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30 abril 2021

Impossível sair incólume do perturbador “Bela Vingança”

Filme dirigido por Emerald Fennell e estrelado por Carey Mullingan venceu o Oscar 2021 de Melhor Roteiro Original (Fotos: Focus Features)

Mirtes Helena Scalioni


Ninguém precisa pensar muito para se lembrar de ter ouvido, alguma vez na vida, homens - e mulheres - justificando um estupro com frases do tipo: “corpo de bêbada não tem dono”, “só aconteceu porque ela bebeu muito” ou “ela se ofereceu e ele fez a parte dele”. É mais ou menos disso que trata o filme “Bela Vingança” ("Promissing Young Woman"), cuja diretora e roteirista, Emerald Fennell, acaba de receber o Oscar de Melhor Roteiro Original. A estreia nos cinemas brasileiros acontece dia 13 de maio.


A cena é clássica e, normalmente, faz parte das comédias: numa balada, a moça se empolga incentivada por amigos, passa da conta na bebida e, no final da noite, é socorrida por algum homem que, generosamente, cuida dela. De manhã, acorda num lugar desconhecido, com alguém de quem não se lembra, de ressaca e, às vezes, sem calcinha. O episódio resulta sempre em muitas gargalhadas.


Foi nesse vespeiro tão corriqueiro quanto revoltante que Emerald Fennell quis cutucar ao escrever seu roteiro. E colocou o longa nas telas de forma tão enigmática que, até metade do filme, o público se pergunta por que a personagem central, a jovem Cassandra Thomas - Cassie (Carey Mulligan) trabalha como atendente num café se cursou a faculdade de Medicina?


Ou: por que ela costuma sair sempre sozinha para diferentes baladas, firmemente disposta a provocar e fisgar machos dispostos a abusar de mulheres bêbadas e depois se vingar deles? Ou ainda: por que ela é tão misteriosamente triste e sozinha a ponto de nem se lembrar do dia do seu aniversário de 30 anos?


Que ninguém se engane: “Bela Vingança” é um filme pesado e ácido. Aos poucos, lembranças e traumas vão sendo colocados para o espectador, que chega a ficar confuso com a cara de anjo de Cassie. 

Nesse ponto, a bela Carey Mulligan dá show, confundindo e despertando mais e mais curiosidade no público. Mesmo depois que ela encontra e passa a se relacionar com um ex-colega de faculdade, Ryan (Bo Burnham), seus planos continuam nebulosos por um bom tempo.


“Bela Vingança” é um filme propositadamente perturbador, inclusive pela inserção de belas e melodiosas canções que, tocadas praticamente na íntegra, parecem, de relance, não combinar em nada com a tensão da trama. Tudo é absolutamente surpreendente no longa. 

É tão estranho e admiravelmente inesperado que pode até parecer inverossímil. Mas verdade seja dita: a história lava a alma de mulheres e homens que acreditam que corpos são sagrados e não podem – em hipótese nenhuma – ser abusados.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Emerald Fennell
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: 13 de maio nos cinemas
Duração: 1h48
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Suspense