entre Osmar Prado e Daniel de Oliveira. A dupla arrasa e proporciona as cenas mais emocionantes, capazes de levar o público às lágrimas. Uma cinebiografia imperdível que ressalta orgulho, determinação, respeito e, principalmente, amor entre pai e filho. Uma homenagem digna de um grande e respeitável campeão.



Ficha técnica:
Direção: José Alvarenga Jr. 
Produção: Globo Filmes / Tambellini Filmes
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 2 horas
Gêneros: Drama / Biografia
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Nota: 4,8 (0 a 5)

Tags:#10SegundosParaVencer, #boxe, #EderJofre, #pugilista, #DanielDeOliveira, #OsmarPrado, #JoséAlvarengaJr, #drama, #campeaopesopena, #campeaopesogalo, #biografia, #ImagemFilmes, #CinemanoEscurinho

13 setembro 2018

"O Paciente - O Caso Tancredo Neves" desvenda os bastidores da morte que abalou o país

Filme conta como foram os últimos 39 dias de vida e sofrimento do presidente eleito que não tomou posse (Fotos: Globo Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas

A história por trás da morte mais polêmica do país dos últimos 30 anos chega hoje aos cinemas brasileiros e serve como exemplo de como a manipulação política e o ego excessivo de uma equipe médica transformaram a vida de um grande estadista em um sofrimento infindável. "O Paciente - O Caso Tancredo Neves", sob a direção de Sérgio Rezende, é baseado no livro homônimo, do historiador Luis Mir. 


O filme revela, após 30 anos, os bastidores médicos dos últimos dias da vida do primeiro presidente civil, eleito pelo colégio eleitoral no Congresso Nacional, pós-ditadura militar. Depois de 39 dias de internação e uma sucessão de avaliações e procedimentos médicos errados, Tancredo Neves morreu no dia 21 de abril de 1985, sem nunca ter sido empossado.

Com interpretação comovente do experiente Othon Bastos, a produção reforça a ansiedade do presidente eleito com o destino da nação, caso não tomasse posse, suas angústias e o medo do retorno da ditadura militar que não daria posse a seu vice, José Sarney. A produção relembra frases e discursos marcantes do político, sempre reforçando que ele precisava melhorar e tomar posse na Presidência para garantir a democracia no país. Mas a que mais emociona é quando ele diz "Eu não merecia isso". Othon Bastos faz arrepiar.

Othon Bastos e Sérgio Rezende na pré-estreia
em BH Foto: Maristela Bretas
Sérgio Rezende (responsável por sucessos como "Em Nome da Lei", "Zuzu Angel" e "O Homem da Capa Preta") soube captar muito bem a história literária, pesquisada por anos por Luiz Mir. Em entrevista na pré-estreia especial em Belo Horizonte, no Cineart Boulevard, o diretor chamou Tancredo Neves de conciliador. "Depois de 21 anos de ditadura, era o único homem capaz de reunir as forças políticas e resinstaurar a democracia. Eu acho que neste momento radical que o país está vivendo, nós precisamos de alguém com equilíbrio que some no lugar de dividir". 

Esta é a terceira parceria de Rezende com o ator Othon Bastos. "Ele é um monumento, um ator que está vivo criativamente, que comove a equipe inteira, movimenta o set de filmagem e é sempre um privilégio trabalhar com ele", declarou. 
Othon Bastos, também presente à pré-estreia, contou que foi muito emocionante interpretar o político porque pegou esse momento da vida dele que o destino mudou. "Quando a gente não completa o que faz na vida, a gente diz que foi destino. Foi uma perda enorme, eu acho que o Tancredo faz uma falta enorme nesse país, uma pessoa digna, um grande político. Foi um prazer enorme interpretá-lo. Hoje não existe um grande político no país, nós estamos vivendo o momento da pusilanimidade, da covardia, da fraqueza".

Também brilhou na produção a atriz Esther Góes, no papel de Risoleta Neves, esposa de Tancredo, A personagem foi apresentada como uma mulher forte, que ficou ao lado do marido durante a vida toda e que exercia grande influência em suas decisões. O elenco conta ainda com Paulo Betti, como o vaidoso e insensível médico Henrique Pinotti (último a operar o presidente), Otávio Muller (Dr. Renault), Leonardo Medeiros, (Dr. Pinheiro Rocha, primeiro a operar Tancredo), Emiliano Queiróz (médico da família) e Emílio Dantas, como o assessor de imprensa Antônio Britto, papel bem fraquinho se comparado ao que representou o jornalista na ocasião dos eventos.

Com rápida reconstituição de época, utilizando o recurso de imagens da passagem da ditadura militar, a escolha pelo Colégio Eleitoral, o povo nas ruas pedindo democracia e rezando para que o presidente melhorasse. "o Paciente - O Caso Tancredo Neves" é uma aula de história de um momento delicado do país. A abordagem principal é a doença que atingiu o político às vésperas de sua posse e toda a sequência de diagnósticos duvidosos, de egos médicos inflados (quem ia ser o herói que salvaria o presidente) e de interesses políticos (situação e oposição). 

Um "E.R" brasileiro, com direito a levar o presidente para o Pronto Socorro do Hospital de Base de Brasília porque todo mundo dava ordem, mas não sabia o certo a fazer. Tancredo foi o político que conseguiu unir uma nação, mas virou um joguete nos últimos dias de sua vida. Um bom exemplo foi a famosa foto posada numa sala do hospital escondendo os aparelhos para mostrar ao país que o presidente eleito estava bem seria empossado.

"O Paciente - O Caso Tancredo Neves" é uma aula de história que deve ser conferida pela nova geração que não viveu aquele momento. E também a recuperação de um momento que foi importante e mudou o país para quem viveu todo o drama na época, mas desconhecia a verdade sobre o tratamento médico dado ao presidente e ao homem Tancredo. Vale muito conferir, principalmente pelas ótimas atuações do casal principal.



Ficha técnica:
Direção: Sérgio Rezende
Produção: Globo Filmes / Morena Filmes
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Duração: 1h40
Gêneros: Biografia / Drama
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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18 abril 2018

"7 Dias em Entebbe" - Mais um (bom) filme de Hollywood

Daniel Brühl e Rosamund Pike formam o casal que sequestrou  um avião de passageiros em 1976 (Fotos: Diamond Films/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Talvez se possa dizer que, com "7 Dias em Entebbe", o brasileiro José Padilha tenha se rendido definitivamente ao chamado cinemão. Esse seu mais recente longa, sobre o sequestro de um avião entre Tel-Aviv e Paris, na década de 1970, coloca o profissional no rol dos diretores assumidamente comerciais.

Isso não significa que o filme seja ruim. Pelo contrário: estão lá todos os elementos esperados em um entretenimento bem feito: muita ação bem distribuída, suspense, política - correta e equilibrada - emoção e até um certo didatismo para quem quiser saber mais sobre o eterno conflito entre Palestina e Israel. 

O voo 139 da Air France foi desviado por um grupo de jovens revolucionários pró-palestina em junho de 1976, pousando em Entebbe, na Uganda de Idi Amin, onde permaneceu uma semana. As tentativas de negociações com o governo israelense, pouco afeito a abrir precedentes, as condições precárias do lugar onde os quase 200 passageiros e tripulantes ficam e as inevitáveis desavenças entre os sequestradores, a maioria jovens e despreparados, vão envolvendo o espectador.

Tudo indica que Padilha teve o cuidado de não tomar partido. No início, o conflito entre árabes e judeus é cuidadosamente explicado. Quase uma aula de história - embora alguns enxerguem, ao final, um discreto favoritismo para Israel.

Entre as atuações, destaques para Daniel Brühl como o jovem alemão idealista Wilfried, e Rosamud Pike como a também revolucionária Brigitte Kuhlmann - outra alemã, mas com discurso mais afiado. Do lado israelense, Eddie Marsan se sai muito bem como o líder Simon Peres. Na trilha sonora, a surpresa fica por conta da autoria: Rodrigo Amarante, do grupo Los Hermanos. Para que o filme ficasse perfeito e digestivo, não faltam crianças e idosos entre os passageiros, o que, fatalmente, enternece o público.

Também estão lá as eternas discussões ideológicas dos jovens que escolheram o caminho da revolução nos conturbados anos de 1970, o engenheiro de voo, que, com sua praticidade e engenho, se contrapõe ao excesso de palavras e ideias, as divergências entre os mandatários do governo de Israel no processo de negociação, as dúvidas de um jovem soldado entre o amor e a pátria e até uma apresentação de dança contemporânea.


Durante todo o longa, as cenas do sequestro e da estada e espera em Entebbe são intercaladas com os ensaios e depois com a estreia do espetáculo - lindo, por sinal. Mas essa não é exatamente uma ideia original. Traz uma certa estética à narrativa pesada, mas não é novidade.

Claro que vale assistir a "7 Dias em Entebbe", até para se lembrar e conferir um pedaço - muito bem contado - dessa história que já dura tanto tempo. Mas é bom que se saiba: trata-se de mais um filme politicamente correto de Hollywood.
Duração: 1h47



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