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17 fevereiro 2021

Arrastado, unindo ficção e realidade, “Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo” promete, mas não diz a que veio

Josefina Ramirez faz uma atuação com dignidade e talento a protagonista (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Qualquer pessoa minimamente interessada em cinema fica imediatamente curiosa ou interessada ao ler a sinopse de "Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo" (“Nona, si me mojan, los quemo”), filme chileno em coprodução com Brasil, França e Coreia do Sul. Ou seja: não se trata de uma empreitada qualquer. A estreia está prevista para quinta-feira (18) nos cinemas.

“Aos 66 anos, Nona decide finalmente se vingar de seu ex-amante e comete um atentado que a obriga a fugir para que não seja presa. Depois de se estabelecer em uma cidade costeira do Chile, um incêndio de grandes proporções obriga seus vizinhos a deixarem suas casas, mas estranhamente sua moradia é a única a não ser afetada”.


Mas, verdade seja dita: “Nona...” não é um filme fácil de ver. Arrastado, arrastadíssimo, parece, a princípio, um filme caseiro. Na verdade é, pelo menos em parte. A diretora, Camila José Donoso, que também assina o roteiro, mistura ficção com vídeos domésticos de sua avó real, Nona, mulher misteriosa e guerreira que militou na resistência da ditadura de Augusto Pinochet.

Acontece que esses filmetes são talvez utilizados em excesso, em várias situações, e sempre por longos períodos de tempo. Outro detalhe: cenas que poderiam ser facilmente resolvidas com começo e fim se alongam infinitamente no miolo, no processo, sem nenhuma necessidade. Além de distrair, desconcentra o espectador. Cansa.
 
 
O que salva no longa chileno é a atuação de Josefina Ramirez, que faz com dignidade e talento a protagonista Nona, de quem o espectador fica sabendo pouquíssimas coisas: que gosta de dançar, que costuma mentir, que é meio dissimulada, quase bipolar. E que aprendeu, na ditadura, a fabricar artesanalmente e com certa destreza, coquetéis molotov capazes de fazer grande estrago em um carro, destruir casas ou de tocar fogo em florestas.
 

Chama atenção também a participação – pequena, mas marcante para nós, brasileiros – de Du Moscovis, que entra meio sem aviso nem explicação, atua quase como um figurante de luxo, aumentando ainda mais as dúvidas do espectador. Há coisas no filme que o público desconfia, mas não consegue ter certeza quando termina a
história. Para os que gostam desse tipo de jogo, "Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo" é um prato cheio.

Por uma questão de justiça, registre-se também a atuação dos demais que aparecem no filme: Gigi Reyes, Paula Dinamarca e Nancy Gomez, além de outros, não atores, com participações irrisórias. Fora Josefina Ramirez e Du Moscovis, ninguém mais se destaca na trama.
 

Pode ser que os cinéfilos mais ligados nos chamados filmes de arte apreciem o longa e toda a simbologia que há embutida nele. Mas não se trata de uma trama fácil de ser assimilada. Ao final da história, o espectador fica sabendo, concretamente, que Nona se muda de Santiago para a cidade costeira de Pichilemu, vive sozinha numa casa relativamente grande e com quintal cheio de plantas, e que, entre outros detalhes, convive relativamente bem com os constantes incêndios na sua vizinhança. Mais do que isso, impossível.


Ficha técnica
Direção e Roteiro:
Camila José Donoso
Distribuição: Vitrine Filmes
Países: Chile / Brasil / França / Coreia do Sul
Duração: 1h26
Classificação: 12 anos
Gêneros: Documentário / Ficção

14 janeiro 2021

Ótimos filmes exibidos em 2020 que valem a pena ser vistos e revistos

Divulgação
 

Maristela Bretas


Com as salas de cinema fechadas por causa da pandemia de Covid -19 por oito meses, os amantes da Sétima Arte conseguiram assistir apenas alguns dos grandes lançamentos previstos para serem exibidos na telona em 2020. Quem saiu ganhando foram as plataformas de streaming, que conquistaram o público oferecendo uma maneira mais fácil, segura e confortável para curtir ótimas produções.

Não são poucos os sucessos oferecidos, nos mais diversos gêneros - suspense, aventura, drama, romance, animação ou policial. Se você está procurando um bom filme para ver sentadinho no sofá com um balde pipoca, aqui vão algumas indicações dos colaboradores do Cinema no Escurinho que valem a pena.

Tem até ganhadoras do Oscar 2020 que entraram no circuito comercial no início do ano passado e que já estão disponíveis para TV, smartphone ou tablet. Se quiser saber mais sobre algumas produções, clique nos links e confira as críticas. Uma boa diversão!

Divulgação

Jean Piter Miranda

- Ninguém Sabe Que Estou Aqui (Netflix)
- O Caminho de Volta (Google Play Filmes)
- O Diabo de Cada Dia (Netflix) 
- Você Nem Imagina (Netflix)
- Enola Holmes (Netflix)
- Mulher Maravilha 1984 (Cinema/Warner Bros. Pictures)
- Mulan (Disney+) 
- Rede de Ódio (Netflix)
- O Dilema das Redes (Netflix) 
 
Divulgação
 

Mirtes Helena Scalioni

- Os Miseráveis (Cinema/Paramount Pictures)
- Você Não Estava Aqui (Cinema/Vitrine Filmes)
- O Bar (Netflix)
- Adú (Netflix) 
- Rosa e Momo (Netflix) 
- AmarElo (Netflix)

Divulgação

Maristela Bretas

- Jojo Rabbit (Cinema/Fox Films) 
- O Homem Invisível (Cinema/Universal Pictures) 
- 1917 (Cinema/Universal Pictures) 
- O Caso Richard Jewell (Cinema/Warner Bros. Pictures)  
- Adoráveis Mulheres (Cinema/Sony Pictures)
- Umbrella - curta de animação (estará disponível gratuitamente no canal do Youtube da Stratostorm até 21/01/2021)
- Soul (Disney+)
- O Escândalo (Cinema/Paris Filmes)  
- Trilogia do Baztán (Netflix) 
 

28 dezembro 2019

Com fotografia excepcional em preto e branco, "O Farol" é um dos melhores filmes do ano

Willem Dafoe e Robert Pattinson interpretam dois faroleiros que vivem isolados numa ilha na Nova Inglaterra, nos anos de 1890 (Fotos Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Fotografia, diálogos, locações e duas excelentes atuações merecedoras de prêmios - Willem Dafoe e Robert Pattinson - "O Farol" ("The Lighthouse") é uma obra que já nasceu para ser muito premiada por todo seu conjunto. Filmado todo em preto e branco, o diretor Robert Eggers, responsável também por outra obra prima moderna de terror, "A Bruxa" (2016), envolve o expectador aos poucos, com poucos diálogos no início que vão ganhando volume, agilidade e agressividade no decorrer da trama. Todo filmado em preto e branco, a fotografia, que contou com direção de Jarin Blaschke, é outro grande destaque, depois das atuações. Usando textura antiga, mais acinzentada, ela proporciona uma imagem ainda mais sombria e angustiante.


As duas atuações foram excelentes, mas Dafoe está excepcional, o próprio retrato da loucura e merece demais um Oscar e todos os prêmios que conquistar na temporada de festivais que se inicia em 2020. Pattinson está cada vez melhor e provou que seu personagem da saga "Crepúsculo" é coisa do passado e assume lugar de destaque nas produções independentes, o que já vinha ocorrendo desde 2014, quando estrelou "The Rover: A Caçada".



A produção mistura drama, terror psicológico, suspense e alusões à mitologia e deuses, numa crescente paranoia que vai dominando os personagens e criando um ambiente sufocante, que incomoda, mas prende o expectador. Mesmo quando, em alguns momentos, a narrativa fica monótona, para em seguida ganhar força e surpreender. A solidão do isolamento na ilha leva à loucura e consome os dois faroleiros, que dividem seu tempo entre alucinações, bebedeiras e segredos. Somente as centenas gaivotas e o mar bravio e misterioso são testemunhas da convivência entre os dois estranhos que terão de habitar o local por um mês, cuidando do farol.



Robert Eggers conduz toda a trama com perfeição, reunindo elementos que mostram a que ponto pode chegar uma mente perturbada, aliada ao consumo desenfreado de álcool para aplacar a solidão. Thomas Wake (Willem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson) são dois faroleiros em uma ilha remota na Nova Inglaterra, nos anos de 1890. Eles criam uma relação de dependência e submissão, recheada de ofensas, agressões e bebedeiras, enquanto aguardam a chegada do navio que irá buscar Ephraim após um mês de trabalho no local.


Sereias e deuses mitológicos fazem parte da insanidade dos dois personagens. A tensão vai crescendo a tal ponto que o expectador chega a ter dúvidas se o que está acontecendo é verdade ou fruto da loucura de ambos. Há até mesmo uma referência à história do titã Prometeu, condenado a ficar amarrado a uma rocha e ter seu fígado comido diariamente durante anos por abutres, como punição por ter roubado o fogo dos deuses do Olimpo.



A estreia mundial de "O Farol" ocorreu na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2019, e o filme levou o prêmio de Melhor Filme da Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI). Também recebeu cinco indicações ao Film Independent Spirit Awards: Diretor, Ator (Pattinson), Ator Coadjuvante (Dafoe) - discordo, ele é o Melhor Ator -, Fotografia e Montagem. A cerimônia desta premiação será realizada no dia 8 de fevereiro de 2020. 

A A24, responsável também pelo filme "Joias Brutas" ("Uncut Gems"), com Adam Sandler, outro forte concorrente a vários prêmios, está dominando no Spirit Awards com 18 indicações. São também da produtora sucessos vencedores do Oscar como "Moonlight: Sob a Luz do Luar" (2017), "Lady Bird: A Hora de Voar" (2018) e "Artista do Desastre" (2017). "O Farol" é uma produção imperdível, um dos melhores filmes do ano.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Robert Eggers  
Produção: Focus Features / A24 / New Regency Pictures / RT Features 
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 1h49
Gêneros: Terror /Suspense / Drama
Países: Canadá / EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)

Tags: #OFarol, #TheLighthouse, #WillemDafoe, #RobertPattinson, #VitrineFilmes, #RobertEggers, #FocusFeatures, @A24, @cineart_cinemas, @UniversalPictures,@cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

22 setembro 2019

"Bacurau", um faroeste com a pureza do nordestino e a força do cangaço

Sônia Braga é um dos destaques do elenco que faz da produção nacional uma das melhores lançadas neste ano (Fotos: Vitrine Filmes)

Maristela Bretas


Uma grande produção, que merecia estar na disputa do Oscar como representante do Brasil. "Bacurau", dos diretores e roteiristas Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, até foi indicado mas não chegou lá. A escolha ficou por outro ótimo filme "A Vida Invisível", de Karin Aïnouz, Mesmo assim, o longa conquistou o publico nacional e internacional, atingindo uma bilheteria superior a R$ 2 milhões em sua primeira semana de exibição, além de levar o Grande Prêmio de Júri do Festival de Cannes e ser escolhido o Melhor Filme no 37º Festival de Munique.


Realizado no Sertão do Seridó, na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba, "Bacurau" é uma mistura de passado e futuro, paz e violência, dor e raiva, poder e fé. O filme é o nome de um povoado, no meio do nada, cercado pela seca, comida escassa e a ganância de políticos, que só procuram o lugar no período das eleições. É o retrato fiel da nossa realidade, em especial do povo do Nordeste, que dribla a injustiça social com garra e solidariedade. 

O filme explora a capacidade do ser humano de se adaptar ao meio ambiente, fazendo dele o melhor lugar para viver ou se defender. Ao mesmo tempo, mostra que qualquer um pode abrir mão de uma natureza pacífica e lutar com unhas e dentes quando tudo o que possui e respeita está ameaçado. 

Diretores  Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho

Os moradores de Bacurau levam uma vida pacata, sem se mostrarem para o mundo, mas conectado a ele pela internet. Mas assim como o pássaro que deu nome à cidade e é típico da região e que se manifesta somente á noite ou em perigo, a população local também é capaz de se transformar quando a paz está ameaçada. Logo nas primeiras cenas, os diretores mostram, por meio de caixões espalhados numa estrada, que o enredo vai explorar a morte sobre diferentes aspectos.

Tudo se passa num futuro incerto, onde no mundo fora de Bacurau, a violência é parte do cotidiano enquanto no pequeno vilarejo nordestino, as diferenças foram resolvidas e a paz reina. O ritmo do filme é contado passo a passo, como a calma interiorana, e vai ganhando tensão após o falecimento de Dona Carmelita, uma das ilustres moradoras do local. Vários fatos estranhos são registrados: a localização da cidade some dos mapas digitais, a aparição de um disco voador e a ocorrência de assassinatos inexplicáveis. Tudo isso altera a rotina de Bacurau, provocando reações surpreendentes e diversas nos nativos. O pacato cidadão então se torna uma fera ferida, muitas vezes mais violento que seus algozes.


Sônia Braga é um dos destaques, trabalhando novamente com Kleber Mendonça Filho (a primeira vez foi o ótimo "Aquarius"). Em "Bacurau", ela interpreta Domingas, uma médica local alcoólatra, de humor sarcástico e defensora ferrenha da cidade. Além dela, vários outros atores contribuem com brilho para formar um elenco redondo, com cada participação sendo essencial para o desenrolar da história, tanto os brasileiros quanto os estrangeiros. 


Como o ator alemão Udo Kier (de "Bastardos Inglórios" - 2009), que faz o americano Michael; Bárbara Colen, interpreta Teresa, a jovem que retorna a sua terra natal; Wilson Rabelo, como Plínio, viúvo de Dona Carmelita e um dos moradores mais atuantes e respeitados da vila; Thomas Aquino, como Pacote, ligado ao mundo do crime, mas protetor da cidade, juntamente com Lunga, interpretado por Silvero Pereira, que dá um show de atuação.


Elenco, fotografia, som, figurino, direção e roteiro entregam uma obra cinematográfica marcante. Aos expectadores mais incautos, alerto que o clímax do filme é de extrema violência, justificada pela forma como a trama foi sendo apresentada, explorando o lado psicológico (às vezes psicopata) de cada personagem. Um ponto importante que vale uma boa discussão na mesa de um bar após a sessão é a importância dada pelos moradores de Bacurau ao Museu da Cidade, sempre indicado aos visitantes que passam pela localidade. Com certeza, ele faz toda a diferença na história
.
"Bacurau" é o retrato de um Brasil de ontem e de hoje ao mostrar a ganância de políticos e governantes inescrupulosos, que distribuem caixões, comida vencida e remédios tarja preta sem receita médica, na tentativa de alienar a população em tempos de eleições. Um filme imperdível, que faz a gente pensar muito e sair do cinema com a sensação de ter sido atingido com um soco no estômago.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:  Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Produção: CinemaScópio, Arte France Cinéma, SBS, Símio, Telecine Productions, Globo Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 2h10
Gêneros: Drama, Suspense, Faroeste
Países: Brasil e França
Classificação: 16 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #Bacurau, #VitrineFilmes, #KleberMendonçaFilho, #SoniaBraga, #JulianoDornelles, #faroeste, #suspense, @jornaldebelo, #drama, @cineart_cinemas, @cinemarkoficial, @cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

18 setembro 2019

13ª CineBH Mostra Internacional de Cinema: noite memorável de festa e resistência

Os quatro integrantes da Filmes de Plástico receberam o Troféu Horizonte na abertura do festival (Foto: CineBH/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni



Mais do que o privilégio de sermos os primeiros brasileiros a assistirem "A Vida Invisível", filme que vai nos representar no Oscar, a sessão de abertura da 13ª edição da CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, na noite de terça-feira (17), provocou outro tipo de emoção na platéia que lotou o Cine Theatro Brasil Vallourec. Era visível, quase palpável, a sensação de pertencimento que tomou conta dos espectadores quando a apresentadora Rejane Faria subiu ao palco para fazer as honras da casa. Depois de abrir o evento, falar das dificuldades de se fazer cinema no Brasil, ser aclamada por todos, ela apresentou a banda Diplomatas, que fez sucesso com canções que eram verdadeiros gritos de protesto.

Não faltaram projeções de manchetes com as últimas do atual presidente da República prometendo acabar com a Ancine e ameaçar censurar o que não for do agrado do governo, sempre recebidas com vaias e protestos. O clima tornou-se mais íntimo quando a premiada atriz e diretora Grace Passô subiu ao palco. É como se ela fosse "gente de casa". Mas o clímax mesmo foi a homenagem que a produtora Filmes de Plástico recebeu da organização do festival. Um justo reconhecimento aos quatro integrantes da trupe que, a partir de Contagem, estão levando o nome de Minas para o mundo.



Ninguém escondeu a emoção. Os diretores André Novais Oliveira, Gabriel Martins e Maurílio Martins, além do produtor Thiago Macêdo Correia, não seguraram as lágrimas. Dois deles, inclusive, confessaram ter sido, na infância, frequentadores do antigo Cine Brasil, o único da cidade, segundo contaram, que oferecia ingressos a preços populares. 


Diretores da Filmes de Plástico recebeu o Troféu Horizonte (Foto: Leo Lara)

Reconhecidos hoje em festivais mundo afora, de Rotterdam a Marseille, de Lisboa a Los Angeles, os rapazes da Filmes de Plástico agradeceram à cidade de Contagem e as parcerias, citaram nomes de familiares e vizinhos e prometeram continuar fazendo cinema, apesar da onda contrária. O sucesso do longa mais recente da produtora, "No Coração do Mundo", tem sido praticamente uma unanimidade.

Julia Stocler, KArim Aïnouz e Carol Duarte em Cannes (AFP)
Foi só depois de muita emoção, pequenas falas e algum protesto, que a equipe de "A Vida Invisível" subiu ao palco para, finalmente, apresentar o longa de Karim Aïnouz que vai representar o Brasil na maior festa mundial do cinema em Los Angeles no ano que vem. Entre os que vieram a BH, estavam as atrizes Carol Duarte e Julia Stocler e o produtor Rodrigo Teixeira. Inspirado no livro "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", de Martha Batalha, o longa, que conta com pequena participação de Fernanda Montenegro, ganhou o Prêmio Principal da Mostra Paralela Un Certain Regard no Festival de Cannes, em maio de 2019. O filme só chega às salas no Brasil no final de outubro.


Tags: #CineBH, #AVidaInvisivel, #NoCoracaoDoMundo, #FilmedePlastico,#KarimAinouz, #SonyPictures, #RTFeatures, #VitrineFilmes, #etccomunicacao, #CineTheatroBrasilVallourec, @cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

08 outubro 2018

"Uma Noite de 12 Anos" - filme oportuno e imprescindível para o Brasil de hoje

O filme de Brechner conta a história de três homens que sofreram o horror e a crueldade da ditadura no Uruguai dos anos de 1970 e 1980 (Tornasol Films/Divulgação)
  

Mirtes Helena Scalioni



Mais do que um aviso, um alerta. Para o Brasil atual e polarizado, é isso que vai ficar ao final da sessão de "Uma Noite de 12 Anos" ("La Noche de 12 Anõs"), que conta a história mais do que verdadeira de três personalidades que sofreram o horror e a crueldade da ditadura no Uruguai dos anos de 1970 e 1980. Os cerca de 4.500 dias que os jornalistas Maurício Rosencof e Eleutério Fernandez Huidobro e o então agricultor José Mujica passaram como reféns do Exército em várias prisões são mostrados de maneira contundente pelo diretor Álvaro Brechner. Imperdível, imprescindível e oportuno.

Em 1973, 12 militantes do Movimento Nacional de Libertação Tupamaros, de oposição à ditadura militar, foram retirados da prisão onde estavam, tornaram-se reféns do Exército e, durante 12 anos, vagaram por cadeias em vários locais do Uruguai, para as quais eram levados sempre encapuzados. Nenhum deles tinha a menor noção de onde estava. Além disso, eram mantidos incomunicáveis. Não se falavam entre si e nem com os militares carcereiros.

O filme de Brechner pinça três desses detentos e, por meio deles, desnuda o que há de pior em um regime totalitário. É baseado no livro "Memórias del calabozo", escrito por dois dos personagens: Rosencof, vivido no filme pelo argentino Chino Darin, e Huidobro, interpretado por Afonso Tort. O terceiro da história, que depois se transformou num dos presidentes mais populares do Uruguai, Pepe Mujica, é feito por Antonio de la Torre.

Num filme como esse, com cenários sempre sombrios e claustrofóbicos, o trabalho dos atores ressalta e é fundamental. Com muito brilho e talento, os três - assim como os demais do elenco - dão seu recado envolvendo o público com a ideia que parece alimentar os personagens: a de que é preciso resistir para viver, apesar dos extremos da tortura física e psicológica e de toda sorte de humilhação e maus tratos. É como se mostrassem dois lados extremos do ser humano: a crueldade e a nobreza da resistência.

Numa sacada genial, o diretor intercala cenas dos três, cada um com sua dor e solidão, cada um tentando se reinventar para sobreviver no seu silêncio. Alguns flashbacks ajudam o espectador a conhecer um pouco da trajetória de cada um antes da prisão. A raríssima leveza de "Uma Noite de 12 Anos" fica por conta de pequenos momentos em que, aparentemente, o Exército é ridicularizado diante de algumas situações. Mas, como o filme é baseado em histórias reais, não há por que duvidar. O que fica é que, nem sempre, os opressores estavam devidamente organizados e afinados em seus objetivos.

Quem consegue chegar até o finalzinho do filme sem chorar - de tristeza, indignação, repúdio, raiva, medo - vai fatalmente sucumbir com a versão única e cortante de "The sound of silence", de Simon e Garfunkel, interpretada pela cantora catalã Silvia Pérez Cruz. Um soco no estômago. A partir daí, resta ao espectador voltar para a casa com a certeza de que é preciso refletir e, como os personagens, resistir e lutar para que lições de um passado tenebroso sejam profícuas e que a liberdade permaneça como o bem mais precioso da humanidade.
Duração: 2h02
Classificação: 14 anos
Distribuição: Vitrine Filmes


Tags: #UmaNoiteDe12Anos, #drama, #biografia, #AlvaroBrechner, #Chino Darin, #AntonioDeLaTorre, #VitrineFilmes, #AlfonsoTort, #JoseMujica, #ditaduramilitarnoUruguai, #Tupamaros, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho

09 setembro 2018

"Benzinho", delicioso filme sobre afeto e laços de família

A família de Irene, Klaus, Fernando, Rodrigo e os gêmeos Fabiano e Matheus transparece amor e união (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Alguns vão dizer que trata-se de um filme sobre a família. Outros dirão que é sobre a maternidade, embora se possa acreditar também que é sobre os afetos. Ou ainda: sobre a solidão - ou o medo dela. Melhor dizendo, "Benzinho" fala de laços e de como essas amarras podem ser mantidas e/ou destruídas. O grande diferencial, porém, do longa brasileiro de Gustavo Pizzi é a forma, escancaradamente simples e natural como a história é contada. Delícia de filme, para fazer rir e chorar.

O trunfo de "Benzinho", sua grande arma, é a atriz Karine Teles, que imprime uma credibilidade extraordinária a sua Irene, mãe de quatro - sim, quatro - filhos homens. Casada com Klaus (Otávio Muller), vivendo uma situação financeira angustiante e incerta, ela se vira como pode para dar conta das tarefas domésticas, ajudar nas despesas vendendo de marmitas a jogos de cama, cuidar da filharada e ainda acudir e apoiar a irmã Sônia (Adriana Esteves) que vive uma relação abusiva com o marido Alan (o ator uruguaio César Troncoso). Se sua vida já era difícil, vivendo essa verdadeira corrida de obstáculos, imagine o que pode acontecer quando seu filho mais velho, o adolescente Fernando (Konstantinos Sarris) recebe um convite para jogar handebol na Alemanha.

Corroteirista da história com o ex-marido Gustavo Pizzi, Karine Teles precisa basicamente do rosto para contar ao espectador o que se passa com ela. Em inúmeros closes, suas expressões tornam transparentes seus pensamentos, reações e sentimentos, mesmo que eles sejam ambíguos. E é com ela que o público passeia por um turbilhão de emoções e engasgos, dúvidas, angústias, posse, medos, insegurança.

Sua parceria com Adriana Esteves também é perfeita e transborda afeto e cumplicidade. A cena das duas na formatura de Irene (é preciso dizer que ela também faz o curso Médio) é um ótimo exemplo do bate-bola perfeito das atrizes que, com muita simplicidade (mais uma vez) enternece o público sem qualquer sinal de pieguice. Coisa de craques.

Mérito do roteiro, a família de Irene, Klaus, Fernando, o gordinho Rodrigo (Luan Teles, sobrinho de Karine) e os gêmeos Fabiano e Matheus (Arthur Teles Pizzi e Francisco Teles Pizzi, verdadeiramente gêmeos e verdadeiramente filhos da atriz e do diretor Gustavo Pizzi) transparece amor e união. Esse parentesco, essa aproximação, claro, aumenta a sintonia entre o grupo, que se mostra, desde o início e, acima de tudo, amoroso, embora confuso.

Quase como uma metáfora dessa família, a casa onde todos vivem em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, é cheia de problemas que nunca são reparados. A porta emperrada não abre, mas isso não é problema. Todo mundo entra e sai, naturalmente, pela janela, onde foi colocada uma escada improvisada. E não se fala mais nisso. Urgente mesmo é fortalecer os laços. Imperdível!
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos


Tags: #Benzinho, #loveling, #VitrineFilmes, #KarineTeles, #AdrianaEsteves, #OtavioMuller, #GustavoPuzzi, #drama, #lacosdefamilia, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho

20 agosto 2018

Subjetivo, lento e poético, "Unicórnio" é quase uma fábula

Trama aborda a vida de mãe e filha num lugar distante de tudo, cercado por belas paisagens (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Unicórnio é uma figura mitológica representada por um cavalo branco com apenas um chifre no meio da cabeça. Entre outros símbolos, pode significar pureza e castidade. Pode ser que seja essa a representação sugerida no filme do mesmo nome, em cartaz no Belas Artes 3 (sessão vitrine às 19h10). Ou não. Pode ser também que o diretor tenha buscado, na representação, algo como força e vida, outras interpretações possíveis para o animal.

Mas ninguém precisa saber disso para gostar - ou não - de "Unicórnio", filme mais recente de Eduardo Nunes com elenco encabeçado por Patrícia Pillar. Enigmático, subjetivo, lento e poético, o longa tem tudo para não agradar os espectadores mais acostumados a tramas bem amarradas e construídas.

Com poucas palavras - na verdade, pouquíssimas - e imagens lindíssimas de paisagens que parecem ter saído de um quadro impressionista, a história se arrasta por 120 longos minutos, criando, na primeira metade da exibição, a impressão de que nada acontece ou vai acontecer. Quase isso. É visível o incômodo que provoca nas pessoas, que se mexem nas poltronas e cochicham, como se cobrassem um andamento, uma ação. É como se o diretor Eduardo Nunes, que é também o roteirista, quisesse que o público sentisse na pele o marasmo, a sensação de "tempo que não passa" - como os personagens.

Baseado em dois contos de Hilda Hilst, "Unicórnio", contado assim de um jeito bem simples, é a história de duas mulheres - mãe e filha - que vivem no campo, de forma muito rústica, enquanto esperam a volta do homem da casa que, aos poucos, o público vai descobrindo, está internado. Não se sabe se em um hospital para tratamento de alguma doença do corpo, ou numa instituição de tratamento de saúde mental, para cuidar, digamos, da alma.

Enquanto esperam, descobrem a presença de um vizinho, um misterioso criador de cabras muito bem interpretado por Lee Taylor. Pelo jeito, ele é o queridinho da vez no cinema e na TV. Brilhou em "Paraíso Perdido", na telona, e em "Os dias eram assim" e "Onde nascem os fortes", na telinha. Patrícia Pillar faz a mãe, bonita e lacônica, expressiva como sempre. O pai hospitalizado é Zécarlos Machado, correto e comedido como convém ao seu personagem, meio lunático, meio filósofo.


Mas quem carrega o filme, também com poucas palavras e muitos olhares e expressões, é a novata Bárbara Luz. (Parênteses para informar, pra quem não sabe, que ela é filha de Inês Peixoto e Eduardo Moreira, artistas fundadores do Grupo Galpão, velhos conhecidos, principalmente dos mineiros).

Enfim, "Unicórnio" não é um filme para todos. Autoral, ousado e enigmático, vale a pena ser visto para quem busca subjetividade, reflexão e poesia. Sem pressa, sem ação, sem trama. Com direito apenas a vislumbrar, interpretar, adivinhar e construir junto com o diretor uma espécie de fábula.
Duração: 2h02
Classificação: 10 anos



Tags:#Unicornio, #drama, #PatriciaPillar, #LeeTaylor, #BarbaraLuz, #ZecarlosMachado, #EduardoNunes, #VitrineFilmes, #BelasArtes, #CinemanoEscurinho