12 junho 2025

Cinema para amar e se divertir

 
 

Equipe do Cinema no Escurinho

 
A semana do Dia dos Namorados está no ar, e o cinema é o refúgio perfeito para todos os corações! Seja para celebrar a dois ou para curtir a própria companhia, prepare a pipoca que a programação está cheia de opções para todos os gostos. A turma do Cinema no Escurinho tem boas indicações para nossos seguidores.

Para os apaixonados (e os que gostam de um bom romance): que tal se aninhar com seu amor para um drama romântico que aquece a alma, ou uma comédia leve que garante boas risadas? 

Para os solteiros (e os que celebram a liberdade!): quem disse que o Dia dos Namorados é só para casais? Este é o momento perfeito para se mimar, seja com uma comédia hilária que te fará esquecer de tudo, ou um filme de ação eletrizante, ou até mesmo um suspense que prende a respiração. Reúna os amigos ou curta sua própria companhia com um filme que te faça vibrar ou se emocionar!

Não importa seu status, o importante é aproveitar a magia do cinema. Escolha seu gênero preferido e celebre o amor – seja ele romântico, entre amigos ou o amor-próprio! Aí vão as nossas dicas.  

Eduardo Jr.

"Cidade dos Anjos" (1998) 
Um anjo (Nicolas Cage) se apaixona por uma mortal (simplesmente Meg Ryan, por quem qualquer um se apaixonaria, né?). Filme sobre relacionamento, finitude, dogmas, e ainda entrega emoção. Disponível na Amazon Prime, Google Play Filmes, Apple TV e Youtube.

"Cidade dos Anjos"

Maristela Bretas

"Idas e Vindas do Amor" (2010)
Esta comédia romântica trata exatamente do Dia dos Namorados, quando vários casais (e não casais) têm suas vidas entrelaçadas no Dia dos Namorados. Alguns em busca de novos amores, outros com corações partidos, mas todos em busca do grande amor. No elenco de peso temos Bradley Cooper, Jennifer Garner, Anne Hathaway, Julia Roberts, Patrick Dempsey, Ashton Kutcher, entre outros famosos. Disponível na Amazon Prime, Google Play Filmes e Apple TV.

"Idas e Vindas do Amor"

"Meu Primeiro Amor" (1991)
Comédia dramática lançada em 1991 e dirigida por Howard Zieff. O longa é estrelado por Macaulay Culkin e Anna Chlumsky. Enquanto Vada lida com os desafios da adolescência, ela também desenvolve uma paixão por seu colega de classe, Thomas J. Sennett (interpretado por Macaulay Culkin). Juntos, eles embarcam em uma jornada de autodescoberta, amizade e amor.  Disponível na Amazon Prime, Google Play Filmes e Apple TV.

"Meu Primeiro Amor"

Mirtes Helena Scalioni

“L’Amour” (2012)
Comovente filme francês dirigido por Michael Haneke. Com atuações inspiradas de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelli Riva, o longa é focado em um casal de idosos apaixonados um pelo outro e pela música clássica. O drama começa quando ela adoece e precisa de cuidados especiais. É o amor elevado à sua máxima potência quando posto à prova. Dos finais mais chocantes que eu já vi. Disponível no Max, Amazon Prime e Mubi.

"L'Amour"


A Culpa é das Estrelas” (2014)
O livro e o filme exploram temas universais como a doença, a morte e o amor, de forma sensível e emocionante. Hazel e Gus são personagens marcantes, que conquistam o público pela sua força e determinação. O autor, John Green, foi inspirado por uma história real de uma jovem que lutou contra o câncer, o que adiciona uma camada de autenticidade à trama. Ainda não superei esse filme maravilhoso. Disponível no Disney+. Confira a crítica aqui

"A Culpa é das Estrelas"


"Sorte no Amor" (2006)
A bem-sucedida Ashley tem uma vida maravilhosa e é conhecida como a garota mais sortuda do mundo. Entretanto, após beijar o desastrado Jake em um baile a fantasia, a sorte dos dois é invertida. Quem nunca teve sorte no amor? Quem sempre acha que foi um solteiro (a) que só teve azar no amor? Gosto muito desse filme que ele expõe de maneira divertida e prática o que é sorte/ azar no amor. Quem menos espera pode se tornar um par para a vida toda. Disponível na Disney+, Telecine e Amazon Prime.

"Sorte no Amor"

"Comer, Rezar, Amar" (2010)
Na história conhecemos Liz que tinha um marido e uma carreira estável. Tudo muda após passar por um divórcio. Liz precisa aprender a gostar de si própria e redescobrir o amor não só em homens, mas nas dores e delícias da vida. Viajando e experimentando novos sabores, ela começa a mudar sua percepção e visão de vida. Um filme para se aprender sobre o que é estar solteiro e também sobre a vida a dois. Disponível na Amazon Prime, Apple TV, Telecine e Google Play Filmes.

"Comer, Rezar, Amar"

Silvana Monteiro

Em Uma Ilha Bem Distante (2023)
Comédia alemã que acompanha uma mulher de 49 anos, casada e mãe de uma filha. Ela sofre com a estrutura de ter que assumir tudo sozinha sem a ajuda dos homens da casa. Ela resolve partir para a Croácia após a morte da mãe e acaba em uma jornada de descobertas e de liberdade ao conhecer um morador local. Disponível na Netflix.

"Em uma Ilha Bem Distante"

Série "Quando o Telefone Toca" (2024)
Série coreana que aborda um casamento arranjado entre um político e uma herdeira muda, que é sequestrada. Romance, drama e suspense se misturam a segredos e personagens inesperados, mudando totalmente o rumo da vida do casal, cuja relação se torna mais forte para enfrentarem a crise juntos. Disponível na Netflix.

"Quando o Telefone Toca"

Os filmes que exploram as nuances do amor, da paixão e até dos desafios de um relacionamento são ideais para reforçar a conexão e compartilhar emoções. Fique de olho nas estreias que prometem suspirar e também no que está nos catálogos dos canais de streaming!

E se tiver alguma indicação, conta prá gente e ajude mais seguidores a curtirem este momento tão especial e todos os outros importantes em que uma pipoca, um edredom quentinho e uma boa companhia merecem a magia do cinema.

11 junho 2025

Banguela e Soluço voltam a conquistar corações no live-action "Como Treinar o Seu Dragão"

Nova produção oferece um espetáculo visual e emocionante seguindo, com fidelidade, o enredo da animação
criada em 2010 (Fotos: DreamWorks Animation)


Maristela Bretas


Filmado na Irlanda do Norte, o live-action "Como Treinar o Seu Dragão" é um verdadeiro espetáculo visual e de computação gráfica, reproduzindo fielmente a adorada animação "Como Treinar o Seu Dragão" ("How To Train Your Dragon"), lançada pela DreamWorks em 2010. 

O estúdio acerta novamente com este remake, que estreia oficialmente dia 12 de junho, mas recebeu estreias antecipadas em vários cinemas. 

Não há do que reclamar, a ida ao cinema é um convite para curtir e mergulhar nas aventuras de Soluço (muito bem interpretado por Mason Thames, de "Telefone Preto" - 2022) e seu amigo, o dragão mais fofo do cinema, Banguela (criado com perfeição em CGI). 


O filme entrega tudo o que promete, com efeitos especiais grandiosos, batalhas épicas com os dragões e muita ação, com cenas que remetem ao final de "Vingadores: Ultimato" (2019). A experiência na sala Imax deixa a história ainda mais realista e emocionante.

Banguela, que já era a estrela da animação, e não perdeu a coroa no live-action, está ainda mais simpático. Seus grandes olhos verdes conquistam os fãs desde os primeiros momentos na tela. Até mesmo quando fica furioso o personagem é carismático.


Mas quando está com seu grande e fiel amigo Soluço, ele se transforma em um enorme pet de estimação, desajeitado e adorável. A dupla do remake revive cada detalhe da animação com uma química que prende o público. 

Na trama, fiel ao enredo conhecido, os vikings moradores da ilha de Berk travam uma guerra constante contra os dragões. O jovem Soluço, filho do imponente líder Stoico, tenta ser um guerreiro como o pai, mas sua falta de habilidade para caçar o impede. 

Até que conhece um dos mais temidos dragões da região, um Fúria da Noite, a quem dá o nome de Banguela e se tornam amigos inseparáveis. A dupla agora precisa convencer os outros moradores de Berk e o próprio Stoico de que dragões podem ser aliados valiosos dos vikings, especialmente diante de uma nova ameaça que coloca ambos em perigo.


Outros personagens também estão de volta, como Astrid, interpretada por Nico Parker, e Stoico, vivido por Gerard Butler, que convence muito bem como um líder viking. Ele demonstra boa familiaridade com o papel, uma vez que foi o dublador das três animações.

No elenco temos ainda os jovens e desajeitados guerreiros Perna-de-Peixe (Julian Dennison), Cabeçadura (Harry Trevaldwyn), Cabeçaquente (Bronwyn James), Melequento (Gabriel Howell). Destaque para Bocão Bonarroto, fiel amigo de Stoico e ferreiro da vila, interpretado por Nick Frost.


A dublagem brasileira não deixa por menos, com performances de alta qualidade feitas por nomes consagrados. Gustavo Pereira retorna para dar voz a Soluço, como fez na animação. Luisa Palomanes, conhecida por dublar atrizes como Emma Watson e Shailene Woodley, empresta a voz a Astrid. 

Gerard Butler recebe a dublagem de Mauro Ramos, outro conhecido do público por emprestar a Gary Oldman, Forest Whitaker e a personagens de animações clássicas, como Lumière ("A Bela e a Fera" - 1991), e Pumba ("O Rei Leão" - 1994).


Dean DeBlois, que dirigiu e roteirizou com Chris Sanders a animação de "Como Treinar o Seu Dragão" de 2010 e suas duas sequências, de 2014 e 2019, além de outros sucessos como "Lilo & Stitch" (2002), traz sua experiência para este, que é o primeiro live-action da DreamWorks.

O resultado é uma aventura muito bem produzida, repleta de magia e fantasia, com ritmo ágil, grandes efeitos visuais e a dupla principal simpática e carismática. 

Promessa de grandes bilheterias, como seus antecessores animados. Os produtores contam com isso e já planejam lançar em 2027 o live-action "Como Treinar o Seu Dragão 2", que deverá contar com o mesmo elenco.


O compositor britânico John Powell, responsável pela trilha sonora das três animações, fecha o pacote com músicas emocionantes e impactantes. Powell possui uma filmografia impressionante de trilhas para produções como "Wicked: Parte I" (2024) e Parte II (estreia em dezembro de 2025), "Patos" (2023), "Han Solo: Uma História Star Wars" (2018), "No Limite do Amanhã" (2014), entre outros sucessos.

As locações são um capítulo à parte. Gigantescos cenários, idênticos aos da animação, foram construídos em dois estúdios de Belfast, na Irlanda do Norte, para recriar a ilha de Berk - o Titanic Studios e o Belfast Harbour Studios. 

As gravações externas exploram as belezas naturais do país, com destaque para as ruínas do Castelo de Dunseverick, estrategicamente localizado sobre dois penhascos íngremes, com vista espetacular do Oceano Atlântico. 


Já a Calçada dos Gigantes, único Patrimônio Mundial da UNESCO na Irlanda do Norte, com suas 40 mil colunas de pedras negras de basalto no formato hexagonal, oferece um pano de fundo único.

O terceiro local é o Parque Florestal de Tollymore, de mata densa, cores variadas e caminhos sinuosos, cortados por pequenos riachos cristalinos. Ficou conhecido por ter sido cenário de alguns episódios da série "Game of Thrones", completando a atmosfera mágica do filme.

Se depois de tantos motivos você ainda tiver dúvidas, vá conferir nos cinemas o live-action "Como Treinar O Seu Dragão" e comente aqui o que achou. Lembrete importante: não saia antes dos créditos finais: há uma pequena cena pós-crédito.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Dean DeBlois
Produção: DreamWorks Animation
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h05
Classificação: 10 anos
País: EUA
Gêneros: ação, aventura, fantasia

07 junho 2025

"Ainda Não é Amanhã”: o futuro de cada desejo quando se é mulher

Obra debate a criminalização do aborto e seus efeitos sobre jovens da periferia (Fotos: Embaúba Filmes)
 
 

Silvana Monteiro

 
“Ainda Não é Amanhã”, longa de estreia de Milena Times em cartaz no Cine Una Belas Artes, tem nome de poema, cheiro de realidade e gosto de lágrima. 

A obra reflete as vivências de meninas da periferia que crescem ouvindo que a educação é o caminho, mas descobrem — cedo demais — que a estrada é esburacada, que o corpo pesa mais quando é mulher, negra e pobre.

Janaína, interpretada com maturidade por Mayara Santos, é uma dessas jovens. Primeira da família a ingressar na universidade, carrega o diploma de Direito como uma promessa feita não só a si mesma, mas às mulheres que vieram antes dela: sua mãe, sua avó.  


Mas, como tantas meninas brasileiras, Janaína vê esse futuro ser ameaçado não por falta de capacidade, mas por um fato muito comum entre tantas - a gravidez precoce, um daqueles choques de realidade que não cabem nos manuais do vestibular. Ter ou não ter? Uma discussão muito pertinente nesse caso em questão. 

É impossível não traçar paralelos com a realidade das muitas “Janas”, aquelas que caminham numa corda bamba entre sonho e sobrevivência. Que vivem sob o peso da expectativa familiar e do desejo pessoal, enquanto enfrentam um Estado que as torna invisível, porém, no primeiro deslize, está pronto para puni-las e até encarcerá-las. 


A universidade, para muitas, é o primeiro território que não fala a sua língua, e muitas vezes também o último, porque não há política pública que as sustente até o fim.

O filme acerta ao mostrar o aborto em uma imersão psicossocial. A câmera acompanha Jana com intimidade e respeito. Há uma beleza impactante quando o afeto entre mulheres rompe o isolamento e mostra que, apesar de tudo, resistir é possível. As cenas que referenciam o mar ao útero são, na minha visão, as mais incríveis e reflexivas. 

A escolha de ambientar o filme em Recife não é mero regionalismo. É afirmação. É resposta ao cinema brasileiro que ainda insiste em centralizar olhares no eixo Rio-São Paulo. 

O Nordeste aqui pulsa com suas próprias dores e seus próprios brilhos. A direção é feminina, o elenco é quase todo feminino, e a narrativa, atravessada por um recorte de gênero, escolhe centrar o cuidado entre mulheres.


“Ainda Não é Amanhã” conversa também com outro grupo que, mesmo distante da periferia, compartilha da mesma tensão entre avanço e permanência: as universitárias que são as primeiras de suas famílias a ocuparem esse espaço. 

Aquelas que ainda se sentem estrangeiras nas bibliotecas, que têm medo de não dar conta, que escutam “você está diferente” cada vez que voltam para casa. 

No fim, a escolha do título não é derrota. É aviso. O amanhã de Jana ainda não chegou, e pode demorar a chegar por diversas causas, sintomas e consequências. Mas o filme de Milena Times é um passo importante para que a gente comece, ao menos, a ouvi-las.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Milena Times
Produção: Espreita Filmes, Ponte Produtoras e Ventana Filmes
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: sala 2 - Cine Una Belas Artes
Duração: 1h17
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: drama

06 junho 2025

Mostra “Intérprete do Brasil" comemora os 110 Anos de Grande Otelo

Programação acontece no Cine Humberto Mauro e contará com quase 40 filmes, sessões comentadas, exibições em película e de cópias restauradas (Fotos: Divulgação)


Da Redação


Nos 110 anos de Grande Otelo, o Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes, revisita e celebra a filmografia desse que é um dos maiores atores do cinema brasileiro, com a mostra “Intérprete do Brasil – Uma Homenagem a Grande Otelo”. 

Até o dia 29 de junho, o público poderá assistir gratuitamente a quase 40 filmes, sessões comentadas, exibições em película e de cópias restauradas em DCP, cursos, debates, um catálogo exclusivo a partir da curadoria feita pelo crítico, programador, pesquisador e diretor baiano Fabio Rodrigues Filho. Além da presença de especialistas de relevância nacional. Acompanhe a programação clicando aqui.

"O Assalto ao Trem Pagador" (Crédito: Roberto Farias)

A trajetória de Grande Otelo se entrelaça com a história do cinema brasileiro. O ator e também cantor, compositor e poeta deixou uma marca permanente na cultura nacional. A iniciativa é uma parceria da Fundação Clóvis Salgado (FCS) e o Ministério Público de Minas Gerais, no âmbito do programa antirracista “Sobre Tons”.

Como parte das atividades culturais em diálogo com os filmes, o encerramento da mostra contará com o Grupo de Choro do Cefart interpretando clássicos de Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Joaquim A. Callado, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo e muitos outros artistas que atravessaram a trajetória musical de Grande Otelo. A direção artística da mostra é da produtora e curadora Layla Braz.

"Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia"
(Crédito: Hector Babenco)

“Grande Otelo é um símbolo da luta e da resistência negra no campo artístico. Seu precioso legado, para além de ser preservado e difundido, também serve de alerta e reafirma a urgência de políticas reparatórias e de valorização da nossa história. Esta homenagem é parte de uma série orquestrada de ações que visam à difusão de uma cultura antidiscriminatória em favor da qual o MPMG tem trabalhado por meio do programa antirracista Sobre Tons", celebra a coordenadora de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação do MPMG, a promotora de Justiça Nádia Estela Ferreira Mateus.

"Carnaval Atlântida" (Crédito: José Carlos Burle)

Vitor Miranda, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado, afirma que, “a mostra ‘Intérprete do Brasil: Uma Homenagem a Grande Otelo’ reafirma o interesse e a dedicação do Cine Humberto Mauro e da Fundação Clóvis Salgado com a preservação da memória audiovisual e com a valorização de figuras históricas cuja complexidade artística muitas vezes foi marginalizada por leituras estereotipadas e reducionistas. Revisitar sua obra, hoje, é abrir espaço para o debate sobre representação, identidade e as múltiplas camadas do Brasil retratado nas telas”, aponta. 

"Rio Zona Norte" (Crédito: Nelson Pereira dos Santos)

Múltiplos olhares sobre Otelo

A presença multifacetada de Grande Otelo vai da chanchada à sátira política, do drama à comédia popular, sempre com uma atuação carregada de inteligência cênica. Destaques da programação são os filmes “Carnaval Atlântida” (1952), “Matar ou Correr (1954), “Rio, Zona Norte” (1957), “Macunaíma” (1969), “Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia” (1976), entre outros. 

Incluindo mais de 30 filmes estrelados pelo ator, a curadoria da mostra reúne ainda documentários que lançam luz sobre a vida e a obra de Grande Otelo, muitas vezes através da experimentação. 

"Macunaíma" (Crédito: Joaquim Pedro de Andrade)

Dois dos filmes da programação, os curtas-metragens “Tudo Que é Apertado Rasga” (2019), e “Não Vim no Mundo Pra Ser Pedra” (2021), foram dirigidos pelo próprio curador, Fabio Rodrigues, que destaca o quanto sua relação com Otelo – tanto na pesquisa acadêmica quanto na realização cinematográfica – impactou na seleção dos filmes que compõem a mostra. 

"A mostra reúne diferentes estágios com obras que foram me atravessando ao longo das etapas, e eu considero que ela faz jus à complexidade do Grande Otelo, introduzindo um artista muito plural – em termos de regime de atuação, quantidade de filmes e presença cênica – a uma nova geração, com momentos de conversa, formação e discussão, em um esforço de apresentá-lo de forma digna, contraditória e multifacetada", explicou o curador. 

"Amei Um Bicheiro (Crédito: Jorge Ileli
e Paulo Wanderley)

Fábio Rodrigues ressalta que "tem também o ponto decisivo de realizar a mostra em 2025, celebrando os 110 anos do Otelo, no estado em que ele nasceu, com uma robusta retrospectiva em torno desse ator em um cinema público como o Cine Humberto Mauro. Sinto que é como se o próprio estado de Minas Gerais estivesse homenageando um de seus filhos mais prodigiosos".

Destacando o caráter formativo e reflexivo da programação, a mostra reúne diversos pesquisadores, curadores, críticos e pensadores em atividades que procuram trazer outro olhar sobre Grande Otelo: Diego Souza, Ewerton Belico, Fabio Rodrigues Filho, Kariny Martins, Leda Maria Martins, Luis Felipe Kojima Hirano e Tatiana Carvalho Costa vão comentar sessões de filmes emblemáticos na trajetória do artista.

"Não Vim ao Mundo Pra Ser Pedra
(Crédito: Fábio Rodrigues)

Já os três cursos que acontecem ao longo da mostra serão ministrados por Deise de Brito, Fabio Rodrigues Filho e Luis Felipe Kojima Hirano, e tratam tanto da presença cênica de Grande Otelo enquanto intérprete quanto da história do cinema brasileiro à luz de atrizes e atores negros representativos. 

A diretora artística da mostra, Layla Braz, explica que a mostra "Intérprete do Brasil" propõe um mergulho na obra e na trajetória de um dos artistas mais completos e fundamentais da história cinematográfica do Brasil. "Rever seus filmes hoje é também revisitar os modos como o cinema representou – e ainda representa – questões de raça, classe, gênero. Mais do que uma homenagem, a mostra é um convite à reflexão crítica e ao reposicionamento histórico de um artista negro que atravessou linguagens e resistiu a apagamentos”, exalta a diretora.

"Matar ou Correr" (Crédito: Carlos Manga)
 
Serviço
Mostra “Intérprete do Brasil"
Data: até 29 de junho de 2025
Horários: Variados
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537, Centro – Belo Horizonte)
Programação: https://www.cinehumbertomauromais.com/programacao
Classificações indicativas: Variadas
Entrada: gratuita; 50% dos ingressos estarão disponíveis, de forma on-line, 1 hora antes de cada sessão, no site da Eventim; o restante dos ingressos será distribuído presencialmente pela bilheteria, meia hora antes da sessão, mediante a apresentação de documento com foto. 

04 junho 2025

"Bailarina" - Um novo banho de sangue do universo John Wick

Ana de Armas é a nova assassina que busca vingança contra os matadores de sua família (Fotos: Divulgação)
 
 

Maristela Bretas

 
Violento, com muitas cenas de lutas e um banho de sangue, como era de se esperar, "Bailarina - Do Universo de John Wick" ("From The World of John Wick: Ballerina") estreia nesta quarta-feira (4) nos cinemas trazendo de volta o estilo que marcou a franquia protagonizada por Keanu Reeves.

Encerrada em 2023, a saga conta ainda com a série "The Continental", lançada no mesmo ano e que está disponível no Prime Video, assim como todos os quatro filmes da franquia: "De Volta ao Jogo" (2014), "Um Novo Dia Para Matar" (2017), "Parabellum" (2019) e "John Wick 4: Baba Yaga" (2023).

A nova produção é um spin-off que tem Ana de Armas no papel principal de Eve Macarro, a nova assassina de aluguel. Ela é criada desde criança para ser uma bailarina pelas tradições da organização Ruska Roma enquanto aprende a arte de matar. Viu o pai ser morto e agora busca vingança contra aqueles que destruíram sua família. 


"Bailarina" se passa entre os longas "Parabellum" e "Baba Yaga". E como não poderia deixar de ser, aproveitando o sucesso do personagem, Keanu Reeves está presente, mostrando que John Wick ainda é capaz de atrair público para a saga. 

Pronunciando a mesma meia dúzia de palavras de sempre e dando muita porrada, mas num papel secundário, deixa o brilho para Ana de Armas.

O elenco traz boas surpresas e a participação de atores que marcaram a franquia, como Ian McShane (Winston Scott) e Lance Reddick (o concierge Charon), que faleceu pouco depois. 

Além de nomes conhecidos como Angélica Huston (diretora da escola de mercenários Ruska Roma), Gabriel Byrne (Chanceler) e Norman Reedus (o matador Pine).


Além da violência e dos ótimos efeitos visuais, "Bailarina apresenta Ana de Armas muito bem no papel da implacável Eve, repetindo as façanhas de Wick, com muitos tiros, facadas, explosões, não deixando em nada a desejar aos filmes da franquia. 

Ela seguiu o exemplo de Reeve e fez um treinamento físico intenso de quatro meses para interpretar, sem dublê, muitas das cenas de luta. 

De Armas transmite a fúria e a determinação da personagem com uma intensidade impressionante. Visualmente, "Bailarina" eleva o patamar da franquia. 

As sequências de ação são coreografadas com uma precisão impressionante, misturando a brutalidade dos combates corpo a corpo com a elegância dos movimentos de sua personagem.


As locações são também destaque do filme. Filmado em Budapeste (Hungria), Praga (República Tcheca), Áustria e Croácia, a produção entrega belíssimas paisagens e cenas eletrizantes gravadas em pontos turísticos conhecidos do Leste Europeu que surpreendem. É o caso de Hallstatt, um vilarejo austríaco cercado pelas montanhas cobertas de neve. 

Mesmo sendo um bom filme, que pode ser considerado o quinto da franquia, "Bailarina" passou por momentos delicados ao ter seu lançamento adiado por um ano. 

A direção é de Len Wiseman, mas segundo rumores da imprensa estrangeira, Chad Stahelski, que dirigiu os quatro filmes da saga, teria feito várias mudanças na primeira versão do longa, regravando muitas cenas para deixá-lo como está.


E foi um trabalho muito bem feito. A produção entrega uma experiência alinhada com o tom e o estilo estabelecidos pela franquia, sem parecer uma mera imitação. "Bailarina" expande o universo de John Wick, apresentando uma nova protagonista carismática que pode abrir a oportunidade para outros spin-offs continuarem dando fôlego à franquia. 

Só não é certa a participação de Reeves, como aconteceu neste, uma vez que o ator anunciou sua aposentadoria com "Baba Yaga" (será?). Se depender do desempenho de Ana de Armas, ela pode até se tornar a nova Baba Yaga em novas produções. 

Para os fãs de ação estilizada e narrativas de vingança implacáveis, "Bailarina" é um espetáculo imperdível.


Ficha técnica:
Direção: Len Wiseman
Produção: Lionsgate, Lakeshore Recirds
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h29
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense

03 junho 2025

“A Lenda de Ochi” uma fábula de pertencimento de espécies distintas

Helena Zengel é uma jovem que enfrenta todos para ajudar uma criatura mística bebê a reencontrar sua
família (Fotos: A24)
 
 

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


Dirigido e roteirizado por Isaiah Saxon, está em cartaz no cinema o filme "A Lenda de Ochi" ("The Legend of Ochi"), produzido pelo estúdio A24, que conta com um elenco formado por Helena Zengel, Willem Dafoe, Emily Watson e Finn Wolfhard.

Conhecemos Yuri (Helena Zengel), uma jovem que desafia os medos de sua vila ao ajudar o filhote de um Ochi, uma criatura mística que aterroriza a região. Ao atravessar a floresta, ela descobre um mundo mágico e aprende sobre coragem, empatia e conexão com a natureza.


O ponto mais forte do filme está na rivalidade entre humanos e os Ochi. Segundo a lenda, eles são criaturas demoníacas, caçadoras, piores que lobos. Tudo muda quando Yuri, a única menina da vila, encontra um Ochi bebê e assume o risco de cuidar dele e levá-lo para casa. 

É interessante como a protagonista e a criaturinha aprendem a se comunicar e desenvolvem uma linguagem própria. Ambos precisam dessa noção de pertencimento: mesmo morando com o pai, Yuri não se sente parte da família e sofre com a ausência da mãe, enquanto o pequeno Ochi sente falta da sua família como um todo.


O antagonismo surge em Maxim (Dafoe), o pai, que, vestido com roupas de soldados antigos — armadura, escudo e faca —, faz de tudo para manter vivo dentro de casa o ódio pela criatura. Ele escolhe sempre a intolerância e impõe sua autoridade quase como um militar. A violência e o silêncio são suas formas de controle, e fica evidente que Yuri é maltratada por ele.

Tecnicamente, o longa é um deleite visual. A fotografia de Evan Prosofsky valoriza as paisagens, as criaturas, o universo fantástico e um ar meio vintage que ajuda a contar a história. A trilha sonora de David Longstreth reforça o tom intimista e sombrio do lugar, mas com uma camada emocional afetiva. 


A montagem de Paul Rogers é lenta, gradual, sem pressa e eficaz em seu ritmo. Aos poucos, ele revela quem são os personagens e, principalmente, mostra suas transformações. A evolução deles acontece por meio das ações. 

Aqui, o diretor está mais interessado em fazer um cinema independente e experimental do que em aprofundar a história tradicional.

É impossível assistir ao filme sem lembrar de criaturas encantadoras que sempre aparecem para ensinar algo, como os Gremlins, os Goonies, Stitch e, especialmente, E.T. (há cenas que chegam quase a ser uma cópia do sucesso de Steven Spielberg). 

Há também um forte conflito geracional, e essas figuras mágicas ajudam os personagens humanos a enxergar novos caminhos.


Talvez o maior ponto fraco do filme seja a falta de aprofundamento no passado de Maxim. O que o transformou nesse homem autoritário? Como era sua vida familiar antes de se tornar essa figura armada e amargurada? São perguntas que ficam em aberto.

A "Lenda de Ochi" é uma fábula sobre ligação entre espécies distintas, contada de forma contundente, direta ao ponto. O filme diverte e faz pensar sobre quem escolhemos como família e qual lugar ocupamos no mundo.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Isaiah Saxon
Produção: Estúdio A24
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cinemark Diamond Mall
Duração: 1h36
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, fantasia

28 maio 2025

"Premonição 6: Laços de Sangue" - impecável nos efeitos visuais e na essência aterrorizante da franquia

Produção marca história no Brasil como a maior estreia de um filme de terror com classificação 18+
(Fotos: Warner Bros. Pictures)
  
 

Maristela Bretas

 
Para quem é fã da ensanguentada franquia, o novo capítulo - "Premonição 6: Laços de Sangue" ("Final Destination: Bloodlines") é uma experiência imperdível. O filme já se consagra como um sucesso de bilheteria, tendo levado mais de 1 milhão de pessoas aos cinemas no Brasil. 

Também acumula uma arrecadação de US$ 130 milhões desde o dia 15 quando foi lançado, marcando história como a maior estreia no país de um filme de terror com classificação 18+.

Passados 14 anos desde o último filme e novamente produzido pela New Line Cinema, a trama entrega efeitos visuais impecáveis, com sequências de mortes absurdamente violentas, capazes de gerar muita tensão e sustos na plateia. A criatividade por trás de cada fatalidade é, por vezes, inacreditável. 


A maquiagem e a atmosfera sombria complementam a excelência técnica do filme, transportando o público de volta ao perturbador senso de justiça distorcido da Morte que consagrou a saga.

"Premonição 6: Laços de Sangue" estabelece uma conexão com os filmes anteriores da franquia, explicando a origem das mortes do passado e até mesmo repetindo algumas delas, como muitos fãs deverão relembrar e curtir. 

O filme apresenta uma narrativa envolvente e repleta de reviravoltas, mantendo a essência aterrorizante que tornou a saga um fenômeno mundial.


Atormentada por um pesadelo violento e recorrente, a estudante universitária Stefani (Kaitlyn Santa Juana) volta para casa em busca de sua avó Íris (Gabrielle Rose/Brec Bassinger), que ela nunca conheceu e que é considerada insana pelos familiares. 

Contudo, a reclusa idosa pode ser a única capaz de romper o ciclo fatal que paira sobre sua linhagem e salvar sua família do terrível destino que aguarda todos eles. Afinal, na macabra lógica da franquia, é sempre a Morte quem dita a ordem dos eventos. E, invariavelmente, eles acontecem, manifestando-se das formas mais brutais e inesperadas.


O elenco conta ainda com Teo Briones, Richard Harmon, Owen Patrick Joyner, Rya Kihlstedt e Anna Lore. Uma participação especialmente emocionante é o retorno de Tony Todd no icônico papel de William Bludworth, marcando sua despedida do público em seu último trabalho antes de falecer de um câncer no estômago.

"Premonição 6: Laços de Sangue" honra o legado sangrento da franquia com uma trama que inteligentemente revisita e expande a mitologia estabelecida. Para os apreciadores de um terror visceral e criativo, este novo capítulo é uma jornada aterradora que certamente deixará marcas – e talvez alguns hematomas nos braços de quem se agarra à poltrona.


Ficha técnica:
Direção: Zach Lipovsky e Adam Stein
Produção: New Line Cinema, Dorman Entertainment, Practical Pictures, Freshman Year, Fireside Films
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nas redes de cinemas de BH, Contagem e Betim
Duração: 1h50
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense