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08 janeiro 2024

“Rebel Moon - Parte 1” promete grande série, mas entrega um filme de sessão da tarde

Guerreira reúne um grupo de combatentes bem diversificado para combater um tirano que invade e passa a dominar seu planeta
(Fotos: Netflix)


Jean Piter Miranda


“Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo” atingiu o status de filme mais visto na Netflix em todo o mundo nos últimos dias. Mas engana-se quem pensa que se trata uma grande obra. Não é. Prova disso é que, até o momento, o novo longa do diretor Zack Snyder só tem 24% de aprovação da crítica e 61% da audiência no Rotten Tomatoes.

O filme tem como protagonista a camponesa Kora (Sofia Boutella, de "A Múmia" - 2017). Ela vive em um planeta pacífico de agricultores. Só que a paz desse lugar fica ameaçada quando tropas do exército do governo tirânico de Balisarius chegam em busca de suprimentos. Os militares ocupam a região, exigem que toda a plantação seja entregue a eles e começam a oprimir os moradores.


Para salvar seu povo, Kora, que na verdade não é uma simples camponesa, se revolta e elimina as tropas que ocupam o planeta. Por conta disso, a guerreira revelada tem que fugir. Mas ela vai além. Com o plano de eliminar o império Balisarius da galáxia, ela sai em busca de novos combatentes que possam se juntar à sua causa.

Nessa primeira parte, o filme apresenta o almirante Atticus Noble (Ed Skrein, de "Midway - Batalha em Alto-Mar" - 2019), o antagonista da vez. O vilão e sua tropa usam fardas militares com detalhes vermelhos em um clara alusão ao nazismo. Um clichê recorrente em filmes de heróis estadunidenses.

As tropas são malvadas gratuitamente. Mais um clichê do maniqueísmo, dividindo os grupos entre o bem e o mal, mocinhos e vilões. Uma forma muito rasa e simplista de se construir personagens. O almirante Atticus Noble, por sinal, parece uma cópia barata do magnífico Hans Lanna, de “Bastardos Inglórios” (2009).


Nas primeiras cenas de lutas, vemos mais um show de clichês. Snyder abusa do uso de câmera lenta. O que talvez tenha o objetivo de dar mais emoção, de criar um momento memorável, só deixa o filme mais chato e arrastado.

Os combates são difíceis de engolir. Soldados treinados que não acertam um único tiro nem se preocupam em se defender, atacando de qualquer jeito. Socos que não deixam marcas nem tiram sangue e tiros de laser que imitam "Star Wars". Depois de cenas de ação em filmes como “John Wick” (2014), “Ong Back” (2003), "Oldboy" (2003), “Anônimo” (2021), entre tantos outros, não dá pra aceitar lutas lentas. Ainda mais quando se trata de guerreiros, de combatentes de elite. Muito menos pancadas que não tirem sangue.


Seguindo a trama, Kora passa 80% do filme recrutando guerreiros para seu grupo. O primeiro que a acompanha é Gunnar (Michiel Huisman), da colônia de agricultores. Um cara sem experiência de batalha, sem nada de especial. Não dá para entender o porquê de ele estar no grupo. Depois, ela acha Kai (Charlie Hunnam, de "Rei Arthur - A Lenda da Espada" - 2019), um piloto mercenário. Tem o clichê da briga de bar e um milhão de frases feitas motivacionais ao longo do caminho.

O time então vai se formando com o General Titus (Djimon Hounsou, de "Shazam! - Fúria dos Deuses" - 2023), um gladiador que já serviu Balisarius e está arrependido de seu passado; Tarak (Staz Nair), um guerreiro nativo que busca redenção, sabe-se lá de que; Nemesis (Doona Bae), um ciborgue espadachim; Darrian Bloodaxe (Ray Fisher) e Milius (E. Duffy), guerrilheiros de um exército rebelde de resistência ao império.


Apesar das duas horas e quinze minutos de duração, o filme não desenvolve nenhum dos personagens. É tudo muito superficial. O passado de Kora é apresentado aos poucos, mas não convence nem cativa. Sobre os demais, não dá pra saber suas motivações ou objetivos. Todos embarcam em um missão praticamente suicida depois de um jogo de frases feitas motivacionais.

Um gladiador negro, uma guerreira oriental que usa katanas, um guerreiro com aparência indígena, um piloto loiro bonitão, um soldado e uma soldada, um camponês e uma líder ex-militar super treinada. Personagens os quais, no máximo, dá para guardar descrições físicas. Uma seleção diversa, o que é bem positivo. Mas não passa disso.


Sem tempo de tela para desenvolver características de personalidade, habilidades, poderes, motivações, todos os personagens se tornam completamente esquecíveis. Não dá pra ter simpatia ou identificação com nenhum deles. Nem com a protagonista.

Para não dizer que é tudo ruim, os efeitos especiais merecem elogios. A maquiagem e a caracterização de seres interplanetários é muito bem feita. Seres que, por sinal, são tantos que não dá para decorar nomes, raças, espécies, saber a importância de cada um para a trama ou o que representam para esse universo. É tanto personagem em tão pouco tempo de tela que dá a impressão de estar vendo uma montagem com recortes de vários filmes.


O robô Jimmy (voz de Anthony Hopkins) também é muito bem feito. É aliado momentâneo que não embarca na jornada e que deixa um ar de que, talvez, seja um personagem importante para a "Parte 2", prevista para estrear em abril deste ano.

O ator e cantor irlandês Fra Fee interpreta o grande vilão Balisarius, o ditador intergaláctico. Ele praticamente só aparece em cenas do passado, deixando expectativa para que tenha uma participação maior e mais ativa na continuação.

Zack Snyder tem um currículo cheio de grandes produções. Sucessos como “300” (2006), “Watchmen – O Filme” (2009) e “A Lenda dos Guardiões” (2010). Mas também tem obras que não emplacaram como “Army of the Death – Invasão de Las Vegas” (2021), “Batman VS Superman – A Origem da Justiça” (2016) e “Liga da Justiça” (2017), que inclusive ganhou uma versão estendida em 2021 - "Snyder Cut". Em comum, são sempre obras com orçamentos volumosos.


O fato é que, com ou sem Snyder, as produções da DC não decolaram. E os motivos são muitos. Mas não dá pra reclamar de recursos. Os elencos são bons, assim como os roteiristas, equipes técnicas e demais profissionais. Dinheiro nunca faltou. De forma geral, não agradou a crítica nem o público. Mas rendeu uma boa grana. No fim, o diretor sempre tem saído com prestígio.

É inegável que Snyder tem um fã clube enorme. Há quem goste muito de seu trabalho, mesmo com os altos e baixos. O próprio diretor tem uma super autoestima e acredita que está criando uma linguagem cinematográfica própria. Uma falta enorme de senso de realidade. “Rebel Moon - Parte 1” mostra isso. Um caminhão de clichês e escolhas erradas com um orçamento de US$ 90 milhões. Um grande elenco e um história que copia um monte de histórias já vistas.

No fim, o longa promete ser o novo “Star Wars”, a nova série cinematográfica que vai marcar época e geração. Mas que entrega uma obra chata, sem graça e muito cansativa, como um filme repetido de baixo orçamento de “Sessão da Tarde”.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Zack Snyder
Produção: Netflix
Exibição: Netflix
Duração: 2h13
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, ficção, ação
Nota: 2,5 (0 a 5)

27 dezembro 2023

Turma do Cinema no Escurinho elege seus filmes favoritos de 2023

Reprodução


Equipe Cinema no Escurinho


Mais um ano terminando e alguns colaboradores do Cinema no Escurinho não podiam deixar de indicar os dez filmes que mais gostaram, no cinema e na internet. Se você ainda não viu, fica a dica: alguns já estão nos catálogos das principais plataformas de streaming. Confira:



Banshees de Inisherin - STAR+ (assinante)
Folhas de Outono - MUBI - https://mubi.com/pt/br
Anatomia de uma Queda - PREVISÃO DE ESTREIA NOS CINEMAS EM FEVEREIRO
Ainda Temos o Amanhã - AINDA NÃO DISPONÍVEL NO STREAMING
Culpa e Desejo - AINDA NÃO DISPONÍVEL NO STREAMING
Retratos Fantasmas - NETFLIX (assinante); para aluguel: GOOGLE PLAY FILMES, AMAZON PRIME VÍDEO, YOUTUBE E APPLE TV
Disfarce Divino - AINDA NÃO DISPONÍVEL NO STREAMING
O Crime é Meu - AINDA NÃO DISPONÍVEL NO STREAMING
Holy Spider - AMAZON PRIME VIDEO (assinante); para aluguel: GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Uma Vida Sem Ele - AMAZON PRIME VIDEO


Eduardo Jr.

Ainda Temos o Amanhã - AINDA NÃO DISPONÍVEL NO STREAMING
Missão Impossível 7: Acerto de Contas - Parte 1 - AMAZON PRIME VIDEO (assinante); para aluguel:, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Estranha Forma de Vida - AMAZON PRIME VIDEO (assinante); para aluguel: GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Mussum: O Filmis - para aluguel: GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Culpa e Desejo - AINDA NÃO DISPONÍVEL NO STREAMING
Batem à Porta - TELECINE PIPOCA DIA 31/12 (assinatura); para aluguel: GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Trolls 3 - Juntos Novamente - para aluguel: AMAZON PRIME VIDEO, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Um Pai, Um Filho - AINDA NÃO DISPONÍVEL NO STREAMING
Sem Ar - para aluguel: AMAZON PRIME VIDEO, YOUTUBE, APPLE TV
A Noite das Bruxas - STAR+ (assinante)


Marcos Tadeu

Beau Tem Medo - AMAZON PRIME VIDEO (assinante); para aluguel: GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Maestro - NETFLIX (assinante)
Barbie - HBO Max (assinante); para aluguel: AMAZON PRIME VIDEO, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Super Mario Bros.: O Filme - para aluguel: AMAZON PRIME VIDEO, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
A Baleia - PARAMOUNT (assinante)
Mussum: O Filmis - para aluguel: GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
Digimon Aventure 02: O Começo - GLOBOPLAY (assinante)
Excluídos - NETFLIX (assinante)
Retratos Fantasmas - NETFLIX (assinante); para aluguel: GOOGLE PLAY FILMES, AMAZON PRIME VÍDEO, YOUTUBE E APPLE TV
Suzume - CRUNCHYROLL  - https://www.crunchyroll.com/pt-br


Maristela Bretas


- A Última Vez que Fomos Crianças - AINDA NÃO DISPONÍVEL NO STREAMING
- Elementos - DISNEY+
- Super Mario Bros.: O Filme - para aluguel: AMAZON PRIME VIDEO, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
- Aquaman 2 - O Reino Perdido - NOS CINEMAS
- Oppenheimer - para aluguel: AMAZON PRIME VIDEO, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
- Guardiões da Galáxia: Vol.3 - DISNEY+
- Missão Impossível 7: Acerto de Contas - Parte 1 - AMAZON PRIME VIDEO (assinante); para aluguel:, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
- Gato de Botas 2 - TELECINE e AMAZON PRIME VIDEO (assinante); para aluguel:, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
- Os Fabelmans - TELECINE e AMAZON PRIME VIDEO (assinante); para aluguel:, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV
- John Wick 4: Baba Yaga - AMAZON PRIME VIDEO (assinante); para aluguel:, GOOGLE PLAY FILMES, YOUTUBE, APPLE TV

05 outubro 2023

Filme "Nostalgia" aborda tentativa de resgatar o passado

Produção italiana é baseada em romance homônimo de Ermanno Rea e tem Pierfrancesco Favino como protagonista (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Eduardo Jr.


Voltar pra casa para resgatar uma amizade parece algo bonito. Mas não é exatamente o que se vê no novo filme de Mario Martone, “Nostalgia”, distribuído pela Pandora Filmes, que estreia nesta quinta-feira (5).

Baseado no livro homônimo do escritor italiano Ermanno Rea, publicado em 2016, o longa traz o drama de um homem que retorna à sua cidade natal 40 anos depois.


O protagonista Felice, vivido por Pierfrancesco Favino (“Anjos e Demônios”, 2009), vive no Cairo, tem uma vida estável, se converteu à religião muçulmana e decide viajar para a cidade onde nasceu e passou a juventude. 

A princípio, o objetivo é cuidar da mãe idosa (Aurora Quattrocchi, que tensiona brilhantemente a trama). Mas a real intenção se mostra quando ele pergunta sobre um amigo de infância. 


Assim como Felice está voltando pra casa, o diretor Italiano Mario Martone também está voltando seus olhos para sua cidade natal. Nascido em Nápoles, Martone aborda de forma recorrente algumas páginas e personagens da história napolitana e da Itália. 

Entre essas obras estão “O Rei do Riso” (2022), “O Prefeito de Rione Sanità” (2019), “Capri-Revolution” (2018), “Leopardi: Um Jovem Fabuloso” (2014), “Nós Acreditávamos” (2011), “Caravaggio - The Last Act” (2005), “O Odor do Sangue” (2004) e “Morte de um Matemático Napolitano” (1992). 


Em “Nostalgia” a câmera acompanha Felice, e a profundidade de campo apresenta ao espectador a arquitetura napolitana e sua beleza decadente. Um reforço da informação que o texto oferece, de que Nápoles está entregue à criminalidade. 

A pauta da violência abre mais um assunto abordado no longa. Oreste (Tommaso Ragno), o melhor amigo do protagonista, se tornou uma das lideranças do crime. Já o padre Luigi Rega (Francesco Di Leva) de quem Felice se aproxima, é quem tenta evitar que jovens da cidade sejam cooptados pelos criminosos.    


Os flashbacks apresentados em uma mini tela mostram como aquela amizade (ou amor) do passado foi sinônimo de alegria - e como tinha tudo para trazer problemas. 

Aqui, desponta algo que pode ser lido, talvez, como inocência do protagonista: querer voltar para resgatar um passado que se rompeu abruptamente, mesmo que sua presença não pareça ser desejada. 


O muçulmano Felice volta a frequentar a igreja católica e até bebe vinho. Neste ponto se revela a opção do diretor de não explicar muito as situações e as questões sentimentais. Fica no ar se a mudança do protagonista é por uma obsessão com o passado, se o padre Luigi está apresentando o protagonista para toda a cidade e dando vinho a ele para ajudá-lo a se enturmar, ou se é por outra razão.    

'Nostalgia” é um filme de memórias. De silêncios e perguntas sem respostas que falam muito. Obra marcada por uma interpretação precisa de Pierfrancesco Favino. 

Apesar do desfecho se apresentar como previsível na segunda metade do filme, a obra pode agradar, seja pela fotografia, pela dramaticidade ou pela reflexão acerca do que a nostalgia pode fazer.  


Ficha técnica:
Direção: Mario Martone
Roteiro: Mario Martone e Ippolita di Majo
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h57
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gênero: drama

15 setembro 2023

Longa “Sem Ar” é uma experiência claustrofóbica e angustiante

Suspense alemão se passa no fundo do mar envolvendo duas irmãs que viajam para mergulhar num lugar remoto (Fotos: Paris Filmes) 


Eduardo Jr.


Seria possível que, observando a imensidão do mar, nos sentíssemos presos? A resposta é SIM quando se fala do lançamento de “Sem Ar” (“The Dive”). O longa do diretor Maximilian Erlenwein, com distribuição da Paris Filmes, que estreou nos cinemas brasileiros nessa quinta-feira promete deixar o público angustiado, prendendo a respiração.    

Trata-se de um remake do longa sueco “Além das Profundezas” ("Breaking Surface"), que foi dirigido por Joachim Hedén, no ano de 2020. Mas nesta nova versão as personagens mudam de nome. As irmãs Drew (Sophie Lowe) e May (Louisa Krause) viajam para realizar um mergulho em um lugar remoto.


Após nadarem por uma caverna submersa, um deslizamento deixa May presa, quase 30 metros abaixo da superfície. Com pouco oxigênio, Drew começa uma corrida contra o tempo para salvar a irmã. 

O filme não tem divisões na tela, mas parece ter sido construído em atos. No primeiro deles, além da apresentação das personagens, fica no ar uma tensão, como se as duas irmãs não estivessem na mesma sintonia, apesar da viagem descontraída. 


No fundo do mar, o silêncio quebrado em alguns momentos pelas bolhas de ar e as passagens estreitas, iluminadas apenas pelas lanternas das mergulhadoras, dão indícios do que está por vir. 

Conforme esperado, o segundo ato traz o suspense. Embora o mergulho seja uma atividade conhecida de ambas, May fica presa e Drew precisa deixar a irmã sozinha debaixo d’água, para buscar ajuda e mais cilindros de oxigênio. 

É aí que começa a se revelar que algo do passado possa ser o motivo que fez com que as irmãs perdessem a conexão que tinham na infância. 


Na última parte de "Sem Ar", desespero e desânimo marcam presença na personagem de Louisa Krause. 

A colega Sophie Lowe também ganha pontos, ao imprimir na tela uma mudança de sua personagem, até então sem sorte e meio desastrada para alguém que parece saber como agir naquela situação. 


No todo, o filme a trilha sonora composta por Volker Bertelmann, é muito boa, daquelas que mal se percebe de tão alinhadas ss cenas. A locação é realmente linda. Mas não se animem, pois a tensão não se desgruda do filme. Respire fundo e vá ao cinema conferir esse suspense!


Ficha técnica:
Direção: Maximilian Erlenwein
Produção: Falkun Films, Augenschein Filmproduktion
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nas salas do Cineart Cidade e Cinemark Pátio Savassi
Duração: 1h31
Classificação: 12 anos
País: Alemanha
Gênero: suspense

29 agosto 2023

Roteiro de "Toc Toc Toc - Ecos do Além" patina entre terror psicológico e real

Relação abusiva familiar é um das abordagens do terror baseado em conto do escritor Edgar Allan Poe
(Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


Edgar Allan Poe era, sem dúvida, um grande escritor de contos de terror e suspense. E foi um deles, "O Coração Revelador ("The Tell-Tale Heart"), de 1843, que serviu de inspiração para o roteiro de "Toc Toc Toc - Ecos do Além" ("Cobweb"), escrito por Chris Thomas Devlin, que estreia nesta quinta-feira (31) nos cinemas. 

Apesar de a história apontar para um final diferente do que se propunha, o que seria bem interessante, ela insiste nos clichês conhecidos. Cenas escuras (às vezes nem dá para ver o que está acontecendo), uma voz misteriosa vinda de uma parede, protagonistas com caras de psicopatas, uma criança retraída e sempre com medo e uma pessoa disposta a enfrentar o desconhecido para ajudá-la.


Inicialmente, o filme leva a crer que poderia ser um suspense, abordando temas como violência psicológica doméstica, bullying na escola e traumas provocados por uma relação abusiva dentro de casa. 

Mas a partir da segunda metade, o roteiro fica embolado e as cenas deixam a desejar. Começa uma explicação, deixa pela metade, já pula para outra cena, não se sabe nada da família de Peter, apenas que é assustadora, especialmente o pai. Os crimes acontecem, mas ninguém investiga e nem suspeita de ninguém. Tudo fica solto no ar.


Na história, Peter (Woody Norman), de 8 anos, é atormentado por um misterioso e constante barulho que vem de dentro da parede de seu quarto, um toque que seus pais abusivos insistem que se trata apenas da imaginação do garoto. 

À medida que o medo de Peter se intensifica, ele acredita que seus pais podem estar escondendo um segredo perigoso e passam a ameaçá-lo. O garoto passa a confiar apenas na professora e na voz misteriosa vinda da parede.


No elenco estão Antony Starr (pai) e Lizzy Caplan (mãe), ambos da série “The Boys” (2019 a 2022), da Prime Video, que conta com a produção de Seth Rogen e Evan Goldberg, os mesmos deste filme. A dupla também é roteirista de "As Tartarugas Ninja - Caos Mutante", que estreia também nesta quinta-feira (31) nos cinemas.

Destaque para Woody Norman, que pelo visto gostou de fazer o gênero - este é o segundo filme de terror este ano. O primeiro foi "Drácula - A Última Viagem do Deméter", que entrou em cartaz nos cinemas na semana passada. Também fazem parte do longa Cleopatra Coleman (a professora Miss Devine) e Ellen Dublin (a voz vinda da parede do quarto de Peter).


"Toc Toc Toc - Ecos do Além" não é um terror ruim, mas não provoca impacto, do tipo que faz a gente dar pulo na cadeira do cinema. Muito antes de a entidade dar as caras, o que acontece nos minutos finais, já dá para saber que não vai dar boa coisa para Peter. E agora, o que é capaz de provocar mais pavor: os pais do garoto ou a voz na parede? Só assistindo para saber.


Ficha técnica:
Direção: Samuel Bodin
Produção: Lionsgate, Vertigo Entertainment e Point Grey Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, terror

26 julho 2023

“O Convento” não encanta, mas não entendia

Trama envolve mistério, assassinatos e sacrilégios cometidos no interior da moradia das freiras
(Fotos: IFC Midnight e Wmix Distribuidora)


Wallace Graciano


Sejamos sinceros, amigos: demônios e slashers já estão tão batidos em filmes de terror e horror que pouco nos dão a angústia e a aflição peculiar aos gêneros. E cada vez mais, diretores tentam buscar outros elementos para dar suspense à trama e deixar de lado os velhos clichês da sétima arte. 

Talvez esse seja um dos principais erros de "O Convento" ("Consecration"), de Christopher Smith. Consegue, e muito bem, recorrer à freira como uma figura de espanto e impacto, com uma ótima justificativa para tal. 


Porém, ao tentar fugir demais de seus antecessores, tira um pouco do tempero que faria o personagem maior do que a película, o que poderia ser um grande divisor de águas. 

O filme conta a história de Grace (Jena Malone), uma oftalmologista que tem uma vida social praticamente inexistente, devido à sua criação católica. 

E nesse contexto, sua vida entra em descalabro ao receber a informação de que seu irmão, que era um sacerdote na Escócia, se matou em um convento. 


Sem muito o que fazer, ela toma como rumo às terras britânicas, onde buscará entender o que levou ao suicídio do irmão. Porém, já ao chegar ao local, entende que algo estranho paira no ar, quando começa a ser colocada de frente às suas angústias de um passado recente. 

Nesse contexto, Christopher Smith tenta criar uma imersão ao fantasmagórico, deixando o suspense que gira em torno do passado de Grace e seu irmão como o fator preponderante para um desfecho que promete bater à porta. 

A essa altura, o ranger dos dentes começa a ser notado, já que o contato com o sobrenatural parece ser iminente, criando expectativa e ansiedade pelo desfecho que virá.


Porém, justamente ao explorar ao máximo uma estética imersiva, o diretor nos tira o que poderia ser um grande divisor de águas: o poder do fator sobrenatural do personagem central. Ou seja, fugiu entre os dedos aquilo que poderia ser um grande argumento para um filme marcante.

Mas nem tudo são lamentos. A atuação de Danny Huston ("O Jardineiro Fiel" - 2005 e "Mulher Maravilha" - 2017) é o ápice do filme. Com seu quê de vilão, domina o enredo e toma para si muito dos holofotes, apesar de coadjuvante. 

De toda sorte, "O Convento" é uma trama que tem uma boa ideia por trás, mas uma execução aquém do que nos impactaria para torná-lo marcante. É um filme que te diverte, mas facilmente você esquecerá, como vários dos lançados do gênero nos últimos anos. 


Ficha técnica:
Direção: Christopher Smith
Roteiro: Christopher Smith e Laurie Cook
Produção: Moonriver Entertainment
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h30
Classificação: 16 anos
Países: EUA, Reino Unido
Gêneros: terror, suspense
Nota: 3 (0 a 5)

03 julho 2023

"Elementos" da natureza se misturam para divertir e emocionar

Faísca e Gota formam o casal da nova animação da Pixar que fala sobre família, relacionamentos e diferenças
(Fotos: Walt Disney Company)


Maristela Bretas


Estou falando da nova animação da Pixar Animation Studios, "Elementos", em cartaz nos cinemas e encantando o público desde a sua estreia. A produção tem história, mensagens fortes e bem atuais, personagens simpáticos, situações engraçadas, e acima de tudo, emociona a ponto de fazer chorar. 

Assim como em outras obras da produtora, como "Divertida Mente" (2015), "Luca" (2021), "Red: Crescer é uma Fera" (2022), além dos curtas "Piper" (2016) e "Bao" (2018), que falam de relacionamentos, família e amadurecimento, "Elementos" foca também nos costumes de outros povos e no preconceito com o imigrante, no caso, o asiático.


Na animação, Bernie Lumen/Brasa (o ator filipino Ronnie del Carmen) e a esposa Cinder/Fagulha (Shila Ommi) deixam sua terra para tentar a sorte em outro lugar, onde pretendem dar uma vida melhor à filha Ember/Faísca (a atriz chino-americana Leah Lewis) que está para nascer. 

Eles chegam à Cidade Elemento, onde vivem diferentes tipos de seres formados por água, terra, ar e fogo. estes últimos, no entanto, não são bem aceitos pelos demais elementos e acabam formando sua própria comunidade, fora da cidade.


Faísca cresce aprendendo com o pai como cuidar da Loja do Fogo, que um dia ele promete que será dela. Pelas características e cultura apresentadas fica claro que a família Lumen é de descendência asiática. 

A jovem nunca sai do bairro e segue à risca a regra principal dos pais: "elementos não podem se misturar". Um bom exemplo do que acontece com muitas comunidades de imigrantes pelo mundo, que não são aceitas por sua cor, raça ou origem diferentes do local. 


Impetuosa e de estopim curto, Faísca tem de conviver com esse preconceito e desconfiança e ainda precisa descobrir o que quer para seu futuro, mesmo que ele tenha sido traçado pelo pai. 

Até que um acidente a coloca frente a frente com Wade/Gota (Mamoudou Athie), que pelo nome já dá para saber que é do elemento água. Ele é um jovem de bem com a vida, muito emotivo que chora a toa e tem uma simpatia contagiante.

Gota vai ajudar Faísca a salvar o negócio do pai e fazê-la repensar seus conceitos, especialmente sobre o amor.


"Elementos" tem várias abordagens numa só história, todas interligadas, que se tornam mais fortes com as cores vibrantes usadas na animação e dos personagens fofos e divertidos, até mesmo quanto têm ataques de fúria, como Faísca (típico da adolescência). Características fortes das produções da Pixar.


Tudo isso é capaz de levar o público a aplaudir de pé ao final do filme e até mesmo chorar de emoção, tanto pelo relacionamento da jovem com Gota quanto com o pai e a mãe. Presenciei isso na sessão que fui em BH, lotada por famílias com crianças.

Somado ao visual temos uma ótima trilha sonora, composta por Thomas Newman ("Procurando Nemo" - 2003 e "Wall-E" - 2008), que conta com 37 músicas, entre elas, "Steal The Show", cantada por Lauv, que toca quando Gota e Faísca estão juntos. Confira abaixo.


Recomendo a versão dublada que está ótima, com vozes de Luiza Porto (Faísca), do mineiro Dláigelles Silva (Gota), Giovanna Antonelli (Sra. Ripple, mãe do Gota), André Mattos (Brasa), Cacau Protásio (Flarietta), Marisa Orth (Fagulha) e muitos outros. A direção de dublagem é de Diego Lima.

"Elementos" é uma animação para todas as idades e merece ser visto em família, com um lencinho na mão. Assim como Gota e sua mãe que choram rios de lágrimas, você também vai deixar escorrer esse elemento por seu rosto sem vergonha de se emocionar.


Ficha técnica:
Direção: Peter Sohn
Produção: Pixar Animation Studios e Walt Disney Company
Distribuição: Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, comédia, família, aventura

22 fevereiro 2023

“A Baleia” - A tristeza e a beleza sob a interpretação de Brendan Fraser

Filme dirigido por Darren Aronofsky concorre a três estatuetas do Oscar 2023, incluindo o de Melhor Ator (Fotos: Califórnia Filmes) 



Wallace Graciano


Culpa é um dos fardos mais torturantes que carregamos em nossa vida. Seja qual for o motivo que causa tamanho desconforto, ela está presente em nossa vida e muitos não sabem como lidar. E é justamente esse o ponto que norteia “A Baleia” ("The Whale", no título original), que estreia nesta quinta-feira (23) nos cinemas de todo o país. 

Com uma interpretação magnífica de Brendan Fraser, o filme de Darren Aronofsky ("Mãe" - 2017), que é adaptado de uma peça homônima, não cativa e destoa na parte estética, mas tem personagens intensos, que tiram seu ar.


Não à toa, garantiu três indicações ao Oscar (Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Cabelo e Maquiagem), chegando com grande potencial de conquista nas três. Abaixo, mostraremos o porquê, além de contar nossas impressões sobre o filme. 

Qual é a história de “A Baleia”?

“A Baleia” conta a história de Charlie (Brendan Fraser), um professor de redação que enfrenta uma obesidade mórbida. De uma inteligência afiada, ele tem percepção exata de como o mundo o encara, com preconceitos e escárnio. 

Não à toa, sequer tem coragem de ligar a câmera de seu notebook enquanto ministra aulas online. Porém, sua condição física esconde traumas do passado. Ele carrega a culpa de ter abandonado sua filha em troca de um amor homossexual, que não conseguiu ir adiante devido a uma tragédia. 


Com esse psicológico frágil, usa a comida como muleta emocional para esconder a dor e a frustração por seus erros, perdas e decepções. Somente a enfermeira Liz (Hong Chau, indicada ao Oscar) o visita, sendo sua amiga e eterna confidente. Ela o vê de forma nua e crua. Sabe do seu passado e presente. 

Após vê-lo ter um princípio de infarto, a profissional da saúde insiste para que ele se interne, o que é prontamente negado por Charlie, que teme contrair uma dívida, devido à ausência de sistema universal de saúde nos Estados Unidos. 


Sabendo que sua vida está nos últimos dias, inclusive sob avaliação da própria Liz, Charlie tenta se reaproximar da filha, Ellie (Sadie Sink, de “Stranger Things”) para tentar redimir os erros do passado. E é nesse contexto que a trama se desenvolve. 

O que achamos de "A Baleia"?

Por ser baseado em uma peça (escrita por Samuel D. Hunter, que também é o roteirista do longa), trata-se de uma obra que não tem muitos ambientes ao seu redor. Basicamente, toda a construção da trama se dá em um cenário: a casa de Charlie. 

Para alguns espectadores, pode ser sufocante, mas o filme, assim, consegue colocar uma lupa na culpa e dor do protagonista. Ele é lento, pois foca demais nas camadas de Charlie, além de desenvolver os personagens sem muita celeridade. 


Porém, o que o faz cativante ao público é justamente essa condução que nos tira do conforto, intercalando as condições físicas precárias do personagem com suas relações pessoais tão deturpadas quanto.

E Brendan Fraser faz isso com maestria. Se outrora foi um ator considerado galã, principalmente após sua atuação em “A Múmia” (1999), agora consegue nos envolver com cada ato, fazendo com que uma simples queda por mobilidade reduzida traga um contexto peculiar. 


Ainda que os diálogos com Liz, Ellie e o missionário Thomas (Ty Simokins) não tenham o ritmo acelerado que muitos gostam, eles nos prende por apresentar todas as nuances que cercam o protagonista e seus traumas. 

Ou seja, vá ao cinema focando nas atuações dos personagens e no que elas podem nos trazer. Essas interpretações fazem com que a estética, enredo e trilha virem meros detalhes na trama.

Quais são as indicações ao Oscar de “A Baleia”?

Melhor Ator: Brendan Fraser;
Melhor Atriz Coadjuvante: Hong Chau;
Melhor Cabelo e Maquiagem


Ficha técnica:
Direção: Darren Aronofsky
Roteirista e autor da obra: Samuel D. Hunter
Produção: A24 e Protozoa Pictures
Distribuição: Califórnia Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração:1h57
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gênero: drama
Nota: 4,5 (5)

09 fevereiro 2023

"As Histórias de Meu Pai", mais drama do que comédia, chama atenção para a responsabilidade do pai herói

Atuações do jovem Jules Lefebvre  e do experiente Benoit Poelvoordesão destaques desta produção francesa
(Fotos: Caroline Bottaro)


Mirtes Helena Scalioni


Para início de conversa, é difícil entender por que "As Histórias de Meu Pai" ("Profession du Pére") é classificado, inicialmente, como comédia. Não é. Embora o espectador possa até rir ao longo do filme, dirigido por Jean-Pierre Améris (“A Linguagem do Coração”- 2014), na maior parte do tempo, a produção francesa que entra em cartaz nesta quinta-feira (9) transmite mesmo é espanto diante da estranha relação entre pai e filho, intermediada por uma silenciosa omissão da mãe.


Logo no início, fica claro que André Choulans, magistralmente interpretado por Benoit Poelvoorde (“Mentiras Secretas” -2021), é um mentiroso compulsivo, um típico e perigoso mitômano que, com sua autoridade de pai, vai envolvendo o pequeno Emile, de 11 anos, em seus delírios e bizarrices. 

Inocente, o menino parece ter adoração por aquele pai herói que diz já ter sido paraquedista, campeão de judô, amigo de Édith Piaf e até conselheiro do general Charles De Gaulle.


A história se passa em Lyon, na década de 1960, quando André, dizendo-se traído pelo presidente, envolve o filho num projeto para matar De Gaulle. 

Afirmando ser membro de uma OAS, espécie de organização clandestina que se opõe à independência da Argélia, ele vai transformando o filho num agente secreto, a quem são dadas missões perigosas como colocar cartas anônimas nas caixas de correio de autoridades ou pichar muros da cidade.


Mas o grande trunfo do longa francês é, sem dúvida, a atuação de Jules Lefebvre como Emile. Inacreditável e encantadora a expressão do pequeno ator diante do “heroísmo” do pai, sua alegria e determinação diante das missões que tenta cumprir e até a aceitação submissa dos castigos que recebe quando o pai acha que ele não foi eficiente. 

Chama atenção também a graça com que ele, fazendo ar de mistério, tenta cooptar seu colega de sala, Lucas (Tom Levy) para a organização secreta com o objetivo de eliminar o presidente da França. 


Em seu papel de mãe que nada pode fazer para estancar as loucuras do marido, Audrey Dana, como Denise Choulans tem interpretação correta e na medida. 

Ao final, quando a história dá um salto de cerca de 20 anos, o público pode, inclusive, compreender melhor sua omissão diante dos exageros do marido.


Mesmo não sendo comédia – talvez exatamente por isso – "As Histórias de Meu Pai" vale a pena ser visto, até para que se entenda o poder e a responsabilidade de um pai em sua relação com os filhos. 

Também pode levar a alguma reflexão sobre os perigos que chegam a representar as ideias e ideologias extremistas, tão em voga no mundo de hoje.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jean-Pierre Améris
Produção: France 3 Cinéma
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: comédia, drama