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14 maio 2024

“A Estrela Cadente” é tentativa de paródia que não chega onde deseja

Tim e Kayoko tentam encontrar um sósia para trocar a identidade do amigo Boris, interpretado por Dominique Abel (Fotos: Pandora Filmes)
   

Eduardo Jr.


Chega aos cinemas no dia 16 de maio o longa “A Estrela Cadente” ("L´Étoile Filante"). Dominique Abel e Fiona Gordon protagonizam e ainda assinam o roteiro e a direção do longa. Distribuída pela Pandora Filmes, esta é uma comédia que se pretende paródia de filmes policiais. E fica mesmo na pretensão. O filme poderá ser conferido no Centro Cultural Unimed-BH Minas.

O longa conta a história de Boris, um fugitivo que leva uma vida tranquila atrás do balcão de um bar. Até que o passado o encontra, na forma de um assassino amputado que carrega uma arma no braço mecânico - e perde esse braço quando tenta atirar em Boris. 


Este cartão de visitas parece dizer que o filme será uma comédia. Mas o flerte com o cinema mudo, com cenas alongadas, de trabalho corporal dotado de um certo exagero e recheado de caras e bocas, tiram a graça de cena para dar lugar ao cansaço. 

A promessa de reviravolta vem quando Tim (Philippe Martz) e Kayoko (Kaori Ito), amigos do protagonista, encontram Dom, um homem idêntico a Boris, e trocam os dois de lugar. 

O que teria tudo pra ser um pastelão e arrancar risos, acaba perdendo força, pois em certos momentos os dois homens (vividos por Dominique Abel) parecem se adaptar às novidades. 


Em linhas gerais, o filme reúne um grande esforço pra colocar tudo na conta do destino (que faz com que a detetive do caso, Fiona, interpretada por Fiona Gordon, seja justamente a ex-mulher do fugitivo). 

Atuações que parecem misturar mímica e palhaçada, e uma junção de personagens estranhos em cenas que não têm muito pra contar. Se o resultado desejado era se aproximar do ridículo, o longa consegue abraçar com louvor esse objetivo.   


Se na história do cinema temos obras que trazem detetives atrapalhados, situações non sense, e roteiros de comédia afiados, aqui não é exatamente o caso. 

“A Estrela Cadente” é um filme sonso. Tem a intenção de ser uma paródia de filmes policiais e investigativos, mas é apenas mais uma cópia fraca. Se você tem 98 minutos disponíveis, boa sorte.  


Ficha Técnica:
Direção, roteiro e produção: Dominique Abel e Fiona Gordon
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38 minutos
Classificação: 12 anos
Países: Bélgica, França
Gêneros: comédia, policial

02 maio 2024

"Garfield Fora de Casa": uma aventura preguiçosa e despreocupada para curtir com pipoca

Animação apresenta um novo personagem que vai virar do avesso a vida do felino mais folgado e guloso do cinema (Fotos: Sony Pictures)


Maristela Bretas


Vinte anos depois do filme original, o gato mais folgado e esfomeado retorna à telona para apresentar uma pessoa importante de seu passado. O filme "Garfield Fora de Casa" já está nos cinemas para divertir as crianças e matar a saudade dos fãs.

Para quem acompanha a trajetória do felino laranja ele foi criado nos quadrinhos em 1978 por Jim Davis, mas somente em 2004, chegou aos cinemas em "Garfield - O Filme" (2004). Nos anos seguintes vieram outras versões: "Garfield 2" (2006); "Garfield Cai na Real" (2007); "A Festa de Garfield" (2008) e "Garfield - Um Super-Herói Animal" (2009), além dos desenhos animados.


Desta vez, Garfield (voz original de Chris Pratt, de "Jurassic World - Domínio" - 2022) terá um reencontro inesperado com seu pai Vic (Samuel L. Jackson, de "Argylle - O Superespião" - 2024), que há anos estava desaparecido. Ele é um gato de rua todo desengonçado que vai atrair o filho e seu fiel amigo Odie (Harvey Guillen, de "Besouro Azul" - 2023) para um assalto de alto risco, cheio da ação e aventura. 

Ao mesmo tempo em que Vic e Garfield são pai e filho na animação, o mesmo acontece na vida real com seus experientes dubladores brasileiros - Ricardo e Raphael Rossatto são pai e filho.


A história começa quando Garfield foi abandonado filhotinho pelo pai no meio da rua e conheceu aquele que se tornaria seu dono mais fiel e amoroso, Jon Arbuckle (Nicholas Hoult, de "Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" - 2023). 

Tempos depois, outro membro passaria a fazer parte da família - Odie. Garfield é um gato doméstico, que ama pizza, lasanha, pipoca e uma boa poltrona para ver seus vídeos. Usa e abusa de Jon e Odie, que fazem todas as suas vontades e, mesmo sem admitir, Garfield não consegue viver sem a dupla.

Na "roubada" em que são envolvidos por Vic, eles vão conhecer a grande vilã Jinx (Hannah Waddingham, de "O Dublê" - 2024) que vai criar situações bem perigosas e muito engraçadas para que o trio se dê mal, especialmente Vic. 


Odie ganha mais destaque, mesmo sem falar uma palavra. O cãozinho com cara fofa e bobona tem expressões engraçadas, faz planos mirabolantes que dão certo e mostra grande preocupação com o próximo. Ele inclusive influencia Garfield nesse ponto. A relação entre o felino laranja e Jon é bem retratada, mostrando o carinho que os une.

Na versão dublada para o português, além da dupla Rossatto, temos ainda Philippe Maia, que faz a voz de Jon; Marcus Eni é Odie; Taryn Szpilman é Jinx, e Duda Ribeiro, dublando o touro Otto, que na versão original é feita por Ving Rhames ("Missão Impossível - Acerto de Contas Parte 1" - 2023).


A história é simples e previsível, sem grandes surpresas ou reviravoltas. Os diálogos são comuns, bem direcionados para um público infantil, apesar de algumas cenas na fazenda mostrarem maus-tratos a animais. As piadas são previsíveis, mas conseguem arrancar algumas risadas. No entanto, o humor pode não agradar ao público adulto, exceto aos fãs. 

"Garfield Fora de Casa" apresenta algumas mensagens positivas sobre amizade, família e a importância de se contentar com o que se tem. É uma animação leve e despreocupada, ideal para entreter as crianças e assistir com um baldão de pipoca no colo. 


Ficha técnica:
Direção: Mark Dindal
Produção: Alcon Entertainment, Columbia Pictures, Double Negative, Wayfarer Studios, One Cool Group Limited
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h41
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: infantil, comédia

28 abril 2024

"Férias Trocadas" - uma comédia nacional de sessão da tarde

Edmilson Filho interpreta dois personagens completamente opostos que irão se encontrar em uma viagem à Cartagena, na Colômbia (Fotos: Tico Argulo/Divulgação)


Maristela Bretas


O ano de 2024 começou com comédias nacionais boas e outras nem tanto, mas que atraíram o público para os cinemas. Um bom exemplo é "Minha Irmã e Eu", de 2023, mas que estreou em janeiro, Na sequência, tivemos "Dois É Demais em Orlando" e "Os Farofeiros 2", em março; "Licença para Enlouquecer" e "Evidências do Amor", este mês, além de outras bem aguardadas até o final do ano, como "O Alto da Compadecida 2".

Seguindo o estilo muito barulho e história já explorada em outras produções, estreia nesta quinta-feira (2 de maio) o longa "Férias Trocadas", comédia nacional protagonizada por Edmilson Filho ("Loucas Pra Casar" - 2014, o filme "Cine Holliúdy" - 2013 e a série de mesmo nome, em exibição no canal Globoplay). Filmada em Cartagena, na Colômbia, a produção é dirigida por Bruno Barreto, responsável por sucessos como o belíssimo "Flores Raras", de 2013 (que pode ser conferido no Netflix).


Em "Férias Trocadas", conhecemos José Eduardo, o Zé (Edmilson Filho), que ganha uma rifa e consegue uma viagem com a família para Cartagena. Dono de uma escolinha de futebol, é casado com Suellen (Aline Campos, de "Um Dia Cinco Estrelas" - 2023, "Os Farofeiros" - 2018 e "Os Farofeiros 2") e pai da blogueirinha Rô (Klara Castanho, de "Tudo por um Pop Star" - 2018 e a série "Bom Dia, Verônica" - 2022 e 2024, da Globoplay). A família parte animada para a primeira viagem de férias internacional. 

Viajando para o mesmo destino temos José Eduardo, conhecido como Edu (Edmilson Filho), um empresário preconceituoso que viaja com a esposa Renata (Carol Castro, de "Eike - Tudo ou Nada" - 2021) e o filho tiktoker João (Matheus Costa, de "Cinderela Pop" - 2018). O que os dois José Eduardo não esperavam era que a troca dos endereços de hospedagens iria acabar numa grande dor de cabeça e colocá-los frente a frente.


Nada de novo no enredo, rostos conhecidos de outras comédias. O personagem "Zé" (o pobre) é bem mais simpático, até mesmo quando está fazendo bobagem, ao contrário de Edu (o rico), que exagera tanto em seu preconceito que chega a ficar antipático, melhorando só no final, como esperado. 

O restante do elenco cumpre bem o papel, especialmente Aline Campos e Carol Castro. A produção perdeu a oportunidade de explorar mais o visual das praias do paraíso colombiano, que são lindas, entregando belas imagens que seriam um diferencial do filme. Entre brigas, reconciliações, situações constrangedoras e romances, "Férias Trocadas" consegue fazer o público rir e é uma distração de sessão da tarde.


Ficha técnica
Direção: Bruno Barreto
Produção: Paris Entretenimento
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h25
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: comédia

09 abril 2024

"Evidências do Amor" é um filme para fãs de Sandy e Fábio Porchat

Dupla tem boa química, mas comédia longa e morna não traz nada de novo e fica bem cansativa da metade
em diante (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Curtiu Sandy e Júnior na adolescência? Acompanha Fábio Porchat no Porta dos Fundos ou em seus programas? Não consegue ficar livre de uma música chiclete, mesmo sendo uma de suas preferidas? Então, "Evidências do Amor", que estreia nesta quinta-feira (11 de abril) é um filme que poderá lhe agradar. 

Dirigido por Pedro Antônio Paes, a comédia traz o casal pouco provável como artistas num romance que começa num piscar de olhos e acaba sem explicações. 


Para delírio dos fãs, o roteiro coloca Sandy e Porchat se beijando de uma maneira bem convincente do início ao fim do filme, ao som de "Evidências", que apesar de ser uma música linda, gruda na cabeça a ponto de irritar, de tanto que toca e nos mais variados formatos.

O filme é inspirado na música, composta por José Augusto e Paulo Sérgio Valle e lançada pela dupla Chitãozinho & Xororó. A história acompanha o casal, Marco Antônio (Fábio Porchat) e Laura (Sandy), que se apaixonam após cantarem "Evidências" juntos em um karaokê. 


Em meio a muitos altos e baixos, eles acabam terminando o namoro, mas todas as vezes que escuta a música, Marco sofre um apagão e retorna a momentos em que discutia com sua ex. Agora ele só quer colocar um fim neste tormento.

A dupla mostra uma boa química, mas não apresenta nada além do que os artistas já fazem em suas carreiras. Sandy é a cantora com uma voz linda e o mesmo rosto bonito de quando era adolescente, que volta a atuar depois de 10 anos e deverá arrastar uma infinidade de seguidores para os cinemas.


Já o humorista exagera nas caras e bocas em cenas cômicas e até mesmo nas dramáticas. Exceto quando o personagem lembra do pai - este é um momento emocionante e ele segurou bem. Mas Porchat passa o filme sendo Porchat. 

Os personagens são superficiais, assim como o roteiro cheio de clichês, com piadas sem graça. A cena de nudez do humorista durante uma festa careta de família até arranca algumas risadas do público. 

Ponto positivo para Evelyn Castro (a amiga Júlia) que, com seu jeito espalhafatoso, consegue segurar os momentos engraçados e poderia ter sido mais bem aproveitada.


A trilha sonora, além da música-tema também é recheada de sucessos sertanejos conhecidos do público, especialmente os cantados pela dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, que também faz uma pequena participação no longa, claro.

Não espere muito de "Evidências do Amor". É uma comédia de sessão da tarde longa e morna, com efeitos especiais que, de tão repetitivos e forçados, chegam a ficar chatos. Mas o que mais marca o filme é a maldição de sair do cinema sem conseguir tirar a música-tema da cabeça. Uma produção para fãs, com certeza.


Ficha técnica:
Direção: Pedro Antônio Paes
Produção: Framboesa Filmes e Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h46
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia, romance

27 março 2024

“A Matriarca” aborda conexão entre personagens feridas pela vida

Charlotte Rampling é a protagonista desta produção neozelandesa que soma drama com pitadas de comédia sobre relações familiares (Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28) o longa “A Matriarca”, distribuído pela Pandora Filmes. O filme dirigido por Matthew J. Saville traz a ótima Charlotte Rampling ("Duna: Parte 2") como protagonista de uma história que soma drama com pitadas de comédia. 

Por mais que o nome do filme deixe claro que haverá uma presença feminina no centro da história, o espectador já embarca na história em um carro, acompanhando uma conversa entre pai e filho sobre uma pessoa, e se perguntando “quem será ela?”. 


Eis que ‘ela’ surge na tela, e com olhar penetrante. Charlotte Rampling interpreta Ruth, mãe de Robert (vivido por Marton Csokas, de “O Protetor” - 2014) e avó de Sam (George Ferrier, que atuou na 2ª temporada de “Sweet Tooth”- 2023). Uma mulher cujo temperamento parece ser sua marca registrada. 

E o que apenas ‘parece’ se confirma quando ela abre a boca. A acidez desta avó, que não tem ligações com o neto, dá o tom da relação que ela vai, então, estabelecer com Sam, recém-expulso de um colégio interno. 


Ruth é uma fotógrafa aposentada, correspondente de guerra, que viveu muita coisa e que bebe mais ainda, enquanto encara um problema de saúde, sob a supervisão da enfermeira Sarah (Edith Poor). Quem cuidará dela é o neto rebelde. 

A conexão entre eles, que tem tudo para dar errado, vai caminhando entre espinhos e prendendo a atenção do espectador, que tem a chance de descobrir porque os dois chegaram naquele lugar, os motivos das feridas que carregam, e algumas das questões com as quais precisamos lidar na vida.    


É um drama, mas a comédia também marca presença. Não só no humor de Ruth, mas também na construção do encontro dos personagens, na postura deles diante do desenrolar da nossa existência. Prova de que a arte imita a vida é que essa história partiu de uma experiência pessoal do diretor. 

Colocar essa memória na telona parece ter sido um acerto. O filme foi ganhador do Prêmio de Melhor Atriz no Bifest - Bari International Film Festival. E promete ganhar elogios de quem for ao cinema assistir. É um bom filme.


Ficha técnica
Direção e roteiro:
Matthew J. Saville
Produção: New Zealand Film Commission, Celsius Film
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h34
Classificação: 16 anos
País: Nova Zelândia
Gêneros: drama, comédia

09 março 2024

"Ficção Americana" é uma crítica à exploração de clichês e estereótipos negros

Filme baseado no romance "Erasure" (2001), de Percival Everett, tem Jeffrey Wright como protagonista e concorrendo ao Oscar 2024 (Fotos: Amazon Prime)


Silvana Monteiro e Jean Piter


Com uma perspectiva étnico-racial, "Ficção Americana", disponível no Prime Vídeo, busca entreter por meio de sátira e crítica aos clichês e estereótipos negros explorados pela indústria cultural para atrair público e alcançar sucesso. As brilhantes atuações renderam reconhecimento do longa, dirigido por Cord Jefferson, em importantes categorias do Oscar 2024, com indicações para Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora Original.

Com um enredo envolvente e peculiar, "Ficção Americana" retrata a luta de Thelonious "Monk" Ellison (interpretado por Jeffrey Wright), um brilhante escritor negro em busca da forma ideal para entrar no fluxo editorial que o leve a ser mais valorizado. 

A habilidade de Wright em dar vida a Monk é impressionante, o que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator. O diretor Cord Jefferson soube explorar com louvor as expressões, sentimentos e conexões sociais do protagonista.


Outro que merece destaque é Sterling K. Brown, indicado na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. O ator é conhecido por sua excepcional performance como Randall Pearson na série "This is Us" (2016-2022), em exibição no Star+. 

São marcantes também as presenças de Issa Rae, a poderosa criadora da série da HBO, "Insecure”, de Erika Alexander (2016-2021), e Tracee Ellis Ross, da série “Black-Ish” (2014-2022), exibida no Disney+, que elevam a narrativa a outros patamares.

O filme é baseado no aclamado romance "Erasure" de Percival Everett, publicado em 2001. Monk cada vez mais frustrado com sua carreira e enfrentando desafios com sua mãe, recebe a ordem de escrever algo "mais negro" e decide redigir um livro sob um pseudônimo. 


Nessa obra, ele explora, ao extremo, todos os clichês e estereótipos negros, seguindo uma fórmula que observou ter funcionado para outros escritores negros, como Sintara Golden, interpretada por Issa Rae. 

No entanto, para sua surpresa e conflito moral, aquilo que ele escreveu com deboche, proporciona sucesso estrondoso a seu livro e faz com que ele se torne "a obra do ano".

"Ficção Americana" cativa os espectadores com uma narrativa poderosa, abordando críticas étnico-raciais e socio-raciais, além de dilemas moral e ético. É um filme que desafia convenções e levanta questões importantes sobre a representação do negro, sobretudo nos mercados editorial e cinematográfico, e a exploração dessa temática em busca de sensacionalismo e sucesso hollywoodiano.


A narrativa aborda, de maneira sutil, a questão da diversidade e inclusão, consideradas como a nova responsabilidade social. O chamado “tokenismo”, em que os mercados cultural e editorial enfatizavam a inclusão de negros, porém, muitas vezes, com a presença de apenas um indivíduo, e frequentemente retratado com estereótipos. 

A obra é uma crítica aberta à chamada “lavagem da diversidade”, quando essas iniciativas são tratadas de maneira superficial, como mera obrigação legal, sem um compromisso real com a diversidade e inclusão.

Há também o destaque à linha tênue entre o mercado cultural e de entretenimento, destacando que o segundo busca apenas lucro, sem preocupação com a quebra de estereótipos ou reflexões mais profundas. Isso é evidenciado na forma como as editoras e produtoras buscam apenas o lucro ao adaptar obras para o cinema, sem considerar aspectos culturais mais profundos.


O filme também critica a forma como se espera que as histórias escritas ou protagonizadas por negros sejam limitadas a estereótipos, sem espaço para narrativas que fujam desses padrões. 

A genialidade da trama reside nos recursos inventados por Monk para se manter oculto como autor da aclamada obra, e nos desafios complexos que ele enfrenta como consequência da piada que o torna famoso.

As cenas discursivas com diálogos afiados e satíricos são elementos marcantes que permeiam toda a narrativa. Laura Karpman, a mente por trás da trilha sonora, adotou uma abordagem inovadora ao se inspirar no livro que deu origem ao filme. Ela incluiu trechos instrumentais melancólicos conexos a pitadas de jazz. Uma escolha musical que se integrou perfeitamente à atmosfera do filme. 

"Ficção Americana" vale muito a pena, para negros e não negros, mas principalmente para aqueles que desejam ampliar seu letramento racial e apreciar enredos provocativos.


Ficha técnica
Direção: Cord Jefferson
Produção: MGM Studios
Exibição: Prime Video
Duração: 1h58
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, drama

04 janeiro 2024

"Patos!" - Aventura emplumada com gosto de déjà-vu

Uma família decide fazer uma viagem que vai ensiná-la sobre diferenças, amizade, gratidão e as belezas e perigos do mundo (Fotos: Illumination/Universal Studios)


Silvana Monteiro
@SilMontheiro


Deixar a zona de conforto, mudança de vida, aventura inesperada, união, solidariedade e empatia são temas explorados na animação "Patos!" ("Migration"), a mais nova comédia de ação do estúdio Illumination, que estreia nesta quinta-feira (4) nas salas brasileiras. 

Nesta temporada de férias, a produtora, conhecida por produções infantis de sucesso como "Minions" (2015 e 2022), a franquia "Meu Malvado Favorito" (2010, 2013, 2017 e o quarto previsto para este ano), "Sing" (2016 e 2021) e "Pets - A Vida Secreta dos Bichos" (2016 e 2019), convida você a embarcar, com uma família cheia de penas, em uma viagem emocionantemente desbravadora, em busca de "novos ares".


A comédia de ação "Patos!" consegue entreter com seu humor peculiar, personagens diferentes e carismáticos, uma história envolvente e um elenco talentoso. Mas o longa acaba pecando ao repetir algumas abordagens já vistas em outros filmes que exploram a relação entre animais e humanos. 

Alguns pontos dão a sensação de déjà-vu. O roteiro assinado por Mike White, criador da premiada série "The White Lotus" (2021) e roteirista de "Escola de Rock" (2003), "Patos!" lembra um pouco a aventura vivida pela arara azul Blue e sua família em "Rio 2" (2014), de Carlos Saldanha. 


Na história, a família Lospatos vive reclusa em um ambiente selvagem, com aquelas típicas paisagens remotas e bucólicas, onde o perigo e a maldade só existem nas histórias contadas pelo pai. Tudo é muito lindo quando se trata da natureza do local. 

Porém, para os dois jovens patos integrantes desse grupo, questionar o pai é um exercício difícil. Ele mal bate as asas por querer apenas manter sua vida pacata, amedrontando a todos quanto aos riscos de mudar a asa de lugar. 


Enquanto o pai Mack está satisfeito em manter a segurança, flutuando incansavelmente em "seu lago" na Nova Inglaterra (EUA), a mãe Pam anseia por agitar as coisas e mostrar o mundo aos filhos, o adolescente Dax e a patinha Gwen. 

Quando um grupo de patos migratórios pousa no lago com histórias fascinantes de lugares distantes, Pam convence Mack a embarcar em uma viagem em família, passando por Nova York até chegar à tropical Jamaica, destino dos colegas turistas.


No entanto, seus planos bem elaborados logo começam a dar errado quando eles seguem na direção oposta aos patos selvagens durante o inverno. 

Essa experiência improvável levará a família Lospatos a expandir seus horizontes, conhecer novos amigos, aprender mais uns sobre os outros e sobre si mesmos de maneiras inesperadas e alcançar mais do que jamais imaginaram ser possível. 


Entre aprender voar a céu aberto e entre prédios de uma grande cidade, o grupo vai conhecer novas espécies de aves e viver desafios incríveis. 

O medo vai dar lugar à coragem e à união de forças, capazes de fazer a família enfrentar todo tipo de situação, desde um grupo de aves excluídas e em situação de rua até humanos criminosos.

A animação conta com um elenco de comédia de primeira linha, com vozes originais de Kumail Nanjiani ("Eternos" - 2021), no papel de Mack; Elizabeth Banks ("As Panteras" - 2019) como Pam; Danny DeVito ("Dumbo" - 2019), que dá voz ao pato ranzinza Tio Dan.

Temos ainda Awkwafina ("Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" - 2021), a pomba Lelé; Carol Kane, como a garça Erin; Keegan Michael Key, voz de Delroy, um papagaio-da-jamaica, além de Caspar Jennings e a estreante Tresi Gasal, como os filhotes Dax e Gwen.


A dublagem profissional brasileira é encabeçada por Sérgio Stern (Mack), que fez a voz do hamster Norman, em "Pets - A Vida Secreta dos Bichos 2" (2019); Priscila Amorim (Pam), dubladora de grandes atrizes como Scarlett Johansson, Zoe Saldana, Natalie Portman, Anne Hathaway, entre outras; Sam Vileti (Dax) e Melinda Saide (Gwen). 

Completam o time, artistas da TV: Cláudia Raia (Erin), Ary Fontoura (Tio Dan), Danni Suzuki (Lelé) e o chef de cozinha Henrique Fogaça (Chef).

Vale à pena conferir essa aventura emplumada e refletir sobre os temas universais de família, amizade, empatia, solidariedade e descobertas pessoais. Tudo isso ao som de uma animada trilha sonora composta por John Powel.

"Patos!" é uma animação que pode agradar a espectadores de todas as idades e uma boa pedida para uma deliciosa reunião familiar na sala de cinema.


Ficha técnica:
Direção: Benjamin Renner e Guylo Homsy
Roteiro: Mike White e Benjamin Renner
Produção: Illumination Entertainment e Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h22
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: comédia, ação, animação, aventura, família

28 dezembro 2023

"Love Victor", a série que inspira pais e filhos

Michael Cimino interpreta o protagonista que teve de aprender a lidar com suas descobertas e encontrar respostas (Fotos: Hulu/Star+)


Filipe Matheus
Youtube Comentando Sucessos


Tem momentos de nossa vida em que ficamos confusos e sem saber como reagir às descobertas de nossa trajetória. Original da plataforma Hulu, a série "Love Victor", em exibição no Star+, mostra a realidade de uma geração que sofre por não entender os seus sentimentos, que busca a aceitação e o direito à liberdade, longe da opinião alheia. 

Victor é um estudante do ensino médio que teve de aprender a lidar com suas descobertas e encontrar respostas na raça, especialmente aos 16 anos. 

A história da série se torna ainda melhor graças à surpreendente atuação de Michael Cimino como Victor. Ele passa emoção ao telespectador. É a ficção mostrando a vida real. Rachel Hilson (Mia), George Sear (Benji), Antony Turpel (Felix), Bebe Wood (Lake), Mason Gooding (Andrew) também estão na série.


A trama fala sobre sexualidade e como se entender é importante para a autoaceitação. Além de abordar laços familiares, os episódios levam o espectador a pensar como tem agido com os filhos e como a forma correta é importante para a construção de uma família feliz e sem rótulos. 

Mostra ainda que adolescentes têm sentimentos e sofrem com perdas, traumas e as novidades que aparecem em suas vidas. 


A sequência, que é adaptação do filme "Com Amor, Simon" (2018), apresenta depoimentos e vitórias que fazem o protagonista mergulhar na procura da tão desejada felicidade. 

Faço aqui uma crítica ao cancelamento da série na terceira temporada. Se a produção trata de um tema tão real e atual, por que acabar? Como fica o telespectador que se identifica com o personagem? Deixou um vazio estranho. Faltam respostas às perguntas de pessoas que se deparam com a mesma realidade de Victor.


Curiosidades não faltam na produção. Nick Robinson, que atuou no longa inspirado na série, é um dos produtores dessa obra-prima e também tem participação como Simon Spier. 

Segundo o site Rolling Stones, Michael Cimino se inspirou no primo homossexual para a construção do personagem. "As experiências e lutas de meu primo me fizeram entender melhor o que é passar por isso e, assim, construir o caráter de Victor". 


Incredible, dynamic, and marvelous. Usei o inglês pra falar como a série é positiva, ela não só mostra a realidade, ela entrega. Sua estreia foi em 16 de junho de 2020, e até hoje mantém fãs apaixonados e com a vontade de quero mais. 

Eu fico por aqui, meu caro leitor, mas não se esqueça da importância de como é bom ser você mesmo e viver o agora. Até a próxima.


Ficha técnica:
Criação: Isaac Aptaker e Elizabeth Berger
Produção: The Walk-Up Company, Temple Hill Entertainment, 20th Century Fox Television
Distribuição: Star+
Exibição: Star+ e plataforma Hulu
Duração: 3 temporadas
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama, comédia, série de TV

28 novembro 2023

"Ó Paí, Ó 2" utiliza uma trama simples para reforçar a importância da representatividade negra na tela

Lázaro Ramos protagoniza novamente o personagem Roque, que se une à comunidade para ajudar uma
amiga e preservar a tradição do Pelourinho (Fotos: Divulgação) 


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Mais de 15 anos após o primeiro filme retornamos ao cortiço de Dona Joana com Roque contextualizando o que mudou ou não nesse período e buscando seu espaço como artista negro. Este é o enredo de "Ó Paí, Ó 2", que está em cartaz nos cinemas. 

O protagonista, novamente interpretado por Lázaro Ramos, persiste em viver de sua música. No longa fica evidente como a cultura branca é mais facilmente aceita e como é mais simples excluir um negro do mercado musical do que inseri-lo.


O cerne deste segundo longa parte de uma premissa simples: todos na comunidade se unem para salvar o bar de Neuzão (Tânia Toko), que foi vendido a outro dono, deixando-a sem teto e sem meios de subsistência. 

Encontramos Dona Joana (Luciana Souza), uma mulher solitária e complexa, ainda lidando com o luto pela morte de seus filhos. Essa ausência a assombra e confronta, levando-a a adotar três crianças de rua. 


A obra aborda a questão do despejo de forma séria, unindo antigos personagens, como Maria (Valdinéia Soriano) e Reginaldo (Érico Brás), Yolanda (Lyu Árisson), mãe Raimunda (Cássia Valle) e Matias (Jorge Washington) aos novos moradores. Eles planejam uma festa para Iemanjá como estratégia para arrecadar fundos e salvar o bar. 

A nova geração demonstra resiliência ao criar o metaverso, utilizando o conceito da internet como um espaço para compartilhar suas experiências sobre os dilemas relacionados à cor da pele, desafiando normas e enfatizando a importância da resistência para superar padrões preestabelecidos. 


É interessante ver como "Ó Paí, Ó 2" se preocupa em mostrar o verdadeiro lugar do negro e onde ele deve se posicionar na sociedade. Talvez a falha esteja em não inserir figuras baianas icônicas no Pelourinho, o que poderia ser uma oportunidade para mostrar como os jovens se relacionam com essa tradição.

Viviane Ferreira, responsável pela direção, reforça a ideia de que os direitos dos negros não devem ser ignorados nem excluídos pela sociedade. O roteiro não apenas discute questões raciais, mas também de gênero e sexualidade, evidenciando a luta contínua da mulher negra e do transexual, visível na tela.


Quanto à parte musical, a produção é só elogios. Lázaro Ramos está maravilhoso em sua performance e voz, unindo não apenas os personagens na tela, mas também atraindo o público espectador. Nomes como Margareth Menezes (que interpreta ela mesma), Baiana System, João Gomes e Olodum contribuem para uma trilha sonora sinérgica e alegre.

"Ó Paí, Ó 2" é leve e divertido, mas também uma peça importante para a cultura negra. Mostra como cada história é relevante, especialmente em um país racista onde, por vezes, o óbvio precisa ser reiterado e exposto.


Ficha técnica:
Direção: Viviane Ferreira
Produção: Dueto Produções, Casé Filmes, coprodução Globo Filmes e Canal Brasil
Distribuição: H2O Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h30
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: comédia

21 novembro 2023

“Um Pai, Um Filho” aborda perdas e relações familiares dentro da cultura chinesa

Road movie que mistura drama e comédia é parte da programação de festival gratuito de cinema chinês (Fotos: Gabriela Vargas Mor/Divulgação)


Eduardo Jr.


Se você se pergunta o que esperar de um filme chinês, a resposta pode ser “emoção”, caso a obra escolhida seja “Um Pai, Um Filho” (“Like Father and Son” - 2023). O longa do cineasta Bai Zhiqiang chega ao Brasil como um dos títulos da 8ª Mostra de Cinema Chinês de São Paulo. 

A exposição, online e gratuita, é realizada pelo Instituto Confúcio, na Unesp - Universidade Estadual Paulista, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e está disponível na plataforma da Spcine Play: https://www.spcineplay.com.br 


Vencedor do Beijing International Film Festival na categoria “Excellent Product in Progress Award”, o longa mistura drama e comédia. Nele, Gouren (Hui Wangjun) toca a vida enquanto tenta sufocar o sofrimento da perda do filho. Até que seu caminho se cruza com o do endiabrado Mao Dou (Ba Zeze), que sonha reencontrar o pai. 


Neste road movie, Gouren viaja de caminhão por vilarejos, vendendo produtos e tirando fotografias. Uma de suas clientes fotografada é a avó de Mao Dou (Ma Guilan). 

Na apresentação das personagens fica implícito que ela esconde do neto o que realmente aconteceu ao pai do garoto, que idolatra a única foto que tem do homem que deveria criá-lo. 


A revolta e inadequação do menino parecem ser o combustível para que ele deixe o vilarejo o quanto antes para encontrar o pai. A solução está justamente em Gouren. 

O encontro dos dois rende momentos cômicos e tocantes. Junta-se a isso momentos em que a fotografia salta um pouco aos olhos do espectador.  


Embora o roteiro não traga originalidade, na reta final a história parece crescer e encontrar seu eixo. E aí o título da obra passa a fazer sentido, não se referindo estritamente aos protagonistas na tela. Um longa que arranca risos e lágrimas daqueles mais atentos aos aspectos românticos da obra. 


“Um Pai, Um Filho” integra a seleção de 12 obras do Festival, que mistura ficções e documentários, inéditos no país. Os títulos exibidos em cinemas de São Paulo entre 6 e 15 de outubro podem ser conferidos online. Após se cadastrar no site do Instituto Confúcio, o espectador recebe o acesso à programação. A mostra se encerra dia 30 de novembro.  


Ficha Técnica:
Direção: Bai Zhiqiang
Exibição: online e de graça, até 30/11, pelo site https://mostracinema.institutoconfucio.com.br
Duração: 1h37
Classificação: livre
País: China
Gêneros: drama, comédia