28 maio 2025

"Premonição 6: Laços de Sangue" - impecável nos efeitos visuais e na essência aterrorizante da franquia

Produção marca história no Brasil como a maior estreia de um filme de terror com classificação 18+
(Fotos: Warner Bros. Pictures)
  
 

Maristela Bretas

 
Para quem é fã da ensanguentada franquia, o novo capítulo - "Premonição 6: Laços de Sangue" ("Final Destination: Bloodlines") é uma experiência imperdível. O filme já se consagra como um sucesso de bilheteria, tendo levado mais de 1 milhão de pessoas aos cinemas no Brasil. 

Também acumula uma arrecadação de US$ 130 milhões desde o dia 15 quando foi lançado, marcando história como a maior estreia no país de um filme de terror com classificação 18+.

Passados 14 anos desde o último filme e novamente produzido pela New Line Cinema, a trama entrega efeitos visuais impecáveis, com sequências de mortes absurdamente violentas, capazes de gerar muita tensão e sustos na plateia. A criatividade por trás de cada fatalidade é, por vezes, inacreditável. 


A maquiagem e a atmosfera sombria complementam a excelência técnica do filme, transportando o público de volta ao perturbador senso de justiça distorcido da Morte que consagrou a saga.

"Premonição 6: Laços de Sangue" estabelece uma conexão com os filmes anteriores da franquia, explicando a origem das mortes do passado e até mesmo repetindo algumas delas, como muitos fãs deverão relembrar e curtir. 

O filme apresenta uma narrativa envolvente e repleta de reviravoltas, mantendo a essência aterrorizante que tornou a saga um fenômeno mundial.


Atormentada por um pesadelo violento e recorrente, a estudante universitária Stefani (Kaitlyn Santa Juana) volta para casa em busca de sua avó Íris (Gabrielle Rose/Brec Bassinger), que ela nunca conheceu e que é considerada insana pelos familiares. 

Contudo, a reclusa idosa pode ser a única capaz de romper o ciclo fatal que paira sobre sua linhagem e salvar sua família do terrível destino que aguarda todos eles. Afinal, na macabra lógica da franquia, é sempre a Morte quem dita a ordem dos eventos. E, invariavelmente, eles acontecem, manifestando-se das formas mais brutais e inesperadas.


O elenco conta ainda com Teo Briones, Richard Harmon, Owen Patrick Joyner, Rya Kihlstedt e Anna Lore. Uma participação especialmente emocionante é o retorno de Tony Todd no icônico papel de William Bludworth, marcando sua despedida do público em seu último trabalho antes de falecer de um câncer no estômago.

"Premonição 6: Laços de Sangue" honra o legado sangrento da franquia com uma trama que inteligentemente revisita e expande a mitologia estabelecida. Para os apreciadores de um terror visceral e criativo, este novo capítulo é uma jornada aterradora que certamente deixará marcas – e talvez alguns hematomas nos braços de quem se agarra à poltrona.


Ficha técnica:
Direção: Zach Lipovsky e Adam Stein
Produção: New Line Cinema, Dorman Entertainment, Practical Pictures, Freshman Year, Fireside Films
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nas redes de cinemas de BH, Contagem e Betim
Duração: 1h50
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

27 maio 2025

Mostra “A Cinemateca é Brasileira” apresenta a história da repressão política do Brasil

Exibição contará com a uma seleção de 16 obras clássicas do cinema nacional (Fotos: Divulgação)
 
 

Da Redação


A partir desta terça-feira (27) até o dia 1º de junho de 2025, o Cine Humberto Mauro, localizado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, receberá a mostra “A Cinemateca é Brasileira – Resistências Cinematográficas”. 

A programação apresenta uma seleção de 16 obras clássicas e contemporâneas do cinema nacional, abordando os períodos de repressão, resistência e enfrentamento político que marcaram a história do Brasil. 

Entre os filmes clássicos estão “Cabra Marcado Para Morrer”, de Eduardo Coutinho, e “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. A iniciativa é realizada em parceria com a Cinemateca Brasileira e integra a segunda edição do projeto itinerante da instituição.

A entrada é gratuita, e 50% dos ingressos estarão disponíveis, de forma on-line, 1 hora antes de cada sessão, no site da Eventim. Já o restante dos ingressos será distribuído presencialmente pela bilheteria, meia hora antes da sessão, mediante apresentação de documento com foto.

"Cabra Marcado Para Morrer" (Eduardo Coutinho)

A mostra homenageia o cinema nacional como um espaço de memória, crítica e resistência frente à luta pela democracia. Reunindo ficções, documentários, animações e curtas-metragens, a programação dialoga com diferentes gerações e linguagens cinematográficas, e promove uma reflexão sobre os desafios enfrentados pela sociedade brasileira ao longo de décadas.

Entre os destaques estão títulos emblemáticos como “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha, que reflete as tensões políticas, sociais e culturais da época a partir da fictícia nação latino-americana de Eldorado. 

Também compõem a seleção filmes contemporâneos como “Meu Tio José” (2021), de Ducca Rios, que revisita o sequestro do embaixador Charles Elbrick pela ótica de uma criança. Inspirada no mesmo acontecimento, a obra indicada para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “O Que é Isso, Companheiro?” (1997), de Bruno Barreto, também será exibida. 

"Meu Tio José" (Ducca Rios)

O clássico “Cabra Marcado Para Morrer”, será exibido em homenagem aos 40 anos do filme (1964-1984), aos 100 anos da protagonista Elizabeth Teixeira e aos 10 anos de falecimento do cineasta Eduardo Coutinho. O filme teve suas filmagens interrompidas pelo golpe militar de 1964 e retomadas 17 anos depois.

A curadoria inclui, ainda, filmes que tratam de episódios pouco conhecidos ou silenciados da história brasileira, como “Arara: Um Filme Sobre um Filme Sobrevivente” (2017), de Lipe Canêdo, que denuncia a violência contra povos indígenas. Obras como “Libertação de Inês Etienne Romeu” (1979), de Norma Bengell, e “Torre” (2017), de Nádia Mangolini, abordam a tortura e a repressão política. 

"O Que é Isso, Companheiro" (Bruno Barreto)

Já a luta sindical e os movimentos populares ganham espaço com produções recentemente restauradas pela Cinemateca Brasileira como “Greve” (1979), de João Batista de Andrade; “A Luta do Povo” (1980), de Renato Tapajós; e “ABC da Greve” (1979–1990), de Leon Hirszman, mesmo diretor de “Eles Não Usam Black-tie”, que venceu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza e também integra a programação.

Outros títulos completam o panorama da mostra, como “A Opinião Pública” (1966), de Arnaldo Jabor, que captura o sentimento da classe média durante o regime militar; “Os Fuzis” (1964), de Ruy Guerra, que trata das tensões entre o Estado e populações oprimidas, e “Manhã Cinzenta” (1969), curta-metragem baseado em conto de Olney São Paulo, com imagens documentais das manifestações de 1968. 

"Eles Não Usam Black-tie" (Leon Hirszman)

A atmosfera de tensão e a mentalidade dessa época são contextualizadas na ironia de “Pra Frente Brasil” (1982), de Roberto Farias, e no sensível “O ano em que meus pais saíram de férias” (2006), de Cao Hamburguer.

Vitor Miranda, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e programador da mostra, comenta sobre o projeto itinerante. "Assim como a Cinemateca, o Cine Humberto Mauro é uma instituição pública que tem interesse na preservação do cinema brasileiro e que ele seja visto por mais pessoas. A seleção de filmes está impecável, são verdadeiros clássicos nacionais."

Miranda contou ainda que o Cine Humberto Mauro receberá também a mostra "Intérprete do Brasil: Uma Homenagem a Grande Otelo", que acontecerá de 5 a 29 de junho.

"Terra em Transe" (Gláuber Rocha)

SERVIÇO:
Mostra “A Cinemateca é Brasileira – Resistências Cinematográficas”
Data: 27 de maio (terça-feira) a 1º de junho (domingo)
Horários: variados
Local: Cine Humberto Mauro - Palácio das Artes - (Avenida Afonso Pena, 1537, Centro)
Classificação: variadas
Entrada: gratuita; 50% dos ingressos estarão disponíveis, de forma on-line, 1 hora antes de cada sessão, no site da Eventim; o restante dos ingressos será distribuído presencialmente pela bilheteria, meia hora antes da sessão, mediante a apresentação de documento com foto.
Informações para o público: (31) 3236-7307 ou no site www.fcs.mg.gov.br

26 maio 2025

"Lilo & Stitch", a animação que encantou o público em 2002 e ganhou um live-action

O charme do filme está na simplicidade ao mostrar que mesmo sendo de mundos diferentes, um precisa
do outro (Foto: Walt Disney Pictures)
 
 

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


No dia 22 de maio de 2002, chegava aos cinemas brasileiros uma das animações mais adoráveis e anárquicas da Disney: "Lilo & Stitch". Um sucesso que garantiu uma bilheteria de US$ 273 milhões e a indicação ao Oscar na categoria naquele ano.

Passados 23 anos, "Lilo & Stitch" ganhou um remake, que estreou nos cinemas em live-action (confira a crítica aqui) e está atraindo milhares de fãs, de todas as idades, especialmente famílias. Para quem não assistiu a animação original, ela pode ser conferida no canal por assinatura Disney+.


Trazendo uma aventura em solo havaiano, o filme nos apresenta a Experiência 626 — um alienígena violento, mas irresistivelmente fofo — e a pequena e rebelde Lilo, duas figuras deslocadas que vão precisar uma da outra para entender o verdadeiro significado da palavra "ohana".

Lilo é uma menina solitária, criativa e com um coração enorme. Ela recolhe lixo nas praias para proteger os animais marinhos, enquanto tenta lidar com a ausência dos pais e o convívio com a irmã mais velha, Nani, que luta para sustentar as duas e manter a guarda da caçula. 


A rotina muda drasticamente quando Lilo adota Stitch, um “cachorro” estranho e destruidor que, na verdade, é uma criatura alienígena foragida. Juntos, a dupla constrói uma amizade improvável, cheia de caos, mas também de descobertas emocionais.

O charme de “Lilo & Stitch” está na sua simplicidade. Mesmo sendo de mundos completamente diferentes, Stitch precisa de Lilo tanto quanto ela precisa dele. Ela o ensina o que é amor, cuidado e pertencimento. 

Se há algo que a menina aprende e ensina com toda essa jornada é que "ohana' significa família, e família nunca abandona ou esquece.


Apesar de sua origem destrutiva, Stitch vai sendo moldado pelo afeto — e sua convivência com Lilo, Nani e até com o cientista maluco Jumba (seu criador). Mostra que, às vezes, só é preciso alguém que enxergue além das aparências para despertar o melhor em nós.

Outro ponto que encanta é o cenário: o Havaí, com sua energia solar, vibrante e cultural, casa perfeitamente com o caos fofo de Stitch. Os diretores Chris Sanders e Dean DeBlois acertaram ao incorporar elementos como o surf, a espiritualidade havaiana, e a trilha sonora com toques de Elvis Presley. 

É uma mistura que traz frescor e originalidade à animação. Confira aqui uma das músicas.


Visualmente, o longa é um presente. Com fundos pintados em aquarela e um estilo que remete à animação 2D clássica, “Lilo & Stitch” tem um toque artesanal, quase nostálgico, que contrasta com sua trama moderna e subversiva.

Vale lembrar que, no material de divulgação, tanto da animação quanto do live-action, Stitch invade pôsteres de outros filmes da Disney, assustando princesas, príncipes e personagens do estúdio — um sinal claro de que esse "monstrinho azul" não estava aqui para seguir as regras.


Já Lilo é uma das representações mais autênticas da infância no cinema: cheia de imaginação, imprevisível, birrenta, afetuosa. Ela não é a menina idealizada — e justamente por isso, é real e inesquecível. 

Stitch, por sua vez, é a metáfora perfeita para o "monstro" que existe em cada um de nós, e que pode ser transformado pelo amor e pela convivência.


Se há uma pequena falha, talvez seja o espaço dado à história de Nani. A animação não aprofunda muito o contexto das dificuldades que ela enfrentou para criar Lilo sozinha, mas, mesmo assim, é impossível não admirar sua força, coragem e dedicação. O live-action repara isso e dá mais espaço a Nani.

“Lilo & Stitch” é uma animação que merece ser (re) vista com carinho. É um filme sobre pertencimento, laços improváveis que viram amor — e como, mesmo sendo diferentes, todos temos valor. Ohana nunca abandona. E esse filme também não.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Chris Sanders e Dean DeBois
Produção e distribuição: Walt Disney Pictures
Exibição: Canal Disney+
Duração: 1h25
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, aventura, família, comédia

25 maio 2025

"Manas" – Um retrato doloroso e cruel de uma Ilha de Marajó exuberante

Destaque para a atuação de Jamilli Correa, como Marcielle, uma jovem sensível e corajosa, forçada a amadurecer antes da hora (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


O longa-metragem de ficção de Marianna Brennand fez barulho nos festivais de Veneza e São Paulo e está em exibição no Cine Una Belas Artes, em BH. Com delicadeza e firmeza, o filme coloca o dedo na ferida da violência sexual presente na Ilha de Marajó, trazendo à tona um ciclo cruel que atravessa gerações de mulheres.

A protagonista Marcielle (Jamilli Correa), uma garota de 13 anos, vive numa realidade marcada pelo machismo e pela violência que fazem parte do cotidiano da periferia ribeirinha. 


Com a partida da irmã mais velha, Claudinha, Marcielle começa a perceber com mais nitidez os padrões de opressão que se repetem dentro de sua família. Cabe a ela agora, proteger a irmã mais nova e tentar romper com esse destino, tão comum quanto brutal.

Um dos grandes destaques do filme é a atuação de Jamilli Correa, que entrega uma personagem sensível e corajosa, forçada a amadurecer antes da hora. Marcielle, aos poucos, entende por que a irmã mais velha se afastou da família e passa a desconfiar da “troca” que os homens da comunidade parecem exigir constantemente das mulheres.


A direção de Marianna Brennand é cuidadosa e, ao mesmo tempo, incisiva. Ela denuncia as violências e o tráfico infantil nessas comunidades sem expor as meninas ou recorrer a cenas gráficas. 

Pelo contrário: é no silêncio, nos olhares, nos gestos e nos não ditos que o filme se torna mais poderoso. A brutalidade não precisa ser mostrada diretamente — ela é sentida.

Em uma das cenas mais simbólicas, o pai (interpretado por Rômulo Braga) convida a filha para caçar. A sequência, carregada de tensão, coloca a menina como presa e o pai como predador — uma metáfora que resume o desequilíbrio de poder e o perigo constante vivido por essas garotas. A atuação de Braga, aliás, é marcante por essa ambiguidade: um homem de aparência gentil, mas profundamente hostil.


O filme também explora com beleza as paisagens da Ilha de Marajó — rios, matas, o verde intenso do Pará e da Amazônia — criando um contraste entre o paraíso natural e a vida dolorosa das meninas que ali habitam. 

Dira Paes, como a policial Aretha, tem um papel que cresce com força do segundo para o terceiro ato, representando uma mulher que tenta proteger as demais ao denunciar os abusos e incentivar a quebra do ciclo. O elenco conta ainda com Fátima Macedo (como Danielle, mãe de Marcielle), atores e atrizes locais da região.


Até mesmo a religião, muitas vezes vista como acolhimento, é retratada de maneira crítica. Em "Manas", a igreja aparece como espaço que incentiva as mulheres a "lidarem com a dor em casa", perpetuando o silêncio e a submissão. 

A cena em que Marcielle e outras meninas dançam ao som de “Conquistando o Impossível” é simbólica: um pedido de socorro camuflado de fé e esperança.


Talvez o longa pudesse se aprofundar um pouco mais nos antecedentes do pai, explorando como a violência masculina se reproduz entre gerações e no próprio tecido social da comunidade. Ainda assim, isso não compromete a força da narrativa.

"Manas" é um filme necessário, feito com respeito, cuidado e precisão. Ele denuncia o que precisa ser dito, mas sem expor as feridas — nos mostrando que até o silêncio carrega gritos. Um longa que fala com mulheres que vivem essa realidade, e com todos nós que precisamos ouvi-las.


Ficha técnica:
Direção: Marianna Brennand
Produção: Inquietude, em coprodução com Globo Filmes, Canal Brasil, Prodígio e Fado Filmes (Portugal)
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes - sala 2 - sessão 18 horas
Duração: 1h46
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, ficção

23 maio 2025

Caótico como ela, o documentário "Ritas" decepciona e não sai do lugar comum

Produção traz a última e inédita entrevista da artista, e registros feitos pela própria (Fotos: Biônica Filmes)
 
 

Mirtes Helena Scalioni

 
O que faz a diferença num documentário? Primeiramente, as entrevistas e imagens inéditas, principalmente quando o filme for sobre alguém muito conhecido. Só que esse não é o caso de "Ritas", sobre a nossa rainha do rock, com direção de Oswaldo Santana.

O longa entrou em cartaz nos cinemas no dia 22, quando se celebra o "Dia de Rita Lee" na cidade de São Paulo e pode ser conferido em BH no Centro Cultural Unimed-BH Minas, Cine Una Belas Artes e Cinemark Pátio Savassi.


Estão lá a eterna irreverência e desobediência da ovelha negra, a entrada - e saída traumática - dos Mutantes, o casamento certinho com Roberto de Carvalho, tudo entremeado com velhos e manjados clipes. Novidade nenhuma.

Se fosse possível apontar uma característica de "Ritas", talvez essa seja o tom meio blasée com que tudo é mostrado e narrado. Nada de novidades ou de surpresas, já que a vida da cantora foi exaustivamente exposta e comentada assim e ela morreu, em 8 de maio de 2023.


Quem sabe o documentário surtisse outro efeito se tivessem esperado mais tempo para lançá-lo, permitindo que o público sentisse saudade da artista. O longa é inspirado na autobiografia publicada por Rita Lee em 2016 e é ela também quem narra a história. Por enquanto, tudo parece extremamente óbvio.

Outro problema do filme são as muitas idas e vindas. Os clipes, recortes e entrevistas não obedecem a uma ordem cronológica, misturando temas como bichos de estimação, apresentação com Gilberto Gil, shows polêmicos, recantos da casa onde ela morou, infância, censura, plantas, doença, misticismo. Tudo na mais absoluta desordem. Chega a cansar. 


E olha que Oswaldo Santana trabalhou na montagem de outros filmes, entre eles, "Tropicália" (2012), "Bruna Surfistinha" (2011), e  "Tremores Urbanos" (2019). E também atuou como roteirista do longa "Ouvidor" (2023). "Ritas" é sua primeira produção como diretor. 

Como há outro documentário sobre a estrela, "Rita Lee: Mania de Você" de Guido Goldemberg, em cartaz no canal Max, a comparação é inevitável. Não que seja uma obra-prima, mas o filme do streaming é mais surpreendente e organizado do que "Ritas". 

Ele revela mais a intimidade da cantora, com participação de familiares e amigos, dando voz a artistas importantes como Gilberto Gil e Ney Matogrosso contando histórias. Convém assistir. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Oswaldo Santana e Karen Harley
Produção: Biônica Filmes em coprodução com a 7800 Productions e Claro
Distribuição: Paris Filmes e codistribuição Biônica Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes - sala 2; Centro Cultural Unimed-BH Minas, sala 2; e Cinemark Pátio Savassi, sala 8
Duração: 1h22
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

22 maio 2025

Prepare o lencinho, live-action "Lilo & Stitch" é 'ohana' do início ao fim

Remake da animação de 2002 emprega CGI para criação do alienígena azul que fugiu para a Terra e foi
adotado como cachorro (Fotos: Walt Disney Pictures)
 
 

Maristela Bretas

 
Para quem não sabe, "ohana" significa família. E família quer dizer nunca abandonar ou esquecer. A partir daí, prepare-se para muitos momentos emocionantes com o remake em live-action "Lilo & Stitch", que estreia nesta quinta-feira (22 de maio) nos cinemas, 23 anos após o lançamento da animação no Brasil, e que promete derreter os corações. Recomendo a versão dublada, que tem um toque mineirês na fala de um dos personagens.

Depois de vários erros em live-actions, como "O Rei Leão" (2019) e o mais recente "Branca de Neve" (2025), a Disney mostra que ainda sabe encantar muito bem seus fãs ao regravar esta animação de 2002. Para quem não assistiu o desenho, recomendo, pois ambas as produções são muito fofas. 


O live-action não fica em nada a dever, especialmente na recriação de Stitch, o extraterrestre mal-humorado que conquista o coração da simpática e levada Lilo, uma menina havaiana que só deseja ter um melhor amigo. 

Ele ganhou vida com o emprego de CGI e a dublagem de seu criador e ilustrador Chris Sanders (responsável pela animação e que também dirigiu "Robô Selvagem" - 2024).

O filme não perde o encanto, graças aos personagens que são bem carismáticos. A começar por Maya Kealoha, , que interpreta a menina Lilo Pelekai, e à amizade que se forma entre a menina e seu "estranho cachorro azul" que acaba sempre em muita confusão.


Tudo acontece quando o Experimento 626, um ser considerado muito agressivo e destruidor  escapa do planeta Turo e vem cair em Kauai, no Havaí. Após criar muita confusão, ele é capturado e acaba adotado pela órfã Lilo, que o elege seu melhor amigo e lhe dá o nome de Stitch. 

Para desespero de Nani (Sidney Agedong), sua irmã, que sempre está correndo o risco de perder o emprego por causa das aprontações de Lilo, além de brigar para manter a guarda da menina.

A parte cômica fica por conta dos atrapalhados Zack Galifianakis, como Jumba Jookiba, e Billy Magnussen, como o agente Pleakley. Eles são os alienígenas que vêm à Terra para tentar capturar o Experimento 626. 


O elenco conta ainda com Courtney B. Vance (o agente Cobra Bubbles), Kaipo Dudoit (David), Hannah Waddingham (a Grande Conselheira da Federação das Galáxias), Tia Carrere (a assistente social Sra. Kekoa) e Jason Scott Lee (patrão de Nani). Estes dois últimos fizeram a dublagem na animação de 2002 dos personagens Nani e David. 

Também Amy Hill, que agora faz a vizinha Tutu, participou da animação, dublando a Sra. Hasagawa. Saiba quem é quem na animação e no live-action na foto abaixo.

Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Chris Sanders,
Maya Kealoha, Sidney Agedong, Kaipo Dudoit, Courtney B. Vance, 
Zack Galifianakis Billy Magnussen, Tia Carrere e Amy Hill

Embalado por canções havaianas e um toque nostálgico de Elvis Presley, "Lilo & Stitch" ainda tem a seu favor as deslumbrantes paisagens da Costa Norte do Havaí, onde foi filmado. 

A produção é colorida, emocionante e entrega situações  muito divertidas de completo caos provocadas pelo alien azul que vão agradar crianças e adultos. 

Mais do que isso, o filme passa, do início ao fim, reforçando a mensagem da importância da família. "Ohana" é a palavra mais pronunciada, em cenas que derretem o mais duro dos corações. 


São abordados temas como perda, bullying na escola, diferenças sociais e o amor entre irmãs, por mais que elas briguem. Maya Kealoha e Sidney Agedong têm uma ótima sintonia e até parecem irmãs mesmo. 

Até Stitch, que é o caos em pele de "cachorro", muda seu comportamento quando se torna parte da família. É emocionante vê-lo junto de Lilo. 

O live-action não fica a dever em nada à animação de 2002, que arrecadou mais de US$ 270 milhões em todo o mundo com um orçamento de US$ 80 milhões, além de ter sido indicado ao Oscar como Melhor Filme de Animação. 

Não deixe de conferir "Lilo & Stitch"; confesso que chorei muito.


Ficha técnica:
Direção: Dean Fleischer Camp
Produção: Walt Disney Studios Motion Pictures e Rideback
Distribuição: Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h48
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, aventura, família, comédia

21 maio 2025

Tom Cruise encerra "Missão: Impossível" com cenas eletrizantes e conexão com o passado

Em "Acerto Final" o agente especial Ethan Hunt precisa destruir uma Inteligência Artificial que está
controlando os computadores do planeta (Fotos: Paramount Pictures)
 
 

Maristela Bretas

 
Relembrando cenas dos filmes passados, o ator Tom Cruise e sua equipe do IMF encerram com "Missão: Impossível - O Acerto Final" ("Mission: Impossible - The Final Reckoning") a milionária franquia iniciada em 1996 (há quase 30 anos). 

O filme, que estreia nesta quinta-feira (22), mas já está com exibições especiais em várias salas de cinema do país, traz o agente Ethan Hunt completando sua última missão, iniciada em 2023 com "Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1". Recomendo assistir para entender melhor a trama e os novos personagens.


No longa, ele e sua equipe têm a chave para destruir um vilão virtual, a Inteligência Artificial chamada de Entidade, que controla o sistema global de computadores e toda a rede de internet. A Entidade pretende acionar as armas nucleares das grandes potências para dizimar o planeta.

Com oito produções, Tom Cruise, conhecido por dispensar dublês de muitas cenas perigosas de seu personagem, mantém o mesmo estilo no novo filme. Segundo ele declarou no Festival de Cannes, este será mesmo o último da franquia. O nome foi até mudado de "Acerto de Contas - Parte 2" para "O Acerto Final".


Contando novamente com Christopher McQuarrie, também sócio da produtora de Cruise, diretor e roteirista dos filmes da franquia desde 2018, e a produção da Paramount Pictures, "MI-8: O Acerto Final" traz novamente os fiéis parceiros de Ethan Hunt da maioria das missões - Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg). 

Apesar de as maiores perdas terem sido no elenco feminino, com as saídas de Rebecca Ferguson, Michelle Monaghan e Vanessa Kirby, pelo menos no oitavo filme, assim como no anterior, o público passa a contar com novos rostos. 


Retornam Angela Bassett (como Erika Sloane, presidente dos EUA), Hayley Atwell (Grace) e Pom Klementieff (Paris), novas parceiras de Hunt. 

O longa dá uma boa distribuição de tempo na tela para todos, mesmo sendo Cruise a estrela, destacando o papel de cada um na missão, especialmente no final. 

O vilão ainda é o nada convincente Gabriel, interpretado por Esai Morales. A franquia já teve vilões melhores, como Owen Davian (interpretado pelo excelente Philip Seymour Hoffman), de "Missão: Impossível 3" (2006); e Solomon Lane (papel de Sean Harris), de "Nação Secreta" (2015) e "Efeito Fallout" (2018).


Em compensação, as cenas de ação são eletrizantes, chegam a dar agonia ver Tom Cruise pendurado em aviões. Clique aqui para ver. Ou nas gravações embaixo d'água. O ator fala como foi a experiência. Confira.

Mesmo com tantas cenas que prendem o espectador na cadeira, "Missão: Impossível - O Acerto Final" ainda tem menos ação que seu anterior. 

O início é mais lento, explicando o que Ethan e sua equipe devem fazer. Mas depois que engrena, é muito tiro, porrada e bomba, como esperado.


O mais longo filme da franquia, com 2h49, faz conexões durante toda a trama com os demais filmes (quem acompanhou a saga vai se lembrar de muitas cenas). A produção é muito boa, mas o encerramento poderia ter sido mais forte. Perde para "Efeito Fallout" e "Nação Secreta".

"Acerto Final" tem todos os ingredientes para ser o blockbuster do primeiro semestre e um dos melhores do ano e deve agradar aos fãs do ator. E mesmo ele negando, deixa uma interrogação no ar se esta será mesmo a última Missão Impossível. 

Vale muito à pena conferir, especialmente na sala IMAX para aproveitar todos os efeitos.


Ficha técnica:
Direção: Christopher McQuarrie
Produção: Paramount Pictures e Skydance Productions
Distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h49
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, espionagem, suspense

17 maio 2025

Perturbador, thriller "Uma Família Normal" dialoga com discussões contemporâneas e urgentes

Longa sul-coreano aborda temas semelhantes aos do filme “Parasita” e da série “Adolescência” (Fotos: Pandora Filmes)
 
 

Carol Cassese

 
Carros luxuosos, aparências impecáveis, chefs renomados. Esses são os principais valores dos protagonistas de "Uma Família Normal", thriller sul-coreano dirigido por Hur Jin-ho. No Brasil, a produção chegou às telas no início de maio, surpreendendo positivamente a crítica.

O filme, centrado na história de uma família rica que precisa lidar com as consequências de um crime violento, foi oficialmente lançado em 14 de setembro de 2023, durante o Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá. 

Logo na primeira cena, vemos um incidente violento no trânsito, que deixa um homem morto e sua filha gravemente ferida. O advogado criminalista Jae-wan (Sol Kyung-gu) é então chamado para defender o assassino (Yoo Su-bin), enquanto seu irmão mais novo, o médico Jae-gyu (Jang Dong-gun), realiza uma cirurgia de emergência na menina ferida. 


Os familiares, que costumam sair para jantar em restaurantes luxuosos com as respectivas esposas, logo começam a entrar em conflito, pois defendem pontos de vista aparentemente antagônicos (em especial no que diz respeito ao trágico evento).

Há, portanto, uma interessante oposição entre os dois irmãos, que lembra o clássico "O Médico e o Monstro" – o último, claro, representado pela figura do advogado criminalista, que parece sempre privilegiar o dinheiro. 

No entanto, assim como acontece na obra original de Robert Louis Stevenson, observamos que, na verdade, as duas figuras podem não ser tão diferentes uma da outra. 


As esposas, interpretadas por Kim Hee-ae e Claudia Kim, também discutem entre si. A primeira, Yeon-kyung, casada com o irmão médico, se dirige à cunhada, Ji-su, mais jovem de maneira desdenhosa, comentando sobre sua magreza: “Nem parece que você acabou de ser mãe”.

Por sua vez, a personagem Seon-ju (Choi Ri) demonstra condescendência e de fato evidencia que a estética é um valor primordial para ela – logo em uma das primeiras cenas do filme, Seon-ju afirma que “ainda precisa perder quatro quilos” para se sentir bem consigo mesma. 

Ao longo da noite, observamos diversas conversas sobre a “juventude” e o “envelhecimento” de bebidas, o que pode ser compreendido como um comentário sobre a diferença de idade entre as duas mulheres.


O mais grave de toda a situação, porém, é que, enquanto os personagens principais estão no jantar, seus filhos adolescentes cometem um tenebroso ato de violência contra uma pessoa vulnerável. 

É a partir desse ocorrido que uma das principais perguntas do longa emerge: qual escolha você tem quando seus filhos são criminosos? Ou, mais especificamente, como um médico e um advogado, representantes de setores tão tradicionais, podem lidar com o impacto social de um crime cometido por membros de suas famílias?

Os personagens, então, passam a discutir as diferentes implicações da ação de seus filhos. Ao longo da história, os familiares mostram diversos traços de suas personalidades, o que torna a trama bastante complexa.


Em um momento de lucidez, a mãe dos dois irmãos, que sofre de Alzheimer, afirma sobre Jae-gyu: “Ele parece bonzinho, mas pode ser muito violento”. Como apontamos anteriormente, a figura do médico gradualmente passa a se aproximar de uma representação monstruosa. 

Vale observar que o filme é baseado no romance "The Dinner" ("O Jantar"), do autor holandês Herman Koch, que já inspirou pelo menos outras três versões cinematográficas: "Het Diner" (Holanda, 2013), "I Nostri Ragazzi" (Itália, 2014) e "The Dinner" (Estados Unidos, 2017). 

Enquanto o romance se passa inteiramente ao longo de um jantar, o longa de Hur Jin-ho expande a história, ambientada durante vários dias. 

Mesmo considerando as particularidades de cada cultura, é interessante pensarmos que há algo de universal nesta história, ou, pelo menos, um número significativo de elementos comuns a sociedades capitalistas. 


Nesse sentido, o longa de Hur Jin-ho poderia facilmente se passar no Brasil, onde homens que dirigem carros luxuosos também possuem uma “autorização” para serem violentos, sem graves consequências. 

Poderia – e irá se passar: uma versão brasileira da história, intitulada "Precisamos Falar", deve chegar às salas de cinema ainda neste ano. Dirigido por Pedro Waddington e Rebeca Diniz, o filme conta com a presença de Marjorie Estiano e Alexandre Nero no elenco. 

Como esperado, segue uma premissa similar a do romance holandês "O Jantar", também explorando o tema da desigualdade de classe.


Ao considerarmos o título da adaptação coreana, lembramos ainda da autora argentina Samanta Schweblin que, em entrevista ao periódico El País, afirmou que “o que chamamos de normalidade” é uma falácia.

No longa, observamos que elementos como um jaleco branco ou um renomado escritório de advocacia definitivamente dizem muito pouco sobre a ética de uma pessoa. 

Mesmo que os dois irmãos possam ser significativamente cruéis, as cenas mais angustiantes do longa são centradas nos adolescentes, Seon-ju e Hyung-cheol (Yoo Su-bin)l, que passam horas assistindo a conteúdos violentos nas redes sociais. 


Por abordar o impacto nocivo dessas mídias na vida dos mais jovens, o filme também dialoga com a discussão da comentada série "Adolescência", disponível na Netflix. 

A partir de "Uma Família Normal", compreendemos que meninas, em especial as mais ricas, também podem incorporar ideais violentos – mesmo que figuras do sexo masculino sejam, ainda, as principais responsáveis por agressões. 

Logo, é importante considerarmos que, assim como o gênero (fator bem explorado em "Adolescência"), a classe é um elemento fundamental para a compreensão das violências contemporâneas.


Além disso, não é surpreendente que o filme de Hur Jin-ho tenha sido comparado à "Parasita", de Bong Joon-ho, já que as duas produções sul-coreanas evidenciam muitas disparidades do sistema econômico vigente e, ainda, abordam conflitos familiares. 

Nesse sentido, "Uma Família Normal" confirma a força do cinema contemporâneo do país, que tem apresentado histórias densas e uma estética singular. 

Contando com um ritmo eletrizante e atuações surpreendentes, o filme de Hur Jin-ho perturba o espectador do começo ao fim, suscitando reflexões sobre a banalização das desigualdades. 

Essa história, significativa para tantas culturas, ilustra que, muitas vezes, os cidadãos “normais” (ou “de bem”, como diríamos por aqui) operam primordialmente a partir de uma lógica desequilibrada e egocêntrica.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Hur Jin-ho
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: em breve no streaming
Duração: 1h49
Classificação: 16 anos
País: Coreia do Sul
Gênero: drama